domingo, 24 de maio de 2020

FÁBULA: DO LEÃO E DOS BÊBADOS - COM QUESTÕES GABARITADAS

Fábula: Do leão e dos bêbados


    Decrépito o leão, terror dos bosques, e saudoso de sua antiga fortaleza, espairecia um deles ao entardecer à sombra do parque onde o prenderam.
    Assim levava a vida, ou assim esperava a morte.
    Sua missão não era valorosa; incumbia-lhe, todos os dias, e de preferência aos sábados e domingos, fingir que era de fato um leão feroz e assustar os visitantes com pálidos rugidos.
        Em troca, recebia três fartas refeições ao dia (fora o breakfast), água fresca, sombra, agradável companhia, e o título honorífico de rei das selvas, que na verdade era o que mais o comovia.
        Mas não era de fato um leão de verdade; faltavam-lhe a certeza de sua intrepidez, o horizonte aberto, a liberdade, que não ia além do arame farpado entre as sebes disfarçado.
        Tratava-se de um jogo previamente combinado: em troca do alimento e da tranquilidade, o mísero leão, rugindo apenas, aceitava digerir todas as afrontas.
        Um belo dia aconteceu, porém, que três bebuns, enganando-se de boteco, erraram o atalho e foram cair, por puro acaso, nos domínios reservados ao leão domesticado. E tão bebuns estavam os três-loucados que nem se deram fé do risco que corriam: a moita onde dormiam desmaiados nada mais era que a juba da fera enjaulada.
        Surpreendeu-se o leão com tamanha audácia, que não constava nas cláusulas contratuais que assinara com o empresário-empregador. E logo lhe veio à mente, num impulso atávico, o justo desejo de provar daquele banquete que se oferecia assim de mão-beijada. De fato, há muito o leão não saboreava um prato humano, como nos velhos tempos de antanho.
        Já se lambia o bicho, com sua língua áspera e salivada.
        Mas a civilização também cobra os seus tributos – e o leão, que conhecia algo de Direito, antes de se lançar ao ataque, resolveu reler o seu contrato, a ver se nas entrelinhas (sábio leão!) não constava algo que o prejudicasse: pois não queria o rei das selvas perder o emprego por justa causa. Pra tanto procurou um leão mais velho – e presumidamente mais experiente – e lhe propôs a delicada questão: se era lícito, naquela conjuntura, devorar os três bebuns incautos, que haviam invadido o parque e ali dormiam.
        O velho leão examinou o contrato, verificou se não era falso, e concluiu que, pelo escrito, nada impedia legalmente que o leão mais novo os devorasse. Mas enquanto consultavam a lei, corria o tempo, de sorte que, por sorte, os três bebuns, passada a carraspana despertaram para a vida. Sobressaltados, antes que o leão, apoiado na lei, voltasse e os atacasse, trataram os três de fazer o que a situação impunha: mandar-se.
        E foi desta maneira que o leão perdeu o acepipe, frustrando-se o ensejo de fartar-se com carne de primeira, tenra e fresquinha (ainda por cima regada a canjebrina). 
        Amuado, foi novamente ao leão mais velho (e mais experiente) queixar-se de que o excesso de escrúpulo contratual o havia feito perder o nobre prato. 
        Ao que o mais velho respondeu, com a sabedoria própria dos leões fabulosos:
        -- Queixas-te de barriga cheia, o que é um mal. Se de fato estivesses com fome, certamente primeiro os teria devorado, e só depois te lembrarias do contrato. Mas não te lastimes: quem faz o bem sempre o tem. Nenhum leão está livre neste mundo de, amanhã, por acaso, adormecer num parque e ser comido de surpresa por três bebuns esfomeados. A vida não está difícil só para os animais, rapaz.
        Moral: Não te lastimes: quem faz o bem sempre o tem.

Vocabulário:                                                                                         
Decrépito: velho, caduco
Espairecer: entreter-se
Honorífico: honroso
Intrepidez: coragem
Sebe: arbusto
Juba: crina
Audácia: coragem
Cláusula: artigo; preceito
Atávico: reaparecimento de uma característica dos ascendentes
Antanho: antigamente
Incauto: imprudente
Carraspana: bebedeira
Acepipe: guloseima
Ensejo: oportunidade
Canjebrina: cachaça
Escrúpulo: cuidado


Entendendo a fábula:

01 – O texto que você acabou de ler apresenta os elementos essenciais da narrativa: personagens, fato, tempo, lugar (espaço), narrador.
a)   Quem são as personagens?
O leão novo, o leão velho e os três bêbados.

b)   O que acontece?
Os bêbados foram dormir no domínio do leão novo.

c)   Onde acontece a história?
Num parque.

d)   Quem narra a história: um narrador-personagem ou um narrador-observador? Justifique.
Um narrador-observador. Porque conta a história presenceada por ele.

02 – O que seria necessário para que o animal desta fábula fosse “um autêntico leão”?
      Ele precisava ser feroz, viver solto a natureza e ter os instintos selvagem.

03 – Por que o leão não devorou os bêbados? Copie a alternativa mais acertada. Justifique sua escolha.
a)   Porque as cláusulas contratuais o proibiam.
b)   Porque, enquanto ele e o leão mais velho consultavam o contrato, os três bêbados, conscientes do risco que corriam, fugiram.
c)   Porque, além de não querer perder o emprego, não estava faminto.

04 – Explique o uso da expressão destacada na frase:
“E tão bebuns estavam os três-loucados que nem se deram fé do risco que corriam [...]”.
      Significa que a pessoa perdeu o juízo ou o bom senso = alucinado, desvairado, doido, louco.

05 – Inverossimilhante é tudo aquilo que não tem aparência de verdadeiro. Releia o último parágrafo e transcreva um trecho inverossímil.
      “Nenhum leão está livre neste mundo de, amanhã, por acaso, adormecer num parque e ser comido de surpresa por três bebuns esfomeados. A vida não está difícil só para os animais, rapaz.”

06 – De onde provém a comicidade do texto? Escolha a alternativa correta.
a)   Do fato de um leão estar preso.
b)   Do fato de dois leões conversarem com humanos.
c)   Da presença de um animal renegar seus instintos em nome de um contrato.
     d) Do fato de um leão pedir ajuda a um amigo mais velho.

07 – No texto alteram-se termos próprios de uma linguagem formal e termos característicos de uma linguagem bem coloquial (informal).
a)   Procure alguns exemplos de uso mais formal da linguagem.
“Decrépito o leão, terror dos bosques, e saudoso de sua antiga fortaleza, espairecia...”.

b)   Procure exemplos de uso coloquial.
“Mão-beijada”; “pra”; “canjebrina”; “amuado”.

08 – Para reproduzir as falas das personagens, o autor utiliza dois tipos de discurso: o discurso direto e o discurso indireto. Localize trechos em que aparecem exemplos desses dois tipos de discurso. Justifique sua resposta.
      Discurso direto: “-- Queixas-te de barriga cheia, o que é um mal. Se de fato estivesses com fome, certamente primeiro os teria devorado, e só depois te lembrarias do contrato.”

      Discurso indireto: “Tratava-se de um jogo previamente combinado: em troca do alimento e da tranquilidade, o mísero leão, rugindo apenas, aceitava digerir todas as afrontas.”



CRÔNICA: A CADEIRA DO DENTISTA - CARLOS EDUARDO NOVAES - COM GABARITO

Crônica: A cadeira do dentista
          
               Carlos Eduardo Novaes

   Fazia dois anos que não me sentava numa cadeira de dentista. Não que meus dentes estivessem por todo esse tempo sem reclamar um tratamento. Cheguei a marcar várias consultas, mas começava a suar frio folheando velhas revistas na antessala e me escafedia antes de ser atendido. Na única ocasião em que botei o pé no gabinete do odontólogo – tem uns seis meses –, quando ele me informou o preço do serviço, a dor transferiu-se do dente para o bolso.
        -- Não quero uma dentadura em ouro com incrustações em rubis e esmeraldas – esclareci –, só preciso tratar o canal.
        -- É esse o preço de um tratamento de canal!
        -- Tem certeza? O senhor não estará confundindo o meu canal com o do Panamá?
        Adiei o tratamento. Tenho pavor de dentista. O mundo avançou nos últimos 30 anos, mas a Odontologia permanece uma atividade medieval. Para mim não faz diferença um "pau-de-arara" ou uma cadeira de dentista: é tudo instrumento de tortura.
        Desta vez, porém, não tive como escapar. Os dentes do lado esquerdo já tinham se transformado em meros figurantes dentro da boca. Ao estourar o pré-molar do lado direito, fiquei restrito à linha de frente para mastigar maminhas e picanhas. Experiência que poderia ter dado certo, caso tivesse algum jeito para esquilo.
        A enfermeira convocou-me na sala de espera. Acompanhei-a, após o sinal-da-cruz, e entramos os dois no gabinete do dentista, que, como personagem principal, só aparece depois do circo armado.
        -- Sente-se – disse ela, apontando para a cadeira.
        -- Sente-se a senhora – respondi com educada reverência –, ainda sou do tempo em que os cavalheiros ofereciam seus lugares às damas.
        Minhas pernas tremiam. Ela tornou a apontar para a cadeira.
        -- O senhor é o paciente!
        -- Eu?? A senhora não quer aproveitar? Fazer uma obturaçãozinha, limpeza de tártaro? Fique à vontade. Sou muito paciente. Posso esperar aqui no banquinho.
        O dentista surgiu com aquele ar triunfal de quem jamais teve cárie. Ah! Como adoraria vê-lo sentado na própria cadeira extraindo um siso incluso! Mal me acomodei e ele já estava curvado sobre a cadeira, empunhando dois miseráveis ferrinhos, louco para entrar em ação. Nem uma palavra de estímulo ou reconforto. Foi logo ordenando:
        -- Abra a boca.
        Tentei, mas a boca não obedeceu aos meus comandos.
        -- Não vai doer nada!
        -- Todos dizem a mesma coisa – reagi. Não acredito mais em vocês!
        -- Abra a boca! – insistiu ele.
        Abri a boca. Numa cadeira de dentista sinto-me tão frágil quanto um recruta diante do sargento do batalhão.
        Ele enfiou um monte de coisas na minha boca e tocou o dente com um gancho.
        -- Tá doendo?
        -- Urgh argh hogli hugli.
        Os dentistas são tipos curiosos. Enchem a boca da gente de algodão, plástico, secadores, ferros e depois desandam a fazer perguntas. Não sou daqueles que conseguem responder apenas movendo a cabeça. Para mim, a dor tem nuances, gradações que vão além dos limites de um sim-não.
        -- A anestesia vai impedir a dor – disse ele, armado com uma seringa.
        -- E eu vou impedir a anestesia – respondi duro segurando firme no seu pulso.
        Ele fez pressão para alcançar minha pobre gengiva. Permaneci segurando seu pulso. Ele apoiou o joelho no meu baixo ventre. Continuei resistindo, em posição defensiva. Ele subiu em cima de mim. Miserável! Gemi quase sem forças. Ele afastou a mão que agarrava seu pulso e desceu com a seringa. Lembrei-me de Indiana Jones e, num gesto rápido, desviei a cabeça. A agulha penetrou a poltrona. Peguei o esguichador de água e lancei-lhe um jato no rosto. Ele voltou com a seringa.
        -- Não pense que o senhor vai me anestesiar como anestesia qualquer um – disse, dando-lhe um tapa na mão.
        A seringa voou longe e escorregou pelo assoalho. Corremos os dois pra alcançá-la, caímos no chão, embolados, esticando os braços para ver quem pegava a seringa. Tapei-lhe o rosto com meu babador e cheguei antes. A situação se invertera: eu estava por cima.
        -- Agora sou eu quem dá as ordens – vociferei, rangendo os dentes. – Abra a boca!
        -- Mas... não há nada de errado com meus dentes.
        -- A mim você não engana. Todo mundo tem problemas dentários. Por que só você iria ficar de fora? Vamos, abra essa boca!
        -- Não, não, não. Por favor – implorou. Morro de medo de anestesia.
        Era o que eu suspeitava. É fácil ser corajoso com a boca dos outros. Quero ver continuar dentista é na hora de abrir a própria boca. Levantei-me, joguei a seringa para o lado e disse-lhe, cheio de desprezo:
        -- Você não passa de um paciente!
                 Carlos Eduardo Novaes. A cadeira do dentista e outras crônicas.
 São Paulo: Ática, 1999.
Entendendo a crônica:

01 – Qual fato do cotidiano da vida das pessoas inspirou o autor a escrever a crônica?
      O fato é a ida ao dentista.

02 – Que recursos o autor usa em seu texto que o torna diferente do relato de um fato cotidiano? Identifique aspectos presentes na crônica que a diferenciam dos relatos pessoais em relação ao “mesmo” fato do cotidiano: Uma ida ao dentista.
      Ele usa pequeno fato do cotidiano (ida ao dentista) e promove com trechos mais longos uma argumentação.
      Os aspectos presentes que diferenciam dos relatos pessoais são os diálogos com enfoque humorístico.

03 – Releia o trecho a seguir, de “A cadeira do dentista”:
        “Ele subiu em cima de mim. Miserável! Gemi quase sem forças. Ele afastou a mão que agarrava seu pulso e desceu com a seringa. Lembrei-me de Indiana Jones e, num gesto rápido, desviei a cabeça. A agulha penetrou a poltrona. Peguei o esguichador de água e lancei-lhe um jato no rosto. Ele voltou com a seringa.”

        Nessa passagem, aparece a referência a Indiana Jones. Por que o narrador da crônica faz alusão a essa personagem?
      Porque a personagem aproxima a crônica do universo dos filmes de aventura e faz o leitor imaginar que “lutar” contra o dentista é como travar uma luta de aventura.

04 – De acordo com o texto, observe a formação das frases:
I – Ele subiu em cima de mim.
II – Miserável.
III – Gemi quase sem forças.
IV – Ele afastou a mão que agarrava seu pulso e desceu com a seringa.

a)   Qual dessa frases concentra mais informações? Por quê?
É a frase IV, porque é mais longa e tem mais verbos (palavras que indicam ações e processos).

b)   Quantos verbos há em cada uma das frases citadas?
Em I e III, há um verbo, em II não há verbo e em IV há três verbos.

c)   Indique qual é a frase nominal.
É a frase II.

d)   Em uma das frases, há uma oração adjetiva. Indique qual é a frase e qual é a oração.
Na frase IV: “que agarrava seu pulso”.

e)   Uma oração é a frase ou a parte da frase que se organiza em torno de um verbo. Sabendo disso, diga quantas orações há em cada uma das frases I, II, III e IV.
Em I e III, há uma oração. Em IV, há três. Em II, não há oração.

05 – As frases que contêm apenas uma oração são chamadas de períodos simples. As que contêm duas ou mais orações formam os períodos compostos.
        Observe a maior parte das frases a crônica e verifique: há mais períodos simples ou compostos?
      Há mais períodos compostos do que simples.

06 – Qual é a tipologia textual?
      É a narrativa.

07 – Nesse texto, qual trecho mostra que o narrador é um personagem da história?
a)   “Fazia dois anos que não me sentava numa cadeira de dentista.”.
b)   “O dentista surgiu com aquele ar triunfal de quem jamais teve cárie.”.
c)   “A seringa voou longe e escorregou pelo assoalho.”.
d)   “É fácil ser corajoso com a boca dos outros.”.

08 – A expressão “... a dor transferiu-se do dente para o bolso.” foi usada para:
a)   Destacar a parte do corpo que mais doía.
b)   Exagerar a dor de dente sentida pelo paciente.
c)   Indicar que o tratamento de dente era caro.
d)   Sugerir que a dor se espalhou pelo corpo.

09 – Nesse texto, o trecho “Levantei-me, joguei a seringa para o lado e disse-lhe, cheio de desprezo: ...” apresenta linguagem:
a)   Culta.
b)   Informal.
c)   Regional.
d)   Técnica.

10 – De acordo com o trecho “Cheguei a marcar várias consultas, mas começava a suar frio...”, o narrador estava:
a)   Cansado.
b)   Com calor.
c)   Com medo.
d)   Irritado.

11 – Nesse texto, um dos trechos que apresenta humor é:
a)   “Cheguei a marcar várias consultas, mas começava a suar frio...”.
b)   “Adiei o tratamento. Tenho pavor de dentista.”.
c)   “Ele afastou a mão que agarrava seu pulso e desceu com a seringa.”.
d)   “Não, não, não. Por favor [...]. Morro de medo de anestesia”.

12 – Nesse texto, no trecho “– Abra a boca!”, o ponto de exclamação reforça a ideia de:
a)   Surpresa.
b)   Irritação.
c)   Dúvida.
d)   Admiração.

13 – No trecho “Corremos os dois pra alcançá-la...”, o termo em destaque está substituindo a palavra:
a)   Anestesia.
b)   Mão.
c)   Seringa.
d)   Boca.

14 – O texto apresenta um sentimento comum a muitas pessoas em relação à ida ao dentista. Que sentimento seria esse?
      Sentimento de medo, pavor.

15 – Quantos personagens aparecem no texto? Quem são eles?
      Três personagens: A secretaria, o paciente e o dentista.

16 – O texto provoca humor ou procura fazer uma reflexão sobre a ida ao dentista?
      Provoca humor acerca das cenas e acontecimentos dentro do consultório do dentista.

17 – “--Eu?? A senhora não quer aproveitar? Fazer uma obturaçãozinha, limpeza de tártaro?” Qual seria o motivo que leva o paciente a estar aparentemente tão gentil com a enfermeira?
      Ele estava nervoso, apavorado.

18 – Que efeito de sentido tem a expressão “a dor transferiu-se do dente para o bolso?
      Significa que o tratamento era caro, por isso doía o bolso para pagar.

19 – Que passagem, no desfecho, expressa a ironia no final da crônica?
      “É fácil ser corajoso com a boca dos outros. Quero ver continuar, dentista é na hora de abrir a própria boca”.

CONTO: A LENDA DO PREGUIÇOSO - GIBA PEDROZA - COM GABARITO

Conto: A lenda do preguiçoso
                                                                                  Giba Pedroza

        Diz que era uma vez um homem que era o mais preguiçoso que já se viu debaixo do céu e acima da terra. Ao nascer nem chorou, e se pudesse falar teria dito:
        -- "Choro não. Depois eu choro".
        Também a culpa não era do pobre. Foi o pai que fez pouco caso quando a parteira ralhou com ele: "Não cruze as pernas, moço. Não presta! Atrasa o menino pra nascer e ele pode crescer na preguiça, manhoso".
        E a sina se cumpriu. Cresceu o menino na maior preguiça e fastio. Nada de roça, nada de lida, tanto que um dia o moço se viu sozinho no pequeno sítio da família onde já não se plantava nada. O mato foi crescendo em volta da casa e ele já não tinha o que comer. Vai então que ele chama o vizinho, que era também seu compadre, e pede pra ser enterrado ainda vivo. O outro, no começo, não queria atender ao estranho pedido, mas quando se lembrou de que negar favor e desejo de compadre dá sete anos de azar...
        E lá se foi o cortejo. Ia carregado por alguns poucos, nos braços de Josefina, sua rede de estimação. Quando passou diante da casa do fazendeiro mais rico da cidade, este tirou o chapéu, em sinal de respeito, e perguntou:
        -- "Quem é que vai aí? Que Deus o tenha!"
        -- "Deus não tem ainda, não, moço. Tá vivo."
        E quando o fazendeiro soube que era porque não tinha mais o que comer, ofereceu dez sacas de arroz. O preguiçoso levantou a aba do chapéu e ainda da rede cochichou no ouvido do homem:
        -- "Moço, esse seu arroz tá escolhidinho, limpinho e fritinho?"
        -- "Tá não."
        -- "Então toque o enterro, pessoal."
        E é por isso que se diz que é preciso prestar atenção nas crendices e superstições da ciência popular.
                                                             Giba Pedroza
Entendendo o conto:
01 – Uma lenda é um gênero textual que:
a)   Conta uma história real revestida de personagens aparentemente irreais.
b)   Narra fatos fantásticos distantes da realidade para transmitir um ensinamento.
c)   Relata crendices populares inventada em um passado bastante longínquo.
d)   Une fatos reais a fatos irreais de forma fantasiosa e é transmitida pela tradição oral.

02 – Ao introduzir esse texto com “Diz que era uma vez...”, o narrador:
a)   Antecipa a ideia de um texto de conteúdo de base irreal.
b)   Isenta-se da responsabilidade sobre o que será narrado.
c)   Manifesta-se subjetivamente em relação aos fatos.
d)   Reproduz uma introdução tradicional dos contos de fada.

03 – No trecho “Também a culpa não era do pobre”, a palavra destacada tem o sentido de:
a)   Desventurado.
b)   De poucas posses.
c)   De má genética.
d)   Solitário.

04 – Nesse texto, há marcas de personificação em:
a)   “O mato foi crescendo em volta da casa...”
b)   “... nos braços de Josefina, sua rede de estimação”.
c)   “... este tirou o chapéu, em sinal de respeito...”
d)   “Então toque o enterro, pessoal”.

05 – Leia o trecho abaixo:
        “Diz que era uma vez um homem que era o mais preguiçoso que já se viu debaixo do céu e acima da terra.”

A expressão em destaque na frase acima nos dá ideia de:
(X) Lugar.
(   ) Tempo.
(   ) Causa.
(   ) Finalidade.     
  
06 – A expressão “debaixo do céu e acima da terra”, quer dizer:
(   ) No chão.
(   ) No ar.
(   ) Na terra.
(X) Entre o céu e a terra.

07 – O texto nos diz que o homem ao nascer se pudesse falar diria: “Choro não. Depois eu choro”. O que levou o autor a escrever isso foi:
(   ) A preguiça do autor.
(   ) A esperteza do homem.
(X) A preguiça do homem.
(   ) A esperteza do autor.

08 – Leia a frase: “Foi o pai que fez pouco caso quando a parteira ralhou com ele”. Na frase acima a palavra ralhou quer dizer:
(X) Gritou.
(   ) Falou calmamente.
(   ) Brincou.
(   ) Chamou a atenção.

09 – Leia com atenção o que disse a parteira: “Não cruze as pernas, moço. Não presta! Atrasa o menino pra nascer e ele pode crescer na preguiça, manhoso”.
Com essa fala a parteira demonstrou ser:
(   ) Franca.
(   ) Mentirosa.
(X) Supersticiosa.
(   ) Medrosa.

10 – A expressão “nada de lida”, quer dizer:
(X) Nada de trabalha.
(   ) Nada de descanso.
(   ) Nada de preguiça.
(   ) Nada de tristeza.

11 – “O mato foi crescendo em volta da casa e ele já não tinha mais o comer”. A expressão sublinhada na frase acima nos dá ideia de:
(X) Tempo.
(   ) Quantidade.
(   ) Lugar.
(   ) Causa.

12 – “Vai então que ele chama o vizinho”. A palavra ele se refere:
(   ) Ao vizinho.
(   ) Ao pai do homem preguiçoso.
(X) Ao homem preguiçoso.
(   ) Ao autor.

13 – Dê respostas completas às perguntas abaixo.
a)   Que tipo de ajuda o fazendeiro ofereceu ao homem preguiçoso?
Ele ofereceu ao homem preguiçoso dez sacas de arroz.

b)   Por que o homem preguiçoso não aceitou o que o fazendeiro lhe ofereceu?
Porque o arroz que o fazendeiro estava dando, não estava escolhidinho e nem fritinho.

14 – Qual é o tema principal da história?
      É a crendice popular de que se o pai cruzar as pernas durante o parto a criança nasce preguiçoso.

15 – Quem não chorou ao nascer? Se pudesse o que ele teria dito ao nascer?
      O homem preguiçoso. Se pudesse ele teria dito “chorar não, depois eu choro”.

16 – Quando disseram que o arroz não estava escolhido e frito, o que o homem preguiçoso fez?
      Ele pediu para tocar o cortejo.