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segunda-feira, 27 de novembro de 2023

NOTÍCIA: CRIADORA DA FEIRA PRETA, [...] - FERNANDA FROZZA - COM GABARITO

 Notícia: Criadora da Feira Preta, Adriana Barbosa está entre os 51 negros mais influentes do mundo

          A paulista conta a trajetória para valorizar sua cultura e realizar anualmente o maior evento de empreendedorismo negro da América Latina

Por Depoimento à Fernanda Frozza

27/02/2019 05h51. Atualizado há 4 anos

 


Adriana usa macacão Beira. Colar de concha, Lool x Pinga; colar de cordas, MEudoxia — Foto: Glamour

        Como pode ter demorado tanto para mais da metade da população ganhar voz? Quando era adolescente, andava pelo mercado e só encontrava xampu “para cabelos rebeldes”, não se falava em representatividade e eram os homens brancos que contavam dinheiro no fim da noite em uma casa noturna de black music. Foi um longo processo, mas hoje finalmente vivemos em um País diferente, e me orgulho de ter contribuído para essa mudança de desenvolvimento e consumo. Meu nome é Adriana Barbosa, tenho 41 anos, e sou idealizadora da FEIRA PRETA, plataforma responsável por criar projetos para valorizar nossa cultura e realizar anualmente o maior evento de empreendedorismo negro da América Latina.

        Não imaginava que chegaria aqui. Até porque meus pais sempre trabalharam em produção de rádio e TV, então sem querer a vida me levou para o mesmo caminho. Aos 18, arrumei meu primeiro emprego como recepcionista em uma rádio, depois fui parar na área de promoção em uma produtora de TV e cheguei a fazer divulgação de artistas em uma gravadora. Segui na área de comunicação até 2002, quando fui demitida e tive que me reinventar. Nessa época, já frequentava as baladas da Vila Madalena, zona oeste de São Paulo, com uma amiga. E como as duas estavam desempregadas, tivemos a ideia de transformar nosso espaço de diversão em dinheiro. Ela começou a vender pastel nas feiras e decidi fazer um brechó em mercados alternativos com minhas roupas e acessórios. Sabe a ideia de ganhar hoje para comer amanhã? Era isso.

        Um dia, rolou um arrastão e perdemos parte da nossa mercadoria. Voltamos para casa lamentando e decidimos que não dava para viver mais naquele esquema. Até que veio a ideia: por que a gente não cria uma feira com a nossa identidade e cultura?

        Dona da própria história

        Já existia uma cena negra muito forte na Vila Madalena, principalmente entre produtores e técnicos de som das festas. O problema é que as baladas eram feitas por negros, frequentadas por negros, mas estavam nas mãos de homens brancos. Não fazia sentido, né? Tiramos o plano do papel. Como já tínhamos os contatos, fomos atrás de expositores nas feiras de São Paulo, desde a República até o Embu das Artes. A ideia era que empreendedores e artistas negros divulgassem seus trabalhos e pudessem viver a partir dele. Dito e feito: pela primeira vez, éramos proprietárias da nossa história! No mesmo ano, demos vida à Feira Preta, na praça Benedito Calixto, em Pinheiros, SP. Conseguimos reunir 40 expositores e um público de 5 mil pessoas. Foi um sucesso! Os números mostravam a demanda reprimida, o que não queria dizer que o caminho seria fácil. Pelo contrário.

        No começo, foi muito suado conversar sobre patrocínio e consumo negro no meio corporativo. Eu tinha 22 anos e fazia parte da população que não era vista com perspectiva econômica. Acredite, uma das coisas que eu mais ouvi é que não queriam associar a marca a um evento que chamava Feira Preta, alegando “conflito racial”, mas o intuito do nome era mostrar que parte da população precisava ser percebida.

        Coincidência ou não, nessa época, a Unilever estava lançando o primeiro sabonete para pele negra e, assim, conseguimos patrocínio. Por causa desse pontapé, nos anos seguintes tivemos grandes novas conquistas: atraímos outras marcas, a cantora Paula Lima virou nossa madrinha e começaram a rolar atividades culturais e de empreendedorismo. Ali, vi que tinha encontrado uma nova profissão. Definitivamente, a área de Comunicação era passado na minha vida.

        Profissão: empreendedora

        Foi um processo até descobrir meu papel nesse ecossistema de empreendedorismo social, que tem que dar lucro, mas também tem que impactar a sociedade. Decidi me profissionalizar e fazer faculdade. Em 2008, aos 30 anos, me formei em Gestão de Eventos, pela Anhembi Morumbi, e depois fiz pós-graduação em Gestão Cultural na USP. A Feira Preta deixou de ser só um evento para virar uma plataforma.

        Durante todo o ano, passamos a tocar muitos projetos para valorizar nossa cultura. Dentre eles, o Afrohub, workshop de redes sociais para negócios, e o Afrolab, programa de formação de microempreendedores de várias partes do País [como a Monique Santos, da Ayo Moda Casa e Design, dos tecidos que você vê nas fotos], em que a gente discute e acompanha processos de criação, produção e chegada dos produtos ao consumidor, seja por marketplace ou pela feira. Tem gente que diz: “Ah, mas meu negócio é pequeno, só vendo tapioca”. E o que a gente responde é: “Não, você vende ‘a’ tapioca. Você é empreendedora”. E transforma o negócio.

        Sou um exemplo disso, de quem foi do micro para o macro. A feira começou bem pequenininha e ganhou mais espaço do que imaginava, tanto que participei de um evento em que ninguém menos que Barack Obama também estava. Dá para acreditar? Foi em 2017, quando fui premiada em Nova York e entrei para a lista dos 51 negros com menos de 40 anos mais influentes do mundo, pelo Most Influential People of African Descent, o MIPAD. Além de mim, só outros dois brasileiros entraram para a lista: Lázaro Ramos e Taís Araújo – ela, inclusive, colaborou com uma “vaquinha” ao lado de outras 90 pessoas para me ajudar a viajar e receber o prêmio. Sou muito grata!

        Ninguém segura

        Olho para trás e vejo 17 anos de história em que a gente descentraliza o conteúdo de cultura negra pelo menos uma vez por ano em São Paulo e esporadicamente em outras cidades do Brasil. Nossa equipe fixa é formada por 25 pessoas, mas no dia do festival chega a 150, sempre com essa lógica de priorizar microempreendedores negros, desde a assessoria de imprensa ao técnico de som.

        Na última edição, em novembro de 2018, batemos recorde de público, com 52 mil pessoas e mais de 120 empreendedores de diversos Estados. Ocupamos a capital e mostramos o nosso espaço. E apesar de ser idealizadora do projeto, faço parte de um time. Muita gente me ajudou a construir a visibilidade negra nessa trajetória, como o conteúdo da programação cultural, a Companhia de Teatro Os Crespos, a Companhia de Artes Capulanas, artistas como Mano Brown, Criolo e Karol Conká, além de todo mundo que faz a Feira Preta acontecer. Não fiz isso sozinha, rolou um movimento para que a gente chegasse onde está hoje. Isso me impulsionou.

        A partir do momento em que a população se autodeclarou negra, desenvolveu autoestima e começou a reivindicar direitos, produtos e experiências de consumo, rolou uma transformação. É por isso que vivemos em um País completamente diferente. Trocamos o xampu “para cabelos rebeldes” por ativador de cachos, desenvolvemos produtos que atendem o consumidor negro e fizemos muita gente enxergar o que já sabíamos: mais da metade da categoria dos microempreendedores no Brasil é negra. Mais precisamente 51%, de acordo com o Sebrae.

        Posso fazer uma lista de conquistas ao longo desses anos, mas também consigo enumerar uma série de projetos que ainda quero tirar do papel. Já percebeu que eu sonho alto, né? Tenho vontade de levar a feira para outros cantos do mundo, como Colômbia, Estados Unidos e países africanos de língua portuguesa. Sei que somos uma marca forte, mas temos potencial para chegar ainda mais longe e há uma longa luta pela frente.

        Ainda lido com situações de discriminação no meu dia a dia de trabalho e o racismo é presente. Até por isso, o mais difícil durante esse tempo foi diferenciar a Adriana Barbosa da Feira Preta. Quando recebia a negativa de uma marca que não queria se associar a uma mulher negra, imediatamente pensava: “então você não quer se associar a mim”. Trabalhei na terapia para que meus dilemas enquanto mulher negra não se envolvessem nas minhas negociações profissionais. Foi preciso muita autoestima para fazer o que eu faço hoje. Mas se tem uma coisa que não me falta nesta vida, além de autoestima, é coragem. E ela segue comigo nessa caminhada que, sem dúvida, não para por aqui.

FROZZA, Fernanda. Criadora da Feira Preta, Adriana Barbosa está entre os 51 negros mais influentes do mundo. Glamour. Rio de Janeiro, 27 fev. 2019. Disponível em: https://revistaglamour.globo.com/Na-Real/noticia/2019/02/criadora-da-feira-preta-adriana-barbosa-esta-entre-os-51-negros-mais-influentes-do-mundo.html. Acesso em: 18 jun. 2020.

Fonte: Práticas de Língua Portuguesa/Faraco, Moura, Maruxo. – 1.ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020. p. 234-237.

Entendendo a notícia:

01 – O texto pode ser dividido em quatro partes: a introdução e as outras três partes do texto, organizadas nos tópicos Dona da própria história, Profissão: empreendedora e Ninguém segura.

a)   No caderno, faça uma síntese de cada uma dessas quatro partes, para ter uma visão geral sobre o modo como o conteúdo do texto foi organizado.

Resposta pessoal do aluno.

b)   Em sua opinião, a organização do conteúdo em tópicos colabora para a progressão das ideias no texto? Por quê?

Resposta pessoal do aluno.

02 – O texto, publicado originalmente em uma revista digital, é de responsabilidade da jornalista Fernanda Frozza. Contudo, o enunciador que se projeta no texto é da jornalista ou de Adriana Barbosa? Justifique sua resposta.

      O enunciador do texto é a empreendedora Adriana Barbosa que relata a sua trajetória em primeira pessoa.

03 – Releia o trecho inicial da matéria.

        “Como pode ter demorado tanto para mais da metade da população ganhar voz? Quando era adolescente, andava pelo mercado e só encontrava xampu “para cabelos rebeldes”, não se falava em representatividade e eram os homens brancos que contavam dinheiro no fim da noite em uma casa noturna de black music.”

a)   Considerando o enunciador que se projeta no texto e a experiência relatada, a quem se refere a expressão mais da metade da população?

Resposta pessoal do aluno.

b)   O que o enunciador lamenta nesse trecho?

Adriana lamenta que os negros tenham demorado tanto para terem voz, para serem percebidos e considerados como parte da sociedade brasileira e terem seu lugar reconhecido na cultura e no mercado.

04 – No início do texto, Adriana Barbosa, afirma se orgulhar de “ter contribuído para essa mudança de desenvolvimento e consumo “. A que mudança de desenvolvimento e consumo exatamente ela se refere? De que maneira você chegou a essa conclusão?

      Adriana se refere ao fato de a população negra, ao ter se autodeclarado negra, passou a ser vista como consumidora de produtos. Consequentemente, o mercado começou a investir em produtos destinados aos negros, como itens de higiene pessoal. Além disso, a própria população negra se tornou produtora de produtos e de conteúdos, tornando-se empreendedores.

05 – Releia o trecho: “Já existia uma cena negra muito forte na Vila Madalena, principalmente entre produtores e técnicos de som das festas.”

a)   No texto, que contradição a empreendedora sinaliza em relação a essa cena negra?

A empreendedora enfatiza a contradição de se ter muitos negros frequentando e trabalhando nos estabelecimentos noturnos enquanto os lucros iam para os brancos, donos desses estabelecimentos.

b)   Em que medida os planos iniciais de Adriana e de sua amiga podem ser considerados uma tentativa de “dissolver” essa contradição?

Em razão do tipo de empreendimento feito e dos objetivos do evento – valorizar a cultura negra –, é possível inferir que elas propuseram condições de trabalho que eram mais vantajosas para os profissionais negros.

06 – De acordo com o texto sobre Adriana Barbosa, quais são os maiores desafios que ela enfrentou durante a trajetória profissional? A que ela atribui essas dificuldades?

      Resposta pessoal do aluno.

07 – Pelo que você conheceu da trajetória de Adriana Barbosa como empreendedora, que características destacaria como fundamentais para ser um empreendedor?

      Resposta pessoal do aluno.

 

NOTÍCIA: PRESERVAR AMAZÔNIA É MAIS LUCRATIVO QUE DESMATAR, DIZ ECONOMISTA - RICARDO ABRAMOVAK - COM GABARITO

Notícia: Preservar Amazônia é mais lucrativo que desmatar, diz economista

        Segundo Ricardo Abramovay, economia baseada no conhecimento da floresta favorece inovação e riqueza

        Resumo: Autor argumenta que manancial da Amazônia precisa de políticas favoráveis à emergência de uma economia do conhecimento (e não da destruição) da natureza. A devastação não produz riqueza ou inovação – favorece o extrativismo primitivo e sufoca a produção mais lucrativa de itens nativos da floresta.

        O Brasil é o sexto maior emissor global de Gases de Efeito Estufa. Mas há uma diferença fundamental entre a natureza de nossas emissões e as dos países que nos acompanham neste lamentável desempenho.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi9Gk6vAwJqACTYzoHuDskNDp1IgzvmFB_vANUbCcNSDItbRUYRzIh_D1h6k0SPts16HZQpnGvRMCtLCltZaemhsXE5putxOaD2v4vAe7JofCNTI4H5nR9aMxv9NKEUdDFNVxSmbJCBlbbTBkb4bOD6ZQC2AeqAejCDPpobW-lniHipH5n1eCEtywvmNdE/s1600/EFEITO%20ESTUFA.jpg


        Na China, nos Estados Unidos, na Índia, ou no Japão, as emissões derivam do uso em larga escala de combustíveis fósseis na geração de energia, nos transportes e na indústria.

        Reduzir estas emissões num prazo compatível com a urgência da crise climática exige mudanças na maneira como se produzem cimento, aço, plásticos, na forma como se organiza o transporte de passageiros e de carga, na aviação – em suma, naquilo que o recente relatório da Energy Transitions Commission, da Grã-Bretanha, chama de setores de mais difícil redução (harder to abate).

        Transformar os modelos econômicos em que se apoiam estes setores exige muita ciência e inovações tecnológicas disruptivas. Plantas industriais terão que ser inteiramente substituídas. No caso dos automóveis elétricos, postos de gasolina e oficinas mecânicas vão desaparecer. Mesmo que os investimentos nestas mudanças tenham retorno econômico, os custos são imensos.

        Os avanços globais nesta direção são significativos, embora largamente insuficientes: em 2009, na Conferência Climática de Copenhague (COP 15), China e Índia opuseram-se a qualquer acordo de redução das emissões sob o argumento de que não tinham alternativas ao uso do carvão, caso quisessem ampliar o acesso de sua população à energia e acelerar sua industrialização.

        Seis anos depois este quadro mudou de forma impressionante. China e Índia converteram-se em protagonistas no Acordo de Paris, de 2015 (COP 21), com base justamente no ritmo acelerado de redução do preço das fontes renováveis de energia, nas perspectivas oferecidas pelo automóvel elétrico e em diversas técnicas voltadas a uma indústria menos emissora.

        O dilema entre crescimento econômico e redução de emissões está sendo enfrentado (embora não resolvido, longe disso) por meio de ciência e tecnologia.

        E nós neste contexto? Temos a matriz energética menos emissora do mundo, quando o Brasil é comparado com países de importância territorial, demográfica e econômica equivalente à sua. Nossos transportes contam igualmente com uma fonte não emissora, o etanol, usado muito menos do que deveria, infelizmente, graças aos subsídios concedidos aos fósseis. Onde se concentram então nossas emissões?

        Resposta: na destruição florestal.

        O Brasil e a Indonésia são os únicos países do mundo em que mais da metade das emissões vem do desmatamento. E é importante não confundir devastação florestal com a própria agricultura, embora, com muita frequência a floresta destruída (e não só na Amazônia) dê lugar a atividades agropecuárias. A agropecuária responde por 22% de nossas emissões graças a dois fatores: por um lado à fermentação entérica dos ruminantes da qual resulta um dos mais potentes gases de efeito estufa, o metano.

        Como o Brasil possui o maior rebanho bovino comercial e é o mais importante exportador de carne do mundo, reduzir estas emissões é um imenso desafio, que exige (da mesma forma que na indústria, na mobilidade e na energia) muita ciência e muita inovação tecnológica. O mesmo pode ser dito das emissões derivadas do uso de fertilizantes nitrogenados na agricultura.

        Todavia, contrariamente ao que ocorre com a agropecuária, com a indústria ou com os transportes, zerar o desmatamento (e, portanto, reduzir a contribuição do Brasil à crise climática) não é algo que depende de ciência e de tecnologia ou que exija investimentos vultosos. Cabe então perguntar: quais os custos de interromper a devastação? Será que desmatar a Amazônia não é o equivalente à recusa da China e da Índia em subscrever um acordo climático ambicioso em 2009?

        Seria válido o argumento de que, da mesma forma que, em 2009, os indianos e os chineses não tinham alternativa ao uso do carvão, a sobrevivência e o desenvolvimento dos 25 milhões de brasileiros que vivem na Amazônia depende de sua possibilidade de colocar a floresta abaixo, nela implantando atividades agropecuárias convencionais? Não estará a Amazônia presa a um dilema insuperável entre gerar renda para os que nela vivem ou preservar a floresta?

        É fundamental enfrentar estas perguntas pois elas estão na base da tentativa de imprimir algum fundamento racional àquilo que o Brasil e o mundo assistem hoje com tanto temor e tanta indignação na Amazônia.

        O principal erro dos que toleram, compactuam ou promovem o desmatamento é não se dar conta de que desmatar a Amazônia não produz nem riqueza, nem bem-estar.

        Na verdade, o desmatamento é o mais importante vetor da perenização do atraso e das precárias condições de vida na região. Ele exprime uma forma primitiva de extrativismo que se materializa, por exemplo, na importância do tráfico de madeira clandestina, que funciona como obstáculo à exploração madeireira sustentável, para a qual existem tecnologias e até sistemas de certificação baseados no uso de blockchain, como mostram os trabalhos da BVRio.

        Além disso, como é, na sua esmagadora maioria ilegal, o desmatamento na Amazônia funciona com base na formação de quadrilhas que se especializam em invadir terras públicas e territórios pertencentes a comunidades indígenas e ribeirinhas.

        A construção de pistas de pouso clandestinas e a contratação de motoqueiros que colocam fogo no capim seco dos acostamentos nos distritos à beira da BR-163 e no município de Altamira – é apenas um entre vários indícios dos efeitos da legitimação da destruição florestal sobre o tecido cívico da região.

        Tão importante quanto a criminalidade ligada à esmagadora maioria do desmatamento na Amazônia é a avaliação que se pode fazer hoje de seus resultados econômicos e socioambientais.

        Um gráfico, elaborado pelo professor Raoni Rajão da UFMG, compara a área e a produção de soja e de açaí no Pará entre 1996 e 2015. Vê-se que o açaí tem rendimento por hectare muito maior que a soja.

        Segundo o trabalho de Raoni Rajão, o valor por hectare da soja em 2015 era de RS$ 2.765,79. O do açaí chegava a R$ 26.844,00. Embora seja um produto consumido fundamentalmente na Amazônia, existe hoje uma cadeia global de açaí na casa das centenas de milhões de dólares. Quem poderia prever, quinze anos atrás, que um alimento “de índio” iria converter-se em ingrediente global das dietas de esportistas!

        Os trabalhos recentes de Carlos Nobre e Ismael Nobre listam um vasto conjunto de produtos do extrativismo com imenso potencial econômico. Uma das bases para a exploração sustentável destes produtos é a unidade entre trabalho científico e a própria cultura material dos povos da floresta.

        Um dos mais emblemáticos exemplos desta junção é a Rede de Sementes do Xingu, organizada pelo Instituto Socioambiental. Populações indígenas e ribeirinhas coletam sementes que são selecionadas por técnicos da EMBRAPA e do Instituto Socioambiental e vendidas a fazendeiros para que possam cumprir seus compromissos de reflorestamento.

        Mel, óleo de pequi, copaíba, borracha, castanha, são inúmeros os produtos de uso alimentar, farmacêutico e cosmético que a ciência, aliada aos povos da floresta, pode revelar e ajudar a explorar de maneira sustentável.

        O selo Origens Brasil, que certifica estes produtos e já está em grandes cidades brasileiras acaba de receber um importante reconhecimento internacional por parte da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO/ONU).

        É um exemplo das oportunidades do uso sustentável da floresta em pé com produtos capazes de exprimir nos mercados os valores contidos na preservação da floresta e no respeito aos povos que nela vivem.

        A manutenção da floresta em pé não corresponde, portanto, a uma redoma de contemplação, economicamente paralisada. Ao contrário, ela é um manancial de riquezas que se exprimem tanto em seus serviços ecossistêmicos e na cultura dos que aí habitam como no valor de seus produtos.

        A equipe coordenada pelo professor Britaldo Soares-Filho da UFMG e o economista Jon Strand do Banco Mundial estimaram o valor de alguns destes serviços. Em artigo publicado na prestigiosa Nature Sustainabillity, eles mostram que o desmatamento de um hectare gera perdas anuais de até US$ 40 para a produção de castanha do Pará e US$ 200 para a produção madeireira sustentável.

        Além disso, como o avanço do desmatamento compromete a produção de água por parte da floresta, seus impactos sobre a agricultura e a produção de energia nas hidrelétricas são altamente ameaçadores.

        Em suma, mais que apagar os incêndios que hoje a destroem, a Amazônia precisa de políticas que estimulem a emergência de uma economia do conhecimento (e não da destruição) da natureza, que represente aquilo que temos de melhor: a capacidade de fazer da ciência a base para produzir riqueza e bem-estar, valorizando os ensinamentos e a sabedoria dos povos da floresta.

ABRAMOVAY, Ricardo. Preservar Amazônia é mais lucrativo que desmatar, diz economista. Folha de S. Paulo. São Paulo 1° set. 2019. Ilustríssima. Disponível em: https://www1.folhauol.com.br/ilustrissima/2019/09/preservar-e-mais-lucrativo-que-desmatar-diz-economista.shtml. Acesso em: 7 jul. 2020.

Fonte: Práticas de Língua Portuguesa/Faraco, Moura, Maruxo. – 1.ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020. p. 185-190.

Entendendo a notícia:

01 – O cientista político Ricardo Abramovay inicia seu texto com um dado: “O Brasil é o sexto maior emissor global de Gases de Efeito Estufa.” Na sequência, afirma que há diferença entre a natureza de nossas emissões de gases e a de outros países poluidores. Qual é essa diferença e de que modo ela se relaciona diretamente com o tema do ensaio?

      Enquanto nos demais países mais poluidores (China, Estados Unidos, Índia e Japão) as fontes poluidoras são os combustíveis fósseis usados amplamente na geração de energia, nos transportes e na indústria, no Brasil (e na Indonésia) mais da metade das emissões de gases vem do desmatamento. Essa diferença de natureza de poluição se relaciona diretamente com tema do ensaio porque está ligada ao desmatamento.

02 – Ao falar sobre as ações necessárias para a redução de emissão de gases no mundo, Abramovay aponta para os graus de complexidade das soluções, dependendo das fontes emissoras.

a)   Expliquem de modo resumido: Que considerações ele faz sobre os diferentes graus de complexidade?

Ele aponta a alta complexidade que envolve a redução de emissão de gases resultantes do uso de combustíveis fósseis, uma vez que implica mudanças profundas na economia e na indústria, que envolvem soluções científicas e tecnológicas sofisticadas e de alto custo financeiro.

b)   De que modo o grau elevado de complexidade apontado contribui na defesa do ponto de vista principal do ensaio?

O ensaio ressalta que preservar é uma atitude que gera economia, portanto, se a redução de gases poluentes depende de soluções complexas e, consequentemente, caras, isso reforça a ideia de que preservar é um bom caminho.

03 – No momento em que apresenta as implicações para a redução de emissão de gases advindas do uso de combustíveis fósseis, Abramovay comenta avanços globais na questão, feitos desde 2009, resgatando o histórico da posição de dois países altamente poluentes.

a)   Elaborem uma síntese desse histórico.

Resposta pessoal do aluno.

b)   O cientista político se posiciona em relação a esses avanços? Explique, recorrendo à observação das escolhas linguísticas feitas por ele.

Resposta pessoal do aluno.

c)   Consultem suas anotações feitas durante a leitura individual e compartilhem com os colegas outras escolhas linguísticas do ensaísta que evidenciam o modo de ele modalizar seu discurso: suas apreciações subjetivas, seus julgamentos e posicionamentos em relação ao que diz.

Resposta pessoal do aluno.

04 – Ao citar as principais fontes de emissão de gases do Brasil, o cientista destaca uma fonte que envolve soluções complexas e outra que, em sua percepção, é mais fácil de solucionar. De acordo com o que você leu, quais são elas?

      Resposta pessoal do aluno.

05 – No parágrafo 15, o ensaísta lança uma questão que representa o momento de problematizar e se posicionar. De que modo ele apresenta essa questão ao leitor e que posição assume em relação a ela?

      Resposta pessoal do aluno.

06 – Na publicação original, versão on-line do caderno, o ensaio é acompanhado de fotografias apresentadas no modo slide show, ou seja, há várias fotos, que você pode visualizar ao clicar na imagem em evidência. Aqui, reproduzimos apenas uma delas. Retorne ao texto e observe a foto, a legenda e o parágrafo do ensaio logo abaixo dela. Que tipo de relação de sentido foto, legenda e texto mantêm entre si?

      A foto e a legenda sinalizam para uma atividade econômica sustentável e vão ao encontro do que o ensaísta defende: manter a floresta em pé não é olhar para ela de forma contemplativa, mas é explorar o que ela tem de riqueza enquanto ecossistema.

 

 

quarta-feira, 8 de novembro de 2023

NOTÍCIA: RESPONSABILIDADE DO MOTORISTA NO TRÂNSITO - DOM ODILO PEDRO SCHERER - COM GABARITO

 Notícia: Responsabilidade do motorista no trânsito

              Dom Odilo Pedro Scherer

        O trânsito brasileiro ainda faz, todos os anos, muitas vítimas nas rodovias de todo o país. O problema é grave e requer educação e mais rigor na aplicação da lei. No último feriado, muitas pessoas morreram nas estradas; a maioria por uso de bebidas alcoólicas e excesso de velocidade.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjAOqseG5gpUADQmBusGsUJklNzSbhFNVE1PRcyCnaAgXE68sXOUUF_1pvfGCkCi1_AUkJCQ-LNpoP3K04ZiLVj418k_NlHFtAD3EqBQ-G0467kySeeyYZkUpOl5GysHr8W-11cVMn2CVobhTiIA0Yus_Vd41xo74GopZshxHsIRsAOVe4B3-pPLHdAHC4/s320/TRANSITO.png


        Dom Odilo Pedro Scherer falou ao Canção Nova Notícias, recordando que “os acidentes no trânsito são, muitas vezes, causados pela bebida e, por isso mesmo, é preciso fazer de tudo para evitar que esta seja a causa dos acidentes. Evidentemente, é preciso evitar todos os outros motivos que possam causar acidentes".

        Disse ainda que “é uma grave responsabilidade pegar o carro, levar pessoas e colocar em risco as suas vidas por alguma falta de cuidado, por isso, até mesmo a revisão do carro é preciso. De toda maneira, o cuidado com o álcool é importante, porque colocar em risco a própria vida e a vida de outras pessoas é sempre grave”. E recordou que “a Santa Sé, através do Pontifício Conselho Justiça e Paz, divulgou, há algum tempo, os mandamentos do trânsito, e que aqui, no Brasil, também foram divulgados.”

        “Observar os mandamentos no trânsito é muito importante para que nós possamos respeitar a própria vida e respeitar a vida das outras pessoas.”

SCHERER, Dom Odilo Pedro. Responsabilidade do motorista no trânsito. Disponível em: <http://noticias.cancaonova.com/noticia.php?id=243282>. Acesso em: 16 dez. 2010. Adaptado. 

Entendendo a notícia:

01 – Qual é a preocupação central do Dom Odilo Pedro Scherer em relação ao trânsito no Brasil, de acordo com a notícia?

      Dom Odilo Pedro Scherer está preocupado com o alto número de vítimas no trânsito brasileiro, especialmente devido ao uso de bebidas alcoólicas e ao excesso de velocidade nas estradas.

02 – O que o Dom Odilo destaca como uma das principais causas de acidentes de trânsito na notícia?

      Dom Odilo destaca que o uso de bebidas alcoólicas é uma das principais causas de acidentes de trânsito no Brasil.

03 – Qual é a mensagem de Dom Odilo em relação à responsabilidade dos motoristas no trânsito?

      Dom Odilo enfatiza que é uma grave responsabilidade dirigir, transportar pessoas e colocar suas vidas em risco devido à falta de cuidado. Ele destaca a importância de revisar o carro e de evitar o consumo de álcool ao dirigir.

04 – De acordo com a notícia, qual é a importância dos "mandamentos do trânsito" mencionados pelo Dom Odilo?

      Os "mandamentos do trânsito" são considerados importantes para que as pessoas possam respeitar suas próprias vidas e a vida de outras pessoas no trânsito. Eles são divulgados pela Santa Sé através do Pontifício Conselho Justiça e Paz.

05 – O que o Dom Odilo Pedro Scherer enfatiza como o objetivo principal a ser alcançado no trânsito, de acordo com a notícia?

      Dom Odilo Pedro Scherer enfatiza a importância de evitar acidentes no trânsito, protegendo vidas, e promove o respeito pela vida própria e pelas vidas de outras pessoas como objetivo principal no trânsito.

 

 

 

quarta-feira, 21 de junho de 2023

NOTÍCIA: A GUERRA DOS RATOS NA INDIA - O ESTADO DE S.PAULO - COM GABARITO

 NOTÍCIA: A guerra dos ratos na India

A India é annualmente visitada pelo peor dos flagellos – a peste bubônica. Agora mesmo chegam notícias telegraphicas de que o mal está alli se alastrando cada vez mais.

Como está estabelecido scientificamente que os ratos são os mais perigosos vehiculos da infecção, na India se faz uma verdadeira guerra encarniçada contra os terríveis roedores.

E as estatísticas demonstram que a epidemia assume caracter decrescente na razão directa da destruição dos ratos.

Tempos atraz, os medicos se limitavam a aconselhar que se exterminassem os ratos, e assim a sua destruição prosseguia muito lentamente […]. Hoje, porém, a batalha é dirigida pelo departamento geral de sanidade e é conduzida segundo os criterios mais modernos e sem olhar as despesas. Para avaliar-se todo o mal que a peste tem causado á India basta lembrar que, no espaço de quatorze annos, só na cidade de Bombaim foram victimadas pela peste cerca de 169 000 pessoas.

[…]

A GUERRA dos ratos na India. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 11 fev. 1911. p. 2.

Fonte: Livro – Português – Conexão e Uso -7º Ano – Dileta Delmanto/Laiz B. de Carvalho, Editora Saraiva, 1ª ed., São Paulo, 2018.p.159.

Fonte da imagem - https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiMtDsLYEZS8rateVmUqkvs2zaRYRKEaDXXLP2yOBL2aLc6HcSWNxF4jNa0qRIFstIHnB3LChPV6iO0vMfhJ670eBKMk1frTxT72vGVr_RURjOxll8C7voxgb4sp6gXGez-fTHhiqgGY-GVbZ7MUFsGxnSG_sTM0nXgf3HJ4-P8QbuP4RkOzfmTh2VhXew/s320/RATOS.jpg


Entendendo o texto

01. O texto foi escrito em 1911. Mesmo sem ter certeza em relação a algumas palavras, o que você entendeu dele?

A notícia relata o extermínio de ratos para acabar com a epidemia de peste bubônica que assolava a Índia no período citado.

02. Esse trecho não contém palavras que caíram em desuso, mas há nele outras cuja grafia foi modificada. Identifique essas palavras e anote-as no caderno.

India, annualmente, peor, flagellos, telegraphicas, alli, scientificamente, vehiculos, caracter, directa, atraz, medicos, criterios, á, annos, victimadas.

03. Em sua opinião, por que ocorreram essas mudanças?

Resposta pessoal.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

NOTÍCIA: "SLAM" É VOZ DE IDENTIDADE E RESISTÊNCIA DOS POETAS CONTEMPORÂNEOS - FRAGMENTO - MARGARETH ARTUR - COM GABARITO

 Notícia: Slam” é voz de identidade e resistência dos poetas contemporâneos – Fragmento

              Margareth Artur

        A poesia falada e apresentada para grandes plateias não é um fato novo, porém, a grande diferença é que hoje a poesia falada se apresenta para o povo e não para uma elite — estamos falando da poesia slam. Essa palavra surgiu em Chicago, em 1984, e hoje a poetry slam, como é chamada, é uma competição de poesia falada que traz questões da atualidade para debate. Slam é uma expressão inglesa cujo significado se assemelha ao som de uma “batida” de porta ou janela, “algo próximo do nosso ‘pá!’ em língua portuguesa”, explica Cynthia Agra de Brito Neves, em artigo recém-publicado na revista Linha D’Água. Nas apresentações de slam o poeta é performático e só conta com o recurso de sua voz e de seu corpo.

        A poetry slam, também chamada “batalha das letras”, tornou-se, além de um acontecimento poético, um movimento social, cultural e artístico no mundo todo, um novo fenômeno de poesia oral em que poetas da periferia abordam criticamente temas como racismo, violência, drogas, entre outros, despertando a plateia para a reflexão, tomada de consciência e atitude política em relação a esses temas. Os campeonatos de poesias passam por etapas ao longo do ano, de fevereiro a novembro, são compostos de três rodadas e o vencedor, escolhido por cinco jurados da plateia, é premiado com livros e participa do Campeonato Brasileiro de Slam (Slam Br). O poeta vencedor dessa etapa competirá na Copa do Mundo de Slam, realizada todo ano em dezembro, na França.

        Os campeonatos de slam no Brasil foram introduzidos por Roberta Estrela D’Alva, a slammer (poetisa) brasileira mais conhecida pela mídia e que conquistou o terceiro lugar na Copa do Mundo de Poesia Slam 2011, em Paris. [...]

        [...]

        É fundamental o papel da escola na disseminação dos “slams”, pois por meio deles os alunos expressam “seus modos de existir” e suas reivindicações por “uma cultura jovem, popular, negra e pobre, de moradores da periferia, bem diferentes do gosto canônico, branco e de classe média”. [...].

ARTUR, Margareth. “Slam” é voz de identidade e resistência dos poetas contemporâneos. Jornal da USP, 23 nov. 2017. Disponível em: https:// jornal. Usp.br/ciencias/ciencias-humanas/slam-e-voz-de-identidade-e-resistencia-dos-poetas-contemporaneos. Acesso em: 21 jul. 2020.

Fonte: Práticas de Língua Portuguesa – Ensino Médio – Volume Único – Faraco – Moura – Maruxo – 1ª ed., São Paulo, 2020. Ed. Saraiva. p. 99.

Entendendo a notícia:

01 – Você já tinha ouvido falar de poetry slam? Em caso afirmativo, o que sabe sobre esse movimento?

      Resposta pessoal do aluno.

02 – Alguma vez você já participou (como poeta ou ouvinte) de um encontro de slam?

      Resposta pessoal do aluno.

03 – Para você, que aspecto do slam, de acordo com o texto, parece ser o mais interessante? Por quê?

      Resposta pessoal do aluno.

 

NOTÍCIA: ADOLESCENTES QUE ENGRAVIDAM SOFREM MAIOR RISCO DE PROBLEMAS FÍSICOS, PSICOLÓGICOS E SOCIAIS - JULIANA CONTE - COM GABARITO

 Notícia: Adolescentes que engravidam sofrem maior risco de problemas físicos, psicológicos e sociais

Juliana Conte

Publicado em: 26 de março de 2019

Revisado em: 11 de agosto de 2020

        Taxa de filhos de mães adolescentes no Brasil é maior que a média mundial. Adolescentes que engravidam têm alto risco de uma série de danos, e as mulheres mais pobres são as mais atingidas.

        Os índices de gravidez na adolescência no Brasil servem para nos lembrar de que ainda temos muitas dificuldades a enfrentar nessa área. Dados do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc) mostram que dos quase 3 milhões de nascidos em 2016, 480 mil eram filhos de mães entre 15 e 19 anos, compondo uma taxa de 16% de todos os nascimentos. Apesar de ter havido uma queda de aproximadamente 20% nesse número em dez anos, ainda temos 68 bebês de mães adolescentes para cada mil meninas entre 15 e 19 anos, enquanto a taxa mundial é estimada em 46 para cada mil meninas dessa faixa etária.

        Explicar o motivo que levam a esse cenário não é tão simples, mas os especialistas consultados para esta reportagem foram unânimes em duas hipóteses: independentemente da classe social, os adolescentes estão transando cada vez mais cedo. Ao mesmo tempo, falta educação sexual.

        A preocupação com o uso de método contraceptivo sempre recai sobre a mulher, e geralmente elas têm conhecimento sobre a importância de se prevenir. “A grande maioria das gestantes adolescentes tem noção da necessidade de usar métodos contraceptivos. Sabe que existe camisinha, pílula ou DIU. Mas entre saber e usar, há um abismo”, afirma a dra. Fernanda Surita, ginecologista do Hospital da Mulher de Campinas-SP. Os profissionais apontam, ainda, para um fenômeno chamado “pensamento mágico”. O casal dificilmente acredita que a gravidez vá de fato acontecer com eles. Muitos pensam que “é só uma vez, então não vai acontecer nada”.

        A ginecologista dra. Beatriz Barbosa trabalha no Hospital Maternidade Vila Nova Cachoerinha, na zona norte de São Paulo, desde 2003. Às quartas-feiras ela atende no ambulatório somente gestantes, muitas delas adolescentes. A médica expressa seu desânimo com a situação, dizendo que muitas vezes se sente como se “enxugasse gelo”. Apesar do esforço que toda equipe faz para aconselhar as pacientes, principalmente no pós-parto, ela conta que o risco de atender uma grávida reincidente é alta. Ela se recorda de um episódio de uma menina que engravidou 10 meses após o primeiro parto. Conta que levou um susto quando viu a ficha dela em cima da mesa e achou que era um erro. “Mas não era. Foi muito rápido. Mal tinha dado tempo de ela se recuperar e já ia enfrentar tudo de novo.”

        No breve tempo em que fiquei aguardando para entrevistar a médica, encontrei duas garotas que não deviam ter mais que 15 anos. Tentei conversar com uma delas, que estava acompanhada da mãe, mas sem sucesso. “Aqui é assim praticamente toda semana. Atendo uma média de 20 pacientes, a grande maioria adolescentes. Já cheguei a atender uma de 12 anos. Apesar dos índices do Ministério apontarem para uma queda nos índices de gravidez precoce, na prática clínica não é isso que notamos”, comenta Beatriz.

        Muitos ginecologistas acreditam que é preciso reforçar a orientação sobre a necessidade de usar métodos contraceptivos, principalmente os de longa duração. Isso ajudaria bastante nos casos em que a jovem se esquece de tomar a pílula. “O SUS oferece o DIU de cobre, mas a adesão é muito baixa e o produto chega até a vencer nas unidades de saúde”, comenta César Eduardo Fernandes, presidente da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).

        Adolescentes grávidas sofrem com falta de estrutura

        Ser mãe adolescente, sem nenhum tipo de planejamento nem apoio familiar, ocasiona diversos problemas na vida da gestante e perpetua um ciclo de pobreza e exclusão social difícil de ser quebrado. Adolescentes pobres têm cinco vezes mais risco de engravidar que as mais ricas. Com filhos, dificilmente elas conseguirão conciliar os estudos, entrar no mercado de trabalho e ter independência financeira.

        Muitas atrasam o pré-natal (momento extremamente importante para garantir a integridade física do bebê) porque não se sentem preparadas para contar para a família que estão grávidas. Dessa maneira, a janela para identificar e resolver algum problema de saúde potencialmente grave, como sífilis, fica limitada, o que aumenta ainda mais o risco de instabilidade dali em diante. Ao mesmo tempo, elas ainda são muito jovens, então elas demonstram preocupações quase infantis. “Elas chegam assustadas e com algumas dúvidas que não condizem com a situação. Perguntam ‘mas como esse bebê vai sair daqui?’”, afirma Beatriz Barbosa.

        Tanto o Hospital Cachoeirinha, em São Paulo, como o Hospital da Mulher, em Campinas, promovem atendimento especializado multidisciplinar para dar suporte a essas gestantes. As áreas de nutrição (a maioria chega abaixo do peso e desnutrida), de assistência social e de psicologia são as mais acionadas. Apesar de cada uma abordar uma vertente, todas procuram identificar se a garota não foi vítima de violência sexual. “Estabelecemos um acolhimento para entender, primeiramente, a dinâmica familiar em que a jovem está inserida. Depois disso, tentamos inseri-la em políticas públicas como bolsa família, cesta básica emergencial, cursos para gestante etc.”, explica Dalva Rossi, assistente social do Hospital da Mulher de Campinas.

        Gravidez na adolescência e pouco diálogo em casa

        Nem todos os adolescentes que têm filhos muito cedo apresentam histórico de desestruturação familiar, mas é muito comum serem prole de gerações que também tiveram filhos antes dos 20 anos. A falta de conversa sobre sexo em casa também costuma ser tradição nessas famílias.

        Eles não conversam sobre o assunto em casa e, provavelmente, nem na escola. Na verdade, o ensino sobre os temas sexualidade e prevenção da gravidez sofreu grande retrocesso no país em meados de 2011, quando se instaurou uma polêmica envolvendo o material educativo Escola sem Homofobia (que ficou tachado de “kit gay”). Na época, todo o suporte didático que era distribuído desde 2003 para crianças a partir dos 12 anos foi recolhido sob a justificativa de que “incentivavam o homossexualismo (sic) e a promiscuidade”. “Falta espaço para discutir sexualidade porque ainda a encaramos como tabu. Os pais acham que se falarem com os filhos sobre o assunto vão estimular a relação sexual precoce, o que é um mito”, afirma Rossi.

        Riscos de uma gravidez na adolescência

        Além do aspecto social, a gravidez na adolescência está associada a uma série de riscos à saúde da mulher e do bebê. Elevação da pressão arterial (eclampsia e pré-eclâmpsia) com risco de crises convulsivas são alguns dos problemas que podem acometer a grávida muito jovem com maior frequência que em outras faixas etárias.

        Entre os agravos mais comuns no bebê, estão a prematuridade e o baixo peso ao nascer. “O índice de mortalidade entre filhos de mães adolescentes é muito alto. Cerca de 20% da mortalidade infantil no Brasil decorrem do óbito precoce de bebês nascidos de mães entre os 15 e 19 anos”, destaca a dra. Evelyn Eisenstein, membro do Departamento Científico de Adolescência da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

        Outro problema muito comum é a deficiência nutricional, com riscos de anemia. Por isso, muitas vezes, é necessário haver suplementação de cálcio e ferro para as gestantes.

        Qualquer pessoa consegue imaginar a desorganização que ter filhos de forma não planejada pode provocar na vida. No caso específico de mulheres jovens, cada uma dessas condições é um agravante com alto impacto no futuro de famílias que provavelmente já se encontram em situação vulnerável. Como acontece na maioria das vezes quando tratamos questões envolvendo pessoas socialmente mais vulneráveis, o mais eficaz é concentrar os esforços em políticas públicas na prevenção.

CONTE, Juliana. Adolescente que engravidam sofrem maior risco de problemas físicos, psicológicos e sociais. Drauzio Varella. UOL, 26 mar. 2019. Disponível em: https://drauziovarella.uol.com.br/reportagens/adolescentes-que-engravidam-sofrem-maior-risco-de-problemas-fisicos-psicologicos-e-sociais. Acesso em: 8 jun. 2020.

Fonte: Práticas de Língua Portuguesa – Ensino Médio – Volume Único – Faraco – Moura – Maruxo – 1ª ed., São Paulo, 2020. Ed. Saraiva. p. 138-140.

Entendendo a notícia:

01 – Após a leitura da reportagem, discuta com os colegas e o professor: Você conhece alguém que já tenha passado pela situação reportada no texto? Ela vivenciou os problemas apontados na reportagem?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: É importante que os alunos façam a relação entre o texto e algo que eles já tenham vivenciados na família, entre os amigos, na própria escola.

02 – Reúna-se com um colega para analisar o texto em seus termos mais globais.

a)   Acessem o site em que está o texto. Qual é o objetivo desse portal? O texto lido está alinhado com esse objetivo? Por quê?

Nesse portal, são divulgadas textos sobre saúde e qualidade de vida, com uma linguagem acessível a toda a população. A reportagem está alinhada com esse objetivo geral do site em que circula, pois aponta possíveis problemas de saúde a que se expõe uma adolescente grávida.

b)   Quem pode se interessar por textos dessa natureza?

Qualquer pessoal que esteja em busca de informações sobre o tema tratado nele.

c)   O texto foi organizado som subdivisões. Com que propósito isso foi feito?

As subdivisões sinalizadas por subtítulos, têm o propósito de indicar subtemas.

d)   Considerando o que você já sabe dos gêneros do campo jornalístico, por que o texto é exemplo de uma reportagem?

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Porque possui elementos característicos da reportagem: o lide; a investigação jornalística acerca de um assunto específico; o levantamento de dados; o tratamento do assunto de maneira mais subjetiva, quando comparado à notícia; a função de informar o leitor sobre determinado assunto; possíveis entrevistas com especialistas.

03 – A reportagem apresenta diversos dados de uma pesquisa.

a)   No primeiro parágrafo, qual é a importância do uso desse tipo de informação em uma reportagem?

Esse tipo de informação ajuda a dar credibilidade para aquilo que está sendo apresentado ao longo do texto.

b)   Considerando o segundo parágrafo, para que fatos esses dados apontam?

Os adolescentes iniciam a vida sexual cada vez mais cedo, falta educação sexual entre eles.

c)   No terceiro parágrafo, um desses dados se mostra mais complexo do que se pode pensar. Qual é e por quê?

É a questão da falta de educação sexual e expliquem que nesse parágrafo a jornalista indica que os jovens têm informação, mas não acreditam que a gravidez vá acontecer com eles especificamente.

04 – Os hospitais Cachoeirinha (São Paulo - SP) e da Mulher (Campinas – SP) oferecem à população atendimento especializado multidisciplinar. E na região em que você mora, como é o atendimento às mulheres nos hospitais públicos e/ou em unidades básicas de saúde?

      Resposta pessoal do aluno.

05 – No quarto parágrafo, a médica entrevistada aponta que, diante da situação, ela se sente como se “enxugasse gelo”. Qual é o sentido dessa expressão? Que fato a leva a se sentir assim?

      Sentido de insistir em algo que parece ser inútil. A expressão sugere que por mais que a médica esteja se esforçando para orientar as pacientes grávidas, esse trabalho parece não surtir efeito, pois elas não a ouvem. A profissional sente-se desanimada, porque a taxa de reincidência de gravidez na adolescência no local onde ela trabalha é constantemente alta.

06 – De acordo com o texto, as adolescentes pobres têm cinco vezes mais risco de engravidar do que as mais ricas. Qual é a justificativa apresentada para essa afirmativa?

      Isso provavelmente acontece porque as adolescentes mais pobres têm menos informação sobre os métodos contraceptivos em comparação com as jovens economicamente mais favorecidas.