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domingo, 16 de maio de 2021

FÁBULA: O DINHEIRO NÃO TRAZ FELICIDADE - MILLÔR FERNANDES - COM GABARITO

 FÁBULA: O DINHEIRO NÃO TRAZ FELICIDADE

                Millôr Fernandes

Só e triste vivia o pobre marceneiro José dos Andrajos. Sem parentes, ele morava na sua loja humilde, trabalhando dia e noite para ganhar o que mal e mal lhe bastava para sustentar-se (era como qualquer um).

Mesmo assim, porém, conseguia economizar cinquenta cruzeiros cada mês. No fim do ano, com seiscentos cruzeiros juntos, lá ia ele para o "Fasanelo... e nada mais", e comprava um bilhete inteiro.

Os que sabiam de sua mania riam dele, mas ele acreditava que era através da loteria e não do trabalho que iria fazer-se independente. E assim foi.

No quinto ano de sua insistência junto à loteria ("insista, não desista."), esta lhe deu cem mil contos. Surgiram fotógrafos e repórteres dos jornais, surgiram os amigos para participar do jantar que ele deu para comemorar sua sorte.

José fechou imediatamente a loja e, daí em diante, sua vida foi uma festa contínua. Saía em passeios de lancha pela manhã, à tarde ia para os bares, à noite para as boates e cabarés, sempre cercado por amigos entusiasmados e senhoras entusiasmadíssimas.

Mas, está visto, no meio de tanta efusão, o dinheiro não durou um ano. E, certo dia, vestido de novo com suas roupas humildes, o nosso marceneiro voltou a abrir sua humilde loja para cair outra vez em seu trabalho estafante e monótono. Tornou a economizar seus cinquenta cruzeiros por mês, aparentemente mais por hábito do que pelo desejo de voltar a tirar a sorte grande, o que, aliás, parecia impossível.

Os conhecidos continuavam zombando dele, agora afirmando-lhe que a oportunidade não bate duas vezes (a oportunidade só bate uma vez. Quem bate inúmeras vezes são as visitas chatas.).

No caso de nosso marceneiro, porém, ela abriu uma exceção. Pois no terceiro ano em que comprava o bilhete, novamente foi assaltado pelos amigos e repórteres que, numa algazarra incrível, festejavam sua estupenda sorte.

Mas, desta vez, o marceneiro não ficou contente como quando foi sorteado pela primeira vez. Olhou para os amigos e jornalistas com ar triste e murmurou: "- Deus do céu; vou ter que passar por tudo aquilo outra vez!?"

MORAL: PARA MUITA GENTE DÁ UM CERTO CANSAÇO TER QUE COMPARECER À FESTA DA VIDA.

(Fábulas fabulosas. Disponível em: www2.uol.com.br/millor/fabulas/039.htm. Acesso em: 17/6/2012.)

Fonte: Livro- Português: Linguagem, 3/ William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 11.ed – São Paulo: Saraiva, 2016.p.124-5.

ENTENDENDO O TEXTO 

1. Observe o 1º parágrafo do texto.

a) Nele é apresentada a personagem principal da narrativa.

    Como ela é retratada?

    Como um marceneiro que vivia só e triste.

b) Há, nesse parágrafo, uma palavra que faz referência ao marceneiro. Qual é essa palavra?

O pronome pessoal ele.

c) Na frase “Sem parentes, ele morava na sua loja humilde”, o pronome sua indica posse.

No contexto, sua se refere à posse de quem?

À posse do marceneiro; indica que a loja era dele.

2. O 2º parágrafo tem com o 1º uma relação de oposição.

a) Que palavra do 2º parágrafo é responsável por marcar essa oposição?

A palavra porém.

b) Em que outros parágrafos se observa o mesmo tipo de relação? Que palavras marcam essa oposição entre parágrafos?

No 6º, no 8º e no 9º parágrafos. As palavras são mas, porém e mas, respectivamente.

3. Releia estes três fragmentos do texto:

“trabalhando dia e noite para ganhar o que mal e mal lhe bastava para sustentar-se”

“No quinto ano de sua insistência junto à loteria (“insista, não desista.”), esta lhe deu cem mil contos.”

“agora afirmando-lhe que a oportunidade não bate duas vezes”

a)   A que ou a quem se refere o pronome lhe em cada um dos fragmentos?

          Refere-se ao marceneiro.

 b)   A que se refere o pronome esta, no segundo fragmento?

         Refere-se à loteria.

4. O texto apresenta os fatos em sequência e de acordo com uma relação de causa e efeito. Além disso, situa-os em relação ao tempo e ao espaço.

a) O tempo verbal é um importante recurso na organização do texto. Que tempo verbal predomina? Justifique sua resposta.

Predomina o passado, como pode ser constatado no emprego das formas: vivia, morava, conseguia, fechou, tornou, olhou, etc.

b) Identifique no texto alguns indicadores temporais, isto é, palavras e expressões que marcam a passagem do tempo.

Entre outros: “no fim do ano”, “no quinto ano”, ”daí em diante”, “pela manhã”, “à tarde”, “à noite”, “certo dia”, “no terceiro ano”, “desta vez”, “quando foi sorteado pela primeira vez”.

5. Como foi observado, há no texto palavras que retomam outras, expressas anteriormente. Esse procedimento de retomada tem o objetivo de tornar o texto mais dinâmico, evitando repetições.

a) Que expressão foi usada no último parágrafo para retomar a ideia de exploração e frustração apresentada na história?

A expressão tudo aquilo, no trecho “passar por tudo aquilo outra vez”.

 b)Na moral dessa fábula, a que se refere a expressão “festa da vida”?

Ao assédio que a personagem sofreu por “amigos” e “senhoras” interesseiros.

c)A expressão “festa da vida” foi ou não usada de modo irônico?

Sim, foi usada de modo irônico, pois o assédio sofrido pela personagem por causa de seu dinheiro não era propriamente uma festa, já que o marceneiro, de certa forma, foi manipulado ou se deixou manipular pelos outros.

6. Na sua opinião, a moral da história é coerente com a abordagem realizada pelo autor? Por quê?

Sim. O autor é irônico e, de certa forma, faz uma crítica às pessoas que não aproveitam as oportunidades para mudar de atitude na vida.

segunda-feira, 10 de maio de 2021

FÁBULA: BURRICE - MONTEIRO LOBATO - COM GABARITO

 FÁBULA: BURRICE

              Monteiro Lobato

Caminhavam dois burros, um com carga de açúcar, outro com carga de esponjas.

Dizia o primeiro:

— Caminhemos com cuidado, porque a estrada é perigosa.

O outro redarguiu*:

— Onde está o perigo? Basta andarmos pelo rastro dos que hoje passaram por aqui.

— Nem sempre é assim. Onde passa um, pode não passar outro.

— Que burrice! Eu sei viver, gabo-me disso, e minha ciência toda se resume em só imitar o que os outros fazem.

— Nem sempre é assim, nem sempre é assim… continuou a filosofar o primeiro.

Nisto alcançaram o rio, cuja ponte caíra na véspera.

— E agora?

— Agora é passar a vau*.

O burro do açúcar meteu-se na correnteza e, como a carga se ia dissolvendo ao contato da água, conseguiu sem dificuldade pôr pé na margem oposta.

O burro da esponja, fiel às suas ideias, pensou consigo:

— Se ele passou, passarei também — e lançou-se ao rio.

(Mas sua carga, em vez de esvair-se como a do primeiro, cresceu de peso a tal ponto que o pobre tolo foi ao fundo.)

— Bem dizia eu! Não basta querer imitar, é preciso poder imitar — comentou o outro.

MONTEIRO, Lobato. Burrice. Em ______. Fábulas. São Paulo:

Universo dos Livros, 2019.

Fonte: Livro - APROVA BRASIL - Língua Portuguesa, 7º ano, 3ª ed. São Paulo: Moderna, 2019, p.42-3.


Glossário

* redarguiu: respondeu argumentando.

* vau: parte rasa do rio.

1. A fábula “Burrice” tem como tema principal

( A ) os perigos encontrados na estrada pela qual os burros precisavam passar.

( B ) a teimosia de um dos burros, que acreditava poder sempre imitar os outros.

( C ) o fato de o açúcar se dissolver quando entra em contato com a água.

( D ) o fato de as esponjas aumentarem de peso quando estão cheias de água.

2. No trecho “Nem sempre é assim. Onde passa um, pode não passar outro.”, o termo destacado indica

( A ) lugar.

( B ) tempo.

( C ) modo.

( D ) causa.

sexta-feira, 11 de setembro de 2020

FÁBULA: DAS FALSAS POSIÇÕES - MÁRIO QUINTANA -(In: José Paulo Paes) - COM GABARITO

 Fábula: Das falsas posições

            Mário Quintana


Com a pele do leão vestiu-se o burro um dia.

Porém no seu encalço, a cada instante e hora,

“Olha o burro! Fiau! Fiau!” gritava a bicharada...

Tinha o parvo esquecido as orelhas de fora!

                             In: José Paulo Paes et al. Poesias. 17, ed. São Paulo: Ática, 2002. P. 19. (Para gostar de ler 6). By Elena Quintana.

Entendendo a fábula:

01 – Qual desejo é revelado pela atitude do burro?

      O desejo de se passar por um leão, isto é, de parecer um animal forte e imponente diante dos outros animais.

02 – O que impede o personagem de realizar seu desejo?

      O fato de esquecer as orelhas de fora da pele de leão, impedindo que ele seja confundido com o leão.

03 – Escreva o sujeito e o predicado dos períodos contidos nos versos 1 e 4.

      Verso 1 – Sujeito: o burro; Predicado: com a pele do leão vestiu-se um dia.

      Verso 4 – Sujeito: O parvo: Predicado: Tinha esquecido as orelhas de fora!

04 – Agora, reescreva os mesmos versos usando a ordem direta.

      O burro vestiu-se com a pele do leão um dia. O parvo tinha esquecido as orelhas de fora!

05 – Releia a fábula em voz alta, prestando atenção ao som dos versos. Com que finalidade a ordem indireta foi usada no terceiro verso?

      A ordem indireta permitiu a rima de bicharia com dia, do primeiro verso.

 

 

quarta-feira, 24 de junho de 2020

FÁBULA: O CARROCEIRO EM APUROS - COM GABARITO

Fábula: O carroceiro em apuros 

       Uma carroça, por descuido do carroceiro, achava-se certa vez atolada em um pântano horrível. O homem gritava, ralhava, aguilhoava e chicoteava os seus bois; dobravam estes de esforço, porém nada conseguiam; o pegajoso barro prendia as rodas. O carroceiro pôs-se então a suplicar a Deus e aos santos, fez-lhes promessas de esmolas, de oferendas, se lhe safassem o carro do perigo. Então ouviu uma voz que dizia: O céu vai lhe ajudar: Faça o seguinte: pegue a enxada, desprenda a lama das rodas, examine onde mais sólido está o chão; cave e limpe esse maldito barro, empurre as rodas; agora toque seus bois. Ótimo! Veja lá o seu carro como vai andando... Cuidado com outros atoleiros! Vendo feito o milagre o carroceiro ajoelhou-se, agradecido. Então a voz se lhe fez de novo ouvir: Tens razão de agradecer, pois ficaste sabendo que o céu sempre ajuda a quem se ajuda a si próprio.

        Moral da história: Nos lances da vida aproveitemos a força e a inteligência que Deus nos concedeu, quem por indolente ou por desacoroçoado (desanimado) cruzar os braços, não conte com milagres que o salvem.

             In: Fábulas e contos. Disponível em: http://bit.l/2551Rlp. Acesso em: maio / 2019.

Entendendo a fábula:

01 – Durante o tempo em que a carroça ficou atolada, qual foi a primeira atitude do carroceiro para desprende-la?

a)   Ajoelhou-se e ficou muito desanimado.

b)   Fez promessas de esmolas e oferendas.

c)   Pegou a enxada e começou a retirar o barro.

d)   Tratou muito mal os bois que puxavam a carroça.

02 – O personagem suplica a Deus quando:

a)   Desprendeu a carroça e sabia que tinha mais atoleiros pela frente.

b)   Examinou que o barro era muito pegajoso e o pântano horrível.

c)   Percebeu que seus bois não conseguiriam desatolar a carroça.

d)   Teve a certeza de que seus bois não conseguiram sair do atoleiro.

03 – De acordo com o texto, a ajuda dada pelos céus deixou o carroceiro:

a)   Agradecido.

b)   Atento.

c)   Esforçado.

d)   Inteligente.

04 – No trecho: “Uma carroça, por descuido do carroceiro, achava-se certa vez atolada em um pântano horrível”, a expressão destacada indica:

a)   Certeza.

b)   Modo.

c)   Opinião.

d)   Tempo.

05 – Na frase: “Dobravam estes de esforço, porém nada conseguiam...”, a palavra sublinhada substitui.

a)   Bois.

b)   Braços.

c)   Lances.

d)   Santos.

 


sábado, 30 de maio de 2020

FÁBULA: URUBUS E SABIÁS - RUBEM ALVES - COM GABARITO

Fábula: Urubus e sabiás
             Rubem Alves


    “Tudo aconteceu numa terra distante, no tempo em que os bichos falavam... Os urubus, aves por natureza becadas, mas sem grandes dotes para o canto, decidiram que, mesmo contra a natureza eles haveriam de se tornar grandes cantores.

E para isto fundaram escolas e importaram professores, gargarejaram dó-ré-mi-fá, mandaram imprimir diplomas, e fizeram competições entre si, para ver quais deles seriam os mais importantes e teriam a permissão para mandar nos outros. Foi assim que eles organizaram concursos e se deram nomes pomposos, e o sonho de cada urubuzinho, instrutor em início de carreira, era se tornar um respeitável urubu titular, a quem todos chamam de Vossa Excelência. Tudo ia muito bem até que a doce tranquilidade da hierarquia dos urubus foi estremecida. A floresta foi invadida por bandos de pintassilgos tagarelas, que brincavam com os canários e faziam serenatas para os sabiás... Os velhos urubus entortaram o bico, o rancor encrespou a testa, e eles convocaram pintassilgos, sabiás e canários para um inquérito.
        — Onde estão os documentos dos seus concursos? E as pobres aves se olharam perplexas, porque nunca haviam imaginado que tais coisas houvessem. Não haviam passado por escolas de canto, porque o canto nascera com elas. E nunca apresentaram um diploma para provar que sabiam cantar, mas cantavam simplesmente...

        — Não, assim não pode ser. Cantar sem a titulação devida é um desrespeito à ordem.
        E os urubus, em uníssono, expulsaram da floresta os passarinhos que cantavam sem alvarás...”.
        MORAL: Em terra de urubus diplomados não se houve canto de sabiá.

O texto acima foi extraído do livro "Estórias de quem gosta de ensinar — O fim dos Vestibulares", editora Ars Poética — São Paulo, 1995, pág. 81.
Entendendo a fábula:

01 – Identifique o fato que motivou a fábula.
      Foi motivado pelo interesse dos urubus em se tornarem cantores, apesar de se tratar de algo que não faz parte da sua natureza.

02 – No trecho: “Os urubus, aves por natureza becadas, mas sem grandes dotes para canto, decidiram que, mesmo contra a natureza, eles haveriam de se tornar grandes cantores”.
        As palavras e a passagem em destaque exprimem, respectivamente, relações de:
a)   Oposição, finalidade e consequência.
b)   Adversidade, finalidade e concessão.
c)   Adição, lugar e exceção.
d)   Oposição, local e condição.
e)   Adversidade, objetividade e exclusão.

Considere o trecho a seguir par responder:
“E as pobres aves se olharam perplexas, porque nunca haviam imaginado que tais coisas houvessem”.
03 – Não mudaria o sentido da frase, se substituíssemos a palavra “perplexas” por:
a)   Tristes.
b)   Magoadas.
c)   Felizes.
d)   Comprometidas.
e)   Hesitantes.

04 – Sobre a moral da fábula: “Em terra de urubus diplomados não se ouve canto de sabiá”, assinale a opção correta.
a)   O período é composto por duas orações.
b)   O sujeito do verbo ouvir é canto de sabiá.
c)   Nessa frase, houve exploração da ênclise.
d)   O texto está na voz ativa.
e)   “... de urubus diplomados” é sujeito simples.

05 – Assinale a alternativa que aponte o clímax da fábula.
a)   Os urubus decidiram se tornar cantores.
b)   Os urubus fizeram competições de canto entre si.
c)   Os pássaros invadiram a floresta.
d)   Os velhos urubus convocaram os pássaros para um inquérito.

06 – Como termina a fábula?
a)   “... quando ‘Os velhos urubus entortaram o bico, o rancor encrespou a testa...’”.
b)   “[...] quando as pobres aves se olharam perplexas [...]”
c)   “[...] quando apresentaram um diploma para provar que sabiam cantar [...]”
d)   “[...] quando os urubus expulsaram da floresta os passarinhos que cantavam sem alvarás”.

07 – Julgue se os itens abaixo estão corretos (C) quanto aos aspectos semânticos e gramaticais. (E) errado.
a)   (E) “Cantar sem titulação devida é um desrespeito à ordem”. Em tal contexto, eram ordeiros apenas os intitulados.
b)   (E) O segmento “o rancor encrespou a testa” caracteriza uma comparação como figura de linguagem.
c)   (E) O termo “gargarejaram” pode ser substituído por “gargantearam” sem prejuízos de ordem semântica.
d)   (E) A mudança topológica do adjetivo acarreta variações semânticas no segmento “Os velhos urubus” assim como em: os velhos marinheiros e marinheiros velhos.

08 – Julgue os itens quanto aos aspectos morfossintáticos e semânticos. (C) correto. (E) errado.
a)   (E) O texto classifica-se como fábula ou um apólogo, por atribuir a seres inanimados características de seres humanos.
b)   (E) O objetivo dos urubus era coibir o direito de canto dos pintassilgos; caçá-los, portanto.
c)   (E) Tornou-se impossível urubus e pintassilgos coabitarem a mesma floresta.
d)   (E) Trata-se de uma estrutura exclusivamente dissertativa.

09 – Julgue os itens com (C) correta e (E) errada.
a)   (C) “O saber institucionalizado não aceita outras formas de saber que não as controladas por lei”. A proposição identifica-se com a moral do texto.
b)   (C) O poder dos urubus pode ser comparado ao das corporações ditatoriais que não aceitam o sucesso de quem não podem controlar.
c)   (C) Considerando a ordem estabelecida na floresta pelos urubus, pode-se afirmar que os canários, pintassilgos e sabiás são amorais.
d)   (E) A exceção dos sabiás, os outros pássaros poderiam viver na floresta desde que participassem dos concursos.

domingo, 24 de maio de 2020

FÁBULA: DO LEÃO E DOS BÊBADOS - COM QUESTÕES GABARITADAS

Fábula: Do leão e dos bêbados


    Decrépito o leão, terror dos bosques, e saudoso de sua antiga fortaleza, espairecia um deles ao entardecer à sombra do parque onde o prenderam.
    Assim levava a vida, ou assim esperava a morte.
    Sua missão não era valorosa; incumbia-lhe, todos os dias, e de preferência aos sábados e domingos, fingir que era de fato um leão feroz e assustar os visitantes com pálidos rugidos.
        Em troca, recebia três fartas refeições ao dia (fora o breakfast), água fresca, sombra, agradável companhia, e o título honorífico de rei das selvas, que na verdade era o que mais o comovia.
        Mas não era de fato um leão de verdade; faltavam-lhe a certeza de sua intrepidez, o horizonte aberto, a liberdade, que não ia além do arame farpado entre as sebes disfarçado.
        Tratava-se de um jogo previamente combinado: em troca do alimento e da tranquilidade, o mísero leão, rugindo apenas, aceitava digerir todas as afrontas.
        Um belo dia aconteceu, porém, que três bebuns, enganando-se de boteco, erraram o atalho e foram cair, por puro acaso, nos domínios reservados ao leão domesticado. E tão bebuns estavam os três-loucados que nem se deram fé do risco que corriam: a moita onde dormiam desmaiados nada mais era que a juba da fera enjaulada.
        Surpreendeu-se o leão com tamanha audácia, que não constava nas cláusulas contratuais que assinara com o empresário-empregador. E logo lhe veio à mente, num impulso atávico, o justo desejo de provar daquele banquete que se oferecia assim de mão-beijada. De fato, há muito o leão não saboreava um prato humano, como nos velhos tempos de antanho.
        Já se lambia o bicho, com sua língua áspera e salivada.
        Mas a civilização também cobra os seus tributos – e o leão, que conhecia algo de Direito, antes de se lançar ao ataque, resolveu reler o seu contrato, a ver se nas entrelinhas (sábio leão!) não constava algo que o prejudicasse: pois não queria o rei das selvas perder o emprego por justa causa. Pra tanto procurou um leão mais velho – e presumidamente mais experiente – e lhe propôs a delicada questão: se era lícito, naquela conjuntura, devorar os três bebuns incautos, que haviam invadido o parque e ali dormiam.
        O velho leão examinou o contrato, verificou se não era falso, e concluiu que, pelo escrito, nada impedia legalmente que o leão mais novo os devorasse. Mas enquanto consultavam a lei, corria o tempo, de sorte que, por sorte, os três bebuns, passada a carraspana despertaram para a vida. Sobressaltados, antes que o leão, apoiado na lei, voltasse e os atacasse, trataram os três de fazer o que a situação impunha: mandar-se.
        E foi desta maneira que o leão perdeu o acepipe, frustrando-se o ensejo de fartar-se com carne de primeira, tenra e fresquinha (ainda por cima regada a canjebrina). 
        Amuado, foi novamente ao leão mais velho (e mais experiente) queixar-se de que o excesso de escrúpulo contratual o havia feito perder o nobre prato. 
        Ao que o mais velho respondeu, com a sabedoria própria dos leões fabulosos:
        -- Queixas-te de barriga cheia, o que é um mal. Se de fato estivesses com fome, certamente primeiro os teria devorado, e só depois te lembrarias do contrato. Mas não te lastimes: quem faz o bem sempre o tem. Nenhum leão está livre neste mundo de, amanhã, por acaso, adormecer num parque e ser comido de surpresa por três bebuns esfomeados. A vida não está difícil só para os animais, rapaz.
        Moral: Não te lastimes: quem faz o bem sempre o tem.

Vocabulário:                                                                                         
Decrépito: velho, caduco
Espairecer: entreter-se
Honorífico: honroso
Intrepidez: coragem
Sebe: arbusto
Juba: crina
Audácia: coragem
Cláusula: artigo; preceito
Atávico: reaparecimento de uma característica dos ascendentes
Antanho: antigamente
Incauto: imprudente
Carraspana: bebedeira
Acepipe: guloseima
Ensejo: oportunidade
Canjebrina: cachaça
Escrúpulo: cuidado


Entendendo a fábula:

01 – O texto que você acabou de ler apresenta os elementos essenciais da narrativa: personagens, fato, tempo, lugar (espaço), narrador.
a)   Quem são as personagens?
O leão novo, o leão velho e os três bêbados.

b)   O que acontece?
Os bêbados foram dormir no domínio do leão novo.

c)   Onde acontece a história?
Num parque.

d)   Quem narra a história: um narrador-personagem ou um narrador-observador? Justifique.
Um narrador-observador. Porque conta a história presenceada por ele.

02 – O que seria necessário para que o animal desta fábula fosse “um autêntico leão”?
      Ele precisava ser feroz, viver solto a natureza e ter os instintos selvagem.

03 – Por que o leão não devorou os bêbados? Copie a alternativa mais acertada. Justifique sua escolha.
a)   Porque as cláusulas contratuais o proibiam.
b)   Porque, enquanto ele e o leão mais velho consultavam o contrato, os três bêbados, conscientes do risco que corriam, fugiram.
c)   Porque, além de não querer perder o emprego, não estava faminto.

04 – Explique o uso da expressão destacada na frase:
“E tão bebuns estavam os três-loucados que nem se deram fé do risco que corriam [...]”.
      Significa que a pessoa perdeu o juízo ou o bom senso = alucinado, desvairado, doido, louco.

05 – Inverossimilhante é tudo aquilo que não tem aparência de verdadeiro. Releia o último parágrafo e transcreva um trecho inverossímil.
      “Nenhum leão está livre neste mundo de, amanhã, por acaso, adormecer num parque e ser comido de surpresa por três bebuns esfomeados. A vida não está difícil só para os animais, rapaz.”

06 – De onde provém a comicidade do texto? Escolha a alternativa correta.
a)   Do fato de um leão estar preso.
b)   Do fato de dois leões conversarem com humanos.
c)   Da presença de um animal renegar seus instintos em nome de um contrato.
     d) Do fato de um leão pedir ajuda a um amigo mais velho.

07 – No texto alteram-se termos próprios de uma linguagem formal e termos característicos de uma linguagem bem coloquial (informal).
a)   Procure alguns exemplos de uso mais formal da linguagem.
“Decrépito o leão, terror dos bosques, e saudoso de sua antiga fortaleza, espairecia...”.

b)   Procure exemplos de uso coloquial.
“Mão-beijada”; “pra”; “canjebrina”; “amuado”.

08 – Para reproduzir as falas das personagens, o autor utiliza dois tipos de discurso: o discurso direto e o discurso indireto. Localize trechos em que aparecem exemplos desses dois tipos de discurso. Justifique sua resposta.
      Discurso direto: “-- Queixas-te de barriga cheia, o que é um mal. Se de fato estivesses com fome, certamente primeiro os teria devorado, e só depois te lembrarias do contrato.”

      Discurso indireto: “Tratava-se de um jogo previamente combinado: em troca do alimento e da tranquilidade, o mísero leão, rugindo apenas, aceitava digerir todas as afrontas.”