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quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

CRÔNICA: O AUTOMÓVEL - WALCYR CARRASCO - COM GABARITO

 Crônica: O Automóvel

                Walcyr Carrasco

QUANDO PAPAI COMPROU nosso primeiro carro, mamãe decidiu: 

     Vou tirar carta de motorista!

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh0IHK8BT-tVybpg-WWjqdI0qN9WgcIjOyKW881Kz9q84b_WI2cgnsVsXlJfPChSFielWex_rtCM8tuAsg7RAwAJz5SNwz2AZv6YZkU62hV6SUznjk75bAjTtdXPiG9toWE8gGLTGZAk7ajjPmEXSoSzOtTuMSY_7Tc_eCiwUqeQQAhVUedyhE79FQ9_us/s1600/JIPE.png


Eu era criança. Não era comum que mulheres dirigissem. Mamãe tinha alma de pioneira. Por exemplo, trabalhava fora, enquanto suas amigas se conformavam em ser donas-de-casa. Morávamos em uma cidade do interior. A autoescola só tinha um jipe. Começaram as aulas. Comigo no banco de trás, as mãos presas agarradas na capota. O jipe dava solavancos e rodopiava pelas ruas. O instrutor aterrorizado.

— O breque, o breque! Aperte o breque!

Mamãe se confundia. Enfiava o pé no acelerador. Ela gritava. O instrutor gritava. Os pedestres corriam. Entre as façanhas, arrancou a porta de um Karmann Guia. Na última aula antes do exame arrasou a entrada do mercado municipal.

Repetiu duas vezes. Na terceira, o examinador tremia:

— Mais devagar! Assim a senhora enfia o carro em uma árvore.

Surpreendentemente, ganhou a carta. Talvez por terror dos examinadores. Seu idílio automobilístico não durou muito. Papai perdeu o pouco que tinha. Viemos para São Paulo com uma mão na frente e outra atrás. Carro? Nem pensar. Ficou mais de dez anos sem dirigir. A vida melhorou. Minha cunhada ofereceu o volante.

— Só para ter o gostinho.

 Entrou atrás de um caminhão parado.

Mais uma temporada de exílio. Papai se recuperou montando um estacionamento. Todas as manhãs, lá estava mamãe, gordinha, de chapéu de homem na cabeça, dando ordens aos manobristas.

— À direita! Vira... vai que dá, vai que dá!

Só havia uma condição. Não fazer manobras ela mesma. Seria impossível pagar os prejuízos. O incrível é que papai não gostava de dirigir. Desistiu de ter automóvel. Mamãe olhava os modelos. Sonhava. Mudaram-se para Santos. Tempos depois, papai faleceu. Para surpresa de toda a família, mamãe veio a arrumar um namorado, aos 64 anos. Perguntei, cauteloso, a idade do príncipe encantado.

— Sessenta e três.

- Suspirei, aliviado. Se fosse trinta, aí sim, eu ficaria bem preocupado.

Nunca se viu casal tão apaixonado. Era um senhor aposentado, de índole calma. Mamãe me contou:

— Sabe, ele está pensando em comprar um carro.

— Mãe, quem é doida por automóvel é você! Convenceu o velho?!

— Não tenho o direito? 

Tinha. Juntaram as economias. Vieram para São Paulo. Compraram um bom automóvel usado no sábado de manhã. Pegaram a serra. Na curva, havia óleo na pista. Derraparam de leve. Pararam. Um policial aproximou-se.

 — Deixem o carro aí, já vamos ver. Venham para cá, por causa da curva.

Mal se afastaram caminhando, outro carro veio voando na curva. Derrapou também. Voou em cima do automóvel. O que sobrou dava para levar em uma sacola.

Não tinha seguro. Perda total. Revoltada, mamãe não se conformava:

     Não ficamos mais de uma hora com o carro!

Tentei confortá-la.

— Mamãe, quem sabe seu destino não é ter automóvel.

— Que conversa é essa de destino? Eu não me conformo!

E vou ter!

Teve. Dali a meses comprou novo veículo em sociedade com o namorado. Eu e meus irmãos demos uma força. Que felicidade! Subiam a serra só para comer um filé. Só se tornou um pouco ressabiada.

—- Ele dirige muito bem — contou, referindo-se ao grisalho. — Às vezes tenho vontade de pegar a direção, mas não gosto da serra.

 Com a proximidade do Dia das Mães, sinto um aperto no coração. Ela partiu há dois anos, doente, e às vezes me dá uma imensa saudade. Sinto também uma sensação de alegria. Mamãe conseguiu seu carro. Felizmente, eu a ajudei a realizar seu sonho!  

Entendendo o texto 

01.  Qual foi a reação da mãe do narrador quando o pai comprou o primeiro carro da família?

a) Decidiu aprender a dirigir.

b) Recusou-se a aprender a dirigir.

c) Contratou um motorista particular.

d) Pediu para vender o carro.

   02. Onde a família morava quando a mãe decidiu aprender a dirigir?

         a) Na capital.

         b) Em uma cidade do interior.

         c) Na praia.

         d) Em outro país.

  03. Por que o instrutor de direção ficava aterrorizado durante as aulas com a mãe do narrador?

         a) Porque ela era muito calma.

         b) Porque ela dirigia muito devagar.

         c) Porque ela tinha dificuldade em controlar o carro.

         d) Porque ela era uma motorista experiente.

   04. O que aconteceu na última aula de direção da mãe antes do exame?

         a) Ela passou no exame de direção.

         b) Ela arrancou a porta de um carro estacionado.

         c) Ela desistiu de aprender a dirigir.

         d) Ela comprou um carro novo.

  05. Por quanto tempo o pai ficou sem dirigir após perder o pouco que tinha?

        a) Mais de dez anos.

        b) Um ano.

        c) Um mês.

        d) Uma semana.

  06. O que a mãe fazia todas as manhãs após o pai montar um estacionamento?

        a) Ia trabalhar como motorista de ônibus.

        b) Dava ordens aos manobristas.

        c) Ficava em casa sem fazer nada.

        d) Ia à autoescola aprender a dirigir novamente.

  07. O que aconteceu com o carro que a mãe e o namorado compraram em um sábado de manhã?

        a) Foi roubado.

        b) Sofreu um acidente grave.

        c) Foi vendido rapidamente.

        d) Ficou intacto por anos.

  08. Por que a mãe ficou revoltada após o acidente com o carro novo?

        a) Porque o carro estava muito velho.

        b) Porque o seguro não cobria o acidente.

        c) Porque o namorado não estava dirigindo com cuidado.

        d) Porque eles não tinham seguro para o carro.

  09. Qual era o sentimento do narrador em relação à mãe, dois anos após sua partida?

        a) Tristeza.

        b) Alegria.

        c) Raiva.

        d) Indiferença.

10. O que o narrador sente em relação ao fato de ter ajudado a mãe a realizar seu sonho de ter um carro?

        a) Remorso.

        b) Felicidade.

        c) Desgosto.

        d) Arrependimento.

 

 

 

CRÔNICA: TRUQUE NO ASSALTANTE - WALCYR CARRASCO - COM GABARITO

 Crônica: Truque no Assaltante

                   Walcyr Carrasco

JURO QUE É VERDADE. Tenho uma amiga especializada em se livrar de assaltantes. Sua arma: a imaginação. Maria Adelaide é escritora. Madura, de aparência frágil, é o tipo de vítima ideal. Foi assaltada várias vezes. Acabou desenvolvendo uma estratégia. Certa vez andava pela rua do Curtume, vindo de um encontro profissional. Notou que um rapaz vinha em sua direção, a mão enfiada dentro do casaco. Prestes a sacar a arma. Olhou em torno. Ninguém! Não teve dúvidas. Saltitou em direção a ele, com um sorriso de orelha a orelha!

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiz_MAq8YEg6Vr8TvpBgSirj3UjhNSLt3F0Kc3INq90TUqrPEdSqOtWDSRtbkf50jAV9At4T2Afsf4_kvMZWl2F1HqA85NyDEKrbqdm-8ZXUy3kDAhRoXpG0QMgQRRG1p7J8amg77h6WYAqJwR5Km3H5ky_Kwbvd702TJJ9IbfimSf_iCDZU0dl9I0pKxM/s1600/ESCRITORA.jpg

— Você! Finalmente nos encontramos! Como vai sua mãe?

Faz tanto tempo que não nos vemos!

O rapaz hesitou, em dúvida. Maria Adelaide continuou, rápida.

— E a Cidinha, tem visto a Cidinha? Como é que ela está?

— Bem...

Abraçou o rapaz.

 — Agora eu preciso ir. Mas vê se não some, hein?! Telefona! Fugiu em direção ao carro, deixando o ladrão parado, com ar de dúvida. Na vez seguinte, saía com uma amiga da Pinacoteca do Estado, na avenida Tiradentes. Lá adiante viu um trombadinha se aproximando. Não teve dúvidas. Virou-se para a amiga e começou a brigar, aos gritos!

— Você nunca podia ter feito isso comigo! Ah, mas você não presta. O que você fez não tem perdão. Você vai me pagar!

A amiga arregalou os olhos, chocada com a gritaria, cada vez maior.

O trombadinha aproximou-se, já enfiando a mão no bolso. Adelaide gritou

ainda mais. Parecia prestes a partir para as vias de fato.     

— Não me responda! Fica quieta, você não tem o direito de falar!

O ladrão ainda tentou estabelecer contato:

— Dona... dona...

— Fica quieto você também! — gritou para o assaltante.

— Você não sabe o que ela me fez.

— Mas o que foi que ela aprontou?.

— Ela acabou com a minha vida!

O possível assaltante pensou um segundo e aconselhou:

— Mata ela.

— É o que eu devia fazer! Acabar com você, ouviu? — vociferou Adelaide para a amiga.

O rapaz foi embora — possivelmente para não ser envolvido em crimes maiores. Quando estava longe, a amiga recuperou a fala.

— Que eu fiz?        

— Nada. Eu vi que o ladrão vinha em nossa direção. A rua estava vazia e aprontei um escândalo. Assim, ele desistiu. Vamos embora? 

Partiu sorridente, com a amiga cambaleante.

A última vez foi em uma floricultura da avenida dos Bandeirantes. Acabava de comprar um buquê. O rapaz entrou de arma em punho.

— Passa a carteira!- E você, dá  o dinheiro! — gritou para a vendedora.

A caixa ficou paralisada. Adelaide respondeu, fria.

— Estou só com cartões de crédito, sem dinheiro. Não adianta você levar minha carteira, não vai ter lucro nenhum.

— Não quero nem saber! Passa a grana.

Adelaide voltou-se furiosa e interpelou a caixa.

— Não ouviu o que ele disse? Se ele está roubando, é por que tem

necessidade e precisa do dinheiro. Passa a grana!

O assaltante fez que sim, feliz pela compreensão.

— É isso mesmo! Se eu assalto é porque preciso!

Levou todo o dinheiro da floricultura. Adelaide continuou incólume, com a bolsa fechada. Seu segredo:

— Preciso de um segundo para pensar. Se sou pega de surpresa, entrego tudo. Mas quando tenho chance... invento uma história.

A imaginação ainda é a melhor arma para enfrentar as dificuldades da vida moderna!

Entendendo o texto

01. Como Maria Adelaide se livra do assaltante na rua do Curtume?

a) Ela saca uma arma.

b) Ela briga com o assaltante.

c) Ela aborda o assaltante como se o conhecesse, perguntando sobre sua mãe e uma tal de Cidinha.

d) Ela entrega todo o seu dinheiro sem hesitar.

  02.O que Maria Adelaide faz quando vê um trombadinha se aproximando na avenida Tiradentes?

         a) Ela entrega sua bolsa imediatamente.

       b) Ela começa a gritar e brigar com sua amiga.

       c) Ela corre para chamar a polícia.

       d) Ela desmaia de medo.

   03. Qual é o resultado da abordagem de Maria Adelaide ao trombadinha na avenida Tiradentes?

       a) Ele a agride fisicamente.

       b) Ele desiste do assalto e vai embora.

       c) Ele agradece por ela ter defendido a amiga.

       d) Ele decide se juntar à briga entre as duas.

   04. Como Maria Adelaide reage quando um assaltante entra em uma floricultura?

       a) Ela chama a polícia.

       b) Ela entrega todo o seu dinheiro sem questionar.

       c) Ela confronta o assaltante e pede que ele deixe a caixa em paz.

      d) Ela foge do local imediatamente.

  05. Qual é o "segredo" de Maria Adelaide para se livrar dos assaltantes?

       a) Ela sempre carrega uma arma consigo.

       b) Ela é amiga da polícia e consegue se proteger facilmente.

       c) Ela inventa histórias e utiliza sua imaginação para confundir os assaltantes.

       d) Ela usa técnicas de defesa pessoal para imobilizar os criminosos.

    06. O que acontece com o assaltante na floricultura depois que Maria Adelaide intervém?

        a) Ele foge sem levar nada.

        b) Ele se arrepende e devolve o dinheiro.

        c) Ele agradece a compreensão de Maria Adelaide e leva apenas o dinheiro da caixa.

       d) Ele é preso pela polícia.

   07. Qual é o resultado final das interações de Maria Adelaide com os assaltantes?

       a) Ela é sempre agredida fisicamente.

       b) Ela nunca consegue se livrar dos assaltantes.

       c) Ela usa sua imaginação para escapar das situações de perigo.

       d) Ela entrega tudo o que tem sem hesitar.

 08. Qual é o principal talento de Maria Adelaide para se livrar dos assaltantes?

       a) Sua força física.

       b) Sua capacidade de negociar com os criminosos.

       c) Sua habilidade em inventar histórias e improvisar.

       d) Sua velocidade em fugir das situações de perigo.

   09. Por que Maria Adelaide acredita que os assaltantes desistem facilmente quando ela usa sua estratégia?

        a) Porque eles percebem que ela não tem nada de valor.

        b) Porque eles têm medo de sua reação imprevisível.

        c) Porque eles reconhecem Maria Adelaide como uma pessoa conhecida.

       d) Porque eles se comovem com sua compaixão e empatia.

 10. Qual é a lição principal da crônica "Truque no Assaltante" de Walcyr Carrasco?

       a) A importância de ter cuidado ao andar pelas ruas.

       b) A eficácia da imaginação e criatividade em situações de perigo.

       c) A necessidade de estar sempre armado para se proteger.

       d) A confiança na bondade inerente das pessoas.

 

 

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

CRÔNICA: CASA PRÓPRIA - WALCYR CARRASCO - COM GABARITO

 Crônica: Casa Própria

                   Walcyr Carrasco 

SER DONO DO PRÓPRIO teto é um sonho. Dá segurança morar no que é seu. O caso é que a residência equivale ao casco da tartaruga. Ou seja, é uma extensão do corpo. Aí começam as loucuras. É impressionante o número de pessoas que constroem casas delirantes. Certa vez um corretor me ofereceu uma que imitava um navio. Em vez de janelas, escotilhas. A estrutura de concreto, curva, semelhante ao casco. Era um barco encalhado. 

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgdBjIurdCymK_PNNljuRceBhwWvWmywk9NbhEb9Lgjxosq67qULP-M7ymP9wMqD2vlYgrpTQVFLVc_1EyRQxDLkVXaUlFvTtFo-o04oyq6tJWuhIv3KhFW0zPskfnyLB92tRW_MYeotaj2vw_4r8yv37LAvBYLR2R23afsdShe13KOCLDgO61khmSTpDc/s320/CASA.jpeg


No terreno e na imobiliária. Uma amiga resolveu construir o lar na Granja Viana. No alto de um morro. A vista, deslumbrante. Todo o dinheiro foi gasto em concreto. Parecia um viaduto pela metade. Aconselhei:

— Use o que você ainda tem para comprar o material essencial para terminar a obra. -

Encomendou boxes de Blindex e o motor da piscina. Detalhe: não havia piscina. Nem o buraco. Acabou ela mesma pintando quilômetros de chão de cimento da sala. Descobriu-se que o concreto a transformava em um forno no verão. Uma geladeira nó inverno. Comentei:

— Pelo menos, daqui a séculos, a casa vai estar de pé. Os arqueólogos vão achar que era um templo. E você, a deusa.

Vendeu para um casal apaixonado, por menos do que as sacas de concreto gastas no empreendimento. Os amigos correram a aconselhar:

— Compre alguma coisa feita, que só exija uma pintura.

Em segredo, arrumou um terreno no meio da Mata Atlântica. No momento, discute o corte das árvores com o Ibama. Outro amigo, advogado, apaixonou-se por uma mansão no Pacaembu. Mal comprou, descobriu: a casa tinha sido usada como escola de tiro ao alvo. Todas as paredes sofreram intervenção. Os alicerces. O telhado. A piscina. Só a cozinha estava ótima. Ele fez questão de quebrar porque queria uma parede curva. A obra foi estimada em seis meses. Faz dois anos. Pensam que está angustiado? De jeito nenhum. Está realizando um projeto de vida, apesar dos cabelos um tanto mais brancos.

Eu poderia dar um martelo de presente para vários conhecidos. Adoram derrubar paredes. Uma atriz passou anos economizando para ter seu cantinho. Conseguiu um apartamento antigo com terraço, na Vila Buarque. Pagou com esforço. Chamou os pedreiros e resolveu dar umas mexidinhas. Prometeram terminar em um mês. Um ano depois, ela conta, sem perder o sorriso de felicidade: — Abri tudo, ficou um salão. Agora o jeito é arrumar grana para cobrir o terraço e fazer o quarto, senão vou ter de dormir embaixo da pia.

Certas pessoas têm até consciência do delírio. Uma corretora que conheço recebeu um cliente. Queria um terreno no campo para fazer um paredão com uma porta de alumínio, e um único quarto. Tipo galpão. Ela aconselhou:

— Olha, esse é o tipo de casa que se um dia você quiser vender, não consegue.

A resposta, com os olhos brilhando.

— Claro. Eu vou construir um mico.

Meus miolos também não funcionam bem quando o assunto é moradia. Faço o gênero nômade. Vivo numa chácara há dois anos. O excesso de paz me enerva. Volto para a cidade.      Reclamo do trânsito. O dono da transportadora já me propôs abrir uma conta corrente. Cada vez, eu prometo.

— Agora é para sempre!.

Em seguida, começo a empacotar os trastes.

Só conheço uma pessoa que não se importa com casa. E o único de meus amigos que realmente posso dizer que é rico. Prefere pagar aluguel. Perguntei, surpreso, o motivo. 

— Existem maneiras melhores de investir o dinheiro —- comentou.

Pode ser. Mas certamente nenhuma mais gostosa do que enlouquecer com a casa própria, quebrar umas paredes, trocar o piso e imaginar que o sonho está prestes a ser realizado!

 Entendendo o texto

01. Qual é a analogia feita pelo autor entre uma casa e a casca de uma tartaruga?

a) Ambas são frágeis.

b) Ambas são essenciais para a segurança.

c) Ambas são comuns na natureza.

d) Ambas são construídas lentamente.

    02. Qual foi a sugestão do autor para a amiga que construiu uma casa na Granja Viana?

          a) Investir em acabamentos luxuosos.

          b) Comprar móveis caros.

          c) Gastar mais dinheiro em concreto.

          d) Comprar materiais essenciais para terminar a obra.

   03. O que aconteceu com a casa da amiga do autor na Granja Viana no verão?

         a) Tornou-se um forno devido ao concreto.

         b) Ficou fria e úmida.

         c) Foi inundada.

         d) Não teve mudanças de temperatura.

    04. Por que o advogado que comprou uma mansão no Pacaembu quebrou a cozinha?

         a) Porque queria uma cozinha moderna.

         b) Porque estava em mau estado.

         c) Porque queria uma parede curva.

         d) Porque estava realizando um projeto de vida.

   05. O que a atriz fez com seu apartamento na Vila Buarque?

         a) Vendeu-o.

         b) Reformou-o completamente.

         c) Deixou-o como estava.

         d) Construiu uma nova casa no terreno.

   06. Por que a corretora aconselhou contra a construção do paredão com uma porta de alumínio?

         a) Porque seria muito caro.

         b) Porque não seria seguro.

         c) Porque seria difícil de vender no futuro.

         d) Porque não seria esteticamente agradável.

  07. Qual é a característica do autor em relação à moradia?

         a) Ele é muito rico e constrói várias casas.

         b) Ele é nômade e muda constantemente de residência.

         c) Ele é conservador e mantém a mesma casa por anos.

         d) Ele é um construtor talentoso.

   08. Por que o autor volta para a cidade depois de viver na chácara por dois anos?

         a) Porque sente falta do trânsito.

         b) Porque prefere a paz da cidade.

         c) Porque recebeu uma oferta de emprego na cidade.

         d) Porque está construindo uma nova casa.

     09. Qual é a atitude do único amigo rico do autor em relação à casa própria?

           a) Ele investe em casas luxuosas.

           b) Ele prefere pagar aluguel.

           c) Ele constrói suas próprias casas.

           d) Ele não se importa com onde mora.

   10. Qual é a conclusão do autor sobre o desejo de possuir uma casa própria?

          a) É uma realização essencial na vida.

          b) É um investimento financeiro importante.

          c) É uma fonte de estresse e preocupação.

          d) É uma jornada emocionante e às vezes irracional.

 

 

 

 

CRÔNICA: ARROZ-DOCE - WALCYR CARRASCO - COM GABARITO

 Crônica: Arroz-Doce

     Walcyr Carrasco

 

CERTOS SABORES FICAM guardados em um canto onde a lembrança se mistura com a emoção. Eu nunca vou me esquecer do arroz-doce com canela da minha mãe. Simplesmente arroz cozido no leite, polvilhado com canela em pó. Não era doce de festa. Mamãe tinha um bazarzinho no interior, e pouco tempo para a cozinha. Empregada, nem pensar, naqueles tempos difíceis. 

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEht0-vsa1nqPpFVUoVq4003Kne6ULvManQILvdRJfNG7Kdgh0ADNw7sCmSnsi2M-wisvaTmihBwtb5ruYEBVU4IwEew7xDtpoho5KJS8p4yuo2TvCJcFAPo6sRy7RaL6VL1uoJF5Ca5DbwQo4ruxq9lmFY4ntGKbH822QM0CqKOCo-5CuYduFs_9yu3S_g/s320/arroz_doce_tradicional.jpg


Morávamos em uma casa atrás da loja, e a porta da cozinha dava justamente para o balcão. Botava a panela no fogo e ficava com um olho na receita, outro na loja. Às vezes chegava uma freguesa, desatava a conversar. Que lugar melhor para saber as novidades do bairro, quem vai casar ou quem separou, do que o balcão de um bazar de cidade pequena? O leite fervia, derramava. Muitas vezes, depois do jantar, vinha o arroz doce passado do ponto, com um gostinho de açúcar queimado. Meu pai se divertia.

— Esqueceu no fogo?

Eu gostava assim mesmo. Repetia.

O pudim da minha avó paterna também está entre minhas recordações prediletas. E uma receita antiga, espanhola. Pudim de leite com queijo parmesão assado no banho-maria. Vovó era mestra na cozinha. Orgulhava-se. Quando vinha nos visitar, mamãe avisava. 

— Não esqueça de pedir o pudim.     

E não? Era a primeira coisa que eu falava. 

          — Vovó, faz pudim?    

Feliz pelo reconhecimento, voava para a cozinha.

Muitas anos depois, o pudim seria o tema de um ato de generosidade de minha mãe. Eu já era adulto. Morava fora de casa. Vovó, velhinha. Fui visitar a família. Cumpri o ritual. Pedi o pudim. Vovó foi para a cozinha. Passou horas; Mais tarde, confessou, desanimada.

— Desandou.

Olhou para as mãos, triste, sentindo que já não era a mesma. Dali a algum tempo, mamãe apareceu orgulhosa com um pudim, ainda quentinho.

— Mas não tinha desandado? — estranhei.

— A culpa era minha, que tirei antes do forno. Botei para assar mais um pouco e ficou bom! — explicou ela.

Vovó estranhou. Mas sorriu.

Mais tarde, quando estávamos sozinhos, mamãe confessou.

— Fiz outro escondido, para ela não ficar triste.

Já começando a ficar doente, vovó precisava daquela pequena vitória.

Nunca mais pedi o pudim. Muito tempo depois, consegui achar a receita, idêntica, em um antigo livro de cozinha. Também não tive coragem de fazer, pois só de pensar nele lembro desse dia, do desencanto de vovó, de seu sorriso e do gesto de mamãe. Sinto uma estranha emoção.

E ovos fritos, com a gema mole? Quem não gosta? Quem não sente saudade, depois que o colesterol começa a subir? Quando como ovos fritos, sempre me lembro da infância. Para muitos amigos é assim. Pratos simples remetem a sensações do dia-a-dia, quando a família toda sentava-se em torno da mesa. O jantar era, simplesmente, o momento de estarem juntos. Uma amiga se lembra com emoção das festinhas de aniversário. Cada ano a mãe escolhia uma cor. Uma vez rosa, outra azul, verde... Bolo, docinhos, vestido, tudo do mesmo tom! Balas de coco em cascata. Quem não tem as balas de coco guardadas na memória? Já vi senhores comportados atirarem-se sobre bandejas de docinhos de brigadeiros. Quem sabe revivendo a alegria dos tempos de infância!

É fato. A lasanha ao forno, o frango assado, o prato feito do jeitinho que só a mãe sabe, é inesquecível! Com a passagem dos anos, a vida muda, A gente se distancia. Ou as pessoas se vão para sempre. Ou então, ela já se foi. O sabor de uma receita, de um doce preferido, mexe com a gente. Dia das Mães. É uma excelente data para eu fazer uma panela de arroz-doce. E trazer de volta a sensação dos abraços, dos gestos de carinho, e de tudo que eu nunca perdi, porque continua vivo dentro de mim.

Entendendo o texto 

01. Qual é o sabor que o autor nunca vai esquecer da sua infância?

a) Arroz-doce com canela.

b) Pudim de leite com queijo parmesão.

c) Ovos fritos com gema mole.

d) Lasanha ao forno.

    02. Por que a mãe do autor nunca tinha tempo para a cozinha?

         a) Porque trabalhava como empregada.

         b) Porque morava longe da cidade.

         c) Porque tinha um bazar no interior.

         d) Porque não gostava de cozinhar.

    03. O que acontecia com o arroz-doce muitas vezes, de acordo com o texto?

        a) Ficava com um gosto de queijo queimado.

        b) Ficava sem açúcar.

        c) Ficava passado do ponto, com um gostinho de açúcar queimado.

        d) Ficava com muito sal.

     04. Qual era o tema do ato de generosidade da mãe do autor para com a avó?

         a) Fazer um bolo de aniversário.

         b) Preparar um jantar especial.

         c) Fazer um pudim de leite.

         d) Cozinhar ovos fritos.

      05. Por que a avó do autor ficou triste durante uma visita?

            a) Porque não encontrou os ingredientes.

            b) Porque o pudim desandou.

            c) Porque não tinha ninguém para ajudá-la na cozinha.

            d) Porque estava doente.

     06. Como a mãe do autor conseguiu fazer a avó ficar feliz novamente?

           a) Fazendo um bolo de chocolate.

           b) Fazendo outro pudim escondido.

           c) Levando-a para passear.

           d) Dando presentes.

    07. Qual foi a reação do autor depois de descobrir o gesto da mãe com a avó?

          a) Ele decidiu nunca mais visitar a avó.

          b) Ele se emocionou profundamente.

          c) Ele ficou com raiva da mãe.

          d) Ele decidiu aprender a fazer o pudim.

     08. O que o autor sente quando pensa em fazer a receita do pudim?

          a) Alegria.

          b) Nostalgia.

          c) Raiva.

          d) Indiferença.

    09. Qual é a sensação que pratos simples remetem para muitas pessoas, de acordo com o texto?

           a) Nostalgia e tristeza.

           b) Alegria e saudade.

           c) Frustração e desgosto.

           d) Indiferença e cansaço.

    10. Qual é a mensagem principal transmitida pelo texto?

          a) A importância dos momentos em família.

          b) A dificuldade de encontrar ingredientes para receitas.

          c) A necessidade de aprender a cozinhar.

          d) A preferência por pratos elaborados.