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sábado, 19 de setembro de 2020

CRÔNICA: A LÍNGUA PORTUGUESA - LYGIA FAGUNDES TELLES / SONETO: LÍNGUA PORTUGUESA - OLAVO BILAC - COM GABARITO

 Crônica: A LÍNGUA PORTUGUESA


Lygia Fagundes Telles

        Estou me vendo debaixo de uma árvore, lendo a pequena história da literatura brasileira. (...)

        Olavo Bilac! – eu disse em voz alta e de repente parei quase num susto depois que li os primeiros versos do soneto à língua portuguesa: Última flor do Lácio, inculta e bela / És, a um tempo, esplendor e sepultura.

        Fiquei pensando, mas o poeta disse sepultura?! O tal de Lácio eu não sabia onde ficava, mas de sepultura eu entendia bem, disso eu entendia, repensei baixando o olhar para a terra. Se escrevia (e já escrevia) pequenos contos nessa língua, quer dizer que era a sepultura que esperava por esses meus escritos?

        Fui falar com meu pai. Comecei por aquelas minhas sondagens antes de chegar até onde queria, os tais rodeios que ele ia ouvindo com paciência enquanto enrolava o cigarro de palha, fumava nessa época esses cigarros. Comecei por perguntar se minha mãe e ele não tinham viajado para o exterior.

        Meu pai fixou em mim o olhar verde. Viagens, só pelo Brasil, meus avós é que tinham feito aquelas longas viagens de navio, Portugal, França, Itália... Não esquecer que a minha avó, Pedrina Perucchi, era italiana, ele acrescentou. Mas por que essa curiosidade?

        Sentei-me ao lado dele, respirei fundo e comecei a gaguejar, é que não seria tão bom se ambos tivessem nascido lá. Estaria agora escrevendo em italiano, italiano! – fiquei repetindo e abri o livro que trazia na mão: Olha aí, pai, o poeta escreveu com todas as letras, nossa língua é sepultura mesmo, tudo o que a gente fizer vai para debaixo da terra, desaparece!

        Calmamente ele pousou o cigarro no cinzeiro ao lado. Pegou os óculos. O soneto é muito bonito, disse me encarando com severidade. Feio é isso, filha, isso de querer renegar a própria língua. Se você chegar a escrever bem, não precisa ser em italiano ou espanhol ou alemão, você ficará na nossa língua mesmo, está me compreendendo? E as traduções? Renegar a língua é renegar o país, guarde isso nessa cabecinha. E depois (ele voltou a abrir o livro), olha que beleza o que o poeta escreveu em seguida, Amo-te assim, desconhecida e obscura, veja que confissão de amor ele fez à nossa língua! Tem mais, ele precisava da rima para sepultura e calhou tão bem essa obscura, entendeu agora? – acrescentou e levantou-se. Deu alguns passos e ficou olhando a borboleta que entrou na varanda: Já fez a sua lição de casa?

        Fechei o livro e recuei. Sempre que meu pai queria mudar de assunto ele mudava de lugar: saía da poltrona e ia para a cadeira de vime. Saía da cadeira de vime e ia para a rede ou simplesmente começava a andar. Era o sinal. Não quero falar nisso, chega. Então a gente falava noutra coisa ou ficava quieta.

        Tantos anos depois, quando me avisaram lá do pequeno hotel em Jacareí que ele tinha morrido, fiquei pensando nisso, ah! Se quando a morte entrou, se nesse instante ele tivesse mudado de lugar. Mudar depressa de lugar e de assunto. Depressa pai, saia da cama e fique na cadeira ou vá pra rua e feche a porta.

TELES. Lygia Fagundes. Durante aquele estranho chá: perdidos e achados.  Rio de Janeiro: Rocco, 2002, p.109-111.

    Fonte: Português – Uma proposta para o letramento – Ensino fundamental – 8ª série – Magda Soares – Ed. Moderna, 2002 – p. 196-9.

Soneto: Língua portuguesa

              Olavo Bilac

Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...

Amo-te assim, desconhecida e obscura.
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

em que da voz materna ouvi: "meu filho!",
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!

Fonte: Português – Uma proposta para o letramento – Ensino fundamental – 8ª série – Magda Soares – Ed. Moderna, 2002 – p. 200.

Entendendo a crônica: 

01 – O poeta chama a língua portuguesa de flor do Lácio.

a)   Recorde o comentário da narradora: “O tal de Lácio eu não sabia onde ficava...”. Você sabe onde ficava “o tal de Lácio”: onde?

Na Península Itálica (região onde surgiu Roma).

b)   Por que o poema chama a língua portuguesa de flor do Lácio?

Porque é um produto excepcionalmente bom, bonito (como uma flor) da língua que se falava no Lácio; porque é uma língua tão bela quanto uma flor que tem sua origem no latim, língua falada no Lácio.

02 – O poeta atribui à língua características que se opõem; explique:

a)   A língua é bela, mas é inculta – por que é inculta?

É inculta porque não é produto de cultura, é a língua de um povo ainda sem tradição cultural; É inculta porque é primitiva, rude.

b)   A língua é esplendor (brilho, grandiosidade), mas é sepultura – por que é sepultura?

Porque, por ser uma língua desconhecida, o que é escrito nela fica fora do alcance dos outros, fica escondido, oculto.

03 – Por que a narradora ficou tão perturbada ao ver a língua portuguesa chamada de sepultura?

      Porque escrevia e assustou-se com a possibilidade de que não tivesse leitores, de que seus textos ficassem inacessíveis.

04 – Para a narradora, a solução para escapar da língua-sepultura seria escrever em italiano: “Estaria agora escrevendo em italiano, italiano!”.

a)   Por que italiano, e não francês, alemão, inglês...?

Porque era descendente de italianos, poderia ter nascido na Itália, a língua italiana era para ela uma possibilidade que tinha sido perdida.

b)   Escrever em italiano e não em português seria melhor não por causa do número de falantes. Que vantagem teria o italiano sobre o português?

O italiano é uma língua mais difundida no mundo, mais estudada, mais conhecida, é a língua de um país com mais representação econômica, cultural e literária que os países de língua portuguesa.

05 – Recorde a opinião do pai sobre o poema: “O soneto é muito bonito...”. De acordo com o soneto de Olavo Bilac; conte o número de estrofes, o número de versos em cada estrofes e conclua: qual é a forma de um soneto?

      O objetivo é provocar a leitura do poema de Bilac e aproveitar a referência a soneto, na crônica, para que os alunos conheçam esta forma de composição poética.

      Duas estrofes de quatro versos – dois quartetos, e duas estrofes de três versos – dois tercetos.

06 – Recorde o que a narradora diz ao pai: “Olha aí, pai, o poeta escreveu com todas as letras, nossa língua é sepultura mesmo, tudo o que a gente fizer vai para debaixo da terra, desaparece!”. Que argumentos o pai usa para contestar essa afirmação?

      Quem escreve bem, será lido em sua própria língua; há a possibilidade das traduções; não se deve renegar a própria língua, porque seria renegar o próprio país.

07 – Recorde estas palavras do pai: “... veja que confissão de amor ele fez à nossa língua!”. Consulte o soneto, em que versos o poeta confessa seu amor à língua portuguesa?

      O objetivo é mais uma vez remeter à leitura do poema.

      Primeiro verso da segunda estrofe; primeiro e terceiro verso do primeiro terceto.

08 – O pai chama a atenção da filha para um aspecto do soneto: “Tem mais, ele precisava da rima para sepultura e calhou tão bem essa obscura, entendeu agora?”

a)   Identifique, no soneto, as outras palavras que rimam com sepultura, além da palavra obscura.

Impura, ternura.

b)   Por que, entre as palavras que, no soneto, rimam com sepultura, obscura destacou-se como a rima mais apropriada?

As duas palavras se aproximam, quanto ao sentido: em ambos há a ideia de sem luz, sombrio, desconhecido.

09 – Qual é a opinião do pai:

a)   Sobre o soneto?

O soneto é muito bonito, faz uma bela confissão de amor à língua, as rimas são bem escolhidas.

b)   Sobre o destino de obras escritas em língua portuguesa?

Se são bem escritas, permanecerão, mesmo sendo em português, e poderão ser traduzidas.

c)   Sobre a reclamação da filha contra a língua portuguesa?

É uma atitude feia, não se deve renegar a própria língua.

10 – A filha começou a conversa expondo ao pai este problema: “... nossa língua é sepultura mesmo, tudo o que a gente fizer vai pra debaixo da terra, desaparece!”. A crônica não revela se a filha deixou de pensar assim, depois da conversa com o pai.

        Se você estivesse no lugar da filha, teria mudado seu modo de pensar? Justifique sua resposta.

      Resposta pessoal do aluno.

quarta-feira, 20 de maio de 2020

CONTO: UM CHÁ BEM FORTE E TRÊS XÍCARAS - LYGIA FAGUNDES TELLES - COM GABARITO

Conto: Um chá bem forte e três xícaras
         
(Conto da obra Antes do baile verde)
        Lygia Fagundes Telles

      A borboleta pousou primeiramente na haste de uma folha de roseira que vergou de leve. Em seguida, voou até a rosa e fincou as patas dianteiras na borda das pétalas. Juntou as asas que se coloram palpitantes. Desenrolou a tromba. E inclinando o corpo para frente, num movimento de seta, afundou a tromba no âmago da flor. 
        Maria Camila chegou a estender a mão para prendê-la pelas asas. Não completou o gesto. Entrelaçou novamente as mãos no regaço e ficou olhando. Era uma borboleta amarela, com um fino riso negro debruando-lhe as asas.  
        -- Deve ser uma borboleta jovem – disse Maria Camila.
        -- Jovem? – repetiu a mulher debruçada na janela que dava para o jardim.
        -- Veja, as asas ainda estão intactas. E está sugando com tamanha força ... Haverá tanto suco assim?
        -- Essa rosa abriu ontem cedo, a senhora lembra? E já está murchando – disse a mulher prendendo com o alfinete do
        -- Maria Camila voltou-se para janela. Estava sentada numa cadeira de vime, entre os dois canteiros do jardim.
        No céu azul- claro, as nuvens iam tomando uma coloração rosada. Havia uma poeira de ouro em suspensão no ar. 
        -- Você ainda não pregou essa alça, Matilde?
        -- Não sei onde o botão foi parar.
        -- Pegue outro na minha caixa. Mas agora não! – pediu ela ao ver que a empregada já se dispunha a voltar para o interior da casa. Baixou o olhar até a roseira. – A gente vai clareando à medida que envelhece, mas as rosas vermelhas vão escurecendo, veja, ela está quase preta.
        -- E essa borboleta ainda...
        -- Deixa – atalhou Maria Camila. Uniu as mãos espalmadas no mesmo movimento com que a borboleta unira as asas. Suas mãos tremiam.  – Há de ver que a rosa está feliz por ter sido escolhida. 
        -- Mas desse jeito ela vai morrer mais depressa. 
        -- É melhor deixar. 
        A empregada passou lentamente a ponta do avental no peitoril da janela. Acompanhou com um olhar uma andorinha que cruzou o jardim num voo raso e desapareceu atrás do muro. Da casa vizinha. Suspirou.
        -- Acho que essa borboleta já esteve ontem por aqui, a senhora não viu?
        -- Maria Camila concordou com um leve movimento de cabeça. Examinou com espanto as mãos cheias de sardas. 
        -- É a mesma. 
        -- Acostumou - disse a mulher num tom indiferente.
        Fixou o olhar vadio nos ombros estreitos da patroa. – A senhora não quer que traga o chá?
        -- Estou esperando a menina. 
        -- Mas a que hora ficou de aparecer?
        -- Às cinco – disse Maria Camila apertando os olhos. 
        Inclinou-se para o relógio-pulseira. E escondeu no regaço as mãos fechadas. – Às cinco em ponto.
        -- Foi emergindo do silêncio da tarde o zunido poderoso de uma abelha. O riso de uma criança explodiu tão próximo que pareceu brotar de dentro do canteiro. 
        -- Essa menina... – E a empregada fez uma pausa para ajustar para ajustar melhor o pente nos cabelos grisalhos: – Eu conheço?
        -- Não, não conhece.
        -- Quantos anos ela tem?
        -- Uns dezoito.
        -- Mas então não é menina!
        Maria Camila fixou no céu o olhar perplexo. Voltou a examinar o relógio-pulseira. E cruzou os braços tentando dominar o tremor das mãos. 
        -- Desde ontem ela já rondava por aqui. Cismou com essa rosa, tinha que ser essa rosa.
        -- Trabalhei na casa de um padre que tinha um canteiro só de roseiras brancas. Como duravam aquelas rosas!
        Por um breve instante Maria Camila fixou-se de novo na borboleta. Teve uma expressão de repugnância. 
        -- Chega a ser obsceno...
        -- Mas é sabido que as vermelhas têm mais perfumes – prosseguiu a empregada apoiando-se nos cotovelos.
        Duas crianças atravessaram a rua aos gritos. A borboleta recolheu precipitadamente a tromba e fugiu num voo atarantado. Uma pétala desprendeu-se da corola e foi pousar na relva.  Outra pétala desprendeu-se em seguida e desenhando um giro breve, caiu num tufo de violetas. Maria Camila estendeu as mãos até a corola da flor.  Não chegou a tocá-la. Recolheu as mãos e ficou olhando para as veias intumescidas com a mesma expressão que olhara para a rosa.
        -- Ela é conhecida do doutor?
        -- Quem, Matilde?
        -- Essa moça que vem tomar chá...
        -- Trabalham juntos – disse Maria Camila passando nervosamente a ponta do dedo sobre a rede de veias. – Ela está fazendo um estágio no laboratório.
        -- Estágio?
        -- Sim, estágio. 
        -- A mulher ficou pensativa. Pôs-se a coçar o braço.
        -- E a senhora conhece ela?
        -- Já vi de longe.
        -- É bonita?
        -- Não sei, Matilde, não sei.
        -- Estágio – repetiu a empregada. – Então é essa que às vezes telefona pra ele.
        Alguém iniciou na vizinhança um exercício de piano. O exercício era elementar e tocado sem vontade. 
        -- Deve ser- sussurrou Maria Camila apanhando a pétala que caíra na relva Levou-a aos lábios que estavam lívidos. – Deve ser.
        -- Hoje cedo ela telefonou, não perguntei quem era porque o doutor não quer mais que a gente pergunte. Mas reconheci a voz, só podia ser ele. 
        -- São muito amigos. Os velhos, os mais velhos gostam da companhia dos jovens – acrescentou a mulher dilacerando a pétala entre os dedos.  Fez um gesto brusco. – Esse menino era melhor no violino, não era?
        A empregada fungou, impaciente.
        -- Nem no violino! A gente ficava com dor de cabeça quando ele começava com aquela atormentação. Diz que a mãe cismou que ele tem que tocar alguma coisa...
        -- Quem foi que disse?
        -- A Anita, que trabalha lá. Diz que a mãe fica o dia inteiro atrás dele, dando castigo se ele não estuda. São estrangeiros.
        -- Maria Camila olhou furtivamente o relógio. Abriu e fechou as mãos num movimento exasperado. Manteve-as fechada. 
        -- Ele tocava melhor violino. 
        A mulher fez uma careta.  E ficou seguindo com um olhar gelado. Uma adolescente que passava na calçada. Franziu a cara como se enfrentasse o sol. 
        -- Como é que ela se chama? Essa do chá...
        O menino interrompeu o exercício. O Zunido da abelha voltou mais nítido, fechando o círculo em redor de um único ponto.  Maria Camila respirou com esforço.
        -- Acho que estou gripada.  
        -- Gripada? – E a mulher apoiou o queixo nas mãos.  – A senhora está com os olhos inchados. Quer que eu vá buscar uma aspirina?
        -- Não, não é preciso – disse Maria Camila movendo a cabeça num ritmo fatigado. Encarou a empregada: – Não vai mesmo pregar esse botão? Não vai?
        -- Mas se não sei dele...
        -- Pegue um na minha caixa, já disse.
        A mulher empertigou-se com solenidade. Passou ainda a ponta do avental na janela, a fisionomia concentrada. Chegou a abrir a boca. E enveredou para o interior da casa. 
        Maria Camila relaxou a posição tensa. Olhou o relógio, sacudiu a cabeça e fechou com força os olhos cheios de lágrimas.  " Que é que eu faço agora?", murmurou inclinando-se para a rosa. "Eu gostaria que você me dissesse o que é que eu devo fazer! ..." Apoiou a nuca no espaldar da cadeira. “Augusto, Augusto, me diga depressa o que é que eu faço! Me diga! ...”
        A janela abriu-se. A empregada estendeu o braço num gesto digno. A voz saiu sombria.
        -- Não achei botão igual. Posso pegar este amarelo?
        Maria Camila tirou do bolso do casaco o estojo de pó. 
        Examinou-se ao espelho. Consertou as sobrancelhas. Umedeceu com a ponta da língua os lábios ressequidos e fechou o estojo. Ficou com ele apertado entre as mãos. Voltou-se para a janela.
        -- Pregue esse mesmo.
        A mulher vacilava, rodando o botão entre os dedos. 
        -- É o mais parecido que achei.
        -- Está bem, está bem – repetiu a outra reabrindo o estojo. Passou a esponja em torno dos olhos. Examinando as mãos. – Veja, Matilde, minhas mãos estão ficando da cor da tarde, tudo nesta hora vai ficando rosado... 
        -- O céu parece brasa, que bonito!
        A gente vai ficando rosada também – disse atirando a cabeça para trás. Expôs a face à luz incendiada do crepúsculo. E riu de repente: – Acho a vida tão maravilhosa!
        -- Maravilhosa?
        O menino parou de tocar. Maria Camila ficou alerta, os olhos brilhantes, as narinas acesas. Olhou para o relógio. Falou com energia  
        -- Assim que a moça chegar, sirva o chá aqui mesmo, faça um chá bem forte. E traga três xícaras.
        -- Mas é só a senhora e ela...
        -- O doutor pode aparecer de surpresa, é quase certo que ele apareça – acrescentou a mulher limpando do vestido os pedaços da pétala dilacerada que ficara por entre as pregas da saia. Levantou-se. Respirava ofegante. – Quero os guardanapos novos, não vá esquecer, hein? Os novos.
        Passos ressoaram na calçada. Quando ficaram mais próximos, a empregada pôs-se na ponta do pés, tentando ver além do muro da casa vizinha:
      -- Deve ser ela... É ela! – sussurrou excitadamente. – É ela!
        Maria Camila levantou a cabeça. E caminhou decidida em direção ao portão.
                                                                   Lygia Fagundes Telles  
Entendendo o conto:

01 – Dentro deste tipo textual (conto) há que narrador?
a)   Narrador-personagem.
b)   Narrador-observador.
c)   Narrador-onisciente.

02 – Qual o cenário em que se acontece a história?
      Num jardim.

03 – Que fato provocou o desenrolar dos acontecimentos descritos no conto?
      A visita de uma jovem de dezoito anos, convidada para um chá.

04 – Quantos personagens participam da ação apresentada no texto? Quem são eles?
      Maria Camila, Matilde, Augusto e a Estagiária.

05 – Maria Camila observa a borboleta e a flor e faz comentários com Matilde relacionando com sua vida. Por quê?
      A imagem da borboleta que suga a flor com força, forma uma analogia com a situação que ela está enfrentando.
      O ato de sugar talvez provoque a morte mais rápida da flor, pode ser comparada com a jovem estagiária que, para ela, é a causada morte do amor entre ela e Augusto.

06 – Neste trecho: “[...] A gente vai clareando à medida que envelhece mas as rosas vermelhas vão escurecendo, veja, ela está quase preta. Pode-se observar a utilização de que figura de linguagem?
      Uma antítese.

07 – O nervosismo de Maria Camila é traduzido em alguns gestos, principalmente relacionados às mãos. Cite alguns trechos que comprove a afirmação.
      “Suas mãos tremiam”; “As mãos fechadas”; “Tentando dominar o tremor das mãos”; “Abriu e fechou as mãos num movimento exasperado”.

08 – Em que passagem do texto ocorre o clímax, ou seja, o momento de maior tensão da história? Explique.
      Quando ouvem passos ressoarem na calçada e Matilde olha, vê que a estagiária chegou.
      Maria Camila levanta a cabeça e caminha em direção do portão.




quinta-feira, 4 de abril de 2019

CONTO: AS FORMIGAS - LYGIA FAGUNDES TELLES - COM GABARITO

Conto: As formigas
            Lygia Fagundes Telles


        Quando minha prima e eu descemos do táxi, já era quase noite. Ficamos imóveis diante do velho sobrado de janelas ovaladas, iguais a dois olhos tristes, um deles vazado por uma pedrada. Descansei a mala no chão e apertei o braço da prima.
        – É sinistro.
        Ela me impeliu na direção da porta. Tínhamos outra escolha? Nenhuma pensão nas redondezas oferecia um preço melhor a duas pobres estudantes com liberdade de usar o fogareiro no quarto, a dona nos avisara por telefone que podíamos fazer refeições ligeiras com a condição de não provocar incêndio. Subimos a escada velhíssima, cheirando a creolina.
        – Pelo menos não vi sinal de barata – disse minha prima.
        A dona era uma velha balofa, de peruca mais negra do que a asa da graúna. Vestia um desbotado pijama de seda japonesa e tinha as unhas aduncas recobertas por uma crosta de esmalte vermelho-escuro, descascado nas pontas encardidas. Acendeu um charutinho.
        – É você que estuda medicina? – perguntou soprando a fumaça na minha direção.
        – Estudo direito. Medicina é ela.
        A mulher nos examinou com indiferença. Devia estar pensando em outra coisa quando soltou uma baforada tão densa que precisei desviar a cara. A saleta era escura, atulhada de móveis velhos, desparelhados. No sofá de palhinha furada no assento, duas almofadas que pareciam ter sido feitas com os restos de um antigo vestido, os bordados salpicados de vidrilho.
        Vou mostrar o quarto, fica no sótão – disse ela em meio a um acesso de tosse. Fez um sinal para que a seguíssemos. – O inquilino antes de vocês também estudava medicina, tinha um caixotinho de ossos que esqueceu aqui, estava sempre mexendo neles.
        Minha prima voltou-se:
        – Um caixote de ossos?
        A mulher não respondeu, concentrada no esforço de subir a estreita escada de caracol que ia dar no quarto. Acendeu a luz. O quarto não podia ser menor, com o teto em declive tão acentuado que nesse trecho teríamos que entrar de gatinhas. Duas camas, dois armários e uma cadeira de palhinha pintada de dourado. No ângulo onde o teto quase se encontrava com o assoalho, estava um caixotinho coberto com um pedaço de plástico. Minha prima largou a mala e, pondo-se de joelhos, puxou o caixotinho pela alça de corda. Levantou o plástico. Parecia fascinada.
        – Mas que ossos tão miudinhos! São de criança?
        – Ele disse que eram de adulto. De um anão.
        – De um anão? É mesmo, a gente vê que já estão formados… Mas que maravilha, é raro à beça esqueleto de anão. E tão limpo, olha aí – admirou-se ela. Trouxe na ponta dos dedos um pequeno crânio de uma brancura de cal. – Tão perfeito, todos os dentinhos!
        – Eu ia jogar tudo no lixo, mas se você se interessa pode ficar com ele. O banheiro é aqui ao lado, só vocês é que vão usar, tenho o meu lá embaixo. Banho quente extra. Telefone também. Café das sete às nove, deixo a mesa posta na cozinha com a garrafa térmica, fechem bem a garrafa recomendou coçando a cabeça. A peruca se deslocou ligeiramente. Soltou uma baforada final: – Não deixem a porta aberta senão meu gato foge.
        Ficamos nos olhando e rindo enquanto ouvíamos o barulho dos seus chinelos de salto na escada. E a tosse encatarrada.
        Esvaziei a mala, dependurei a blusa amarrotada num cabide que enfiei num vão da veneziana, prendi na parede, com durex, uma gravura de Grassman e sentei meu urso de pelúcia em cima do travesseiro. Fiquei vendo minha prima subir na cadeira, desatarraxar a lâmpada fraquíssima que pendia de um fio solitário no meio do teto e no lugar atarraxar uma lâmpada de duzentas velas que tirou da sacola. O quarto ficou mais alegre. Em compensação, agora a gente podia ver que a roupa de cama não era tão alva assim, alva era a pequena tíbia que ela tirou de dentro do caixotinho. Examinou- a. Tirou uma vértebra e olhou pelo buraco tão reduzido como o aro de um anel. Guardou-as com a delicadeza com que se amontoam ovos numa caixa.
        – Um anão. Raríssimo, entende? E acho que não falta nenhum ossinho, vou trazer as ligaduras, quero ver se no fim da semana começo a montar ele.
        Abrimos uma lata de sardinha que comemos com pão, minha prima tinha sempre alguma lata escondida, costumava estudar até de madrugada e depois fazia sua ceia. Quando acabou o pão, abriu um pacote de bolacha Maria.
        – De onde vem esse cheiro? – perguntei farejando. Fui até o caixotinho, voltei, cheirei o assoalho. – Você não está sentindo um cheiro meio ardido?
        – É de bolor. A casa inteira cheira assim – ela disse. E puxou o caixotinho para debaixo da cama.
        No sonho, um anão louro de colete xadrez e cabelo repartido no meio entrou no quarto fumando charuto. Sentou-se na cama da minha prima, cruzou as perninhas e ali ficou muito sério, vendo-a dormir. Eu quis gritar, tem um anão no quarto! mas acordei antes. A luz estava acesa. Ajoelhada no chão, ainda vestida, minha prima olhava fixamente algum ponto do assoalho.
        – Que é que você está fazendo aí? – perguntei.
        – Essas formigas. Apareceram de repente, já enturmadas. Tão decididas, está vendo?
        Levantei e dei com as formigas pequenas e ruivas que entravam em trilha espessa pela fresta debaixo da porta, atravessavam o quarto, subiam pela parede do caixotinho de ossos e desembocavam lá dentro, disciplinadas como um exército em marcha exemplar.
        – São milhares, nunca vi tanta formiga assim. E não tem trilha de volta, só de ida – estranhei.
        – Só de ida.
        Contei-lhe meu pesadelo com o anão sentado em sua cama.
        – Está debaixo dela – disse minha prima e puxou para fora o caixotinho. Levantou o plástico. – Preto de formiga. Me dá o vidro de álcool.
        – Deve ter sobrado alguma coisa aí nesses ossos e elas descobriram, formiga descobre tudo. Se eu fosse você, levava isso lá pra fora.
        – Mas os ossos estão completamente limpos, eu já disse. Não ficou nem um fiapo de cartilagem, limpíssimos. Queria saber o que essas bandidas vem fuçar aqui.
        Respingou fartamente o álcool em todo o caixote. Em seguida, calçou os sapatos e como uma equilibrista andando no fio de arame, foi pisando firme, um pé diante do outro na trilha de formigas. Foi e voltou duas vezes. Apagou o cigarro. Puxou a cadeira. E ficou olhando dentro do caixotinho.
        – Esquisito. Muito esquisito.
        – O quê?
        – Me lembro que botei o crânio em cima da pilha, me lembro que até calcei ele com as omoplatas para não rolar. E agora ele está aí no chão do caixote, com uma omoplata de cada lado. Por acaso você mexeu aqui?
        – Deus me livre, tenho nojo de osso. Ainda mais de anão.
        Ela cobriu o caixotinho com o plástico, empurrou-o com o pé e levou o fogareiro para a mesa, era a hora do seu chá. No chão, a trilha de formigas mortas era agora uma fita escura que encolheu. Uma formiguinha que escapou da matança passou perto do meu pé, já ia esmagá-la quando vi que levava as mãos à cabeça, como uma pessoa desesperada. Deixei-a sumir numa fresta do assoalho.
        Voltei a sonhar aflitivamente mas dessa vez foi o antigo pesadelo em torno dos exames, o professor fazendo uma pergunta atrás da outra e eu muda diante do único ponto que não tinha estudado. Às seis horas o despertador disparou veementemente. Travei a campainha. Minha prima dormia com a cabeça coberta. No banheiro, olhei com atenção para as paredes, para o chão de cimento, a procura delas.
        Não vi nenhuma. Voltei pisando na ponta dos pés e então entreabri as folhas da veneziana. O cheiro suspeito da noite tinha desaparecido. Olhei para o chão: desaparecera também a trilha do exército massacrado. Espiei debaixo da cama e não vi o menor movimento de formigas no caixotinho coberto.
        Quando cheguei por volta das sete da noite, minha prima já estava no quarto. Achei-a tão abatida que carreguei no sal da omelete, tinha a pressão baixa. Comemos num silêncio voraz. Então me lembrei:
        – E as formigas?
        – Até agora, nenhuma.
        – Você varreu as mortas?
        Ela ficou me olhando.
        – Não varri nada, estava exausta. Não foi você que varreu?
        – Eu?! Quando acordei, não tinha nem sinal de formiga nesse chão, estava certa que antes de deitar você juntou tudo… Mas então quem?!
        Ela apertou os olhos estrábicos, ficava estrábica quando se preocupava.
        – Muito esquisito mesmo. Esquisitíssimo.
        Fui buscar o tablete de chocolate e perto da porta senti de novo o cheiro, mas seria bolor? Não me parecia um cheiro assim inocente, quis chamar a atenção da minha prima para esse aspecto mas estava tão deprimida que achei melhor ficar quieta. Espargi água-de-colônia flor de maçã por todo o quarto (e se ele cheirasse como um pomar?) e fui deitar cedo. Tive o segundo tipo de sonho que competia nas repetições com o sonho da prova oral: nele, eu marcava encontro com dois namorados ao mesmo tempo. E no mesmo lugar. Chegava o primeiro e minha aflição era levá-lo embora dali antes que chegasse o segundo. O segundo, desta vez, era o anão. Quando só restou o oco de silêncio e sombra, a voz da minha prima me fisgou e me trouxe para a superfície. Abri os olhos com esforço. Ela estava sentada na beira da minha cama, de pijama e completamente estrábica.
        – Elas voltaram.
        – Quem?
        – As formigas. Só atacam de noite, antes da madrugada. Estão todas aí de novo.
        A trilha da véspera, intensa, fechada, seguia o antigo percurso da porta até o caixotinho de ossos por onde subia na mesma formação até desformigar lá dentro. Sem caminho de volta.
        – E os ossos?
        Ela se enrolou no cobertor, estava tremendo.
        Aí é que está o mistério. Aconteceu uma coisa, não entendo mais nada! Acordei pra fazer pipi, devia ser umas três horas. Na volta senti que no quarto tinha algo mais, está me entendendo? Olhei pro chão e vi a fila dura de formiga, você lembra? não tinha nenhuma quando chegamos. Fui ver o caixotinho, todas trançando lá dentro, lógico, mas não foi isso o que quase me fez cair pra trás, tem uma coisa mais grave: é que os ossos estão mesmo mudando de posição, eu já desconfiava mas agora estou certa, pouco a pouco eles estão… estão se organizando.
        – Como, organizando?
        Ela ficou pensativa. Comecei a tremer de frio, peguei uma ponta do seu cobertor. Cobri meu urso com o lençol.
        – Você lembra, o crânio entre as omoplatas, não deixei ele assim. Agora é a coluna vertebral que já está quase formada, uma vértebra atrás da outra, cada ossinho tomando seu lugar, alguém do ramo está montando o esqueleto, mais um pouco e… Venha ver!
        – Credo, não quero ver nada. Estão colando o anão, é isso?
        Ficamos olhando a trilha rapidíssima, tão apertada que nela não caberia sequer um grão de poeira. Pulei-a com o maior cuidado quando fui esquentar o chá. Uma formiguinha desgarrada (a mesma daquela noite?) sacudia a cabeça entre as mãos. Comecei a rir e tanto que se o chão não estivesse ocupado, rolaria por ali de tanto rir. Dormimos juntas na minha cama. Ela dormia ainda quando saí para a primeira aula. No chão, nem sombra de formiga, mortas e vivas, desapareciam com a luz do dia.
        Voltei tarde essa noite, um colega tinha se casado e teve festa. Vim animada, com vontade de cantar, passei da conta. Só na escada é que me lembrei: o anão. Minha prima arrastara a mesa para a porta e estudava com o bule fumegando no fogareiro.
        – Hoje não vou dormir, quero ficar de vigia – ela avisou.
        O assoalho ainda estava limpo. Me abracei ao urso.
        – Estou com medo.
        Ela foi buscar uma pílula para atenuar minha ressaca, me fez engolir a pílula com um gole de chá e ajudou a me despir.
        – Fico vigiando, pode dormir sossegada. Por enquanto não apareceu nenhuma, não está na hora delas, é daqui a pouco que começa. Examinei com a lupa debaixo da porta, sabe que não consigo descobrir de onde brotam?
        Tombei na cama, acho que nem respondi. No topo da escada o anão me agarrou pelos pulsos e rodopiou comigo até o quarto, acorda, acorda! Demorei para reconhecer minha prima que me segurava pelos cotovelos. Estava lívida. E vesga.
        – Voltaram – ela disse.
        Apertei entre as mãos à cabeça dolorida.
        – Estão aí?
         Ela falava num tom miúdo como se uma formiguinha falasse com sua voz.
        – Acabei dormindo em cima da mesa, estava exausta. Quando acordei, a trilha já estava em plena. Então fui ver o caixotinho, aconteceu o que eu esperava…
        – Que foi? Fala depressa, o que foi?
        Ela firmou o olhar oblíquo no caixotinho debaixo da cama.
        – Estão mesmo montando ele. E rapidamente, entende? O esqueleto está inteiro, só falta o fêmur. E os ossinhos da mão esquerda, fazem isso num instante. Vamos embora daqui.
        – Você está falando sério?
        – Vamos embora, já arrumei as malas.
        A mesa estava limpa e vazios os armários escancarados.
        – Mas sair assim, de madrugada? Podemos sair assim?
        – Imediatamente, melhor não esperar que a bruxa acorde. Vamos, levanta.
        – E para onde a gente vai?
        – Não interessa, depois a gente vê. Vamos, vista isto, temos que sair antes que o anão fique pronto.
        Olhei de longe a trilha: nunca elas me pareceram tão rápidas. Calcei os sapatos, descolei a gravura da parede, enfiei o urso no bolso da japona e fomos arrastando as malas pelas escadas, mais intenso o cheiro que vinha do quarto, deixamos a porta aberta. Foi o gato que miou comprido ou foi um grito?
        No céu, as últimas estrelas já empalideciam. Quando encarei a casa, só a janela vazada nos via, o outro olho era penumbra.

                                                    Lygia Fagundes Telles

Entendendo o conto:

01 – De que forma o espaço contribuiu, nesse texto, para a construção do clima da história?
      O espaço lúgubre e suspeito contribuiu o clima de medo e de suspense da história.

02 – O que o antigo inquilino tinha esquecido no quarto? Por que esse detalhe impressionou as moças?
      Ele deixara um caixotinho com ossos pequenos e limpos que pareciam ter pertencido a um anão. A estudante de Medicina ficou impressionada por ser muito difícil um estudante encontrar ossos assim tão perfeitos para estudar.

03 – Identifique a situação inicial e a quebra dessa situação nessa narrativa.
      Situação inicial: Duas estudantes instalaram-se em uma pensão assustadora em que havia uma caixa com os ossos de um anão. Quebra da situação: No meio da noite aparecem várias formigas enfileiradas, que passavam por baixo da porta, entravam no caixotinho de ossos, movendo-os, aos bandos, e não voltavam. 

04 – Identifique o clímax (parte culminante do conto em que ocorre um fato de grande tensão), o conflito e sua solução.
      Clímax: Uma das moças viu os ossos do anão quase montados no caixotinho e, apavorada, chamou a prima. Conflito: O estranho aparecimento das formigas que estavam montando o esqueleto. Solução: A fuga das estudantes.

05 – Identifique, no texto, em que a personificação e explique-a.
      No final do texto, a janela com um vidro quebrado é vista como uma pessoa com um olho vazado: “Quando encarei a casa, só a janela vazada nos via, o outro olho era penumbra”. Em outro trecho (“Uma formiguinha... pessoa desesperada”), a formiguinha é vista como uma pessoa com vontade própria.

06 – Nesse conto, quem é o narrador da história? Qual é o foco narrativo?
      A estudante de Direito conta o que aconteceu com ela e sua prima, estudante de Medicina. A narrativa é feita em 1ª pessoa, e o narrador é personagem.

07 – O tempo na narrativa é cronológico ou psicológico? Por quê?
      O tempo é cronológico, porque os fatos são apresentados na ordem em que acontecem.

08 – Ao receber a caixinha de ossos, uma das personagens fica entusiasmada. Como ela expressa esse entusiasmo? (“Mas que maravilha, é raro à beça esqueleto de anão.”)
      “Mas que ossos tão miudinhos! São de criança?