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sexta-feira, 17 de outubro de 2025

CONTO: AS ORAÇÕES AO AR LIVRE - EMÍLIA NO PAÍS DA GRAMÁTICA - MONTEIRO LOBATO - COM GABARITO

 Conto: As Orações ao ar livre – Emília no país da gramática

           Monteiro Lobato

        Foram todos para o jardim, onde numerosas Orações costumavam passear ao sol. Dona Sintaxe apontou para uma delas e disse:

        — Vamos ver, Emilinha, se você sabe o que significa um grupo de palavras como aquele que ali está, junto ao canteiro de margaridas.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhZWXyvz3Ep83T0UuTPrqisTyB-pt4yfplzqeQTE1EsRRGv4e0TpamxYHULXHJMRwo0Wbn1ZktO8hgUlhG11JqQv7wu6Y1VZ-0cRBz3ayyFzOPQ5lnivyMf1M9dABnhlNifi9BkZN-SXq27dyQr_btGp6FY8S_3Bw0e07aMMM0EcORl3Olho738fgObmzA/s1600/ORA%C3%87%C3%83O.jpg


        — Pois é uma Oração, está claro! Quem não sabe?

        — Você não sabe, Emília. Aquilo é mais que uma Oração — é todo um PERÍODO GRAMATICAL, composto de várias Orações.

        — Um Período é então um cacho de Orações — disse Emília. — Estou entendendo. A Oração é uma banana; o Período é uma penca de bananas.

        O rinoceronte gostou do exemplo e lambeu os beiços, enquanto Dona Sintaxe explicava que os Períodos se dividem em duas classes — PERÍODOS SIMPLES e PERÍODOS COMPOSTOS.

        — O Período Simples é o que... — foi dizendo Emília, mas engasgou.

        — É o que se compõe só de uma Oração — concluiu Dona Sintaxe.

          E o Período Composto é o que se compõe de duas! — gritou a boneca vitoriosamente.

        — De duas ou mais — corrigiu Dona Sintaxe. — Aquele que ali vai passando é um Período Composto.

        O tal Período Composto dizia o seguinte: Emília soltou o preso, mas não ganhou nem um muito obrigado.

        — Notem — observou Dona Sintaxe — que há duas Orações, governadas por dois Verbos — Soltou e Ganhou. Por isso o Período é Composto. A Conjunção Mas amarra a segunda Oração à primeira.

        — Estou vendo — disse Emília. — E aquele outro, perto do canteiro de cravos?

        — Aquele é um Período Simples, formado de uma só Oração: O Visconde está com medo. Repare que há um só Verbo.

        — E aquele outro lá perto do canteiro das dálias? — indagou Pedrinho, mostrando um Período que dizia assim: O rinoceronte, que é um sabido, está calado.

        — Aquele é um Período Composto que traz uma Oração pendurada em outra. Note que uma Oração não está ligada à outra, mas sim pendurada no meio da outra. Se sair dali não estraga o resto. Chama-se Oração INTERFERENTE.

        — Pendurada com que gancho? — perguntou Emília.

        — Com o gancho daquele pronominho Que. Notem que nesse Período Composto há duas Orações: (1) O rinoceronte está calado; (2) Que é um sabido. Mas esta última está apenas enganchada no meio da primeira, como numa rede, por meio do gancho do Pronome Que.

        — Que tem mesmo jeito dum ganchinho! — observou Emília, e todos concordaram, para não haver briga.

        — Vamos agora ver como estas Orações se classificam quanto ao papel que representam no Período — disse Dona Sintaxe. — Elas podem ser de três classes – COORDENADAS, PRINCIPAIS e SUBORDINADAS.

        E, para exemplificar, gritou na direção dum grupo de Períodos que estavam parados diante dum repuxo:

        — Aproxime-se um Período Composto que queira servir de exemplo! Depressa!

        Todo saltitante, destacou-se do grupo este Período: O pica-pau picou o pau e fugiu quando viu Quindim.

        — Reparem — disse Dona Sintaxe — que temos três Orações neste Período. Uma Coordenada, porque está ligada a outra Coordenada pela Conjunção E: O pica-pau picou o pau. E temos a segunda Oração, que é a Principal: E fugiu; e temos a terceira, que é a Subordinada, ou escrava da Principal: Quando viu Quindim. Sem estar ligada à Oração Principal esta terceira fica sem sentido, ninguém a entende. Mas ligada torna-se clarinha como água de pote; quem lê compreende logo que o pica-pau fugiu quando viu Quindim.

        — Oração Principal? — estranhou a menina.

        — Oração Principal é a que pensa que é independente mas não é, porque depende das outras para completar o que ela quer dizer. Aquela ali, por exemplo. Venha cá, Senhor Período!

        Aproximou-se um Período Composto que se lia assim: Quindim está com fome porque não encontrou capim por aqui.

        — Reparem. A Oração Quindim está com fome é a Principal, mas não fica bem, bem, bem, bem completa sem a outra: Porque não encontrou capim por aqui. Esta outra ajuda a completar a Principal. As Senhoras Orações Principais trazem sempre o Verbo no Modo Indicativo ou no Modo Imperativo, não se esqueçam.

        Dona Sintaxe despediu aquele Período e chamou outro.

        — Aproxime-se uma Oração na voz ATIVA! Depressa. Muito lampeira, destacou-se do grupo uma Oração que dizia assim: O gato comeu o pica-pau.

        — Que história de Voz Ativa é essa? — indagou Emília.

        — Já irá saber — respondeu a Senhora Sintaxe, e voltando-se para a nova oraçãozinha: — Você está na Voz Ativa, não é assim? Pois então passe parada voz PASSIVA para esta boneca ver.                                      Incontinenti a oraçãozinha desmanchou-se toda para formar outra da seguinte maneira: O pica-pau foi comido pelo gato.

        — Muito bem! — aprovou Dona Sintaxe. O E para os meninos:

        — Notem que Pica-Pau, que é o Objeto Direto da primeira Oração, passou a ser Sujeito desta última, e reparem que o Sujeito da primeira (Gato) passou a ser Complemento.

        — Que Objeto Direto é esse, que apareceu aí sem mais nem menos? — berrou Emília.

        — Objeto Direto é aquilo que completa o sentido do Verbo diretamente. A gente pergunta ao Verbo: o quê? E a resposta é o tal Objeto Direto. O gato comeu o quê? O pica-pau. Logo, pica-pau é o Objeto Direto.

        — Que peste é a tal Gramática! — disse Emília. — Tem coisas que não acabam mais. Só sinto que, em vez de ter comido o pobre pica-pau, o gato não tivesse comido a Senhora Gramática, com todas estas damas que andam por aqui...

        Dona Sintaxe não ouviu e continuou:

        — Por meio destas passagens de Sujeitos para Complementos e de Complementos para Sujeitos é que as Orações passam da Voz Ativa para a Voz Passiva. Entenderam?

        Os meninos fizeram com a cabeça que sim.

        Durante toda a conversa Quindim manteve-se de parte, ouvindo com muita atenção as palavras da grande dama e aprovando-as com movimentos de chifre. Emília, que gostava de tirar a prova de tudo, foi ter com ele para lhe perguntar num cochicho:

        — Que acha desta senhora, Quindim? Sabe mesmo Gramática ou está nos tapeando?

        O rinoceronte riu-se filosoficamente.

        — Como não há de saber, Emília, se ela é a Sintaxe, ou uma das partes da própria Gramática? A Sintaxe dum lado e a Lexiologia de outro formam a Gramática inteira. Nunca duvide do que a Senhora Sintaxe disser...

OBRA INFANTO-JUVENIL DE MONTEIRO LOBATO. Edição do Círculo do Livro. Emília no País da Gramática. As figuras de sintaxe. https://www.fortaleza.ce.gov.br.

Entendendo o conto:

01 – Qual é a analogia usada por Emília para explicar a diferença entre Oração e Período Gramatical, e qual é a definição de Período Simples e Período Composto, de acordo com o conto?

      Emília usa a analogia da banana para a Oração e a penca de bananas para o Período Gramatical.

      Período Simples: É o que se compõe de só uma Oração (e, consequentemente, um só Verbo).

      Período Composto: É o que se compõe de duas ou mais Orações (governadas por dois ou mais Verbos).

02 – No trecho, Dona Sintaxe apresenta um tipo especial de Oração que "não está ligada à outra, mas sim pendurada no meio da outra" e, se for removida, "não estraga o resto". Qual é o nome dessa Oração e qual "gancho" a conecta?

      O nome dessa Oração é Oração INTERFERENTE. O exemplo dado é: "O rinoceronte, que é um sabido, está calado." O "gancho" que a conecta é o pronominho Que.

03 – De acordo com Dona Sintaxe, quais são as três classes de Orações quanto ao papel que representam no Período Composto?

      As três classes são:

      Coordenadas: Ligadas a outra Coordenada, geralmente por uma Conjunção (ex: "O pica-pau picou o pau").

      Principais: Aquela que "pensa que é independente" e da qual as outras dependem para completar o sentido (ex: "E fugiu" ou "Quindim está com fome").

      Subordinadas: Também chamadas de "escrava da Principal", pois sem a Oração Principal "fica sem sentido" (ex: "Quando viu Quindim").

04 – Qual é o processo que a Oração na Voz Ativa passa para se transformar na Voz Passiva, e como Dona Sintaxe define Objeto Direto?

      A passagem de Voz Ativa para Voz Passiva se dá pela troca de papéis dos termos: o Objeto Direto da Voz Ativa passa a ser o Sujeito da Voz Passiva, e o Sujeito da Voz Ativa passa a ser o Complemento (Agente da Passiva).

      Objeto Direto é definido como "aquilo que completa o sentido do Verbo diretamente." A forma de encontrá-lo é perguntar ao Verbo: o quê? (Ex: "O gato comeu o quê? O pica-pau").

05 – Ao final do trecho, Emília pergunta a Quindim se ele acha que Dona Sintaxe "Sabe mesmo Gramática ou está nos tapeando?". Qual é a resposta do rinoceronte e por que ele não tem dúvidas sobre o conhecimento da Senhora?

      Quindim afirma que não há como ela não saber, pois ela é a Sintaxe, que é "uma das partes da própria Gramática". Ele conclui dizendo que a Sintaxe de um lado e a Lexiologia do outro formam a Gramática inteira.

 

 

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