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sexta-feira, 15 de agosto de 2025

POEMA: CAMINHOS DE MINHA TERRA - JORGE DE LIMA - COM GABARITO

 Poema: Caminhos de minha terra

             Jorge de Lima

Caminhos inventados

por quem não tem pressa de ir embora.

 

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjdzwqJmoltLHT-t9RvMJn4cKqcSf-y3C0Kq993_6Y7FeReHqiatKHh3pEFRk7X-nfjs-W9kRTVM4-6FEdi-_CLwe1x5NQIvI1dn2-KXNfl-rLSBE1l4aQaInTa8cB2dPlHwC54CLd0AimPlkdaKph0GjkAnBYb0Kc2Q6CPFmbUP41oaS49jXzpA8WaIy4/s1600/jorge_de_lima2.jpg 

Pelos que vão à escola.

Pelos que vão à vila trabalhar.

Pelos que vão ao eito.

Pelos que levam quem se despede da vida, que é tão bela…

 

À minha terra ninguém chega: ela é tão pobre…

Dizem que tem bons ares para os tísicos –

Mas os tísicos não vão lá: é tão difícil de ir-se lá…

 

Caminhos de minha terra onde perdi

os olhos e o passo de meditação…

Caminhos em que ceguinhos e aleijados podem

ir sem olhos e sem pernas: eles não atropelam os pobrezinhos.

Alguém quer partir e eles dizem:

 

– “Não vás: toma lá uma goiaba madura,

uma pitanga, um ingá e dão como

as mãos dos missionários que dão tudo,

cajus, pitombas, araçás a todos os meninos do lugar”.

 

Caminhos que ainda têm orvalhos e sonambrilos bacurais,

E têm ninhos suspensos nas ramadas.

 

Ali perto, na curva do encanto

Onde mataram de emboscada um cangaceiro,

Há uma cruz de pitombeira…

Quem passa joga uma pedra,

Reza baixinho: “Padre nosso que estais no céu

santificado seja o vosso nome

venha a nós…”

Aquela cruz do cangaceiro é milagrosa.

Já me curou de um puchado que

Eu peguei na escola da professora –

Minha tia Bárbara de Oliveira Cunha Lima.

 

Mundaú! – soube depois

Que quer dizer rio torto.

Quem te inventou Mundaú, das minhas lavadeiras

Seminus,

Dos meus pescadores de traíras?

Mundaú! – rio torto – caminho de curvas,

Por onde eu vim para a cidade

Onde ninguém sabe o que é caminho.

Os melhores poemas. São Paulo, Global, 1994.

Entendendo o poema:

01 – Que tipo de pessoas utilizam os caminhos da terra do eu lírico, e o que isso revela sobre a vida local?

      Os caminhos são utilizados por uma variedade de pessoas: estudantes que vão à escola, trabalhadores que se dirigem à vila ou ao eito (roça), e até mesmo por aqueles que levam os que se despedem da vida. Isso revela uma vida simples e rural, onde os caminhos são essenciais para as atividades cotidianas e para os ritos de passagem.

02 – Por que, segundo o poema, "ninguém chega" à terra do eu lírico, apesar de ter "bons ares para os tísicos"?

      Ninguém chega à terra do eu lírico porque "ela é tão pobre" e "tão difícil de ir-se lá". Embora se diga que o local tem "bons ares para os tísicos" (pessoas com tuberculose), a dificuldade de acesso e a pobreza desencorajam até mesmo aqueles que poderiam se beneficiar de seu clima.

03 – Como os caminhos da terra do eu lírico se relacionam com a ideia de acolhimento e doação?

      Os caminhos são apresentados como um lugar de acolhimento e doação. Quando "alguém quer partir", os caminhos "dizem: – 'Não vás: toma lá uma goiaba madura, uma pitanga, um ingá'". Essa oferta de frutas é comparada às "mãos dos missionários que dão tudo", simbolizando a generosidade e a tentativa de reter quem parte.

04 – Qual é o significado da "cruz de pitombeira" mencionada no poema e qual sua relação com a memória local?

      A "cruz de pitombeira" marca o local onde "mataram de emboscada um cangaceiro". Essa cruz é considerada milagrosa, e quem passa joga uma pedra e reza. A cruz se torna um ponto de devoção popular, ligando a violência do passado à fé e à cura, como o eu lírico que foi curado de um "puchado" (mau-olhado ou doença).

05 – O que representa o rio Mundaú para o eu lírico e qual o contraste que ele estabelece com a vida na cidade?

      O rio Mundaú, que significa "rio torto", representa os caminhos de origem do eu lírico, por onde ele veio para a cidade. O rio é associado às suas "lavadeiras seminus" e "pescadores de traíras", evocando uma vida rural e autêntica. O contraste se dá com a cidade, onde "ninguém sabe o que é caminho", sugerindo uma perda de sentido, de direção ou de conexão com as raízes, diferente da clareza e da organicidade dos caminhos de sua terra natal.

 

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