Poema: Hai-Kais
Millôr
Fernandes
Pensa o outro lado:
Só quem tem fama
E difamado.
Com pó e mistério
A mulher ao espelho
Retoca o adultério.
0 pato. menina,
E um animal
Com buzina.
Hesito, Maria
Me mato, ou rasgo
Tua fotografia?
A aranha é que é bacana
Com sua geometria
Euclidiana.
Pra ser feliz de verdade
E preciso encarar
A realidade.
Democracia é um espeto!
Pra mim, é preto no branco
Pra ele, é branco no preto.
Millôr Fernandes.
Fonte: Letra e Vida.
Programa de Formação de Professores Alfabetizadores – Coletânea de textos –
Módulo 3 – CENP – São Paulo – 2005. p. 202.
Entendendo o poema:
01 – Qual é a ironia presente
no primeiro hai-kai, que fala sobre fama e difamação?
A ironia é que,
para se ter fama, muitas vezes é inevitável também ser difamado. Uma condição
parece acompanhar a outra, sugerindo que a notoriedade traz consigo tanto
admiração quanto críticas e boatos negativos.
02 – O que o segundo hai-kai
sugere sobre o ato de "retocar o adultério" com "pó e
mistério"?
O hai-kai sugere
que a mulher, ao se maquiar diante do espelho ("com pó e mistério"),
está na verdade tentando disfarçar ou encobrir as marcas ou consequências de um
adultério, utilizando a maquiagem como uma forma de camuflagem.
03 – No hai-kai sobre o pato,
qual característica inusitada é atribuída a ele?
A característica
inusitada atribuída ao pato é ter "buzina", o que é uma comparação
humorística e inesperada com o som que o animal faz, mas também pode ser uma
brincadeira com o som de "quack" (onomatopeia para o som do pato em
inglês) que soa como uma buzina.
04 – Que dilema o eu lírico
expressa no hai-kai sobre a fotografia?
O eu lírico
expressa um dilema intenso e doloroso: se matar ou rasgar a fotografia da
pessoa amada, Maria. Isso indica um sofrimento profundo e uma tentativa
desesperada de lidar com a dor de um relacionamento, onde ambas as opções são
extremas.
05 – Como o último hai-kai,
"Democracia é um espeto!", aborda a ideia de democracia?
O hai-kai
satiriza a ideia de democracia ao compará-la a um "espeto", que pode
ter dois lados. Ele mostra que, embora a democracia devesse ser justa, na
prática, o que é "preto no branco" para um, é "branco no
preto" para o outro, ressaltando a subjetividade e a polarização nas
interpretações e vivências do sistema democrático.
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