Notícia: Não dá para entender nonada no idiomaterno – Fragmento
Escritores brasileiros são
pródigos em criação de trocadilhos poéticos que flexibilizam a língua
Cláudia Nina
No caudaloso “riocorrente” da ficção modernista
(o riverrun de James Joyce, primeira palavra de Finnegans wake), muitas
palavras nasceram da imaginação de seus autores. Mas antes dos modernistas,
gregos e latinos já brincavam esse jogo, que é quase tão antigo quanto a
literatura e está ligado à própria formação dos idiomas.

[...]
No Brasil, muitos poetas e romancistas
também fizeram da literatura um jogo de invenção. Nomes tão distantes no tempo
e no estilo quanto José de Alencar e Paulo Leminski ousaram levar a língua ao
extremo. Alencar, a exemplo de outros indianistas, criou vocábulos tão novos quanto “Iracema”,
inventado a partir da aglutinação de palavras do tupi, que funciona também como
um anagrama de América.
Nos anos 60, Leminski sacudiu i cenário
das letras em Curitiba com uma poesia transgressora, criando inúmeros
trocadilhos típicos de seu estilo. Em Catatau ele escreveu: “Se o Brasil fosse
holandês, ninguém mais entenderia batavina” (trocadilho com batavo e
patavinas). Leminski inventava a partir dos assuntos mais prosaicos, como sua
fobia por avião: “Parizo, novaiorquizo, moscovito / sem sair do bar / só não
levanto e vou embora / porque há lugares que eu nem chego a Madagascar”.
[...]
Mas, em matéria de invenção
linguística, o príncipe dos poetas brasileiros é mesmo Manoel de Barros, que
adora dizer que seu prazer é “molecar o idioma”. Criador de sua “agramática
manoelina”, como ele mesmo explica, o poeta não se define como inventor de
palavras. Ele prefere dizer que aproveita a flexibilidade da língua portuguesa.
“Pode parecer invenção, mas o que eu faço é acompanhar a virtualidade da linguagem,
incorporando prefixos, transformando substantivos em adjetivos e coisa assim”,
diz.
O poeta conta que muitas de suas
criações vêm da pesquisa do português arcaico, o que aconteceu com o adjetivo
“brivante”, que vem de “Brívia”, palavra usada antigamente para designar
Bíblia. Manoel de Barros, no entanto, é modesto. Ele prefere acreditar que
palavras como “desorgulho” e “agramática” sejam fruto do mesmo processo que fez
o ex-ministro Magri criar o famoso “imexível”.
O poeta costuma dizer que não gosta de
“palavra acostumada”, por medo do “mesmal”. Por isso, a invenção surge
naturalmente. “Às vezes a gente precisa criar uma palavra para o equilíbrio
sonoro da poesia”, conta. Tudo isso, na
opinião dele, não tem nada a ver com o enriquecimento do idioma. “É claro que
se essas palavras fossem incorporadas, os dicionários seriam triplicados, mas
isso não acontece e nem escrevo com essa intenção. As invenções devem ficar nos
livros do poeta”, diz.
[...]
http://jbonline.terra.com.br/jb/papel/cadernos/ideias/2001/08/03/joride20010803007.html.
Fonte: livro Português:
Língua e Cultura – Carlos Alberto Faraco – vol. único – Ensino Médio – 1ª
edição – Base Editora – Curitiba, 2003. p. 157.
Entendendo a notícia:
01 – Qual é o tema central do
fragmento?
O fragmento trata
da criatividade dos escritores brasileiros na criação de trocadilhos poéticos e
na flexibilização da língua portuguesa, explorando a invenção de palavras e
expressões.
02 – Que exemplos de
escritores brasileiros são mencionados no fragmento como inovadores na
linguagem?
São mencionados
José de Alencar, Paulo Leminski e Manoel de Barros como exemplos de escritores
que levaram a língua ao extremo, criando novas palavras e expressões.
03 – O que José de Alencar
criou de inovador na língua portuguesa, segundo o fragmento?
José de Alencar
criou vocábulos novos, como "Iracema", palavra inventada a partir da
aglutinação de palavras do tupi e que também funciona como um anagrama de
América.
04 – Qual era o estilo de
Paulo Leminski em relação à linguagem?
Paulo Leminski
tinha um estilo transgressor, criando inúmeros trocadilhos típicos de sua
poesia, muitas vezes partindo de assuntos prosaicos.
05 – Quem é considerado o
"príncipe dos poetas brasileiros" em matéria de invenção linguística
e o que ele diz sobre sua poesia?
Manoel de Barros
é considerado o "príncipe dos poetas brasileiros". Ele afirma que seu
prazer é "molecar o idioma" e que não se define como inventor de
palavras, mas sim como alguém que aproveita a flexibilidade da língua
portuguesa.
06 – De onde Manoel de Barros
tira inspiração para suas criações linguísticas?
Manoel de Barros
se inspira na pesquisa do português arcaico, como no caso do adjetivo
"brivante", que vem de "Brívia", palavra antiga para
Bíblia.
07 – Qual é a opinião de
Manoel de Barros sobre o impacto de suas invenções no idioma?
Manoel de Barros
acredita que suas invenções devem ficar nos livros de poesia e não têm a
intenção de enriquecer o idioma, apesar de reconhecer que os dicionários seriam
ampliados se suas palavras fossem incorporadas. Ele as cria por necessidade de
equilíbrio sonoro na poesia e por não gostar de "palavra acostumada".
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