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segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

ARTIGO DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA: NÃO HÁ LÍNGUAS PRIMITIVAS - (FRAGMENTO) - JOHN LYONS - COM GABARITO

 Divulgação científica: Não há línguas primitivas – Fragmento

                   John Lyons

        É bastante comum ouvir leigos falarem sobre línguas primitivas, repetindo até o mito já desacreditado de que há certos povos cujas línguas consistem apenas de umas poucas palavras complementadas por gestos. A verdade é que todas as línguas até hoje estudadas, não importa o quanto primitivas as sociedades que as utilizam nos possam parecer sob outros aspectos, provaram ser, quando  investigadas, um sistema de comunicação complexo e altamente desenvolvido. Evidentemente toda a questão da evolução cultural desde a barbárie até a civilização é em si mesma altamente questionável. Porém não cabe ao linguista pronunciar-se sobre sua validade. O que ele pode afirmar é que ainda não se descobriu uma correlação entre os diferentes estágios de desenvolvimento cultural por que as sociedades passam e o tipo de língua falado durante eles. Por exemplo, não há uma língua da Idade da Pedra; ou, no tocante a sua estrutura gramatical geral, um tipo de língua característico das sociedades essencialmente agrícolas por um lado, e das modernas sociedades industrializadas, por outro.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhvp6a_JbiLfJuybFz0nzmC_SFJMHRw5kIa5WS84dlYdr6MNHWClVqonh7F9oN5e_ViUOAHAF9nc0MCtdpZ-gseNyWpRUpu4-S4m7aCNrMdKiGItRA59I6NYNASDuCiBxudimnHtJ5bU9hHv_scRynyo8U_4M18P_arlbZs1r8BBoWBUf_x4VMfzNtq1S8/s320/PRIMITIVAS.jpg


        Houve muitas especulações no século XIX quanto ao desenvolvimento das línguas passando estruturalmente da complexidade à simplicidade ou, alternativamente, da simplicidade à complexidade. A maior parte dos linguistas se exime de especular sobre o desenvolvimento evolutivo das línguas em termos tão gerais. Sabem que, se tiver havido qualquer direcionamento na evolução linguística desde suas origens na pré-história até os nossos dias, não há qualquer sinal de direcionamento, recuperável a partir do estudo das línguas contemporâneas ou das do passado, das quais nos reste algum conhecimento.

        [...]

        Desde o século XIX, quase todos os linguistas, à exceção de muito poucos, abandonaram a questão da origem das línguas por estar para sempre fora do escopo de uma investigação científica. A razão para isso foi que, como acabamos de ver, durante o século XIX eles notaram que, por mais longe que se voltasse na história de determinadas línguas nos textos que duraram até nossos dias, era impossível discernir quaisquer sinais de evolução de um estado mais primitivo para outro mais avançado.

        [...]

        Permanece o fato de que não só em todas as línguas conhecidas o canal vocal-auditivo é o que é primeira e naturalmente utilizado para a transmissão de sinais, como também todas as línguas conhecidas são, grosso modo, igualmente complexas, no tocante à sua estrutura gramatical.

        [...]

        Evidentemente há diferenças consideráveis nos vocabulários das diferentes línguas. Portanto, é possível que seja necessário aprender uma outra língua ou pelo menos um vocabulário especializado para que se possa estudar um assunto específico ou discorrer satisfatoriamente sobre ele. Neste sentido uma língua pode adaptar-se melhor do que outra a determinados fins específicos. O que não significa, entretanto, que uma seja intrinsecamente mais rica ou pobre que a outra. Todas as línguas vivas, pode-se presumir, são por natureza sistemas eficientes de comunicação. À medida que se modificam as necessidades de comunicação de uma sociedade, também se modificará a língua por ela falada, para atender às novas exigências. O vocabulário será ampliado, seja tomando emprestadas palavras estrangeiras, seja criando-as a partir de seus próprios vocábulos já existentes. O fato de que muitas línguas faladas nos, por vezes, chamados países subdesenvolvidos não dispõem de palavras correspondentes a conceitos e produtos materiais oriundos da moderna ciência e tecnologia não implica que tais línguas sejam mais primitivas do que as que têm tais itens. Demonstra tão-somente que certas línguas, pelo menos até agora, não foram ainda utilizadas por aqueles que estão envolvidos no desenvolvimento da ciência e da tecnologia.

LYONS, John. Linguagem e linguística: uma introdução. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1982, p. 37-40.

Fonte: livro Português: Língua e Cultura – Carlos Alberto Faraco – vol. único – Ensino Médio – 1ª edição – Base Editora – Curitiba, 2003. p. 138-139.

Entendendo a divulgação:

01 – Qual é o mito comum sobre línguas primitivas que o autor busca desmistificar?

      O mito comum é que existem povos com línguas extremamente simples, consistindo de poucas palavras e muitos gestos, e que essas línguas seriam "primitivas" em comparação com outras.

02 – O que o autor afirma sobre a complexidade das línguas estudadas, independentemente da cultura que as utiliza?

      O autor afirma que todas as línguas estudadas, mesmo aquelas faladas por sociedades consideradas "primitivas" sob outros aspectos, revelaram-se sistemas de comunicação complexos e altamente desenvolvidos.

03 – Qual é a posição do autor em relação à evolução cultural e sua suposta influência sobre a linguagem?

      O autor questiona a validade do conceito de evolução cultural da barbárie à civilização e afirma que não cabe ao linguista pronunciar-se sobre isso. No entanto, ele destaca que não há evidências de correlação entre os estágios de desenvolvimento cultural de uma sociedade e o tipo de língua que ela fala.

04 – O que os linguistas descobriram sobre a evolução das línguas ao longo do tempo?

      Os linguistas descobriram que, por mais que se investigue o passado de uma língua através de textos históricos, não é possível encontrar sinais de evolução de um estado mais primitivo para um mais avançado. Eles não encontraram nenhum "direcionamento" na evolução linguística.

05 – Qual é a principal razão para a maioria dos linguistas ter abandonado a questão da origem das línguas?

      A principal razão é que, como não é possível encontrar evidências de evolução linguística ao longo do tempo, a questão da origem das línguas permanece fora do escopo da investigação científica.

06 – Além da complexidade gramatical, o que mais o autor destaca como característica comum a todas as línguas conhecidas?

      O autor destaca que em todas as línguas conhecidas, o canal vocal-auditivo é o principal e natural meio de transmissão de sinais.

07 – O que o autor argumenta sobre as diferenças nos vocabulários das línguas e sua relação com a ideia de línguas "mais ricas" ou "mais pobres"?

      O autor argumenta que as diferenças nos vocabulários refletem as necessidades de comunicação de cada sociedade. Uma língua pode ser mais adaptada para discutir certos assuntos, mas isso não significa que ela seja intrinsecamente mais rica ou pobre do que outra. Todas as línguas vivas são sistemas eficientes de comunicação e se adaptam às necessidades de seus falantes. A falta de palavras para conceitos modernos em algumas línguas não indica primitividade, apenas que essas línguas ainda não foram utilizadas por aqueles que desenvolvem a ciência e a tecnologia.

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