Texto: Como distinguir o bajulador do amigo – Fragmento
Plutarco
Platão disse, meu caro amigo Antíoco,
que se pode perdoar de bom grado a confissão de qualquer homem de amar-se
excessivamente, mas, dentre os vários vícios que nascem desse amor-próprio, um
dos mais perigosos é aquele que impede um julgamento equilibrado e imparcial de
si mesmo; pois a amizade deixa-nos facilmente cegos a respeito do que amamos, a
menos que uma educação sábia tenha nos acostumado a preferir o que é belo e
honesto em si mesmo ao que nos interessa pessoalmente. Aliás, o amor-próprio oferece
à bajulação um vasto campo para nos atacar e, sob a aparência da amizade,
dominar nossa confiança. Como transforma cada um de nós nos primeiros e maiores
bajuladores de nós mesmos, ele facilita a entrada de estranhos, para obtermos
deles os testemunhos e a aprovação da justa opinião que este amor-próprio tem
de si mesmo. Todo homem acusado com justiça de amar os bajuladores ama-se
sempre apaixonadamente, e este amor cego faz com que deseje e acredite possuir
todas as perfeições. Na verdade, o desejo de possuí-las não é insensato; mas a
convicção a seu respeito está sujeita a erro, e não devemos acreditar
facilmente nelas. [...]
Se a bajulação, como a maioria dos
vícios, corrompesse apenas com mais frequência homens via e obscuros, talvez
fosse mais fácil defender-se dela. Mas, tal como os cupins, que penetram mais
facilmente nas madeiras mais macias, ela se liga às almas mais elevadas, cuja
simplicidade e a bondade de caráter tornam mais suscetíveis à sedução. “Não é
um pobre camponês”, diz Simonides, “mas o proprietário de belas terras que pode
alimentar os cavalos.” Do mesmo modo, não é aos homens pobres, fracos e
desconhecidos que a bajulação se liga, mas às casas opulentas, e mesmo aos
reinos e impérios, dos quais frequentemente é a causa da ruína.
[...].
Plutarco. Como
distinguir o bajulador do amigo. São Paulo: Scrinium, 1997, p. 11-12.
Fonte: Linguagem em
Movimento – língua Portuguesa Ensino Médio – vol. 1 – 1ª edição – FTD. São
Paulo – 2010. Izeti F. Torralvo/Carlos A. C. Minchillo. p. 200.
Entendendo o texto:
01
– Qual o principal tema abordado no fragmento?
O tema central do
texto é a distinção entre a amizade verdadeira e a bajulação. Plutarco busca
analisar as características de cada uma dessas relações e os perigos da adulação.
02
– Qual o papel do amor-próprio na atração pela bajulação?
O amor-próprio é
apresentado como o principal fator que torna as pessoas vulneráveis à
bajulação. Ao amar-se excessivamente, o indivíduo busca a aprovação dos outros
e se torna mais suscetível aos elogios e às falsas demonstrações de afeto.
03
– Como a bajulação se infiltra na alma das pessoas?
Plutarco compara
a bajulação aos cupins, que atacam as madeiras mais nobres. Assim como os
cupins corroem a madeira, a bajulação corrompe as almas mais elevadas, aquelas
que possuem qualidades como a simplicidade e a bondade.
04
– Qual o perfil das pessoas mais suscetíveis à bajulação?
Segundo Plutarco,
as pessoas mais suscetíveis à bajulação são aquelas que possuem uma alta
autoestima e buscam constantemente a aprovação dos outros. Essas pessoas são
mais propensas a acreditar nos elogios e a se deixar levar pela adulação.
05
– Quais as consequências da bajulação para o indivíduo?
A bajulação pode levar o
indivíduo a uma falsa percepção de si mesmo, impedindo-o de reconhecer seus
próprios defeitos e de se desenvolver como pessoa. Além disso, a adulação pode
levar a decisões equivocadas e a perdas significativas, como a ruína de reinos
e impérios.
06
– Qual a importância da educação para evitar a influência da bajulação?
A educação sábia
é fundamental para desenvolver um senso crítico e a capacidade de distinguir a
amizade verdadeira da bajulação. Ao aprender a valorizar a honestidade e a
virtude, o indivíduo se torna menos vulnerável à sedução dos aduladores.
07
– Qual a principal mensagem que Plutarco busca transmitir com este texto?
A principal
mensagem do texto é um alerta sobre os perigos da bajulação e a importância de
cultivar a amizade verdadeira. Plutarco busca conscientizar o leitor sobre a
necessidade de desenvolver um olhar crítico sobre as pessoas que o cercam e de
não se deixar levar pelas falsas aparências.
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