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segunda-feira, 25 de novembro de 2024

ARTIGO DE OPINIÃO: O LOBO E O CORDEIRO - CARLOS HEITOR CONY - COM GABARITO

 Artigo de opinião: O lobo e o cordeiro

           Carlos Heitor Cony

        Rio de Janeiro – Outro dia, li no noticiário que já começam a falar em trincheira. Parece que ainda é uma metáfora, uma licença poética, alguma coisa assim. Sem entrar no mérito da briga entre Minas e Governo Federal, achei a ideia boa.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhLkW6XMk7FyO9xUBRzE3q1l3xYlgPDtKHL0db-K79g2_gg30C2U6PsUK-rVuvKuNaO238EqEZY05UfvHmN8dFKUELa6HfNKwknd8razH3B4UPCMpLkfygtsKahHUEL1oKV8ie4suecABqIVkNrF6mN5dklP2Y1WHSLWNG3bg_zkFbXAschAP828gCJ-Y4/s320/MG.jpg


        A taxa de desemprego no país anda alta e a tendência é subir mais. Ao longo da história, sempre que a população crescia em tempos de paz, havia uma guerra para absorver mão-de-obra e manter a humanidade em patamares decentes, sem o inchaço das cidades e aldeias.

        Assim foram formados os exércitos que, andando de um lado para o outro, criaram impérios, reinos, ducados, colônias, etc. Brecht, acho que em “Mãe coragem”, faz um personagem elogiar a guerra, que pelo menos em termos economia e mercado regulariza as coisas, cortando o supérfluo, mantendo os estoques básicos e evitando a explosão demográfica que cria problemas inúteis para o Estado.

        Para uma boa guerra é preciso um motivo, que nem precisa ser bom. Qualquer um serve. Na fábula de Esopo, além de ser o mais fraco, o cordeiro encheu o saco de lobo ao exigir um motivo decente para ser engolido.

        O lobo podia integrar a equipe econômica de qualquer governo tutelado pelo FMI. Em vez de um, deu dois bons motivos para comer o cordeiro. O primeiro até que não colou: o cordeiro estaria sujando a água que o lobo bebia. “Mas como?” – estranhou o cordeiro. “Você está em cima, eu estou em baixo, a água do rio passa primeiro por você, se alguém suja a água é você que suja a minha!”

        O lobo foi tão paciente quanto os ficais do sr. Camdessus. Deu outro motivo: “No ano passado, seu pai sujou a minha água”. E comeu o cordeiro.

        De Esopo para cá, a razão sempre esteve com o lobo. Não havia desemprego então, de maneira que hoje a guerra entre os dois é mais necessária. Quanto menos cordeiro, mais farta será a água do rio.

O lobo e o cordeiro, de Carlos Heitor Cony. Folha de São Paulo, 28/02/1999, fornecido pela Folhapress.

Fonte: Linguagem em Movimento – língua Portuguesa Ensino Médio – vol. 1 – 1ª edição – FTD. São Paulo – 2010. Izeti F. Torralvo/Carlos A. C. Minchillo. p. 232.

Entendendo o artigo:

01 – Qual a principal tese defendida por Cony no artigo?

      A principal tese defendida por Cony é que a guerra, embora cruel e injusta, pode ser vista como uma solução para problemas sociais como o desemprego. O autor utiliza a fábula de Esopo como metáfora para criticar a lógica de poder e as justificativas utilizadas para iniciar conflitos.

02 – Como Cony relaciona a fábula de Esopo com a realidade política?

      Cony utiliza a fábula de Esopo como um ponto de partida para analisar a relação entre os poderosos e os mais fracos. Ele mostra como os poderosos, assim como o lobo, encontram justificativas para seus atos, mesmo que sejam injustos e arbitrários.

03 – Qual a crítica de Cony ao sistema econômico e político?

      Cony critica o sistema econômico e político que, segundo ele, prioriza os interesses de poucos em detrimento das necessidades da maioria. Ele sugere que a guerra pode ser utilizada como uma ferramenta para controlar a população e manter o status quo.

04 – Qual o papel do FMI na metáfora utilizada por Cony?

      O FMI é utilizado como uma metáfora para representar as forças econômicas internacionais que impõem condições aos países em desenvolvimento. A figura do fiscal do FMI, Sr. Camdessus, é associada à paciência e à frieza do lobo ao encontrar justificativas para devorar o cordeiro.

05 – Qual a ironia presente no texto?

      A ironia está presente na forma como Cony trata um tema tão sério como a guerra. Ao utilizar a fábula de Esopo e uma linguagem irônica, ele demonstra a absurda lógica por trás dos conflitos e a indiferença dos poderosos diante do sofrimento humano.

06 – Qual a principal mensagem que Cony deseja transmitir?

      A principal mensagem de Cony é um alerta sobre os perigos da manipulação do poder e da justificativa de ações injustas. O autor busca provocar uma reflexão sobre as causas dos conflitos e sobre as consequências da guerra para a sociedade.

07 – Por que o título "O lobo e o cordeiro" é adequado ao texto?

      O título "O lobo e o cordeiro" é adequado ao texto porque resume a metáfora utilizada por Cony para analisar a relação entre os poderosos e os mais fracos. A fábula de Esopo é um arquétipo que representa a luta entre o bem e o mal, entre o forte e o fraco. Ao utilizar essa referência, Cony torna sua crítica mais universal e atemporal.

 

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