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sábado, 11 de maio de 2024

CRÔNICA: FAMÍLIA UNIDA - WALCYR CARRASCO - COM GABARITO

 Crônica: Família Unida

              Walcyr Carrasco

         Todos os anos, mães e filhos se encontram para um novo    round. São os tais laços de família que, frequentemente, se transformam em nós.

         — Acho que a mamãe não está regulando bem. Fez tender para o almoço. Está cansada de saber que estou de regime — geme a mais nova.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgvjCOyo_QNL4atdkcK5KcpvqgWzPPfYwHN19JJdtTsB6lp60qw3hhyKRIDRcK42OpO2u0NBTca6qOst7xPCNi8iHX_QTxtBh2G1rPfkgFe8TnMld2id61iDo841BsgZzeVpfHU2TSGTSD1ZSFImIdEyfCWrJilISBaCiHy1ld2cni3SmLe-Y7cYm0A9kI/s320/FAMILIA.jpg


         — E a idade... ela não é mais o que era — diz a mais velha.

         Saltitante, a mãe mostra a mesa com um sorrisinho. Não só o tender criminoso, adornado com pêssegos em calda. Mas também a maionese, que todos adoravam quando meninos, e o quindim de sobremesa. Só falta uma garrafa de colesterol puro. O mais velho, com uma ponte de safena, morre de pavor de ter infarto à mesa. Mas come. Seja dito o que for, um dos grandes objetivos de qualquer mãe é engordar os filhos.

         — Está uma delícia, mamãe — suspira a mais nova.

         A mãe não resiste:

         —- Vai repetir? Pensei que estivesse de regime. Você não tem mesmo força de vontade.

         A filha quase atira o prato no chão. Se comesse pouco, a mãe reclamaria:

         — Desse jeito você acaba doente.

         Surgem as recordações dos bons tempos.

         — Zelito, por que você chegou atrasado? Eu me lembro daquela noite que passei acordada é depois soube que tinha batido o carro e quase foi preso. Fico nervosa.

         Por que ela tem de se lembrar sempre daquela noite em que ele dirigiu sem carta? A única, ilegalidade em toda a sua vida de juiz!

         — Mamãe, isso faz vinte anos. Eu tinha 15.

         — Eu nunca esqueci.  

         Quem disse que mãe esquece? A não ser, é claro, nos momentos estratégicos. 

         — Gilda, me passe a salada.

         Silêncio mortal. Choque. O filho do meio balbucia.

         — Mãe, esta é a Soraia. Você trocou os nomes. A Gilda é minha ex-mulher.

         — Desculpe, Soraia... eu sei que você não se importa. É a idade. Mas é que eu adorava a Gilda!

         Um neto bate com um martelinho no chão! 

         — Não faça barulho.

         — Você está reprimindo o Arturzinho —- revolta-se a nora.

         -— Gislaine, mamãe tem razão. É uma tortura — defende o caçula.

         Gislaine se levanta, puxando o menino pela mão, e sai. O marido, irritado, corre atrás.

         -—Vocês atacam minha mulher só porque ela era manicure!

         Todos contemplam a mesa desfalcada. A mãe, arrasada.

         — Com ela por perto, não posso dizer um ah! O que será desse menino?

         O grupo descasca a cunhada. Até que ela volta, com o filho e o marido. Senta-se, um sorriso torto. Tocam a campainha, a mais nova vai atender. É o namorado. A mãe suspira:

         — Já casou duas vezes. Nem fala mais em noivo ou marido. Só em namorado. Quando essa menina vai se acertar na vida?

         — Mãe, ela já tem 34 anos. Não meta o bico — palpita a mais velha, esta, sim, casada e atormentada com os filhos adolescentes, que fugiram do almoço.

         — Eu não me meto em nada — avisa a mãe, feroz. — Mas, se isso é o que chamam de liberdade, eu dispenso.

         A mais nova entra com um sujeito de bermuda e cabelos de cantor de reggae, dez anos mais novo. Todos trocam olhares venenosos. A filha avisa que já vão. Surge o convite materno:

         — Sente-se... coma um pouquinho... eu mesma fiz — murmura gentil.

         Ele recusa educadamente. Ela insiste. Ele se senta e come metade do pernil, dois terços da maionese e um naco do tender, acompanhado por três cervejas. Depois, levanta-se:

         — Desculpem por bancar o cachorro magro, mas tenho de ir.

         Mal ele sai com a filha a tiracolo, a mãe geme:

        — E um morto de fome. Imaginem só... criar uma filha, dar estudo, para depois ela virar vendedora de bijuteria e arrumar um namorado desses.

         Exalta-se o caçula:

         — Mãe, será que você tem de criticar tudo?

         Uma lágrima furtiva. A velha mexe humildemente o garfo no prato.

         — Viu o que você fez? Magoou sua mãe — ataca a nora.

         Olhos arregalados, ele dispara:

         — Quem magoou foi você, quando brigou por causa de seu filho.     

          Artur, você vai deixar seu irmão falar assim comigo?

         — Ela tem razão, Zelito... você...

         Olhos cintilantes, a mãe pede, com voz angelical:

         — Filhos, não briguem por minha causa. Tudo o que quero é uma família unida!

 Entendendo a crônica:

 01 – Quais são as principais queixas dos filhos durante o almoço preparado pela mãe?

a)   A falta de variedade de pratos.

b)   O excesso de comida não saudável.

c)   A preocupação com a saúde da mãe.

d)   A insistência da mãe para repetir os pratos.

02 – Por que o filho mais velho come mesmo tendo preocupações com sua saúde?

a)   Porque a mãe o convenceu.

b)   Porque adora a comida da mãe.

c)   Porque tem medo de discutir com a mãe.

d)   Porque está faminto.

03 – Qual foi o acontecimento que a mãe relembra de forma inoportuna durante o almoço?

a)   A formatura do filho mais novo.

b)   O acidente de carro do filho mais velho.

c)   O divórcio do filho do meio.

d)   O nascimento do neto.

04 – Por que a mãe confunde o nome da nora durante o almoço?

a)   Por estar nervosa.

b)   Por ter problemas de memória.

c)   Por preferir a ex-nora.

d)   Por não gostar da atual nora.

05 – Qual é a reação da nora diante da repreensão da mãe?

a)   Ela concorda.

b)   Ela fica revoltada.

c)   Ela se desculpa.

d)   Ela se retira com o marido e o filho.

06 – Como a mãe se sente quando a mais nova chega com um acompanhante inusitado?

a)   Encantada.

b)   Preocupada.

c)   Desgostosa.

d)   Surpresa.

07 – Qual é o motivo do acompanhante recusar a comida educadamente?

a)   Por não gostar da comida.

b)   Por ter pressa.

c)   Por não querer causar problemas.

d)   Por estar de dieta.

08 – O que a mãe lamenta após a saída da filha com o acompanhante?

a)   A falta de educação do acompanhante.

b)   O comportamento da filha.

c)   A profissão da filha.

d)   O estado financeiro da filha.

09 – Como os filhos reagem à discussão entre a nora e o caçula?

a)   Ficam indiferentes.

b)   Defendem a nora.

c)   Ignoram.

d)   Apoiam o caçula.

10 – Qual é o desejo final da mãe diante das discussões entre os filhos?

a)   Que parem de brigar.

b)   Que a respeitem mais.

c)   Que se sintam culpados.

d)   Que se afastem.

 

 

 

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