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sábado, 11 de julho de 2020

ARTIGO DE OPINIÃO: NOSSA FOME - JOSÉ FERNANDES DE OLIVEIRA - COM GABARITO

ARTIGO DE OPINIÃO: Nossa fome

        José Fernandes de Oliveira

        Que pequenos ou grandes países em guerra ou vítimas de catástrofes impossíveis de contornar tenham conhecido e ainda conheçam a fome é compreensível, ainda que não se explique.

        Que países vítimas de clima ingrato e solo ainda mais ingrato tenham que dosar a ração alimentar de seus filhos, entende-se.

        Que um país da extensão do nosso, com um oceano a lhe banhar as costas, com terras cultiváveis, inclusive as do ressequido Nordeste, conheça o triste espetáculo da fome no campo e nos pequenos e grandes centros é mais do que triste e lamentável: é revoltante.

        O país apontado como o futuro celeiro do mundo está vendo seus filhos remexer monturos e latas de lixo, saquear depósitos e armazéns, minguar de fome, e, no desespero de não saber onde encontrar a próxima ração dos filhos, cair na tentação da violência.

        Até agora o fenômeno, que já existia há muitos anos no campo e na periferia das cidades, não sensibilizava a imprensa porque parecia pequeno e contido. Agora, porém, explode na casa do vizinho desempregado e vem para pertinho de todos. Perto demais para deixar o brasileiro indiferente. Não é possível disfarçar a fome de agora com consumismo, sexo, futebol e palavras de esperança. A fome está doendo demais.

        O Zé e a Maria começam a cair nas filas e no emprego, de noite o estomago dói e o dia inteiro as crianças choram de fome, enquanto pai esmurra a parede com ódio do governo e dos que deixaram o país chegar a esse estado de coisas.

        Aumentam os assaltos, a violência, o medo e o desespero. E as explicações já não explicam por que um país como o nosso se endividou tanto, planejou tão mal e plantou de maneira tão errada, permitindo preços extorsivos que dificultam o plantio e a colheita e tornam impossível a compra do que o solo produziu.

        Na terra que, segundo Pero Vaz de Caminha, “é boa e dá de tudo”, o povo passa fome.

        Em 1980, o Papa repetiu isso em Teresina. A Igreja vive dizendo isto. Os brasileiros mais conscientes previam isto. E nada foi feito. E o governo, a oposição e as lideranças precisam achar a resposta antes da anarquia. Um povo com fome devora tudo, inclusive seus líderes.

        No momento, o Brasil tem muitos problemas, e graves, mas um que não pode esperar é a comida. Matar a fome do povo é uma urgência. E não adianta explicar. A fome do brasileiro não pode ser explicada nem justificada. Não é acaso, é desgoverno mesmo.

                      OLIVEIRA scj, José Fernandes de. “O recado”. Revista Mensal de Problemas Humano-Cristãos, abr. 1984.

                        Fonte: Livro – Encontro e Reencontro em Língua Portuguesa – 8ª Série – Marilda Prates – Ed. Moderna, 2005 – p. 110/2.

Entendendo o texto:

01 – Identifique o significado, no texto, das palavras em destaque:

a)   “... ou vítimas de catástrofes impossíveis de contornar...”

Pessoas que sofrem infortúnios / grandes desgraças / solucionar.

b)   “Que países de clima ingrato e solo ainda mais ingrato tenham que dosar a ração alimentar, entende-se”.

Inconstante, improdutivo.

c)   “Que um país da expansão do nosso, com um oceano a banhar-lhe a costa, com terras cultiváveis, inclusive as do ressequido Nordeste, conheça o triste espetáculo da fome no campo...”

Que podem ser cultivadas: terras onde se pode plantar e colher.

02 – Substitua as locuções adjetivas pelo adjetivo equivalente. Escolha quatro e forme frases. Faça tudo em seu caderno.

a)   Com fomeFaminto.

b)   Fome que não se explicainexplicável.

c)   Nordeste com secaressequido.

d)   Brasileiro com indiferençaindiferente.

03 – “A fome do brasileiro não pode ser explicada nem justificada”. Qual é a diferença entre explicar e justificar a fome do brasileiro?

      Explicar: é identificar as causas.

      Justificar: é legitimar as causas.

04 – “... enquanto o pai esmurra a parede com ódio do governo e dos que deixaram o país chegar a esse estado de coisas”. Substitua a expressão em destaque sem alterar o sentido do texto.

      Essa situação / a esse ponto.

05 – Identifique a diferença de sentido entre:

·        “A igreja vive dizendo isso”.

·        O padre vive dizendo isso.

      A 1ª frase, a posição da instituição está sendo apresentada e, a 2ª frase, a opinião de apenas um dos membros da instituição.

06 – “Que pequenos ou grandes países em guerra ou vítimas de catástrofes impossíveis de contornar tenham conhecido e ainda conheçam a fome é compreensível, ainda que não se explique.”

a)   Que catástrofes poderiam ser impossíveis de contornar?

Aquelas causadas pela própria natureza, independentemente da ação humana.

b)   No Brasil, inúmeras pessoas ainda atravessam dificuldades devido ao excesso ou à falta de chuva. Milhares de pessoas que vivem em encostas de morros, por exemplo, ficam desabrigadas e desamparadas após grandes enchentes. Nesses casos, você acha que as catástrofes são também compreensíveis? Por quê?

Em casos como esse, a ausência de condições adequadas de habitação provocou a tragédia e não a natureza.

07 – “O país apontado como futuro celeiro do mundo está vendo seus filhos remexer monturos e lata de lixo, saquear depósitos e armazéns...”

a)   Qual o sujeito do verbo estar?

O país apontado como futuro celeiro do mundo.

b)   Que país é apontado como futuro celeiro do mundo?

O Brasil, devido às grandes áreas potencialmente cultiváveis.

c)   No lugar do nome do país, foi empregada uma expressão. Ela oferece informações a respeito do país. Qual a relação entre a informação oferecida e a ideia apresentada no terceiro parágrafo.

A expressão futuro celeiro do mundo reforça a ideia defendida no terceiro parágrafo.

d)   Conclua: qual o efeito de usarmos uma expressão no lugar de um nome para indicarmos o sujeito de uma ação?

Oferecer informações a respeito do sujeito relevantes em relação à tese apresentada.

08 – Quem são o Zé e a Maria a que o autor se refere?

      Os nomes utilizados não são indivíduos, o autor usou nomes comuns na sociedade brasileira para representar todo o povo.

09 – De acordo com o texto, quem teria deixado o país chegar a “esse estado de coisas”?

      O governo, a oposição, as lideranças.

10 – “Na terra que, segundo Caminha, ‘é boa e dá tudo’, o povo passa fome”. Pero Vaz de Caminha, na época do descobrimento do Brasil, escrevia cartas ao governo português. Muitas vezes, exaltava as belezas e os recursos do país. Qual a importância, para o texto, de se mencionar as palavras de Caminha?

      É uma referência ao início da história da colonização do Brasil e ao fato de que o país sempre contou com recursos naturais suficientes para que não houvesse fome.

11 – “Em 1980 o papa repetiu isso em Teresina. A igreja vive dizendo isso. Os brasileiros mais conscientes previam isso.” Explique a ideia que está sendo substituída pelo pronome isso.

      A ideia de que em uma terra em que há tantos recursos o povo passa fome.

12 – “E o governo, a oposição e as lideranças precisam achar a resposta antes da anarquia. Um povo com fome devora tudo. Inclusive seus líderes”.

a)   O verbo devorar está sendo utilizado no sentido denotativo ou conotativo?

Conotativo. Porque não possui somente o significado de comer “com fúria” mas de “engolir” os causadores de sua fome, miséria, estado de calamidade.

b)   Explique de que maneira a escolha dessa palavra está relacionada ao tema abordado pelo autor.

Devorar está relacionado à fome.

13 – “É desgoverno mesmo!”

a)   Considerando a afirmação em destaque, responda: para o autor, quem é o responsável pela fome no Brasil? Por quê?

O governo, pois ele considera que os governantes e os demais políticos não têm feito a sua parte.

b)   A escolha de uma palavra que é a negação de governo tem um significado. Que significado é esse?

Para o autor, o governo é omisso.

c)   De acordo com o texto, a fome provocada pela omissão dos governantes pode levar à anarquia. Veja mais uma vez o significado de anarquia e de desgoverno no dicionário e procure explicar qual seria a diferença entre a anarquia e o desgoverno mencionado pelo autor.

Anarquia – seria a ausência de uma autoridade estabelecida ou o estabelecimento de uma ordem em que o povo faz valer os seus direitos.

Desgoverno – é também a ausência de uma autoridade estabelecida, mas por omissão e não por não haver governantes oficiais.

14 – Por que, segundo o autor, é revoltante o fato de haver fome no Brasil?

      Porque a fome no Brasil não é fruto da falta de recursos, mas de administração inadequada dos recursos.

15 – Você concorda com a opinião do autor? Por quê?

      Resposta pessoal do aluno.


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