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sexta-feira, 17 de outubro de 2025

CONTO: ENTRE OS ADJETIVOS - EMÍLIA NO PAÍS DA GRAMÁTICA - MONTEIRO LOBATO - COM GABARITO

 Conto: Entre os Adjetivos – Emília no país da gramática

           Monteiro Lobato

        No bairro dos ADJETIVOS O aspecto das ruas era muito diferente. Só se viam palavras atreladas. Os meninos admiraram-se da novidade e o rinoceronte explicou:

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgbQfPfv-FtuVg4Z4Bcpl7TNevh7SghcGGwk-K2e2PjljZVzUaG6xFkhxrLU79Jkkpd2PxAwDovuNDLSztnvLfTQPHM4o0kSaWN99ASD__RXCXJ6UnNbUyL4EvLPa8WgBZkIRr2KxIK-8y-pmORlLVEj_o9TDENZq7e_0ysbzf6HexJ9tiCKxNKh0Ohk-E/s320/adjetivos-port-fundo.png

        — Os Adjetivos, coitados, não têm pernas; só podem movimentar-se atrelados aos Substantivos. Em vez de designarem seres ou coisas, como fazem os Nomes, os adjetivos designam as qualidades dos Nomes.

        Nesse momento os meninos viram o Nome Homem, que saía duma casa puxando um Adjetivo pela coleira.

        — Ali vai um exemplo — disse Quindim. — Aquele Substantivo entrou naquela casa para pegar o Adjetivo Magro. O meio da gente indicar que um homem é magro consiste nisso — atrelar o Adjetivo Magro ao Substantivo que indica o Homem.

        — Logo, Magro é um Adjetivo que qualifica o Substantivo — disse Pedrinho — porque indica a qualidade de ser magro.

        — Qualidade ou defeito? — asneirou Emília. — Para Tia Nastácia ser magro é defeito gravíssimo.

        — Não burrifique tanto, Emília! — ralhou Narizinho. — Deixe o rinoceronte falar.

        O armazém dos Adjetivos era bem espaçoso e algumas prateleiras recobriam as paredes. Na prateleira dos qualificativos PÁTRIOS, Narizinho encontrou muitos conhecidos seus, entre os quais Brasileiro, Inglês, Chinês, Paulista, Polaco, Italiano, Francês e Lisboeta, que só eram atrelados a seres ou coisas do Brasil, da Inglaterra, da China, de São Paulo, da Polônia, da Itália, da França e de Lisboa.

        Havia ali muito poucos Adjetivos daquela espécie. Mas as prateleiras dos que não eram Pátrios estavam atopetadinhas. Os meninos viram lá centenas, porque todas as coisas possuem qualidades e é preciso um qualificativo para cada qualidade das coisas. Viram lá Seguro, Rápido, Branco, Belo, Mole, Macio, Áspero, Gostoso, Implicante, Bonito, Amável, etc. — todos os que existem.

        — E na sala vizinha? — perguntou o menino.

        — Lá estão guardadas as LOCUÇÕES ADJETIVAS.

        — O que são essas Senhoras Locuções? — perguntou Emília.

        — São expressões que equivalem a um adjetivo e são empregadas no lugar deles. Por exemplo, quando digo: O calor da tarde aborrece o Visconde, estou usando a Locução Da tarde em lugar do Adjetivo Vespertino; ou quando digo Presente de Rei, em lugar de Presente Rêgio.

        Aquele Presente Régio agradou Emília, que ficou pensativa.

        O movimento no bairro dos Adjetivos mostrava-se intenso. Milhares de Nomes entravam constantemente para retirar das prateleiras os Adjetivos de que precisavam — e lá se iam com eles na trela.

        Outros vinham repor nos seus lugares os Adjetivos de que não necessitavam mais.

        — As palavras não param — observou Quindim. — Tanto os homens como as mulheres (e sobretudo estas) passam a vida a falar, de modo que a trabalheira que os humanos dão às palavras é enorme.

        Nesse momento uma palavra passou por ali muito alvoroçada. Quindim indicou-a com o chifre, dizendo:

        — Reparem na talzinha. É o Substantivo Maria, que vem em busca de Adjetivos. Com certeza trata-se de algum namorado que está a escrever uma carta de amor a alguma Maria e necessita de bons Adjetivos para melhor lhe conquistar o coração.

        A palavra Maria achegou-se a uma prateleira e sacou fora o Adjetivo Bela; olhou-o bem e, como se o não achasse bastante, puxou fora a palavra Mais; e por fim puxou fora o Adjetivo Belíssima.

        — A palavra Mais forma o Comparativo, com o qual o namorado diz que essa Maria é Mais Bela do que tal outra; e com o Adjetivo Belíssima ele dirá que Maria é extraordinariamente bela. E desse modo, para fazer uma cortesia à sua namorada, ele usa os dois GRAUS DO ADJETIVO. Partindo da forma normal que é a palavra Bela, usa o GRAU COMPARATIVO, com a expressão Mais Bela, e usa o GRAU SUPERLATIVO, com a palavra Belíssima.

        — Mas nem sempre é assim — observou Emília. — Lá no sítio, quando eu digo Mais Grande, Dona Benta grita logo: "Mais grande é cavalo".

        — E tem razão — concordou o rinoceronte —, porque alguns Adjetivos, como Bom, Mau, Grande e Pequeno, saem da regra e dão-se ao luxo de ter formas especiais para exprimir o Comparativo. Bom usa a forma Melhor. Mau usa a forma Pior. Grande usa a forma Maior, e Pequeno usa a forma Menor. O resto segue a regra.

        — E para que serve o SUPERLATIVO?

        — Para exagerar as qualidades do Adjetivo. Forma-se principalmente com um íssimo ou com um Érrimo no fim da palavra, como Feliz, Felicíssimo; Salubre, Salubérrimo. Ou então usa o O Mais, como O Mais Feliz.

        — E se quiser exagerar para menos? — indagou Pedrinho.

        — Nesse caso usa a expressão O Menos Feliz...

        — Sim — murmurou Emília distraidamente, com os olhos postos no Visconde, que continuava calado e apreensivo como quem está incubando uma ideia. — O Sonsíssimo Visconde, ou O Mais Sonso de todos os sabugos científicos...

        De fato, o Visconde estava preparando alguma. Deu de ficar tão distraído, que até começou a atrapalhar o trânsito. Tropeçou em várias palavras, pisou no pé de um Superlativo e chutou um O maiúsculo, certo de que era uma bolinha de futebol.

        Que seria que tanto preocupava o Senhor Visconde?

OBRA INFANTO-JUVENIL DE MONTEIRO LOBATO. Edição do Círculo do Livro. Emília no País da Gramática. As figuras de sintaxe. https://www.fortaleza.ce.gov.br.

Entendendo o conto:

01 – Qual é a principal característica das palavras no bairro dos Adjetivos e qual é a função dessas palavras, segundo Quindim?

      A principal característica é que as palavras (Adjetivos) andam atreladas aos Substantivos, pois não têm pernas. A função dos Adjetivos é designar as qualidades (ou defeitos) dos Nomes / Substantivos.

02 – O que são os Adjetivos Pátrios e onde Narizinho os encontrou?

      Os Adjetivos Pátrios são qualificativos que indicam a origem de seres ou coisas. Narizinho os encontrou na prateleira dos qualificativos PÁTRIOS do armazém dos Adjetivos (Ex: Brasileiro, Chinês, Lisboeta).

03 – O que são as Locuções Adjetivas e qual exemplo Quindim usou para ilustrar a substituição de um adjetivo por uma locução?

      Locuções Adjetivas são expressões que equivalem a um adjetivo e são usadas no lugar deles. O exemplo dado foi a substituição do Adjetivo Vespertino pela Locução Adjetiva "Da tarde" (em calor da tarde).

04 – Qual Substantivo (Nome) foi visto buscando Adjetivos no armazém, e qual era a provável razão dessa busca?

      O Substantivo que buscava Adjetivos era Maria. A razão provável era que algum namorado estava escrevendo uma carta de amor para alguma Maria e necessitava de bons Adjetivos para conquistar o coração dela.

05 – Quais são os dois Graus do Adjetivo que a palavra Maria usou para fazer uma cortesia ao seu namorado, e quais palavras foram usadas para formá-los?

      Os dois graus usados foram:

      GRAU COMPARATIVO (com as palavras Mais Bela, usando a palavra Mais).

      GRAU SUPERLATIVO (com a palavra Belíssima, usando o sufixo -íssima).

06 – Quais são os quatro Adjetivos que, de acordo com Quindim, fogem à regra do Comparativo e usam formas especiais? Cite a forma Comparativa de cada um.

      Os quatro Adjetivos são:

      Bom (usa a forma Melhor).

      Mau (usa a forma Pior).

      Grande (usa a forma Maior).

      Pequeno (usa a forma Menor).

07 – O que o Visconde de Sabugosa estava fazendo no final do trecho, e por que Emília o chamou de "O Sonsíssimo Visconde"?

      O Visconde estava calado, apreensivo, tropeçando e atrapalhando o trânsito, pois estava incubando uma ideia (preparando alguma coisa). Emília o chamou de "O Sonsíssimo Visconde" (ou "O Mais Sonso de todos os sabugos científicos") usando um Superlativo (aumentando a qualidade de sonso) para brincar com a distração e a natureza pensativa do sabugo.

 

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