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domingo, 3 de agosto de 2025

TEXTO: CULTURAS ANCESTRAIS - COM GABARITO

 Texto: Culturas ancestrais

        A arte está presente em todas as sociedades humanas. O interesse pela arte e pela estética é um dos elementos que nos caracteriza como espécie. Essas manifestações podem ser muito individuais, mas dificilmente conseguiriam isolar-se completamente de seu contexto cultural e social. Em muitos grupos humanos, a arte se manifesta por meio de uma estética propositalmente coletiva, que reflete a identidade e valores culturais daquela sociedade. É por isso que a arte pode ser estudada do ponto de vista de várias áreas do conhecimento: da filosofia, da história, da sociologia, antropologia etc. Nenhuma delas, de fato, consegue analisar a arte independentemente. Todas essas áreas acabam relacionando-se, por causa da grande complexidade que envolve as manifestações humanas.

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgqoLgnHzbeNguJs1AnFB6vLSIfO3JpmkYjYAqDm2-7Lmsm7vy2XWf32Y2U2eR_2ElU3nAZ2EXdiISr3JVI1rduKyhNEaoOYQ-Su0QRAh7DuPXPhyTB9w0AwC5nVtVYYYHI_9-VjpCEbCw5gy9NGfQIpMjAH7wUSr865m1Y4FVnPT2_lXeN1V0nLrdvRio/s1600/images.jpg


        No Brasil, há uma mistura de várias culturas com identidades diferentes. Com o processo de colonização, buscou-se impor a arte e cultura de origem europeia. Isso não impediu a manutenção de outras culturas ancestrais, como a indígena e a africana, que estão enraizadas em nossa formação cultural. Mas, apesar dessa forte presença, muitos brasileiros desconhecem essas culturas, ou as veem somente de um jeito estereotipado.

        Artes indígenas

        No Brasil, algumas regiões apresentam maior presença da cultura indígena no cotidiano das pessoas. Mas, apesar da influência indígena, e também africana, em nossa formação cultural, uma visão europeia, a visão dos colonizadores, de mundo e da sociedade, fez-se dominante, o que faz com que, ainda hoje, haja um grande desconhecimento dessas culturas ancestrais das quais somos herdeiros.

        As culturas indígenas no Brasil, por mais que se encontrem dentro do território em que vivemos, ainda são vistas por muitas pessoas com um olhar estereotipado e equivocado. De modo geral, não se conhecem seus modos de vida, visão de mundo, as semelhanças e diferenças entre os seus povos. Há, inclusive, uma tendência a se entender os indígenas todos da mesma maneira. Diz-se “o índio”, no singular, sem diferenciar as centenas de povos indígenas que vivem no território brasileiro.

        O uso genérico da palavra “índio” para se referir aos povos nativos das Américas relaciona-se a um equívoco dos primeiros colonizadores que acreditavam ter chegado à Índia. O nome ficou, e até hoje esses povos são chamados “índios”. Já a palavra “indígena” é usada mundialmente, e refere-se a qualquer povo autóctone de uma região. As divisões em estados e países, em todos os lugares onde houve colonização, acabaram, muitas vezes, por separar povos que partilhavam uma mesma cultura e território, e também por obriga-los a migrarem de suas terras originais. Isso fez com que alguns grupos considerados de uma mesma etnia passassem a viver em países diferentes.

        Quando os portugueses iniciaram a exploração do que depois viria a ser o Brasil, todo o território era ocupado por grupos indígenas. Com muitas diferenças culturais entre si, alguns grupos aceitaram a presença dos brancos e outros a combateram. Nesse processo, vários foram extintos ou tiveram sua população muito reduzida por guerras ou ao contraírem doenças dos europeus.

        A cultura, hábitos e costumes dos grupos indígenas que até hoje existem no Brasil remontam há muitos séculos, até antes da chegada dos europeus, tendo sido passados de geração em geração, via tradição oral.

        Cada grupo indígena possui seus mitos, crenças e rituais; suas manifestações artísticas, já que as produções simbólicas e estéticas estão relacionadas. A arte está presente em várias instâncias da vida: no objeto cotidiano, utilitário, nos objetos usados nos rituais, nas pinturas corporais, na decoração dos instrumentos musicais. A maioria dos grupos indígenas no Brasil realiza sua produção estética por meio de materiais naturais presentes no ambiente em que vivem, como a argila que faz a cerâmica, as palhas que se tornam cestos, tintas naturais, penas coloridas das aves, conchas. As formas criadas com tais materiais, no entanto, diferem e criam estéticas relacionadas a simbologias específicas de cada grupo.

        As imagens anteriores são todas referentes ao mesmo grupo indígena que produz as bonecas ritxókó: os Karajás. Seu nome em sua língua nativa é Iny, que significa “nós”. Karajá é um nome originário de outra língua, o tupi, que acabou sendo adotado em português para designá-los. Eles ainda vivem em suas terras tradicionais, numa extensa faixa no Rio Araguaia, a Ilha do Bananal, maior ilha fluvial do mundo. Ocupam terras dos estados de Tocantins, Goiás e Mato Grosso. O rio faz parte de sua organização social e mitológica – seu mito de origem diz que os Iny no início vivam no fundo do rio. Vendo uma luz que vinha do alto, encontraram a superfície e ali se estabeleceram seguindo o curso do rio, dividindo-se em três grupos indígenas: os Karajá, os Javaé e os Xambioá. Apesar das diferenças linguísticas entre os grupos, todos se entendem e se identificam como Iny.

        O desenho, presente nas pinturas corporais e em vários outros objetos de uso cotidiano e ritual, é muito importante para os Iny. Para quem olha de fora, os desenhos no corpo, feitos com sumo de jenipapo, urucum ou fuligem de carvão, podem parecer simples grafismos ornamentais, mas, para a sociedade Iny, dependendo da ocasião, eles podem ter também significados específicos, como indicar categorias sociais de gênero, idade e estatuto social.

        As bonecas ritxókó, feitas exclusivamente pelas mulheres, expressam esses vários aspectos da identidade do grupo. Representam cenas do cotidiano, mitos, rituais, eventos do ciclo da vida, relações humanas e a fauna local, e reproduzem os padrões gráficos da pintura corporal e dos objetos. Tradicionalmente, são objetos lúdicos para as crianças, mas tornaram-se também importante fonte de renda das mulheres adultas em contato com a sociedade não indígena. Seu processo de execução inclui a extração e preparo do barro, modelagem, queima e pintura da cerâmica, que hoje em dia também é feita com tintas industriais.

        Padrão e abstração

        Como visto, os desenhos dos Karajás podem simbolizar elementos de sua cultura, com significados específicos para o grupo. Entre eles, assim como em muitos grupos humanos, os símbolos podem transformar-se em padrões abstratos.  

        Um padrão é a repetição periódica de um mesmo grupo de elementos visuais, como numa estampa que ocupa todo um tecido.

        Uma imagem abstrata são elementos visuais que não representam nenhuma figura reconhecível. Ela pode até surgir da representação de alguma coisa, mas a simplificação das formas faz com que não se perceba mais a figura original. Os elementos visuais isolados, por si só, são abstratos, por exemplo, as figuras geométricas.

        As coisas à nossa volta estão repletas de padrões, e muitos são abstratos.

        Olhe ao seu redor. Reproduza a seguir, com um desenho, pelo menos um padrão abstrato que está em seu campo de visão.

        Artes dos povos africanos

        Muitos museus em várias partes do mundo abrigam em seus acervos máscaras de povos da África subsaariana. Elas são olhadas com curiosidade pelas pessoas de outros povos, muitas vezes por um olhar que procura o exotismo, geralmente associado ao desconhecido, ao diferente. Isoladas em vitrines, podem despertar nas pessoas um interesse estético, mas perdem a carga simbólica com que foram feitas e com que são usadas em seu contexto original.

        Mesmo que uma cultura possua características gerais, cada grupo ou subgrupo apresenta características muito específicas. A arte tradicional dos povos da África subsaariana é muito vasta e complexa, com diferenças características de cada grupo étnico. As máscaras estão presentes na maioria deles. Materiais diversos podem ser usados em sua confecção, mas o mais comum é a madeira. Diferenças simbólicas e estéticas são perceptíveis entre grupos, mas elas apresentam alguns aspectos comuns. Uns dos mais significativos está relacionado à sua função para a sociedade que a produziu. As máscaras são feitas para serem usadas, geralmente, em cerimônias e rituais religiosos. Elas são vestidas, junto a outros adereços, em situações que envolvem dança e música. Quem veste a máscara muitas vezes o faz com o intuito de encarnar ou representar determinada divindade. Grande parte da espiritualidade africana envolve o culto aos ancestrais.

        As imagens da cerimônia Gèlédé, praticada por alguns grupos do povo iorubá, da África Ocidental. Os iorubás são um dos maiores grupos étnicos africanos. Estima-se que existam cerca de 30 milhões de iorubás no continente africano, que vivem principalmente na Nigéria, mas também há comunidades no Benin, Togo e Serra Leoa.

        A cerimônia gèlédé envolve o uso de máscaras em rituais com dança e música para celebrar e atrair os poderes das divindades e ancestrais femininas, como a grande mãe primordial, Iyà Nlà, assim como honrar as mulheres mais velhas do grupo. Está associada à força feminina na sociedade e aos princípios, como a fecundidade e fertilidade da terra. A cerimônia gèlédé pode acontecer em qualquer época do ano, com algum propósito específico, como atrair a chuva, espantar epidemias ou honrar os mortos. Mas a principal cerimônia é anual. Depois que sua data é definida, toda a sociedade gèlédé é avisada, e começam os preparativos para a cerimônia. As máscaras, com figuras humanas e animais, na realidade são colocadas sobre as cabeças, e não sobre o rosto. São usadas pelos homens, que dançam e entretêm o público, muitas vezes com dizeres educativos, vestidos de mulher.

        O panteão dos iorubás inclui diversas divindades (os orixás), associadas geralmente aos fenômenos da natureza e princípios que regem a vida humana, com variações de um grupo a outro, em especial pelo caráter oral de transmissão de sua mitologia. O ser supremo é Olodumaré, ou Olorun, criador de tudo o que existe, tanto no Orun, mundo espiritual, quanto em Aiye, mundo físico.

        Na música tradicional africana, há uma grande variedade de práticas entre os grupos étnicos. A música tem uma função principalmente social, acompanhando casamentos, nascimentos, diversos tipos de trabalhos e rituais religiosos. Muitas dessas músicas são executadas só para esses fins, geralmente, junto com a dança. A música é feita para dançar, e é possivelmente uma das razões pelas quais apresente um desenvolvimento e exploração rítmicas tão ricos, chamando atenção para os tambores e outros instrumentos de percussão. Apesar do destaque da percussão, a maior parte da produção musical dessa região é vocal.

Fonte: Arte em Interação – Hugo B. Bozzano; Perla Frenda; Tatiane Cristina Gusmão – volume único – Ensino médio – IBEP – 1ª edição – São Paulo, 2013. p. 58-71.

Entendendo o texto:

01 – Como o texto aborda a relação entre arte e sociedade humana?

      O texto destaca que a arte está presente em todas as sociedades humanas, sendo um dos elementos que nos caracteriza como espécie. Embora as manifestações artísticas possam ser individuais, elas são intrinsecamente ligadas ao contexto cultural e social. Em muitos grupos, a arte assume uma estética coletiva, refletindo a identidade e os valores culturais de uma sociedade. Essa complexidade da arte permite que ela seja estudada por diversas áreas do conhecimento, como filosofia, história, sociologia e antropologia, todas elas inter-relacionadas devido à natureza multifacetada das manifestações humanas.

02 – De que maneira a colonização europeia impactou as culturas ancestrais no Brasil e qual a consequência desse processo?

      Com o processo de colonização, houve uma tentativa de imposição da arte e cultura europeia no Brasil. No entanto, o texto ressalta que essa imposição não impediu a manutenção e o enraizamento das culturas ancestrais, como a indígena e a africana, em nossa formação cultural. Apesar dessa forte presença, a consequência é que muitos brasileiros ainda desconhecem ou veem essas culturas de forma estereotipada, perpetuando uma visão dominante dos colonizadores e um grande desconhecimento da riqueza e diversidade dessas heranças.

03 – Explique por que o termo "índio" é considerado inadequado pelo texto e qual a alternativa proposta, justificando seu uso.

      O texto considera o uso genérico da palavra "índio" inadequado porque ele se relaciona a um equívoco dos primeiros colonizadores, que acreditavam ter chegado à Índia. Essa denominação generaliza e desconsidera a vasta diversidade de povos indígenas existentes no território brasileiro, tratando-os como um grupo homogêneo ("o índio" no singular). A alternativa proposta e justificada pelo texto é a palavra "indígena", que é utilizada mundialmente e se refere a qualquer povo autóctone de uma região, reconhecendo a pluralidade e a especificidade de cada etnia.

04 – Quais são as características gerais da produção artística indígena no Brasil e como ela se relaciona com o ambiente e a simbologia de cada grupo?

      A produção artística indígena no Brasil é caracterizada pela relação intrínseca entre as produções simbólicas e estéticas, que se manifestam em diversas instâncias da vida, desde objetos cotidianos e utilitários até itens rituais, pinturas corporais e decoração de instrumentos musicais. A maioria dos grupos utiliza materiais naturais presentes em seu ambiente, como argila, palhas, tintas naturais, penas coloridas e conchas. É importante notar que, embora os materiais sejam naturais, as formas criadas e as estéticas resultantes diferem entre os grupos, estando diretamente relacionadas às simbologias específicas de cada cultura.

05 – Descreva o povo Karajá (Iny) conforme o texto, abordando sua localização, organização social e mitos de origem.

      O povo Karajá, que se autodenomina Iny ("nós") em sua língua nativa, vive em suas terras tradicionais em uma extensa faixa ao longo do Rio Araguaia, na Ilha do Bananal, que é a maior ilha fluvial do mundo. Eles ocupam terras nos estados de Tocantins, Goiás e Mato Grosso. O rio é central para sua organização social e mitológica, com seu mito de origem narrando que os Iny viviam no fundo do rio e emergiram para a superfície ao ver uma luz, estabelecendo-se ao longo do curso do rio e dividindo-se em três grupos: Karajá, Javaé e Xambioá. Apesar das diferenças linguísticas, todos se entendem e se identificam como Iny.

06 – Qual a importância dos desenhos e das bonecas ritxókó para a sociedade Iny (Karajá)?

      Para a sociedade Iny, os desenhos são de extrema importância, estando presentes nas pinturas corporais e em diversos objetos de uso cotidiano e ritual. Embora para um observador externo possam parecer simples grafismos, para os Iny, dependendo da ocasião, eles podem ter significados específicos, indicando categorias sociais de gênero, idade e estatuto social. As bonecas ritxókó, produzidas exclusivamente pelas mulheres, expressam esses múltiplos aspectos da identidade do grupo, representando cenas do cotidiano, mitos, rituais, eventos do ciclo da vida, relações humanas e a fauna local, além de reproduzir os padrões gráficos da pintura corporal. Tradicionalmente lúdicas para as crianças, as bonecas também se tornaram uma importante fonte de renda para as mulheres adultas.

07 – Explique a diferença entre "padrão" e "imagem abstrata" de acordo com o texto.

      O texto define "padrão" como a repetição periódica de um mesmo grupo de elementos visuais, citando como exemplo uma estampa que ocupa todo um tecido. Já uma "imagem abstrata" é composta por elementos visuais que não representam nenhuma figura reconhecível. Ela pode até ter origem na representação de algo, mas a simplificação de suas formas faz com que a figura original não seja mais percebida. Elementos visuais isolados, como as figuras geométricas, são exemplos de elementos abstratos.

08 – Qual a principal função das máscaras na arte tradicional dos povos da África Subsaariana e como elas são vistas em seu contexto original versus em museus?

      A principal função das máscaras na arte tradicional dos povos da África Subsaariana é serem feitas para serem usadas, geralmente em cerimônias e rituais religiosos, acompanhadas de dança e música. Quem as veste muitas vezes o faz com o intuito de encarnar ou representar determinada divindade, e grande parte da espiritualidade africana envolve o culto aos ancestrais. O texto contrasta essa função original com a forma como as máscaras são vistas em museus: isoladas em vitrines, elas podem despertar interesse estético, mas perdem a carga simbólica com que foram criadas e são utilizadas em seu contexto original, sendo muitas vezes percebidas com um olhar que busca o exotismo.

09 – Descreva a cerimônia Gèlédé do povo Iorubá, destacando seus objetivos e as características do uso das máscaras.

      A cerimônia Gèlédé, praticada por alguns grupos do povo Iorubá da África Ocidental, envolve o uso de máscaras em rituais com dança e música. Seus principais objetivos são celebrar e atrair os poderes das divindades e ancestrais femininas, em especial a grande mãe primordial, Iyà Nlà, e honrar as mulheres mais velhas do grupo. A cerimônia está associada à força feminina na sociedade e a princípios como a fecundidade e fertilidade da terra. Pode ocorrer em qualquer época do ano com propósitos específicos (atrair chuva, espantar epidemias, honrar mortos), mas a principal cerimônia é anual. As máscaras, que apresentam figuras humanas e animais, são colocadas sobre as cabeças (não sobre o rosto) e usadas por homens, que dançam vestidos de mulher, muitas vezes com dizeres educativos.

10 – Qual é o papel da música tradicional africana subsaariana na sociedade e quais são suas características marcantes?

      Na música tradicional africana subsaariana, a música tem uma função principalmente social, acompanhando eventos como casamentos, nascimentos, diversos tipos de trabalhos e rituais religiosos. Muitas dessas músicas são executadas especificamente para esses fins, geralmente junto com a dança. Uma das características marcantes é o rico desenvolvimento e exploração rítmicas, com destaque para os tambores e outros instrumentos de percussão. Apesar da proeminência da percussão, a maior parte da produção musical dessa região é vocal.

 

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