Conto: Zeus
Heloisa Prieto
Para mim, é difícil explicar o que
significa ser o deus dos deuses. Ter o poder supremo da decisão, determinar os
destinos das criaturas do universo, manter a ordem e a justiça na terra e nos
céus.

Amo o conhecimento, as luzes, a
filosofia, as artes da cura e as grandes cidades. Amo também as mulheres.
Jamais resisto aos seus encantos. Sou casado com Hera, deusa belíssima,
protetora dos casamentos. Porém, embora eu a queira profundamente, continuo me
apaixonando por lindas jovens. Foi desses amores proibidos por Hera que
nasceram Atena, Apolo e Ártemis, por exemplo. Os ciúmes de minha mulher sempre
me causaram inúmeros problemas e passei grande parte da vida protegendo os
filhos nascidos de meus romances proibidos. Hera nunca aceitou minha principal
missão divina que é fertilizar os seres, gerar criaturas excepcionais,
aproximar os humanos dos deuses, criar jovens semideuses de talentos
insuperáveis. Além disso, ela jamais compreendeu a solidão de quem tem o poder
supremo e é responsável por todos os atos do universo.
Portanto, minha vida tem sido marcada
pelas desavenças com Hera e pela disputa com meu próprio pai, Cronos, o
impiedoso deus do tempo…
Minha
luta contra o tempo
Fui criado por ninfas, no interior de
uma gruta secreta, longe dos olhos de meu pai. Alimentado com mel e leite, fui
muito amado por minhas doces protetoras.
Cresci desfrutando da beleza da
natureza, caminhando pelos campos e praias, nadando em águas salgadas. Mas
chegou o momento em que senti que precisava finalmente enfrentar meu próprio
pai. Chamei Métis, a deusa da prudência, para que ela me aconselhasse. Como
poderia conquistar o poder que fora destinado? Como poderia tornar-me o deus
dos deuses, o senhor supremo do universo?
Os olhos penetrantes de Métis
fitaram-me por alguns instantes antes que ela me dissesse o que fazer:
– Você tem irmãos, Zeus, e precisa
salvá-los. Eles foram engolidos por Cronos, mas não estão mortos, e você poderá
trazê-los de volta. Necessitará da ajuda deles para conseguir conquistar o
lugar que lhe pertence. Deve apresentar-se diante de seu pai como se fosse um
simples mortal e dar-lhe esta poção. – Métis entregou-me um lindo frasco de
vidro que continha um líquido brilhante e prosseguiu: – Esta poção foi
preparada por Hécata, a pedido de sua mãe. Quando Cronos a beber, seus irmãos
desaparecidos ressurgirão. Juntos, vocês vencerão seu pai.
Quando entrei no luxuoso palácio de
Cronos, aguardei na fila de mortais que lhe imploravam favores. Jovens
apaixonadas que haviam perdido seus amados em guerras suplicavam a Cronos que
ele fizesse o tempo voltar. Inútil. “O que passou, passou”, era o que ele lhes
dizia, curta e secamente. Velhos apavorados diante da morte pediam-lhe que
retardasse a passagem dos minutos. “O tempo não pára”, ele repetia, impassível.
Filhos saudosos rogavam-lhe que ele apressasse as horas para que seus pais
retornassem de perigosas viagens o mais rapidamente possível. “Mas o tempo voa!
Por que querem mais rapidez ainda?”, ele respondia com um sorriso irônico.
Quando chegou minha vez, declarei:
– Eu não desejo nada, mestre do tempo.
Quero apenas dar-lhe um presente. O tempo tem sido bondoso comigo, pois durante
toda a minha vida só senti a felicidade.
Curioso, Cronos apanhou o belo frasco
com seu líquido brilhante.
– O que é isso, meu jovem?
– Uma bebida de sabor inigualável,
feita com mel de abelhas especialmente para Vossa Majestade.
Cronos sorriu e destampou o vidro.
Olhei para o chão, tentando ocultar minha ansiedade. De um só gole, meu pai
bebeu o conteúdo do frasco. E logo em seguida começou a contorcer-se. Abriu a
boca, e dela saíram três minúsculos bebezinhos. As crianças foram iluminadas
por raios de luz e, contrariando todas as leis do tempo, cresceram numa fração
de segundo. Depressa me vi cercado por vários irmãos e irmãs que
instantaneamente se posicionaram para enfrentar Cronos e seus ajudantes, os
Titãs.
No entanto, como já disse, Cronos era o
senhor absoluto do tempo. Embora fôssemos muitos e bem mais fortes, nossos
movimentos foram retardados pela lenta passagem das horas e nossa luta acabou
durando dez anos terrestres. Vencemos graças à ajuda dos Cíclopes, imensas
criaturas com apenas um olho no meio da testa, que, como nós, haviam sido
prejudicados por Cronos.
A cada um de nós, filhos e adversários
de Cronos, foi entregue uma arma especial. Eu recebi os raios e trovões. Hades,
meu valente irmão, recebeu um capacete mágico que o tornava invisível; e
Posêidon, o magnífico deus dos mares, recebeu seu poderoso tridente, cujo golpe
rompia terras e águas. E assim, munidos de novos poderes, enfim triunfamos.
Após nossa vitória, repartimos o
universo. Hades decidiu reinar nos mundos subterrâneos e secretos, Posêidon, no
universo marinho, e a mim foram dados os céus e o trono de senhor do universo.
Fui encarregado ainda de governar o
destino dos homens. À porta de meu palácio, tenho dois enormes jarros. Um deles
contém os bens da vida, e o outro, os males. Ao longo da existência de meus
súditos humanos, espalho um pouco do conteúdo de cada um dos jarros.
Infelizmente, já me descuidei algumas vezes; em consequência disso, certas
pessoas foram premiadas com uma vida de alegrias, e outras, com uma vida de
tristezas. Mas tenho sido cauteloso ultimamente. E também generoso. Em especial
para com vocês, que agora me ouvem confessar esses segredos.
Zeus: Deus dos céus. Protege a ordem e
a justiça.
Divinas aventuras –
História da mitologia grega. São Paulo, Companhia das Letrinhas, 1998.
Entendendo o conto:
01 – Qual é a principal missão
divina de Zeus, segundo ele mesmo, e por que Hera não a aceita?
A principal
missão divina de Zeus é fertilizar os seres, gerar criaturas excepcionais,
aproximar os humanos dos deuses e criar jovens semideuses de talentos
insuperáveis. Hera não a aceita por seus ciúmes e por não compreender a solidão
e a responsabilidade de Zeus como o deus supremo.
02 – Onde e como Zeus foi
criado, e quem o ajudou em sua infância?
Zeus foi criado
por ninfas no interior de uma gruta secreta, longe dos olhos de seu pai,
Cronos. Ele foi alimentado com mel e leite e muito amado por suas protetoras,
desfrutando da beleza da natureza.
03 – Quem é Métis, e qual
conselho ela dá a Zeus para que ele possa conquistar o poder supremo?
Métis é a deusa
da prudência. Ela aconselha Zeus a salvar seus irmãos, que foram engolidos por
Cronos, pois eles não estão mortos e sua ajuda será necessária. Ela o instrui a
se apresentar a Cronos como um simples mortal e dar-lhe uma poção especial,
preparada por Hécata a pedido de sua mãe, que fará com que seus irmãos
ressurgiam para lutar ao seu lado.
04 – Como Zeus se apresenta a
Cronos no palácio, e qual é a reação de Cronos ao beber a poção?
Zeus se apresenta
a Cronos na fila de mortais que imploravam favores, mas declara que não deseja
nada, apenas quer dar um presente: uma "bebida de sabor inigualável"
feita com mel. Ao beber a poção, Cronos começa a contorcer-se e de sua boca
saem três minúsculos bebezinhos que instantaneamente crescem e se tornam os
irmãos de Zeus.
05 – Quanto tempo durou a luta
de Zeus e seus irmãos contra Cronos e os Titãs, e quem os ajudou a vencer?
A luta durou dez
anos terrestres, devido à capacidade de Cronos de retardar os movimentos de
seus adversários. Eles venceram graças à ajuda dos Cíclopes, imensas criaturas
de um olho só que também haviam sido prejudicadas por Cronos.
06 – Que armas especiais foram
dadas a Zeus, Hades e Posêidon, respectivamente?
A cada um dos
filhos de Cronos foi entregue uma arma especial:
- Zeus recebeu os raios e trovões.
- Hades recebeu um capacete mágico que o
tornava invisível.
- Posêidon recebeu seu poderoso tridente,
que rompia terras e águas.
07 – Como Zeus governa o
destino dos homens, e qual é o significado dos dois jarros à porta de seu
palácio?
Zeus governa o
destino dos homens espalhando o conteúdo de dois enormes jarros que tem à porta
de seu palácio. Um jarro contém os bens da vida e o outro, os males. Ele
distribui um pouco de cada ao longo da existência dos humanos, confessando que
já se descuidou, resultando em vidas de alegrias extremas ou tristezas
intensas, mas que tem sido mais cauteloso e generoso ultimamente.
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