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quinta-feira, 3 de julho de 2025

POEMA: A CIDADE - DONIZETE GALVÃO - COM GABARITO

 Poema: A cidade

            Donizete Galvão

Por mais que insistas em recusar,

está é, sim, a tua cidade concreta

onde tantos te ofereceram amizade

e o amigo partiu pela porta secreta.

 

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiWr6t3ee0SjQYM20lVesmyeKQLQCgyp2RUCGoWvQPmZDpcRFEqBScsVc224OM5JlInp3Fr9FQCnmP4C5IdcIPAqzgu6B2w19sZvH8AHOcXPg2k4URQWrJZdBzLJNof7msQZ9Sb9SV5QOeam6sro1LzEtTWXgvTwEkfzYmm-C2EMT-mtp8EKPzQMapczsQ/s320/buser_buser_image_990.jpeg

Andaste cabisbaixo pelas calçadas

remoendo as humilhações do trabalho.

Marcaste este chão com teus passos,

dores recolhidas como um rebotalho.

 

Aqui nasceram os filhos, a epifania

das infâncias que sumiram passageiras.

Abriste envelopes com muito medo,

receoso daquelas notícias derradeiras.

 

Tu que amas a simetria permanente

viste a barriga da cidade arregaçada.

Como nas telas de Anselm Kiefer,

tens nela tuas perplexidades retratadas.

Donizete Galvão. O homem inacabado. São Paulo: Portal, 2010. p. 59.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 3ª Série – Ensino Médio – William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª ed. – São Paulo: Saraiva Editora, 2013. p. 372.

Entendendo o poema: 

01 – Como o poema descreve a relação do eu-lírico com a cidade?

      O poema descreve uma relação intrínseca e inegável do eu-lírico com a cidade, mesmo que ele tente recusá-la. A cidade é apresentada como um espaço de experiências profundas e contrastantes: de amizades e perdas, de humilhações e nascimentos, de medos e de epifanias. Ela é uma parte indelével da sua existência.

02 – Quais eventos da vida do eu-lírico estão explicitamente ligados à cidade?

      Diversos eventos marcantes da vida do eu-lírico estão ligados à cidade, como a oferta de amizade e a partida de um amigo, as humilhações sofridas no trabalho (que marcaram o chão com seus passos), o nascimento dos filhos e as "epifanias das infâncias", e o receio de notícias derradeiras ao abrir envelopes.

03 – O que a expressão "barriga da cidade arregaçada" sugere sobre a percepção do eu-lírico em relação ao lugar?

      A expressão "barriga da cidade arregaçada" sugere uma visão de desordem, ferida ou exposição da cidade, que contrasta diretamente com o amor do eu-lírico pela "simetria permanente". Essa imagem pode indicar a violência, a decadência ou a revelação de aspectos cruéis e caóticos do ambiente urbano, que abalam suas expectativas de ordem.

04 – De que forma as "dores recolhidas como um rebotalho" se manifestam no poema?

      As "dores recolhidas como um rebotalho" manifestam-se através do ato de andar cabisbaixo pelas calçadas, remoendo as humilhações do trabalho. O "rebotalho" sugere algo descartado, sem valor, indicando como as dores foram acumuladas e sentidas, como se fossem resíduos desprezíveis, mas que ainda assim marcam profundamente o eu-lírico e o chão da cidade.

05 – Qual a relevância da citação a Anselm Kiefer no final do poema?

      A citação a Anselm Kiefer, conhecido por suas obras que abordam temas de ruína, história, memória e destruição, sugere que as "perplexidades" do eu-lírico em relação à cidade são tão profundas e complexas quanto as representadas nas telas do artista. A cidade, assim como a arte de Kiefer, se torna um espelho das dores, da destruição e das questões existenciais do eu-lírico, com uma beleza melancólica e impactante.

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