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quarta-feira, 25 de junho de 2025

POESIA: UMA MULHER QUE SE ABRE - MARIZE CASTRO - COM GABARITO

 Poesia: Uma mulher que se abre

           Marize Castro

        Quando uma mulher se abre o que há de mais solitário se alarga. Espantalhos de dor se mostram e se decompõem. Flocos de agonia se aproximam. Crescem perdas. Voam conchas.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjmpwpTeWxv-x6ZTm-28YXbP4Qof1_7PDT-VHmmSGyVAItjH4SRROXrsL8Pqmke0d6R0yqHESQka05ul5H9hO262Rp684SYNCk-xXrRSU8J6o644qt9s61OFzT62ah6Qi6-y0EXFGmyV6sGUAXk7DHZ2FRiVUqboFjs-2iqKltza5DEosqBDzVRO9z19i8/s1600/images.jpg


        Uma mulher que se abre é uma mulher mergulhada em anáguas e sendas. Saltando sobre a luz. Deram-lhe lanças e um falso espelho para enganar as feridas.

        Quebrada, ela conduz corações ao túmulo. Esperando, que uma nova morte, traga-lhe nova grinalda e novo véu.

        Em surdina, uma mulher que se abre deseja o esquecimento e a maternidade. Quer parir, dormir, trepar. Morte à memória!

        – O mundo não corrompe quem habita os subterrâneos.

        Disse-lhe um livro com o sol no ventre.

        O extravio de uma mulher que se abre é um deslumbre. Uma significação doce e mórbida. Possui a beleza e está carregado de hóstias e sepulturas.

        Moças e rapazes, caindo em abismos, sustentam essa mulher aberta. Beijam-lhe o útero exposto.

        Afogado em seus cabelos, ela se arqueia na esperança que o amor, quando novamente acontecer, não traga algemas.

        Uma mulher que se abre é pedra, cratera, rio, relíquia.

        Traz na língua o perdão e suas chamas.

Publicado no Diário de Natal, em 18 de julho de 1999.

Entendendo a poesia:

01 – Que sentimentos e imagens são associados à abertura da mulher no início do poema?

      No início do poema, a abertura da mulher está associada a sentimentos de solidão que se alarga, ao aparecimento e decomposição de "espantalhos de dor", à aproximação de "flocos de agonia", ao crescimento de perdas e ao voo de conchas. Essas imagens sugerem um processo de exposição vulnerável e dolorosa.

02 – O que o poema sugere sobre os "presentes" dados a uma mulher que se abre?

      O poema sugere que a uma mulher que se abre "deram-lhe lanças e um falso espelho para enganar as feridas". Isso pode indicar que as ferramentas oferecidas a ela para lidar com sua vulnerabilidade são inadequadas, ou até mesmo prejudiciais, pois as lanças podem simbolizar defesa ou ataque, e o espelho falso, uma ilusão ou negação da dor real.

03 – Quais são os desejos contraditórios expressos por uma mulher que se abre no quarto verso?

      No quarto verso, os desejos expressos são contraditórios: ela "deseja o esquecimento e a maternidade". Essa dualidade entre querer apagar o passado ("Morte à memória!") e o desejo de criar vida ("Quer parir, dormir, trepar") revela uma busca por renovação e libertação das marcas do passado.

04 – O que significa a afirmação "O mundo não corrompe quem habita os subterrâneos" no contexto do poema?

      Essa afirmação, dita por um "livro com o sol no ventre", sugere que a vulnerabilidade e a exploração das profundezas do ser (os "subterrâneos") podem oferecer uma forma de proteção contra a corrupção do mundo exterior. Implica que a verdadeira força e pureza podem ser encontradas na imersão e na aceitação das próprias complexidades e dores.

05 – Que elementos simbólicos o poema utiliza para descrever a mulher que se abre no final?

      No final, a mulher que se abre é descrita com elementos simbólicos poderosos: ela é "pedra, cratera, rio, relíquia". Esses símbolos representam, respectivamente, solidez e resistência (pedra), profundidade e força vulcânica (cratera), fluidez e persistência (rio), e valor e história (relíquia). Juntos, eles ilustram a complexidade, a resiliência e a sacralidade da mulher em seu processo de abertura.

 

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