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quarta-feira, 25 de junho de 2025

CONTO: CEM ANOS DE SOLIDÃO - FRAGMENTO - GABRIEL GARCÍA MÁRQUEZ - COM GABARITO

 Conto: Cem anos de solidão – Fragmento

           Gabriel García Márquez

        [...]

        Haviam contraído, na verdade, a doença da insônia. [...] No princípio, ninguém se alarmou. Pelo contrário, alegraram-se de não dormir, porque havia então tanto o que fazer em Macondo que o tempo mal chegava. [...]

        Foi Aureliano que concebeu a fórmula que havia de defende-los, durante vários meses, das evasões da memória. Descobriu-a por acaso. [...] Um dia, estava procurando a pequena bigorna que utilizava para laminar metais, e não se lembrou do seu nome. Seu pai lhe disse: “tás”.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgD8ohWUgt2li4HYC3XpTvkLHsOaerhqQ6PBcULohHcDglQdieX_42izuYbqXAlLxqrytDDjlK8Lc1bW1KTAJjo2Ql1hRMGrGZzJWSRzkjrpZMwwrxI-Ht8E9fUUdPSQ9RCP18IlmHhw3BdarB9ydbVlT6oy8SevT61tZfMADToojN7zgmaWY9hWLrTQ6k/s320/capa-do-livro-cem-anos-de-solidao.jpg


        Aureliano escreveu o nome num papel que pregou com cola na base da bigorninha: tás. Assim, ficou certo de não esquecê-lo no futuro. Não lhe ocorreu que fosse aquela a primeira manifestação do esquecimento, porque o objeto tinha um nome difícil de lembrar. Mas poucos dias depois, descobriu que tinha dificuldade de se lembrar de quase todas as coisas do laboratório. Então, marcou-as com o nome respectivo, de modo que bastava ler a inscrição para identifica-las. Quando o seu pai lhe comunicou o seu pavor por ter-se esquecido até dos fatos mais impressionantes da sua infância, Aureliano lhe explicou o seu método, e José Arcadio Buendía o pôs em prática para toda a casa e mais tarde o impôs a todo o povoado. Com um pincel cheio de tinta, marcou cada coisa com o seu nome: mesa, cadeira, relógio, porta, parede, cama, panela. Foi o curral e marcou os animais e s plantas: vaca, cabrito, porco, galinha, aipim, taioba, bananeira. Pouco a pouco, estudando as infinitas possibilidades do esquecimento, percebeu que podia chegar um dia em que se reconhecessem as coisas pelas suas inscrições, mas não se recordasse a sua utilidade. Então foi mais explícito. O letreiro que pendurou no cachaço da vaca era uma amostra exemplar da forma pela qual os habitantes de Macondo estavam dispostos a lutar contra o esquecimento: Esta é a vaca, tem-se que ordenha-la todas as manhãs para que produza o leite e o leite é preciso ferver para misturá-la com o café e fazer café com leite. Assim, continuaram vivendo numa realidade escorregadia, momentaneamente capturada pelas palavras, mas que haveria de fugir sem remédio quando esquecessem os valores da letra escrita.

        [...]

MÁRQUEZ, Gabriel García. Cem anos de solidão. Tradução de Eliane Zagury. Rio de Janeiro: Record, 2001. p. 48-51. (Fragmento).

Fonte: Língua Portuguesa: Singular & Plural. Laura de Figueiredo; Marisa Balthasar e Shirley Goulart – 6º ano – Moderna. 2ª edição, São Paulo, 2015. p. 199-200.

Entendendo o conto:

01 – Qual foi a primeira manifestação da doença da insônia em Macondo e como as pessoas reagiram inicialmente?

      A primeira manifestação da doença foi a incapacidade de dormir. No início, as pessoas não se alarmaram e até se alegraram, pois tinham muito o que fazer em Macondo e sentiam que o tempo não era suficiente.

02 – Quem concebeu a fórmula para defender os habitantes de Macondo das "evasões da memória"?

      Foi Aureliano quem concebeu a fórmula. Ele a descobriu por acaso enquanto procurava uma pequena bigorna e não conseguia se lembrar do nome dela.

03 – Qual foi o método desenvolvido por Aureliano para combater o esquecimento?

      Aureliano começou a marcar os objetos com seus respectivos nomes em papéis, colando-os neles. Quando percebeu que o esquecimento poderia levar as pessoas a não se lembrarem da utilidade das coisas, ele foi mais explícito, descrevendo a função de cada item, como o letreiro na vaca que explicava como ordenhá-la para obter leite.

04 – Como José Arcadio Buendía, pai de Aureliano, reagiu ao método desenvolvido pelo filho?

      José Arcadio Buendía ficou apavorado ao perceber que estava esquecendo até mesmo os fatos mais marcantes de sua infância. Ao saber do método de Aureliano, ele o colocou em prática para toda a casa e, posteriormente, impôs a todo o povoado de Macondo.

05 – Qual era o perigo iminente que Aureliano previu em relação ao esquecimento, mesmo com as inscrições?

      Aureliano percebeu que poderia chegar um dia em que as pessoas reconheceriam as coisas pelas inscrições, mas não se recordariam da sua utilidade. Por isso, ele se tornou mais explícito nas descrições.

06 – Que exemplo é dado no texto para ilustrar a luta dos habitantes de Macondo contra o esquecimento da utilidade das coisas?

      O exemplo dado é o letreiro pendurado no cachaço da vaca, que dizia: "Esta é a vaca, tem-se que ordenha-la todas as manhãs para que produza o leite e o leite é preciso ferver para misturá-la com o café e fazer café com leite."

07 – Como o fragmento descreve a realidade em que os habitantes de Macondo passaram a viver devido à doença da insônia e do esquecimento?

      O fragmento descreve que eles passaram a viver "numa realidade escorregadia, momentaneamente capturada pelas palavras, mas que haveria de fugir sem remédio quando esquecessem os valores da letra escrita."

 

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