Peça teatral: Gota d’Água – Fragmento
                       Chico Buarque e Paulo
Pontes 
        [...]
        JOANA — Cê lembra de mim, Jasão? 
                          Ainda lembra?... 
        JASÃO — O que é que eu falei?... 
        JOANA — Lembra, não. 
                          Cê gosta da filha do
Creonte, Jasão? 
        JASÃO — Não quero falar nisso agora... 
        JOANA — Gosta não. 
                          Tá só perturbado, né?
Responde pra mim... 
        JASÃO — Tava falando, deixa eu
continuar, sim? 
        JOANA — Responde duma vez, homem, toma
coragem.
                          Você gosta mesmo da
moça?... 
Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjB1lV43gIzBzTyYy63uusI69ARR_5XOtvgrAT871ftwI0m6GnOguE6ZulkhfLzZXjK-rJLlN2RT5gTrt3w42Z3KfdlgBSWyy-5kP29-998lLdjEksCoNOQbvodVOaULkaqdFsVJaadPThS8rLP3WfV5VRALkmYgCwvPcGiJIr4W02xMmrHkhbCYMd-BPY/s320/GOTA.jpg         JASÃO — (Gritando:) 
                          Mulher, para,
                          deixa eu falar...
(Tempo.) Você sabe... 
                          eu não tenho cara pra
chutar vocês pra córner... 
                          É sacanagem  
                          que eu não vou fazer.
Mas também veja o meu lado.
                          Cedo ou tarde a gente
ia ter que separar.
                          Quando eu te conheci,
tava pra completar  
                          vinte anos, não foi?
Eu nem tinha completado  
                          Você tinha trinta e
quatro mas era bem  
                          conservada, a
carroceria, bom molejo  
                          e a bateria carregada
de desejo.
                          Então não queria
saber de idade, e nem  
                          quero saber, por que
pra mim quem gosta gosta 
                          e o amor não vê
documento nem certidão.
                          Só que dez anos se
passaram desde então  
                          e a diferença, que
mal nem se via, a bosta  
                          do tempo só fez
aumentar. Vou completar  
                          trinta e você tá com
quarenta e quatro, agora.
                          É claro que, daqui
pra frente, cada hora  
                          do dia só vai servir
pra nos separar.
                          E quando eu estiver
apenas com quarenta  
                          e cinco anos, na
força do homem, seguro  
                          de mim, vendendo
saúde, moço e maduro;
                          você vai ter seus
cinquenta e nove, sessenta,
                          exausta, do
reumatismo, da menopausa,  
                          da vida. E vai
controlar ciúme, rancor,  
                          vai aguentar a dor de corno, o mau
humor?  
                          Ou quer que eu também
fique velho, só por causa
                          da tua velhice?...
Acho melhor procurar 
                          uma pessoa na mesma
faixa de idade...  
                          Quero dizer... 
                          JOANA — Jasão, pega a
tua mocidade 
                          e enfia...
                          [...]
CÍRCULO DO LIVRO S.A.
Caixa postal 7413 São Paulo, Brasil.
Fonte: Livro – Português:
Linguagens, Vol. Único. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. Ensino
Médio, 1ª ed. 4ª reimpressão – São Paulo: ed. Atual, 2003. p. 36-37.
Entendendo a peça teatral:
01 – Qual é o tema central do
diálogo apresentado no fragmento?
      O fragmento gira
em torno do término do relacionamento entre Joana e Jasão. Jasão busca
justificar sua decisão de se separar, enquanto Joana tenta fazê-lo confessar
que está interessado em outra mulher, a filha de Creonte.
02 – Qual é a principal
alegação de Jasão para justificar a separação?
      Jasão alega que a
diferença de idade entre eles se tornou um problema com o passar dos anos. Ele
argumenta que Joana está envelhecendo e que ele, por sua vez, ainda está na
juventude e precisa seguir em frente com sua vida.
03 – Como Joana reage às
justificativas de Jasão?
      Joana demonstra
indignação e desprezo pelas justificativas de Jasão. Ela o acusa de ser
hipócrita e de usar a diferença de idade como desculpa para se afastar dela.
04 – Qual é a importância da
personagem Creonte na trama?
      Creonte é o pai
da nova mulher que Jasão deseja. Sua importância reside no fato de que ele
representa a possibilidade de ascensão social para Jasão, já que o casamento
com a filha de Creonte lhe traria benefícios e poder.
05 – Qual é o tom geral do
diálogo entre Joana e Jasão?
      O diálogo é
marcado por tensão, acusações e mágoa. Joana se sente traída e abandonada,
enquanto Jasão tenta se justificar de forma racional, mas demonstra
insensibilidade e falta de empatia com os sentimentos de Joana.
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