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segunda-feira, 11 de novembro de 2024

CONTO: MYSTERIUM - LYGIA FAGUNDES TELLES - COM GABARITO

 Conto: Mysterium

           Lygia Fagundes Telles

        “Eu vi ainda debaixo do sol que a corrida não é para os mais ligeiros, nem a batalha para os mais fortes, nem o pão para os mais sábios, nem as riquezas para os mais inteligentes, mas tudo depende do tempo e do acaso.” 

(Eclesiastes) 

        Ao tempo e ao acaso eu acrescento o grão de imprevisto. E o grão da loucura, a razoável loucura que é infinita na nossa finitude. Vejo minha vida e obra seguindo assim por trilhos paralelos e tão próximos, trilhos que podem se juntar (ou não) lá adiante mas tudo sem explicação, não tem explicação. 

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEghtdfwsCTWFNPDPhGqkON7KBgkHt4CBtdTQe8BBiBkb4QW_8f8SwpXmyLhH-pIZIFTAY1oh-sy-6rKhVJUO-XvgEZhMrSXPYRCoq54Z3Nd5OtjDUEYm-HwSpnPR77pXQLa_wHcMZVSufdii83JYtFxf8ep1garbsqLuWuhPlP7gT69tyM_Vc-i95fgCzw/s320/IMPREVISTO.jpg


        Os leitores pedem explicações, são curiosos e fazem perguntas. Respondo. Mas se me estendo nas respostas, acabo por pular de um trilho para outro e começo a misturar a realidade com o imaginário, faço ficção em cima de ficção, Ah! Tanta vontade (disfarçada) de seduzir o leitor, esse leitor que gosta do devaneio. Do sonho. Queria estimular sua fantasia mas agora ele está pedindo lucidez, quer a luz da razão.

        Não gosto de teorizar porque na teoria acabo por me embrulhar feito um caramelo em papel transparente, me dê um tempo! Eu peço. Quero ficar fria, espera. Espera que estou me aventurando na busca das descobertas. “Devagar já é pressa!”, disse Guimarães Rosa. Preciso agora atravessar o cipoal dos detalhes e são tantos! E tamanha a minha perplexidade diante do processo criador, Deus! Os indevassáveis signos e símbolos. Ainda assim, avanço em meio da névoa, quero ser clara em meio desse claro que de repente ficou escuro, estou perdida? 

        Mais perguntas, como nasce um conto? E um romance? Recorro a uma certa aula distante (Antônio Candido) onde aprendi que num texto literário há sempre três elementos: a ideia, o enredo e a personagem. A personagem, que pode ser aparente ou inaparente, não importa. Que pode ser única ou se repetir, tive uma personagem que recorreu à máscara para não ser descoberta, quis voltar num outro texto e usou disfarce, assim como faz qualquer ser humano para mudar de identidade. 

        Na tentativa de reter o questionador, acabo por inventar uma figuração na qual a ideia é representada por uma aranha. A teia dessa aranha seria o enredo. A trama. E a personagem, o inseto que chega naquele voo livre e acaba por cair na teia da qual não consegue fugir, enleado pelos fios grudentos. Então desce (ou sobe) a aranha e nhac! Prende e suga o inseto até abandoná-lo vazio. Oco. 

        O questionador acha a imagem meio dramática mas divertida, consegui fazê-lo sorrir? Acho que sim. Contudo, há aquele leitor desconfiado, que não se deixou seduzir porque quer ver as personagens em plena liberdade e nessa representação elas estão como que sujeitas a uma destinação. A uma condenação. E cita Jean-Paul Sartre que pregava a liberdade também para as personagens, ah! Odiosa essa fatalidade dos seres humanos (inventados ou não) caminhando para o bem e para o mal. Sem mistura.

        Começo a me sentir prisioneira dos próprios fios que fui inventar, melhor voltar às divagações iniciais onde vejo (como eu mesma) o meu próximo também embrulhado. Ou embuçado? Desembrulhando esse próximo, também vou me revelando e na revelação, me deslumbro para me obumbrar novamente nesta viragem-voragem do ofício. 

TELLES, Lygia Fagundes. Durante aquele estranho chá: perdidos e achados. Rio de Janeiro: Editora Rocco, Rio: 2002.

Fonte: Português – José De Nicola – Ensino médio – Volume 1 – 1ª edição, São Paulo, 2009. Editora Scipione. p. 203-204.

Entendendo o conto:

01 – Qual a principal temática abordada no conto?

      A principal temática é o processo criativo da escrita. Lygia Fagundes Telles reflete sobre as dificuldades e os prazeres de escrever, a relação entre o autor e o leitor, e a natureza da ficção.

02 – Qual a importância da citação de Eclesiastes no início do conto?

      A citação de Eclesiastes introduz a ideia da incerteza e da imprevisibilidade da vida. Ela estabelece um paralelo com o processo criativo, que também é marcado pela incerteza e pela busca por significado.

03 – Qual a metáfora utilizada pela autora para representar o processo de criação?

      A autora utiliza a metáfora da aranha e da teia para representar o processo de criação. A aranha tece a trama, que seria o enredo, e o inseto capturado representaria a personagem. Essa metáfora sugere que o escritor captura e manipula elementos da realidade para criar suas histórias.

04 – Qual a importância da interação entre o autor e o leitor para Lygia Fagundes Telles?

      A interação entre o autor e o leitor é fundamental para Lygia Fagundes Telles. Ela destaca a curiosidade dos leitores e a necessidade de explicar o processo criativo. Ao mesmo tempo, ela questiona a possibilidade de oferecer explicações definitivas e completas sobre a criação literária.

05 – Como a autora aborda a questão da liberdade e do destino nas personagens?

      A autora apresenta diferentes perspectivas sobre a liberdade e o destino das personagens. Por um lado, a metáfora da aranha e da teia sugere que as personagens estão presas a uma trama pré-determinada. Por outro lado, a autora reconhece a importância da liberdade e da autonomia das personagens.

06 – Qual a relação entre o conto e a vida real?

      O conto estabelece uma relação entre o processo criativo e a vida real. A autora utiliza elementos da realidade para construir suas histórias, mas também reconhece a importância da imaginação e da ficção. A busca por significado tanto na vida quanto na literatura é um tema central do conto.

07 – Qual a principal mensagem do conto "Mysterium"?

      A principal mensagem do conto é que o processo criativo é um mistério. Não há uma fórmula única para criar uma obra de arte, e cada escritor utiliza suas próprias ferramentas e estratégias. A escrita é uma jornada de descoberta e de autoconhecimento.

 

 

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