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quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

CONTO: ERA DIA DE CAÇADA - MARINA COLASANTI - COM GABARITO

 CONTO: ERA DIA DE CAÇADA

               Marina Colasanti

O príncipe acordou contente. Era dia de caçada. Os cachorros latiam no pátio do castelo. Vestiu o colete de couro, calçou as botas. Os cavalos batiam os cascos debaixo da janela. Apanhou as luvas e desceu.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiJE1ipAs7Cw4Qp50IeBl32WynepqKSQw7orXiWUA0aMjmlwT-P2F4i47k08CBb4tXOsOyMb4qNWg9oRJvETFxT01EaLU7kE61hjw6rmRK4f23xdEkoNvfJzLwpM0f5HKsr8brkfeMW-TZtFfSckQfwcRMAbZtrbTO2TII1JHftB_5dDX1Ja4s6wVQc9AA/s1600/PRINCIPE.jpg


      Lá embaixo parecia uma festa. Os arreios e os pelos dos animais brilhavam ao sol. Brilhavam os dentes abertos em risadas, as armas, as trompas que deram o sinal de partida.

       Na floresta também ouviram a trompa e o alarido. Todos souberam que eles vinham. E cada um se escondeu como pôde.

     Só a moça não se escondeu. Acordou com o som da tropa, e estava debruçada no regato quando os caçadores chegaram.

      Foi assim que o príncipe a viu. Metade mulher, metade corça, bebendo no regato. A mulher tão linda. A corça tão ágil. A mulher ele queria amar, a corça ele queria matar. Se chegasse perto será que ela fugia? Mexeu num galho, ela levantou a cabeça ouvindo. Então o príncipe botou a flecha no arco, retesou a corda, atirou bem na pata direita. E quando a corça-mulher dobrou os joelhos tentando arrancar a flecha, ele correu e a segurou, chamando homens e cães.

      Levaram a corça para o castelo. Veio o médico, trataram do ferimento. Puseram a corça num quarto de porta trancada.

     Todos os dias o príncipe ia visitá-la. Só ele tinha a chave. E cada vez se apaixonava mais. Mas a corça-mulher só falava a língua da floresta e o príncipe só sabia ouvir a língua do palácio.

     Então ficavam horas se olhando calados, com tanta coisa para dizer.

     Ele queria dizer que a amava tanto, que queria casar com ela e tê-la para sempre no castelo, que a cobriria de roupas e joias, que chamaria o melhor feiticeiro do reino para fazê-la virar toda mulher.

      Ela queria dizer que o amava tanto, que queria casar com ele e levá-lo para a floresta, que lhe ensinaria a gostar dos pássaros e das flores e que pediria à     Rainha das corças para dar-lhe quatro patas ágeis e um belo pelo castanho.

     Mas o príncipe tinha a chave da porta. E ela não tinha o segredo da palavra.

     Todos os dias se encontravam. Agora se seguravam as mãos. E no dia em que a primeira lágrima rolou dos olhos dela, o príncipe pensou ter entendido e mandou chamar o feiticeiro.

     Quando a corça acordou, já não era mais corça. Duas pernas só e compridas, um corpo branco. Tentou levantar, não conseguiu. O príncipe lhe deu a mão. Vieram as costureiras e a cobriram de roupas. Vieram os joalheiros e a cobriram de joias. Vieram os mestres de dança para ensinar-lhe a andar. Só não tinha a palavra. E o desejo de ser mulher.

     Sete dias ela levou para aprender sete passos. E na manhã do oitavo dia, quando acordou e viu a porta aberta, juntou sete passos e mais sete, atravessou o corredor, desceu a escada, cruzou o pátio e correu para a floresta à procura da sua Rainha.

     O sol ainda brilhava quando a corça saiu da floresta, só corça, não mais mulher. E se pôs a pastar sob as janelas do palácio.

COLASANTI, Marina. Uma ideia toda azul.São Paulo: Global, 1999. p. 35-40.

Entendendo o texto

01. No desfecho do conto, a protagonista procura sua Rainha com o objetivo de:

a.   atender ao desejo do príncipe.

b.   tornar-se mulher-corça novamente.

c.   transformar o príncipe em homem-corça.

d.   não mais ser encontrada pelo príncipe.

02. O trecho “Foi assim que o príncipe a viu” evidencia a linguagem que se estabelece ao longo do conto, marcada por:

a.   oralidade.

b.   formalidade.

c.   informalidade.

d.   regionalidade.

03. Esse conto tem a finalidade de:

a.   apresentar ensinamentos sobre a essência humana.

b.   estabelecer uma crítica.

c.   relatar fatos do cotidiano.

d.   expor o ponto de vista do autor.

04. O conflito que desencadeia o enredo é:

a.   o príncipe querer transformar a corça-mulher em mulher.

b.   a corça-mulher queres transformar o príncipe em corça.

c.   o príncipe se apaixonar pela mulher, mas querer matar a corça.

d.   a corça-mulher ter se apaixonado pelo príncipe.

05. A conjunção destacada no trecho “Se chegasse perto, será que ela fugiria?” estabelece o valor semântico de:

a.   conformidade.

b.   causa.

c.   condição.

d.   consequência.

    06.  O que motivou o príncipe a sair para caçar no início do conto "Era Dia de Caçada"?

         a. A chegada de visitantes importantes no castelo.
         b. O anúncio de uma festa no reino.
         c. O desejo de encontrar a corça-mulher.
         d. A necessidade de exercitar os cachorros e cavalos.

   07. Como o príncipe descobriu a existência da corça-mulher na floresta?

         a. Pelos latidos dos cachorros.
         b. Pelo som das armas dos caçadores.
        c. Pelo som da trompa que deu o sinal de partida.
        d. Pela indicação do médico do castelo.

     08. O que o príncipe sentia pela corça-mulher à medida que a visitava todos os dias?

         a. Ódio e desprezo.
         b. Indiferença e tédio.
         c. Amor e paixão crescentes.
         d. Desconfiança e medo.

   09. O que impedia a comunicação efetiva entre o príncipe e a corça-mulher?

       a. A falta de interesse do príncipe em aprender a língua da floresta.
       b. A corça-mulher só falava a língua do palácio.
       c. A corça-mulher não tinha a palavra.
       d. O príncipe não tinha a chave da porta.

 10. Como a transformação da corça-mulher de volta à sua forma original foi realizada?

      a. Por meio de um encantamento da Rainha das corças.
      b. Com a ajuda das costureiras do castelo.
      c. Através de sete passos ensinados pelos mestres de dança.
      d. Pela intervenção do feiticeiro chamado pelo príncipe.

 

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