Conto: Pra dar no pé
Pedro Antônio de Oliveira
Da varanda lá de casa, eu a avistava:
linda, exuberante e charmosa. Nela moravam: bem-te-vi, pintassilgo, pombo,
juriti, marimbondo e formiga alpinista, Papagaio de seda também! Desses do mês
de julho que, em vez de ficar requebrando no céu, decidem embaraçar a rabiola
nos galhos mais altos e ficar por ali mesmo. Teve um que gostou tanto de morar
na árvore que nunca mais foi embora.
No meio do ano, começavam a aparecer
pequenas flores naquele pé de manga. Os frutos só chegaram em meados de
dezembro. As chuvas do fim de tarde, muitas vezes, aprontavam: jogavam no chão
as suculentas frutas. Umas se esborrachavam feio na lama. A dona Tina, na manhã
seguinte, distribuía tudo entre a vizinhança. Era bom.
Um dia, surgiu uma notícia que não
agradou a molecada, Iriam derrubar o pé de manga. E, no lugar, construir uma
casa. Achei um absurdo! Será? Os bichos ficariam sem lar, o ar sem oxigênio e
eu sem minhas mangas! Ora, onde já se viu um negócio desses?!
Corri como foguete pra chamar a turma.
Fomos pra debaixo da mangueira. Criamos grito de guerra e tudo, só pra tentar
salvar a árvore. Improvisamos cartazes e fizemos o maior auê.
Logo conseguimos mais adeptos para a manifestação.
A rua inteira ficou tomada de gente. Vieram tevê, rádio, jornal... Eu não
parava de dar entrevistas. Fiz discurso inflamando, precisava ver, com direito
a lágrimas e voz rouca pra causar emoção. O pior foi quando me empolguei.
Estava agradando tanto, que comecei a dirigir adjetivos pouco delicados à dona
Tina. Ela que não deixasse cortar a árvore!
Mas o tiro saiu pela culatra. Nós nunca
mais chupamos mangas daquela mangueira. Nunca mais mesmo! Dona Tina ficou
irritada com as coisas que eu disse a respeito dela durante o protesto. Berrou
para a vizinhança toda ouvir que se arrependeu amargamente de ter plantado a
mangueira e falou ainda que, se pudesse, plantaria era a mão na minha orelha!
A notícia boa é que o pé de manga não foi
derrubado. Os bichos não ficaram sem lar, o ar não perdeu oxigênio... A ruim é
que tudo não passou de boato. Ninguém jamais quis destruir a árvore. Dá pra
acreditar? Veja que mico. Ah, por falar nisso, tem mesmo um mico morando lá nas
alturas. O danado vive bem. Chupa manga que só vendo! Quem sabe não pinta uma
amizade e ele arremessa de lá umas frutinhas pra gente?! Porque manga, de agora
em diante, só assim.
Descobri que espírito ecológico não
combina com fofoca.
Pedro Antônio de
Oliveira. Uma história, uma lorota... e fiquei de boca torta! Belo Horizonte: Editora
Formato, 2008.
Fonte: livro – Língua
portuguesa – Buriti mais português – 4° ano – ensino fundamental – Anos
iniciais – 1ª edição, São Paulo, 2017. Moderna. p. 38-42.
Entendendo o conto:
01 – Após a leitura do
texto, responda as questões abaixo, se preciso for procure no dicionário.
a) O que quer dizer papagaio de seda? E rabiola?
Papagaio de seda: papagaio (pipa) feito com papel de seda. Rabiola:
rabo ou cauda de papagaio de papel.
b) Você conhece o significado de boato? Se não conhece, é possível descobrir o que a palavra significa pela leitura do conto?
Mexerico.
c) Encontre no texto outra palavra que tenha o mesmo significado de boato.
Fofoca.
02 – Converse com os colegas.
a) Quem é o narrador do conto? Justifique sua resposta.
O narrador parece ser um menino. Ele conta que a notícia não agradou
a “molecada” e que foi chamar a “turma”.
b) Que acontecimento faz o narrador organizar uma manifestação?
A notícia da derrubada do pé de manga.
c) O que você acha que o narrador deveria ter feito antes de tomar essa atitude?
Resposta pessoal do aluno. Sugestão: ele deveria ter conversado com
a principal pessoa envolvida, dona Tina, para conhecer as razões dela.
d) Existe, na região onde você mora, um elemento da natureza que você gostaria de ver sempre preservado? Qual?
Resposta pessoal do aluno.
e) Você conhece alguém que já ficou em situação complicada por causa de fofoca?
Resposta pessoal do aluno.
03 – Assinale o trecho que
mostra que o narrador, além de contar a história, também é personagem.
( ) No meio do ano, começavam a aparecer
pequenas flores naquele pé de manga. Os frutos só chegaram em meados de
dezembro. As chuvas do fim de tarde, muitas vezes, aprontavam: jogavam no chão
as suculentas frutas. Umas se esborrachavam feio na lama.
(X) Achei um absurdo! Será? Os bichos
ficariam sem lar, o ar sem oxigênio e eu sem minhas mangas! Ora, onde já se viu
um negócio desses?!
( ) Mas o tiro saiu pela culatra.
04 – Explique como você descobriu
a resposta da questão anterior.
Resposta pessoal
do aluno. Sugestão: as palavras eu e minha deixam claro que é a personagem que
está contando a história.
05 – Quais são as outras
personagens do conto?
Dona Tina e a turma de amigos do narrador.
06 – Dona Tina era uma
pessoa generosa ou egoísta em relação aos vizinhos? Explique.
Era generosa. No
início do conto, o narrador informa que ela distribuía mangas pela vizinhança.
07 – O narrador apresenta
três razões contra a derrubada do pé de manga. Quais são elas?
Os bichos
ficariam sem lar; o ar, sem oxigênio; e ele, sem as mangas.
08 – Por que Dona Tina
acabou ficando irritada com o narrador?
Porque, além de mobilizar muita gente
contra ela, ele a criticou sem se preocupar em verificar o que, de fato, ela
pensava fazer.
09 – Escreva o significado
que estas expressões têm no texto.
a) Veja que mico.
Veja que vexame.
b) O tiro saiu pela culatra.
O ato prejudicou a quem o praticou.
c) Fazer o maior auê.
Fazer uma grande confusão.
d) Plantar a mão na orelha.
Dar um tapa na orelha.
e) Onde já se viu um negócio desses?
Onde já se viu acontecer algo parecido? / Como é possível isso
acontecer?
10 – O uso dessas expressões
torna o texto:
(X) Divertido.
( ) Sério.
( ) Formal.
(X) Informal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário