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domingo, 22 de novembro de 2020

CONTO: O HOMEM QUE QUIS LAÇAR DEUS - SILVIO ROMERO - COM GABARITO

 Conto: O homem que quis laçar Deus          

Silvio Romero

  Havia um homem que era muito pobre e com muita família. No lugar em que morava, havia uma estrada muito grande e se dizia que por ali passava Deus e o mundo. Ouvindo dizer isto o homem, e querendo saber a razão por que Deus o tinha feito tão pobre, armou um laço e assentou-se na estrada à espera de Deus.

        Levou assim muito tempo, e todos que passavam perguntavam o que estava ali fazendo. Ele respondia que queria pegar Deus. Afinal, estando já desenganado de que nada fazia, já ia para casa, quando apareceu-lhe um velhinho e deu-lhe quatro vinténs, dizendo que só comprasse um objeto que custasse aqueles quatro vinténs. Nem mais barato, nem mais caro.

        O homem foi para casa muito contente, imaginando no que havia de comprar com aquele dinheiro. Lembrou-se de um compadre negociante rico que tinha, o qual estava para fazer viagem a buscar sortimentos para sua loja. Dirigiu-se o compadre pobre para a casa do compadre rico e pediu-lhe que comprasse qualquer coisa que custasse aqueles quatro vinténs.

        Fez o compadre a sua viagem e chegando na cidade não encontrou nada por aquele preço. Foi ao mercado e ainda nada. Só encontrava objetos por três vinténs, um tostão, meia pataca, dois mil réis, três, etc.

        Ia já para casa, quando ouviu um menino mercar: “quem quer comprar um gato? Custa quatro vinténs.” O homem ficou muito contente e comprou o gato. Era um animal raro naquele lugar. Chegando o negociante em casa do amigo onde estava hospedado, e que também era do comércio, este ficou desejoso de possuir aquele animal e pediu ao amigo para deixar o gato passar a noite na loja, onde havia muito rato, que lhe davam um grande prejuízo.

        No outro dia quando abriram a casa, tinha uma quantidade tão grande de ratos mortos que causou admiração. Aí o negociante dono da casa ofereceu uma grande soma de dinheiro ao amigo pelo gato.

        Este recusou, dizendo ser o gato de um seu compadre muito pobre, que o tinha encarregado de comprar um objeto qualquer com quatro vinténs. Insistiu muito o negociante e afinal ofereceu tanto dinheiro que o amigo não pôde recusar e vendeu o gato. Voltou o compadre rico de sua viagem, mas chegando em casa teve tanta pena de dar o dinheiro ao compadre, que o enganou com uma peça de chita, muito ordinária, dizendo ter comprado aquilo com os quatro vinténs.

        O compadre pobre ficou muito contente e, chegando em casa, a mulher desmanchou logo a fazenda em camisas para os filhos. Mas como Deus não quer nada mal feito, assim que o compadre saiu com a peça de chita, o rico caiu com uns ataques muito fortes e já para morrer. A mulher o aconselhou a que se confessasse, que ele estava muito mal, e chegando o padre e sabendo do segredo, mandou-o restituir todo o dinheiro do compadre pobre. Este veio a chamado do rico, que logo melhorou, só com a presença dele.

        Mas o ricaço, não tendo coragem de entregar o dinheiro, ainda enganou o outro com outra peça de fazenda ordinária.

        O pobre não cabia de si de contente, e mal tinha saído, já o rico estava outra vez morre não morre. É chamado de novo a toda pressa o compadre pobre, sendo ainda uma vez enganado com outra peça de fazenda, mas desta vez o rico já estava quase expirando, e não teve outro remédio senão declarar ao companheiro que aquelas barricas que ali estavam eram dele com todo o dinheiro que continham.

        Ouvindo isto, o pobre quase que não se segurava em pé, tal foi o choque que sentiu, e como louco correu a dar novas à família, que não sabia como explicar tamanha felicidade. Houve oito dias de festas e o pobre ficou logo cercado de muitos amigos, entre eles o rico que ficou bom da moléstia esquisita, assim que entregou o dinheiro.

Romero, Sílvio. folclore brasileiro; cantos e contos populares do brasil. 3 v. Rio de Janeiro, Livraria José Olímpio Editora, 1954. Coleção Documentos Brasileiros.

Entendendo o conto:

01 – Em relação à estrutura textual do conto.

a)   Quantos parágrafos tem o conto?

O conto tem onze parágrafos.

b)   Narrador:

·        Participa da história.

·        Conta os fatos sem participar.

c)   Em relação ao discurso das personagens.

·        Presença de discurso: - Direto.

                                    - Indireto.

d)   Qual é a tipologia predominante no conto:

·        Narrativa.

·        Argumentativa.

·        Descritiva.

02 – Qual é o tema do conto?

      A avareza do homem rico.

03 – Quais os personagens que fazem parte dessa narrativa?

      O homem pobre, seu compadre rico, um velhinho, um menino, a mulher do homem pobre, o padre, o negociante e a mulher do homem rico.

04 – Que fato provocou o desenrolar dos acontecimentos descritos no texto?

      O fato do homem pobre ter acreditado num ditado popular “por ali passava Deus e o mundo”; ele resolveu ficar numa estrada perto de sua casa para laçar Deus.

05 – Em que momento surge o conflito da história?

      Quando o compadre rico não quer dar ao homem pobre o dinheiro da venda do gato.

06 – Por que o homem pobre desistiu de laçar Deus?

      Porque apareceu-lhe um velhinho e deu-lhe quatro vinténs.

07 – O compadre rico enganava o homem pobre dando-lhe o quê?

      Uma peça de chita muito ordinária.

08 – O que acontecia com o ricaço quando enganava seu compadre pobre?

      Tinha uns ataques fortes e ficava entre a vida e a morte.

09 – Qual o desfecho (epílogo ou conclusão) da história?

      O compadre rico declara ao homem pobre que aquelas barricas que ali estavam eram dele com todo o dinheiro que continham.

 

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