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segunda-feira, 30 de novembro de 2020

MÚSICA(ATIVIDADES): GOTA D'ÁGUA - CHICO BUARQUE & PAULO PONTES - COM GABARITO

 MÚSICA(ATIVIDADES): Gota d’Água

                   Chico Buarque & Paulo Pontes

Já lhe dei meu corpo

Minha alegria
Já estanquei meu sangue
Quando fervia
Olha a voz que me resta
Olha a veia que salta
Olha a gota que falta
Pro desfecho da festa
Por favor…

Deixe em paz meu coração
Que ele é um pote até aqui de mágoa
E qualquer desatenção, faça não
Pode ser a gota d’água…(2x)

Já lhe dei meu corpo
Minha alegria
Já estanquei meu sangue
Quando fervia
Olha a voz que me resta
Olha a veia que salta
Olha a gota que falta
Pro desfecho da festa
Por favor…

Deixe em paz meu coração
Que ele é um pote até aqui de mágoa
E qualquer desatenção, faça não
Pode ser a gota d’água
Pode ser a gota d’água
Pode ser a gota d’água….

ENTENDENDO A CANÇÃO

1)   “Gota d’água” é uma canção que conta uma história de amor. Essa letra retrata que sentimento?

O estado de limite da paciência do eu lírico que, embora fiel, é tratado com desprezo. No momento em que fala, está por um triz, pronto a explodir, a dar um desfecho “a festa”.

2)   Nos versos:

“Olha a voz que me resta

Olha a veia que salta

Olha a gota que falta...”.

Que  figura de linguagem há?

A figura de linguagem é anáfora (repetição da mesma palavra, no início de cada frase).

3)   Em que versos o eu lírico declara que não quer mais ver sua amada?

“Por favor

Deixe em paz meu coração

Que ele é um pote até aqui de mágoa”.

4)   Que tema é abordado nessa canção?

Aborda o fim de um relacionamento com muita mágoa.

sexta-feira, 27 de novembro de 2020

MÚSICA(ATIVIDADES): EU ME AMO - ULTRAJE A RIGOR - COM GABARITO

 Música(Atividades): Eu Me Amo

                                                                           Ultraje a Rigor

Há tanto tempo eu vinha me procurando

Quanto tempo faz, já nem lembro mais

Sempre correndo atrás de mim feito um louco

Tentando sair desse meu sufoco

Eu era tudo que eu podia querer

Era tão simples e eu custei pra aprender

Daqui pra frente nova vida eu terei

Sempre a meu lado bem feliz eu serei

 

Eu me amo, eu me amo

Não posso mais viver sem mim

 

Como foi bom eu ter aparecido

Nessa minha vida já um tanto sofrida

Já não sabia mais o que fazer

Pra eu gostar de mim, me aceitar assim

Eu que queria tanto ter alguém

Agora eu sei sem mim eu não sou ninguém

Longe de mim nada mais faz sentido

Pra toda vida eu quero estar comigo

 

Eu me amo, eu me amo

Não posso mais viver sem mim

 

Foi tão difícil pra eu me encontrar

É muito fácil um grande amor acabar, mas

Eu vou lutar por esse amor até o fim

Não vou mais deixar eu fugir de mim

Agora eu tenho uma razão pra viver

Agora eu posso até gostar de você

Completamente eu vou poder me entregar

É bem melhor você sabendo se amar.

 

Entendendo a canção:

01 – Qual é o tema que esta canção transmite?

      A declaração de amor do eu lírico por ele mesmo.

02 – A música repete sempre os pronomes em primeira pessoa. Que ideia isso reforça?

      A ideia de que ele se descobriu, reforçando sua autoestima e identidade.

03 – Qual a grande mudança que acontece com o “eu” do texto? Comprove com um verso.

        Após ter declarado seu amor próprio, se sente pronto para gostar de sua amada. “Agora eu posso até gostar de você / Completamente eu vou poder me entregar”.

04 – Há trechos na música que parecem tratar do amor entre duas pessoas? Quais?

      “É muito fácil um grande amor acabar, mas / Eu vou lutar por esse amor até o fim.”

 

CONTO: JOÃO, FRANCISCO, ANTÔNIO - CECÍLIA MEIRELES - COM GABARITO

 Conto: João, Francisco, Antônio

Cecília Meireles

    João, Francisco, Antônio põem-se a contar-me a sua vida. Moram tão longe, no subúrbio, precisam sair tão cedo de casa para chegar pontualmente a seu serviço. Já viveram aglomerados num quarto, com mulher, filhos, a boa sogra que os ajuda, o cão amigo à porta... A noite deixa cair sobre eles o sono tranquilo dos justos. O sono tranquilo que nunca se sabe se algum louco vem destruir, porque o noticiário dos jornais está repleto de acontecimentos inexplicáveis e amargos.

        João, Francisco, Antônio vieram a este mundo, meu Deus, entre mil dificuldades. Mas cresceram, com os pés descalços pelas ruas, como os imagino, e os prováveis suspensórios – talvez de barbante – escorregando-lhes pelos ombros. É triste, eu sei, a pobreza, mas tenho visto riquezas muito mais tristes para os meus olhos, com vidas frias, sem nenhuma participação do que existe, no mundo, de humano e de circunstante.

        João, Francisco, Antônio conhecem os passarinhos, pena por pena, são capazes de descrevê-los: acompanharam os seus hábitos, sabem as árvores onde moram, distinguem, no sussurro geral, a voz de cada um.

        João, Francisco, Antônio conhecem as pedras, as suas arestas, a sua temperatura, que faíscas desprendem de noite. Conhecem as fisionomias das casas e, evidentemente, os seus habitantes, os letreiros das lojas, os diversos comerciantes e os seus negócios. Tudo isso é uma forma de instrução que vem da infância, que ocupou os dias sem possibilidades especiais de aquisições sistematizadas. Aprenderam nomes de ruas e veículos, observando, alguns deles, com particular curiosidade, quando a vocação é para engenhos, máquinas, motores. Mas outros, por natureza menos práticos, mais poéticos, decerto, construíram papagaios, combinando cores de papel de seda, inventando formas geométricas, recortando bandeirinhas, levantando nos ares as suas transparentes construções, querendo alcançar o céu – que talvez julgassem alcançável – ou apenas as nuvens, para sentir, na ponta de uma linha, como se encastelam e como se desfazem.

        Não falo de outros, que matam passarinhos com atiradeiras, que quebram vidraças, que maltratam os outros meninos da sua idade, que lhes rasgam as roupas... Não, não, quero falar de João, Francisco, Antônio, os que, desde pequenos, vêm sendo construtivos, que procuram realizar-se, entre as maiores dificuldades, ajudando os pais, amparando os irmãozinhos, realizando suas breves alegrias entre mil sombras.

        João, Francisco, Antônio conseguem, a tanto custo, aprender alguma coisa do que é preciso para encontrar o caminho do seu trabalho e, se possível, da sua vocação. Mal saídos da adolescência – quando outros da mesma idade, em outras condições, folgam, e acham ou que é cedo para começar ou que já são infelizes porque ouviram falar de assuntos do mundo adulto –, eles vão para algum trabalho de madrugada, sentem-se uma parte da família a que pertencem e querem ajudar-se e ajuda-la.

        João, Francisco, Antônio amam, casam, acham que a vida é assim mesmo, que se vai melhorando aos poucos. Desejam ser pontuais, corretos, exatos no seu serviço. É dura a vida, mas aceitam-na. Desde pequenos, sozinhos sentiram sua condição humana e, acima dela, uma outra condição a que cada qual se dedica, por ver depois da vida a morte e sentir a responsabilidade de viver.

        João, Francisco, Antônio conversam comigo, vestidos de macacão azul, com perneiras, lavando vidraças, passando feltros no assoalho, consertando fechos de portas. Não lhes sinto amargura. Relatam-se, descrevem as modestas construções que eles mesmos levantaram com suas mãos, graças a pequenas economias, a algum favor, a algum benefício. E não sabem com que amor os estou escutando, como penso que este Brasil imenso não é feito só do que acontece em grandes proporções, mas destas pequenas, ininterruptas, perseverantes atividades que se desenvolvem na obscuridade e de que as outras, sem as enunciar, dependem.

        Por isso, as enuncio, porque sei que, na sombra, se desenvolve este trabalho humilde de Antônio, Francisco, João.

Cecília Meireles. Janela mágica. São Paulo: Moderna, 1983. P. 14-15.

    Fonte: Português – Linguagem & Participação, 8ª Série – MESQUITA, Roberto Melo / Martos, Cloder Rivas – 2ª edição – 1999 – Ed. Saraiva, p.33 – 34 e 36.

Fonte da imagem:https://www.google.com/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fwww.youtube.com%2Fwatch%3Fv%3Dqge1pC7g7J0&psig=AOvVaw3_Qe9wAzfB_JI6QNIrj2Ts&ust=1606602302748000&source=images&cd=vfe&ved=0CAIQjRxqFwoTCNi3kpDio-0CFQAAAAAdAAAAABAD


Entendendo o conto:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavra abaixo:

·        Pontualmente: na hora certa.

·        Vocação: tendência para o exercício de determinada atividade.

·        Aglomerados: amontoados.

·        Circunstante: que está à volta; presente.

·        Encastelar: afastar-se subindo; acumular, amontoar.

·        Distinguir: perceber a diferença.

·        Ininterruptas: incessantes.

·        Arestas: ângulos, saliências.

·        Perseverantes: persistentes.

·        Faíscas: pequenas chamas provocadas pelo atrito.

·        Obscuridade: ausência de notoriedade, de fama; condição humilde.

·        Aquisições: conquistas.

·        Sistematizadas: organizadas segundo um método.

·        Enunciar: dizer.

02 – Que tipo de narração aparece no texto?

      Aparece narração em primeira pessoa (o texto é constituído a partir de uma suposta conversa entre narrador/personagem).

03 – Qual é a relação entre o nome e o comportamento das personagens?

      São nomes de pessoas simples e também de santos da religião católica. Como são nomes muito comuns, podemos inferir que o que se diz deles vale para muitas outras pessoas que vivem e trabalham como eles.

04 – O que João, Francisco e Antônio apresentam em comum?

      São pobres, não puderam estudar, mas são honestos e trabalhadores.

05 – Onde João, Francisco e Antônio se encontraram com a narradora?

      O encontro se deu em um prédio onde as personagens estão trabalhando.

06 – Durante todo o texto a narradora enuncia vários sentimentos a respeito dos três rapazes. Quais são eles?

      A narradora sente respeito, admiração e um amor humanitário pelos três.

07 – Como você entendeu: “Não falo outros, que matam passarinhos com atiradeiras, que quebram vidraças, que maltratam os outros meninos da sua idade, que lhes rasgam as roupas...”?

      A narradora sabe que há outros rapazes que não se comportam tão bem como as personagens mas estes não serão mencionados.

08 – Como vivem no presente João, Francisco e Antônio?

      Vivem no subúrbio, em casas que eles mesmos construíram. Lutam para melhorar de vida.

09 – Como João, Francisco e Antônio enfrentam as dificuldades da vida? Justifique com palavras do texto.

      Com aceitação, perseverança e coragem. “... desde pequenos, vêm sendo construtivos, que procuram realizar-se, entre as maiores dificuldades, ajudando os pais, amparando os irmãozinhos, realizando suas breves alegrias entre mil sombras.”

10 – Por que a narradora escolheu os três como personagens?

      Porque eles são importantes, embora desenvolvam suas atividades no anonimato, pois muitas pessoas dependem de seu trabalho.

11 – Para você, em geral como são tratados os humildes em nosso pais?

      Resposta pessoal do aluno.

12 – O texto mescla partes narrativas e dissertativas.

a)   Localize um trecho inteiramente narrativo.

Está no terceiro parágrafo.

b)   Localize um trecho em que o narrador interrompe a história das personagens para expressar sua opinião.

“...E não sabem com que amor os estou escutando, como penso que este Brasil imenso não é feito só do que acontece em grandes proporções, mas destas pequenas, ininterruptas, perseverantes atividades que se desenvolvem na obscuridade...”.

c)   Com que objetivo a autora se valeu dessa mescla de elementos narrativos e dissertativos?

Ela se utiliza da história de três personagens para ilustrar uma ideia: que um pais é o resultado do trabalho de pessoas humildes e anônimas que, sem alarde, vão colaborando para o bem comum.

 

TEXTO: DA IMPORTÂNCIA DO AGORA - NARA RÚBIA RIBEIRO - COM GABARITO

 Texto: DA IMPORTÂNCIA DO AGORA

                                  Nara Rúbia Ribeiro

        O pior prisioneiro é aquele que jaz trancafiado no tempo. Aquele que se fecha dentro das grades imaginárias de um passado estancado na memória, e não deixa o presente fluir.

        Aquele que morre de medo de ser, de existir, de enfeitar a masmorra de suas emoções com as flores do agora, e alega “flores não tardam: desfalecem”. Ele não se permite a perplexidade, o encantamento, o deslumbramento com as ínfimas, mas grandiosas e infinitas alegrias que o cercam. E, assim, se desvencilha da poesia que o visita a cada fração de segundo.

        Há, também, aquele que se faz prisioneiro do futuro e vive na ansiedade de quem adia, dentro de si, o pulsar das emoções. Assim, aquilo que de belo se lhe apresenta na alma, ele o faz abafar, o despreza, o desqualifica, pois ele aguarda um futuro que há de ser ainda mais grandioso e mais perfeito.

        A vida é uma sucessão de oportunidades únicas, todas efêmeras, cada qual com sua rara e insubstituível beleza, para adornar o instante de cada um.

        Não é possível desfrutar do eterno se ele não se fizer fracionado em instantes.

        Então, que os ponteiros do agora indiquem a nossa melhor hora de íntimo mergulho nas turbulências da nossa paz interior; eis a nossa libertação. E não se preocupe: ninguém morre afogado de si. Ninguém.

                                                       http://www.revistapazes.com/

Entendendo o texto:

01 – Qual o significado, no texto, para o termo destacado em “O pior prisioneiro é aquele que jaz trancafiado no tempo”?

      Significa se encarcerar, aprisionar no passado.

02 – Analise o primeiro parágrafo e, com suas palavras, explique a ideia principal que será defendida no texto.

      A autora fala de pessoas que se prendem ao passado e não vivem o presente, deixando a vida passar.

03 – Qual é o tema abordado pela autora?

      A importância de viver hoje, o agora.

04 – O principal objetivo desse texto é:

a)   Promover o entretenimento.

b)   Sugerir uma reflexão.

c)   Adquirir conhecimento.

d)   Transmitir uma informação.

e)   Relatar um acontecimento.

CRÔNICA: GUERRA - RUBEM BRAGA- COM GABARITO

 Crônica: Guerra


4 de setembro de 1939

               Rubem Braga

        Nestes dias em que a guerra começa, ando eu mergulhado no trabalho de traduzir, para o José Olympio, um livro de Cronin, o autor de A Cidadela. O livro tem um título lírico – sob o olhar das estrelas – mas não tem duas linhas sequer de divagações líricas. É vivo e realista. Conta a história de uns mineiros do Norte da Inglaterra. A ação começa antes da Grande Guerra e acaba depois. Não aparece uma única cena de guerra, mas nem por isso ela deixa de estar presente, influindo sobre os personagens que embarcam para a França e mesmo sobre os que não embarcam. Há o caso interessante de um rapaz que fez “objeção de consciência” para não ir à guerra. Havia na Inglaterra daquele tempo milhares de jovens que se negaram a combater não por medo – era preciso mais coragem para ficar do que para irmos por motivos espirituais. Arthur Barras, o filho de um proprietário de mina de carvão, é um deles. E tem de comparecer perante um tribunal presidido pelo próprio pai. Os outros membros do tribunal são: um açougueiro, um militar e um pastor protestante. O açougueiro, um tal Ramage, homem truculento de pescoço taurino, interroga:

        -- Por que se nega a combater?

        -- Não quero matar meus semelhantes.

        -- Mas, por quê?

        -- Minha consciência se recusa a isso.

        Há um silêncio, e depois Ramage observa rudemente:

        -- Consciência demais sempre faz mal a uma pessoa.

        Aí o reverendo intervém, olhando paternalmente o acusado:

        -- Vamos ver uma coisa. Você não é cristão? Não há nada, na religião cristã, que proíba matar legitimamente pela salvação do país.

        -- Não há assassinato legítimo.

        -- Como?

        -- Não consigo imaginar Jesus Cristo metendo uma baioneta na barriga de um soldado alemão. Não posso imaginar Jesus atrás de uma metralhadora derrubando homens inocentes.

        O reverendo Low fica vermelho:

        -- Isso é uma blasfêmia!

        Depois é o próprio pai que interroga. Em certo momento explica ao filho:

        -- Fazemos esta guerra para que seja a última.

        -- É o que sempre se diz. É o que se repetirá mais tarde para que os homens se trucidem, quando rebentar a próxima guerra!

        Depois vem um rápido interrogatório do militar – e Arthur Barras acaba condenado a dois anos de cadeia, com trabalhos forçados.

        Está visto que Arthur tinha razão – mas seu gesto não teve força nenhuma para deter a guerra, nem para evitar esta outra, que aí está. Nem muito menos para evitar que outro personagem – o bravo Joe Gowland – ficasse podre de rico dirigindo uma fábrica de munição.

                      Uma fada no front. Porto Alegre, Artes e Ofícios.

            Fonte: Português – Linguagem & Participação, 8ª Série – MESQUITA, Roberto Melo / Martos, Cloder Rivas – 2ª edição – 1999 – Ed. Saraiva, p. 55-7.

Fonte de imagem:https://www.google.com/url?sa=i&url=http%3A%2F%2Fmemoria.oglobo.globo.com%2Fjornalismo%2Fprimeiras-paginas%2Ffim-da-paz-8898913&psig=AOvVaw0lgk6wQirEKl9uE8tLrxE2&ust=1606601324061000&source=images&cd=vfe&ved=0CAIQjRxqFwoTCNiY4L3eo-0CFQAAAAAdAAAAABAD

Entendendo a crônica:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Lírico: poético, emotivo.

·        Taurino: de touro.

·        Divagações: devaneios, desvio de rumo ou assunto.

·        Reverendo: sacerdote, pastor.

·        Objeção: oposição, contestação.

·        Trucidem: matem com crueldade, com carnificina.

·        Truculento: feroz, cruel.

02 – O texto apresenta duas informações que nos permitem localizá-lo no tempo. Quais são elas?

      A primeira (data logo abaixo do título e início do texto) indica que o texto foi escrito no início da Segunda Guerra Mundial (3/9/1939 a 8/5/1945). O assunto da crônica remete a acontecimentos ocorridos durante a Primeira Guerra Mundial, ocorrida entre 1914 e 1918 (“... seu gesto não teve força nenhuma para deter a guerra, nem para evitar esta outra, que aí está.”).

03 – Como o narrador entrou em contato com o assunto do texto?

      Ao traduzir um livro para a editora José Olympio, chamado Sob o olhar das estrelas.

04 – Quem é Arthur Barras? O que o torna especial?

      Arthur Barras é filho de um proprietário de mina de carvão. Ele se recusa a partir para a guerra em que teria de matar seus semelhantes.

05 – Como se forma o tribunal que julga Arthur Barras? Como você interpreta a profissão de cada um deles?

      Há sem dúvida uma certa ironia na formação do tribunal: o açougueiro é um matador profissional, o pastor protestante está a favor da guerra e o próprio pai é contra o filho.

06 – Dos argumentos apresentados pelos três acusadores de Arthur Barras, qual lhe parece mais absurdo? Comente-o.

      Resposta pessoal do aluno.

07 – Como você entendeu: “Está visto que Arthur tinha razão – mas seu gesto não teve força nenhuma para deter a guerra, nem para evitar esta outra, que aí está.”?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: O gesto do Arthur, embora moralmente correto e louvável, foi inútil por se tratar de uma ação individual.

CRÔNICA: UM LUGAR AO SOL - ÉRICO VERÍSSIMO - COM GABARITO

 Crônica: Um lugar ao sol

                  Érico Veríssimo

        Entraram na casa vizinha.

     Fernanda sentia sempre uma opressão quando se via na sala da casa de D. Magnólia. Tudo ali tinha um ar tão triste, tão sombrio, tão doentio... Os móveis eram escuros. A Bíblia encadernada de couro negro em cima da mesa. (D. Magnólia era metodista.) Quadros nas paredes com legendas tiradas das Escrituras. Um cheiro de defumação. E – o mais horrível de tudo – no canto da sala, a figura daquele homem sentado, vencido, daquele homem enorme, magro, amarelo, roído pelo câncer.

        Era Orozimbo, o marido de D. Mag. Quando lhe falava, Fernanda tinha a impressão desagradável de que estava falando com um morto.

        A luz da sala estava apagada. Entrava pelas janelas uma fraca claridade que vinha das lâmpadas da rua.

        Fernanda sentiu logo a presença de Orozimbo. Cumprimentou:

        -- Boa noite, seu Zimbo!

        E a voz dele, fraca, doente, mas mesmo assim profunda, incoerentemente musical, respondeu:

        -- Boa noite!

        Entraram no quarto de Lu. D. Mag acendeu a luz e retirou-se, fechando a porta. Fernanda viu a menina a chorar estendida na cama, de borco, com a cabeça mergulhada no travesseiro. Ajoelhou-se junto dela, passou-lhe a mão pelos cabelos.

        -- Então, bobinha. Por que é que está chorando?

        Lu soluçava sem responder. E depois, como Fernanda insistisse muito na pergunta, explodiu:

        -- Eu... eu... queria... fazer... uma fantasia... e... e... essa besta não quer....

        -- Não diga assim, Lu. Ela é sua mãe.

        -- Besta! Isso que ela é.

        D. Mag chorava no corredor. Por que Deus a castigava assim, dando-lhe uma filha desobediente e blasfema? Não era ela uma boa cristã? Não ia todos os domingos ao culto? Não lhe bastavam os trabalhos que passara com o marido nos primeiros tempos do casamento, quando ele andava na pândega com outras mulheres? Não chegava o que ela sofria agora que ele estava doente e vivia ali no canto, derrotado, a falar na morte, a queixar-se da vida, a atormentá-la a todo o instante? Não bastava a trabalheira que ela tinha de pedalar a Singer todo o dia para ganhar dinheiro para o sustento da casa? Para ganhar dinheiro para dar vestidos e educação àquela ingrata?

        Fernanda passava a mão pela cabeça de Lu e lhe dizia de mansinho:

        -- Não vê que não é direito você ir ao baile de carnaval quando seu pai está tão doente? Não vê que sua gente é pobre e que você precisa ter muito juízo?

        Lu explodiu de novo, sentando-se na cama:

        -- Eu tenho ódio dela. Tenho ódio dele. Dos dois!

        Fernanda se pôs de pé.

        -- Você não sabe o que está dizendo! Ódio de seu pai, de sua mãe?

        Lu tornou a cair de borco. Sua voz saía abafada debaixo do travesseiro.

        -- Ódio, ódio, ódio.

        Sim: tinha raiva dos pais. Porque eles não queriam que ela fosse feliz, que tivesse um namorado, que frequentasse os cinemas, os bailes. Que culpa tinha de ter nascido pobre? Que culpa tinha da doença do pai ou das ideias religiosas da mãe? Era moça, queria aproveitar a vida. Um dia a velhice chegava e tudo ficava perdido para sempre. Não havia moças que tinham automóveis, que cantavam no rádio, que viajavam, que dançavam, que possuíam vestidos bonitos? Então? Ela era acaso aleijada? Não. Era um monstro de feia? Também não. Por que não havia de ser feliz? Oh! Deus podia matá-la, podia castiga-la mas ela não sufocaria por mais tempo aquela raiva.

        -- Vamos – murmurou Fernanda – faça uma forcinha. Pelo menos finja. Não vê que sua mãe sofre, seu pai sofre?

        Lu resistia. Obstinava-se. Havia de fazer a fantasia, havia de ir aos bailes do Cassino, nem que para isso tivesse de fugir.

        Fernanda por fim cansou. Sentou-se na cama, passou a mão pela testa. Ela trazia um filho no ventre. Talvez uma filha. Hoje fazia parte de seu ser: amanhã poderia haver uma separação tremenda como a que ela estava vendo... Teria o mundo entre ela e a sua criaturinha. Um milhão de desentendimentos, de conflitos, de interesses em choque....

        -- Então Lu, não quer ser boazinha?

        Lu ergueu-se. Tinha uns olhos verdes muito grandes.

        Era fina de corpo e suas mãos, longas e brancas.

        Fernanda contemplou-a com simpatia e pena. Lu tomou-lhe das mãos e, com olhos vermelhos de chorar, perguntou:

        -- Tu achas que eu sou má? Achas? Será que nem tu, nem tu me compreendes?

        Encostou a cabeça no peito da outra e desatou de novo o choro.

        Cinco minutos depois Fernanda saiu do quarto.

        D. Mag esperava-a no meio da sala. Nos seus olhos espantados havia uma interrogação ansiosa. Apesar de estarem na penumbra, Fernanda viu a dor que os velava.

        Aproximou-se dela, bateu-lhe no ombro.

        -- Não faça caso, D. Mag... Isso passa. Amanhã quando ela voltar da escola e estiver mais calma, eu passo um sermão nela. Por hoje, lhe peço: não diga mais nada. Deixe... Essas criaturinhas são assim. Quanto mais confiança se dá, mais elas incomodam...

        Enquanto falava, Fernanda ouvia, horrorizada, a respiração arquejante do doente no seu canto escuro.

        -- Bom, deixe ajudar a mamãe a lavar os pratos.

        Deu boa-noite e voltou para casa.

              Um lugar ao sol. Rio de Janeiro, Globo, 1978.

    Fonte: Português – Linguagem & Participação, 8ª Série – MESQUITA, Roberto Melo / Martos, Cloder Rivas – 2ª edição – 1999 – Ed. Saraiva, p. 44-7.

Fonte da imagem: https://www.google.com/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fcromatas.com%2Fcontos-2%2Fa-lanpada%2F&psig=AOvVaw1b_1R9J3QD5FgZseUpYodX&ust=1606600912025000&source=images&cd=vfe&ved=0CAIQjRxqFwoTCICK-_vco-0CFQAAAAAdAAAAABAK

Entendendo a crônica:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Metodista: seguidor de seita anglicana, caracterizada por grande austeridade.

·        Pândega: farra, folia.

·        Singer: marca de máquina de costura.

·        Incoerentemente: contraditoriamente.

·        Obstinar-se: aferrar-se a uma ideia, teimar.

·        De borco (ô): de bruços.

·        Velava: encobria, tornava sombrio.

·        Blasfema: pessoa que diz blasfêmias (ofensas contra Deus ou contra pessoas ou coisas respeitáveis).

·        Arquejante: ofegante.

02 – Qual é o cenário do desentendimento?

      É uma casa de família em que a mãe é metodista, o pai sofre de câncer e a filha não aceita sua posição social.

03 – Qual o assunto do texto?

      Uma garota, cuja mãe é religiosa e o pai está doente, revolta-se com a mãe que contraria seus desejos de diversão e de liberdade.

04 – Como poderíamos caracterizar Lu?

      Lu é adolescente, seus olhos são verdes e muitos grandes, seu corpo é fino e suas mãos, longas e brancas. Quer aproveitar a vida: passear, sair, ir ao cinema, fazer coisas que pessoas de sua idade fazem.

05 – Qual é o conflito presente no texto?

      É o conflito entre pais e filhos e, mais profundamente, o conflito entre o prazer e a morte.

06 – Como se sente D. Mag em relação à filha?

      D. Mag sente que, apesar de seus esforços, Deus a castigou.

07 – Como se sente Lu em relação à família? Justifique com palavras do texto.

      Lu não se sente parte da família e tem ódio do pai e da mãe. “—Eu tenho ódio dela. Tenho ódio dele. Dos dois!”; “Ódio, ódio, ódio.”

08 – Que concepção de felicidade tem Lu?

      Lu quer divertir-se, ser feliz, namorar, viajar. Chamar a atenção do aluno para o fato de que Lu, no afã de aproveitar a vida, pensa somente nas coisas mais prazerosas que ela pode lhe oferecer.

09 – Que papel representa Fernanda nesse conflito?

      Fernanda é a testemunha do drama familiar, amiga e conselheira de Lu.

10 – Por que Fernanda se condói com o drama de Lu?

      Como está grávida, ela se preocupa com as relações que terá, no futuro, com a filha ou filho que irá nascer.

11 – O texto é narrado em terceira pessoa, por um narrador onisciente. Justifique a afirmação usando elementos do texto.

      O autor conhece os sentimentos e pensamentos das personagens. “Fernanda sentia sempre uma opressão quando se via na sala da casa de D. Magnólia.” / “D. Mag chorava no corredor. Por que Deus a castigava assim, dando-lhe uma filha desobediente e blasfema?”

12 – Justifique o título do texto.

      Resposta pessoa do aluno.