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sábado, 22 de agosto de 2020

A LÍNGUA NA LITERATURA BRASILEIRA - MACHADO DE ASSIS - COM GABARITO

 Texto: A língua na literatura brasileira

           Machado de Assis

    Entre os muitos méritos dos nossos livros nem sempre figura o da pureza da língua. Não é raro ver intercalados, em bom estilo, os solecismos da linguagem comum, defeito grave, a que se junta o da excessiva frequência da língua francesa. Este ponto é objeto da divergência entre os nossos escritores.

        Divergência digo, porque, se alguns caem naqueles defeitos por ignorância ou preguiça, outros há que os adaptam por princípio, ou antes por uma exageração de princípio.

        Não há dúvida que as línguas se aumentam e alteram com o tempo e as necessidades dos usos e costumes. Querer que a nossa pare no século de Quinhentos é um erro igual ao de afirmar que a sua transplantação para a América não lhe inseriu riquezas novas. A este respeito a influência do povo é decisiva. Há portanto certos modos de dizer, locuções novas, que de força entram no domínio do estilo e ganham o direito de cidade.

        Mas se isto é um fato incontestável, e se é verdadeiro o princípio que dele se deduz, não me parece aceitável a opinião que admite todas as alterações da linguagem, ainda aquelas que destroem as leis da sintaxe e a essencial pureza do idioma. A influência popular tem um limite; e o escritor não está obrigado a receber e dar curso a tudo o que o abuso, o capricho e a moda inventam e fazem correr. Pelo contrário, ele exerce também uma grande parte de influência a este respeito, depurando a linguagem do povo e aperfeiçoando-lhe a razão.

        Feitas as exceções devidas, não se leem muito os clássicos no Brasil.

        Entre as exceções poderia eu citar até alguns escritores cuja opinião é diversa da minha neste ponto, mas que sabem perfeitamente os Clássicos. Em geral, porém, não se leem, o que é um mal. Escrever como Azurara ou Fernão Mendes seria hoje um anacronismo insuportável. Cada tempo tem o seu estilo. Mas estudar-lhes as formas mais apuradas da linguagem, desentranhar deles mil riquezas que, à força de velhas, se fazem novas – não me parece que se deva desprezar. Nem tudo tinham os antigos, nem tudo temos os modernos; com os haveres de uns e outros é que se enriquece o pecúlio comum.

        Outra coisa de que eu quisera persuadir a mocidade é que a precipitação não lhe afiança muita vida aos seus escritos. Há um prurido de escrever muito e depressa; tira-se disso glória, e não posso negar que é caminho de aplausos. Há intenção de igualar as criações do espírito com as da matéria, como se elas não fossem neste caso inconciliáveis. Faça muito embora um homem a volta do mundo em oitenta dias; para uma obra-prima do espírito são precisos alguns mais.

Machado de Assis.

Entendendo o texto:

01 – Julgue os itens abaixo, em relação à compreensão e à interpretação do texto com V (verdadeiro) F (falso).

(V) Machado de Assis, em seu texto, propõe a mediação, por intermédio dos escritores, entre a tradição e a modernidade.

(V) Conquanto reconheça a necessidade de atualização da língua, o autor se opõe à tácita aceitação de modismos, principalmente por parte dos escritores.

(F) Machado, apesar de defender a preservação da essência linguística do Português, não imputa aos literatos tal responsabilidade.

(F) Ele é de opinião que se pode muito bem prescindir do conhecimento dos clássicos para se saber corretamente a língua culta.

(F) É notória a sua preferência pelo aristocrático e o tradicional e o seu desprezo pelo popular e o moderno.

02 – Julgue os itens que seguem, em relação à teoria e aos estilos de época na Literatura Brasileira.

(V) De roupagem metalinguística, o texto lido pode ser classificado como crônica.

(V) Nele, Machado de Assis faz um ensaio crítico em que, após apresentação de uma tese, expõe os elementos que a compõem.

(V) Evitando o estilo fácil e superficial, o autor leva constantemente o leitor à reflexão, com sua dialética irresistível.

(F) Toda a fundamentação linguística de Machado é profundamente influenciada pelas premissas saussurianas, que então vigoravam no Brasil do século XIX.

03 – Segundo o autor, o que causa divergências entre os escritores?

      Os solecismos da linguagem comum, defeito grave a que se junta o da excessiva influência da língua francesa.

04 – Por que a influência do povo é decisiva em sua língua?

      Porque há certos modos de dizer, locuções novas, entram no domínio do estilo e ganham direito de cidade.

05 – Que influência o escritor exerce sobre a linguagem?

      Ele vai depurando a linguagem do povo e aperfeiçoando-lhe a razão.

06 – Que vem a ser anacronismo?

      Aquilo que está fora do tempo normal, antiquado.

07 – De acordo com Machado de Assis, o que se enriquece o pecúlio comum?

      Nem tudo tinha os antigos, nem tudo temos os modernos com os haveres de uns e outros é que se enriquece o pecúlio comum.

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