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segunda-feira, 26 de agosto de 2019

CRÔNICA: DE QUEM SÃO OS MENINOS DE RUA? MARINA COLASANTI - COM GABARITO

CRÔNICA: DE QUEM SÃO OS MENINOS DE RUA?   
                    Marina Colasanti  

         Eu, na rua, com pressa, e o menino segurou no meu braço, falou qualquer coisa que não entendi. Fui logo dizendo que não tinha, certa de que ele estava pedindo dinheiro. Não estava. Queria saber a hora.
          Talvez não fosse um Menino De Família, mas também não era um Menino De Rua. É assim que a gente divide. Menino De Família é aquele bem-vestido com tênis da moda e camiseta de marca, que usa relógio e a mãe dá outro se o dele for roubado por um Menino De Rua. Menino De Rua é aquele que quando a gente passa perto segura a bolsa com força porque pensa que ele é pivete, trombadinha, ladrão.
          Ouvindo essas expressões tem-se a impressão de que as coisas se passam muito naturalmente, uns nascendo De Família, outros nascendo De Rua. Como se a rua, e não uma família, não um pai e uma mãe, ou mesmo apenas uma mãe os tivesse gerado, sendo eles filhos diretos dos paralelepípedos e das calçadas, diferentes, portanto, das outras crianças, e excluídos das preocupações que temos com elas. É por isso, talvez, que, se vemos uma criança bem-vestida chorando sozinha num shopping center ou num supermercado, logo nos acercamos protetores, perguntando se está perdida, ou precisando de alguma coisa.           Mas se vemos uma criança maltrapilha chorando num sinal com uma caixa de chicletes na mão, engrenamos a primeira no carro e nos afastamos pensando vagamente no seu abandono.
           Na verdade, não existem meninos De Rua. Existem meninos NA rua. E toda vez que um menino está NA rua é porque alguém o botou lá. Os meninos não vão sozinhos aos lugares. Assim como são postos no mundo, durante muitos anos também são postos onde quer que estejam. Resta ver quem os põe na rua. E por quê.
            No Brasil temos 36 milhões de crianças carentes. Na China existem 35 milhões de crianças superprotegidas. São filhos únicos resultantes da campanha Cada Casal um Filho, criada pelo governo em 1979 para evitar o crescimento populacional. O filho único, por receber afeto "em demasia", torna-se egoísta, preguiçoso, dependente, e seu rendimento é inferior ao de uma criança com irmãos. Para contornar o problema, já existem na China 30 mil escolas especiais. Mas os educadores admitem que "ainda não foram desenvolvidos métodos eficazes para eliminar as deficiências dos filhos únicos".
             O Brasil está mais adiantado. Nossos educadores sabem perfeitamente o que seria necessário para eliminar as deficiências das crianças carentes. Mas aqui também os "métodos ainda não foram desenvolvidos".
                Quando eu era criança, ouvi contar muitas vezes a história de João e Maria, dois irmãos filhos de pobres lenhadores, em cuja casa a fome chegou a um ponto em que, não havendo mais comida nenhuma, foram levados pelo pai ao bosque, e ali abandonados. Não creio que os 7 milhões de crianças brasileiras abandonadas conheçam a história de João e Maria. Se conhecessem talvez nem vissem a semelhança. Pois João e Maria tinham uma casa de verdade, um casal de pais, roupas e sapatos. João e Maria tinham começado a vida como Meninos De Família, e pelas mãos do pai foram levados ao abandono.
               Quem leva nossas crianças ao abandono? Quando dizemos "crianças abandonadas" subentendemos que foram abandonadas pela família, pelos pais. E, embora penalizados, circunscrevemos o problema ao âmbito familiar, de uma família gigantesca e generalizada, à qual não pertencemos e com a qual não queremos nos meter. Apaziguamos assim nossa consciência, enquanto tratamos, isso sim, de cuidar amorosamente de nossos próprios filhos, aqueles que "nos pertencem".
              Mas, embora uma criança possa ser abandonada pelos pais, ou duas ou dez crianças possam ser abandonadas pela família, 7 milhões de crianças só podem ser abandonadas pela coletividade. Até recentemente, tínhamos o direito de atribuir esse abandono ao governo, e responsabilizá-Io. Mas, em tempos de Nova República*, quando queremos que os cidadãos sejam o governo, já não podemos apenas passar adiante a responsabilidade. A hora chegou, portanto, de irmos ao bosque, buscar as crianças brasileiras que ali foram deixadas.

(COLASANTI, Marina. A casa das palavras. São Paulo: Ática, 2002.)

Fonte: Livro – Tecendo Linguagens – Língua Portuguesa – 7º ano – Ensino Fundamental – IBEP p. 254/255.
POR DENTRO DO TEXTO:

01 – Que fato narrado no primeiro parágrafo desencadeou a reflexão desenvolvida ao longo do texto?
      O fato de o narrador-personagem ter sido abordado por um menino na rua. Inicialmente, ele nem o ouviu direito e achou que o menino pedia algo. No entanto, o garoto só queria saber as horas.

02 – No texto, a categoria meninos é dividida em dois grandes grupos.
a)   Quais são esses grupos?
“Menino de Família” e “Menino de Rua”.

b)   Como eles são diferenciados no texto?
Eles são diferenciados pela forma como, em geral, são vistos: o “Menino de Família” é bem-vestido, tem mãe; o “Menino de Rua” geralmente rouba o relógio do “Menino de Família” e é visto como uma ameaça; um trombadinha, pivete, ladrão.

c)   Em sua opinião, o texto pode ser considerado preconceituoso por estabelecer essa divisão?
Resposta pessoal.

d)   O menino a quem a autora se refere no início da crônica se encaixa em qual dos dois grupos? Justifique sua resposta transcrevendo um trecho do texto.
O menino não se encaixa em qualquer um dos grupos, como pode ser confirmado no trecho “Talvez não fosse um Menino de Família, mas também não era um Menino de Rua.”

03 – A crônica descreve a diferença no comportamento das pessoas diante de uma criança bem-vestida chorando e de uma criança maltrapilha fazendo o mesmo.
a)   Qual é essa diferença?
O texto descreve que uma criança bem-vestida chorando costuma receber atenção, proteção, enquanto uma maltrapilha costuma ser ignorada.

b)   Em sua opinião, por que acontece essa diferença de comportamento?
Resposta pessoal do aluno.

c)   O que, provavelmente, a autora quis dizer ao usar a expressão “filhos diretos dos paralelepípedos e das crianças?
Provavelmente, ela quis dizer que as crianças são consideradas filhas da rua, como se ninguém as tivesse gerado, como se não tivessem família.

04 – O texto estabelece um paralelo entre as 36 milhões de crianças carentes do Brasil e as 35 milhões de crianças superprotegidas da China, associando alguns problemas a cada uma dessas realidades.
     a) Pesquise na internet ou em livros de História a respeito da política de natalidade da China, que pode contextualizar a informação apresentada pela autora.
         Os alunos devem compreender melhor a política do filho único, implantada na China na década de 1970, como forma de controlar o crescimento populacional.

     b) Quais problemas são associados aos filhos únicos da China?
         Segundo o texto, muitos filhos únicos na China, por receber afeto “em demasia”, tornam-se egoístas, preguiçosos, dependentes, e seu rendimento é inferior ao de uma criança com irmãos. Deve-se trabalhar com os alunos que não se trata de uma regra e que certamente não se pode generalizar tal afirmação.

     c)Levante uma hipótese: o que pode ter gerado, no Brasil, 36 milhões de crianças carentes? Pesquise na internet se houve mudança nesse número.
        Resposta pessoal do aluno.

05 – Agora é sua vez de produzir um texto. Para isso, releia a crônica e tome nota sobre: situação-problema, questão controversa, dados sobre crianças em situação de rua, responsabilidade pelo problema e conclusão. Produza então um resumo, usando essas anotações.
      A autora relata que um menino segurou em seu braço e a assustou, o que a motivou a refletir sobre a ideia de menino de rua e menino de família e a forma preconceituosa como pessoas lidam com esse problema. A autora apresenta dados da época que denunciavam em torno de 7 milhões de crianças abandonadas, procurando mostrar que a responsabilidade não é apenas da família, mas de toda a sociedade.

06 – Para você, qual foi a mensagem mais importante do texto em relação à proteção da infância? Explique.
      Resposta pessoal do aluno.

07 – Em sua opinião, por que foi utilizada a letra inicial maiúscula nos termos destacados no trecho a seguir?
        “Talvez não fosse um Menino de Família, mas também não era um Menino de Rua.
      Resposta pessoal do aluno.

08 – Releia: “Na verdade, não existem Meninos de Rua. Existem meninos Na rua. E toda vez que um menino está Na rua é porque alguém o botou lá. [...]”.
        Qual é a diferença de sentido entre os termos destacados? Qual é o efeito de sentido gerado pelo uso desses termos, no excerto?
     Enquanto “de Rua” caracteriza “meninos” em uma situação permanente, “Na rua” dá a ideia de um estado momentâneo.

09 – No penúltimo parágrafo, há uma pergunta que estimula a reflexão do leitor. Releia: “Quem leva nossas crianças ao abandono?”
a)   Qual é a resposta sugerida para essa pergunta, no próprio texto?
Que todos nós, como indivíduos que formam a coletividade, somos responsáveis pelo abandono dessas crianças.

b)   Você concorda com esse posicionamento?
Resposta pessoal do aluno.





22 comentários:

  1. Igual minha professora passo as questões kkk obg

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  2. Muito obrigada as resposta estão corretas

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  3. Muito obrigado me ajudou muito com a atividade

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  4. Muito obg as respostas estao todas certs

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  5. A minha professora não deu essas respostas tô triste aaaaaaaaa

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  6. Obrigado estava presisando muiiiito disso para um trabalho de português

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  7. Qual o tipo de narrador está presente no texto?

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  8. NOSSA EU AMEI TODAS AS QUESTÃO SÃO IGUAIS AS QUE A PROFESSORA MANDO!!!

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  9. Tem mais alguma crônica que estabeleça relação intelectual com essa crônica de que são os meninos de rua???

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  10. A pessoa que fez isso já tem um lugar guardado no ceu, eu te amo pessoa desconhecida te amo

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