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quarta-feira, 19 de junho de 2019

FÁBULA: DE UM QUATI CHAMADO CHICO - VALDIR PACCINI - COM GABARITO

Fábula: De um Quati chamado Chico             

            VALDIR PACCINI

    Este texto faz parte de um projeto de livro que está sendo executado em parceria com DIMER J. WEBBER, denominado provisoriamente MITOLOGIA CASCAVELENSE.
   Cortando a região sul de Cascavel, há um pequeno riacho batizado com o nome de Rio Quati. Não à toa, o nome foi dado em homenagem ao simpático e atrevido mamífero da família dos procionídeos, que até hoje habita as imediações.
        Os quatis de Cascavel são, portanto, a maior prova de que é possível conciliar o desenvolvimento econômico com a preservação do meio ambiente. Além disso, mostram que é possível ao homem conviver em harmonia com a natureza. Vejamos a história real do Chico, um quati muito esperto.
        Nas proximidades do atual aeroporto de Cascavel, por onde passa o Rio Quati, há várias chácaras e sítios com reservas de florestas nativas, onde os referidos bichos fazem, até hoje, seus costumeiros passeios em busca de alimentação e também de lazer. Num desses sítios, uma lotada de uns trinta quatis aparecia com bastante frequência, intrigando o caseiro.
        Chico era um quatizinho muito simpático nascido a uns dez quilômetros ao norte da região do aeroporto, na mesma época em que também vieram à luz, naquela morada, outros quatizinhos de ambos os sexos. Tão logo iniciou suas primeiras atividades independentes, mas ainda muito jovem para se defender das emboscadas impostas pela vida e pelos caminhos por onde andava, seus pais, como o são quase todos, lhe orientavam dizendo na linguagem quatinês:
        – Cuidado com essas escapadas! Escolha bem as suas companhias! Veja bem com quem você anda! Não vá se meter em encrencas! E Chico, já se achando maduro o suficiente, respondia:
        – Não se preocupem. Sei o que estou fazendo! Posso me cuidar sozinho.
        Além de seus pais, havia também a Chica, uma quatizinha da mesma idade que gostava muito dele e tentava mantê-lo o mais próximo possível, sob sua guarda e proteção, como fazem as mães, as esposas, as namoradas, etc. Mas Chico, se sentindo diferente de todos, meio intransigente, meio contestador, meio dono do próprio nariz alongado, apesar de sentir certa paixão por Chica, teimava fazer tudo do jeito que sua adolescência prescrevia.
        Saía sem pedir permissão. Demorava voltar para casa. Vivia intensamente a sua liberdade. Nada era capaz de detê-lo, até que numa incursão feita pelo grupo ao sítio daquele caseiro incomodado, Chico acabou sendo preso em uma armadilha previamente arrumada para ele.
        No começo ele sentiu-se privado de sua tão preciosa liberdade. Imaginou que seus companheiros viessem lhe salvar, mas demorariam muito tempo a voltar. Com o curso dos dias ele foi se ambientando e passou a apreciar a comida diferente que o caseiro lhe servia. Acabou viciado, de modo que se sentia muito bem quando vinham lhe oferecer a comida caseira. Perdeu o contato com seus companheiros de passeio, mas a sua docilidade foi se tornando tão clara que conquistou a liberdade.
        Durante alguns meses Chico ficou por ali, ao redor da casa, convivendo com o caseiro e sua família, como se fosse um cão. O jovem quati estava totalmente domesticado e parecia ter esquecido para sempre suas origens, até que um belo dia, o grupo de quatis que o havia extraviado meses antes, resolveu aparecer na propriedade.
        O caseiro pensou que, devido ao fato de Chico ter se acostumado com a nova vida, jamais ousaria voltar para o seu bando. Contudo, o quatizinho se mostrou hesitante. Volvia seus olhos brilhantes entre a lotada e o caseiro, demonstrando o cruel dilema entre ficar ou partir. E o instinto ou a natureza do bichinho sopesou no último momento. Quando o grupo já se deslocava visando partir, Chico saiu correndo visando alcançá-lo. E se foi com os seus entes como quem se vai para nunca mais voltar!
        O sentimento do caseiro e de sua família foi qual a perda de um ente próximo e querido. Ele que era acostumado a sacrificar alguns animais silvestres para servir de alimentação, prometeu que jamais imolaria qualquer outro ser vivo.
        Contudo, em torno de um mês mais tarde, Chico voltou sozinho. Quando avistado ao longe, se mostrava trôpego, triste, cansado, enfim todo estropiado. Chegou-se à conclusão de que seu reingresso no grupo fora recusado, e de que, por conta de sua insistência, tivera recebido como reprimenda uma série de violência física advinda de seus próprios pares.
        O caseiro o abrigou mais uma vez, como quem recebe o filho pródigo. Deu-lhe carinho, alimento e tratamento. Contudo, alguns dias mais tarde, o grupo de quatis fez nova incursão naquele sítio e Chico de maneira irreprimível decidiu acompanhá-lo em nova tentativa de regresso.
        Nessas alturas da história, Chico já era um quati adulto e com a experiência de perambular sozinho pelas margens do Rio Quati. Presume-se que ele tenha sido aceito de volta ao seu habitat devido a sua persistência, à sua capacidade de superar desafios, e ao conhecimento que adquirira no relacionamento com o ser humano. O que se sabe, com certeza, é que Chico retornara muitas vezes ao sítio, tal qual um parente que vem nos visitar de vez em quando, inicialmente em companhia da amada Chica, e depois, além dela, trazia consigo alguns quatizinhos que pareciam ser seus filhotes.                
        Moral da história: A desobediência do jovem é natural, assim como é natural a qualquer ser vivo aprender as lições que a vida ensina.

Entendendo a fábula:

01 – Quais são os personagens dessa fábula?
      Chico, o caseiro, Chica e o grupo de quatis.

02 – Todas as ações da fábula se passam no mesmo dia? Explique.
      Não, pois o Chico teve no sítio em vários momentos de sua vida.

03 – Que outro título você daria à fábula?
      Resposta pessoal do aluno.

04 – Numa fábula há sempre uma crítica a determinado tipo de comportamento que se deveria evitar. Nessa fábula a crítica refere-se a que tipo de atitude?
      Refere-se as atitudes de Chico que se sentia diferente de todos, meio intransigente, meio contestador, meio dono de seu próprio nariz.

05 – A moral desta fábula apresenta uma reflexão sobre o comportamento humano. Você acredita que existam pessoas que agem assim? Justifique sua resposta.
      Resposta pessoal do aluno.

06 – Você seria capaz de lembrar de alguma situação da vida real onde o contexto da fábula se aplicaria?
      Resposta pessoal do aluno.

07 – Qual o desfecho (situação final) da fábula?
      O Chico foi aceito de volta ao seu habitat, devido sua persistência e a capacidade de superar desafios, mas sempre voltava ao sítio, da qual um parente que vem visitar de vez enquanto, acompanhado de Chica e seus quatizinhos.


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