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sábado, 4 de maio de 2019

POEMA: AOS VÍCIOS - GREGÓRIO DE MATOS - COM GABARITO

Poema: Aos vícios
       
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    Gregório de Matos

Eu sou aquele que os passados anos
Cantei na minha lira maldizente
Torpezas do Brasil, vícios e enganos.
E bem que os descantei bastantemente,


Canto segunda vez na mesma lira
O mesmo assunto em pletro diferente.

Já sinto que me inflama e que me inspira
Talía, que anjo é da minha guarda
Des que Apolo mandou que me assistira.

Arda Baiona, e todo o mundo arda,
Que a quem de profissão falta à verdade
Nunca a dominga das verdades tarda.

Nenhum tempo excetua a cristandade
Ao pobre pegureiro do Parnaso
Para falar em sua liberdade

A narração há de igualar ao caso,
E se talvez ao caso não iguala,
Não tenho por poeta o que é Pégaso.

De que pode servir calar quem cala?
Nunca se há de falar o que se sente?!
Sempre se há de sentir o que se fala.

Qual homem pode haver tão paciente,
Que, vendo o triste estado da Bahia,
Não chore, não suspire e não lamente?

Isto faz a discreta fantasia:
Discorre em um e outro desconcerto,
Condena o roubo, increpa a hipocrisia.

O néscio, o ignorante, o inexperto,
Que não eleje o bom, nem mau reprova,
Por tudo passa deslumbrado e incerto.

E quando vê talvez na doce treva
Louvado o bem, e o mal vituperado,
A tudo faz focinho, e nada aprova.

Diz logo prudentaço e repousado:
- Fulano é um satírico, é um louco,
De língua má, de coração danado.

Néscio, se disso entendes nada ou pouco,
Como mofas com riso e algazarras
Musas, que estimo ter, quando as invoco?

Se souberas falar, também falaras,
Também satirizaras, se souberas,
E se foras poeta, poetizaras.

A ignorância dos homens destas eras
Sisudos faz ser uns, outros prudentes,
Que a mudez canoniza bestas feras.

Há bons, por não poder ser insolentes,
Outros há comedidos de medrosos,
Não mordem outros não - por não ter dentes.

Quantos há que os telhados têm vidrosos,
e deixam de atirar sua pedrada,
De sua mesma telha receosos?

Uma só natureza nos foi dada;
Não criou Deus os naturais diversos;
Um só Adão criou, e esse de nada.

Todos somos ruins, todos perversos,
Só os distingue o vício e a virtude,
De que uns são comensais, outros adversos.

Quem maior a tiver, do que eu ter pude,
Esse só me censure, esse me note,
Calem-se os mais, chitom, e haja saúde.

                                     Gregório de Matos. Op. cit. vol. II, pág. 468.
Entendendo o poema:
01 – De o significado das palavras abaixo:
·        Canonizar: considerar santo, incluir no rol dos santos.
·        Quem maior a tiver: quem tiver virtude maior.
·        Chitom: silêncio!

02 – Releia a terceira estrofe. Como o poeta justifica as suas críticas?
      Segundo ele, a lamentável situação da Bahia prova que suas críticas são justas.

03 – Quantas estrofes e quantos versos possui o poema?
      Possui 20 estrofes e 60 versos.

04 – Segundo ele, por diversos motivos as pessoas deixam de exercer o direito de criticar. Mencione alguns desses motivos.
      A incapacidade. A ignorância. A Falsidade e o Temor.

05 – Releia as três últimas estrofes. Podemos ver nelas o pessimismo contra reformista do homem barroco? Por quê?
      Sim. Porque, segundo o autor, a natureza humana é essencialmente má.

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