REPORTAGEM: Babaçu livre
A
expansão da pecuária e de outros interesses econômicos na região dos babaçuais
ameaça o trabalho das quebradeiras de coco, fundamental para a sobrevivência de
diversos grupos extrativistas do meio-norte do país
Do babaçu, tudo se aproveita. Essa é
uma frase comum na chamada região dos babaçuais, localizada na faixa de
transição para a floresta Amazônica. Com cerca de 18,5 milhões de hectares
(algo equivalente a 75% do estado de São Paulo), sua área inclui terras de
várias unidades da federação, principalmente do Maranhão, Pará, Piauí e
Tocantins. Locais onde, para milhares de famílias, babaçu é quase um sinônimo
de sobrevivência. Da folha dessa palmeira, que pode chegar a 20 metros de
altura e tem inflorescência em cachos, faz-se telhado para as casas, cestas e
outros objetos artesanais; do caule, adubo e estrutura de construções; da casca
do coco produz-se carvão para fazer o fogo, e, do seu mesocarpo, o mingau usado
na nutrição infantil; da amêndoa obtêm-se óleo, empregado sobretudo na
alimentação mas também como combustível e lubrificante, e na fabricação de
sabão.
“Que eu conheça, o babaçu tem 49
utilidades diferentes, mas acredito que sejam mais”, conta Emília Alves, de 53
anos, dos quais mais de 30 coletando o coco que cai da palmeira. Trata-se de
uma atividade tradicionalmente feminina, muito cantada nas músicas das “quebradeiras
de coco” (como elas mesmas se autodenominam) e indissociável do modo de vida de
diversas comunidades da região, onde, diz-se, toda mulher foi, é ou será um dia
quebradeira de coco. Há várias gerações, lá estão elas com um machado preso sob
uma das pernas e um porrete de madeira na mão, arrebentando diariamente
centenas de cocos para extrair as amêndoas. Apesar de não haver dados oficiais,
calcula-se que, no Brasil, entre 300 mil e 400 mil extrativistas sobrevivam
dessa atividade. Para se ter uma ideia, é um número semelhante ao total de
índios aldeados que, segundo a Fundação Nacional do Índio (Funai), vivem
atualmente no Brasil.
Atualmente, Emília é coordenadora
executiva da Regional do Tocantins do Movimento Interestadual das Quebradeiras
de Coco Babaçu (MIQCB), presente em quatro estados brasileiros (Maranhão, Pará,
Piauí e Tocantins). A entidade tem como principal bandeira aquela que,
historicamente, é a grande reivindicação das quebradeiras de coco: o direito de
livre acesso aos babaçuais.
Entre proprietários de terra da região,
são comuns reclamações de que as quebradeiras de coco estariam cortando cercas
com o objetivo de fazer um caminho mais curto até os babaçuais. Muitas vezes
também estariam deixando a casca do coco espalhada pelo chão, provocando
ferimentos nos casos dos animais. Além disso, a realização de “caieiras” –
método artesanal para a fabricação do carvão a partir da queima casca do coco –
dentro das propriedades é criticada sob a alegação de que traz risco de
incêndios.
A expansão da fronteira agrícola e,
principalmente, da atividade pecuária tem gerado um aumento significativo do
desmatamento e dos conflitos de interesse relacionados à utilização dos
babaçuais. Diversas áreas estão sendo devastadas para dar lugar ao pasto,
situação que provoca tensões inclusive em unidades de conservação oficialmente
reconhecidas, como as reservas extrativistas do Ciriaco e Mata Grande, além do
Parque Estadual do Mirador, todos no Maranhão. No início de 2005, uma ação da
Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Naturais (Sema) daquele estado
resultou na retirada de 9 mil cabeças de gado de dentro do parque.
CAMPOS,
André. Babaçu livre. Portal Repórter Brasil
Agência de Notícias / Reportagens, 3 abr. 2006.
Entendendo o texto:
01 – Como as quebradeiras de
coco poderiam conviver com os proprietários de terra dos babaçuais?
As resposta devem
variar. É importante que os alunos contemplem os dois lados do conflito,
conciliando a atividade que você sustento às quebradeiras e os interesses dos
proprietários em criar gado e cultivar a lavoura.
02 – O babaçu é um recurso
natural renovável. Por que a criação de pastos seria uma ameaça para o babaçu?
A criação de
pastos ameaça o babaçu porque provoca a derrubada de muitas árvores e impede
sua reprodução.
03 – De que região é colhido
o babaçu?
De acordo com o texto, é do Maranhão, Pará,
Piauí e Tocantins.
04 – De acordo com a Emília
Alves, quantas utilidades tem o Babaçu?
Possui mais de 49 utilidades diferentes.
05 – Por quem é catado os
coco que cai das palmeiras?
É uma atividade tradicionalmente
feminina.
06 – Quem é a Coordenadora
Executiva da Regional do Tocantins do Movimento Interestadual das Quebradeiras
de coco Babaçu (MIQCB)?
A Coordenadora é
Emília Alves, de 53 anos.
07 – Qual é a reclamação dos
fazendeiros da região?
Que as
quebradeiras de coco estariam cortando cercas com o objetivo de fazer um
caminho mais curto até os babaçuais.
Que estariam deixando a casca do coco
espalhada pelo chão, provocando ferimentos nos casos dos animais.
08 – Qual é o título do
texto e quem é o autor?
O título é Babaçu
Livre escrito pelo André Campos.
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