Texto: O BOM HUMOR FAZ BEM PARA SAÚDE
O bom
humor é, antes de tudo, a expressão de que o corpo está bem
Por Fábio Peixoto
“Procure ver o lado bom das coisas ruins.”
Essa frase poderia estar em qualquer livro de autoajuda ou parecer um conselho
bobo de um mestre de artes marciais saído de algum filme ruim. Mas, segundo os
especialistas que estudam o humor a sério, trata-se do maior segredo para viver
bem.
(...)
O bom humor é, antes de tudo, a
expressão de que o corpo está bem. Ele depende de fatores físicos e culturais e
varia de acordo com a personalidade e a formação de cada um. Mas, mesmo sendo o
resultado de uma combinação de ingredientes, pode ser ajudado com uma visão
otimista do mundo. “Um indivíduo bem humorado sofre menos porque produz mais
endorfina, um hormônio que relaxa”, diz o clínico geral Antônio Carlos Lopes,
da Universidade Federal de São Paulo. Mais do que isso: a endorfina aumenta a
tendência de ter bom humor. Ou seja, quanto mais bem-humorado você está, maior
o seu bem-estar e, consequentemente, mais bem-humorado você fica. Eis aqui um
círculo virtuoso, que Lopes prefere chamar de “feedback positivo”. A endorfina
também controla a pressão sanguínea, melhora o sono e o desempenho sexual.
(Agora você se interessou, né?)
Mas, mesmo que não houvesse tantos
benefícios no bom humor, os efeitos do mau humor sobre o corpo já seriam
suficientes para justificar uma busca incessante de motivos para ficar feliz.
Novamente Lopes explica por quê: “O indivíduo mal-humorado fica angustiado, o
que provoca a liberação no corpo de hormônios como a adrenalina. Isso causa
palpitação, arritmia cardíaca, mãos frias, dor de cabeça, dificuldades na
digestão e irritabilidade”. A vítima acaba maltratando os outros porque não
está bem, sente-se culpada e fica com um humor pior ainda. Essa situação pode
ser desencadeada por pequenas tragédias cotidianas – como um trabalho inacabado
ou uma conta para pagar -, que só são trágicas porque as encaramos desse modo.
Evidentemente, nem sempre dá para achar
graça em tudo. Há situações em que a tristeza é inevitável – e é bom que seja
assim. “Você precisa de tristeza e de alegria para ter um convívio social
adequado”, diz o psiquiatra Teng Chei Tung, do Hospital das Clínicas de São
Paulo. “A alegria favorece a integração e a tristeza propicia a introspecção e
o amadurecimento.” Temos de saber lidar com a flutuação entre esses estágios,
que é necessária e faz parte da natureza humana.
O humor pode variar da depressão (o
extremo da tristeza) até a mania (o máximo da euforia). Esses dois estados são
manifestações de doenças e devem ser tratados com a ajuda de psiquiatras e
remédios que regulam a produção de substâncias no cérebro. Uma em cada quatro
pessoas tem, durante a vida, pelo menos um caso de depressão que mereceria
tratamento psiquiátrico.
Enquanto as consequências deletérias do
mau humor são estudadas há décadas, não faz muito tempo que a comunidade
científica passou a pesquisar os efeitos benéficos do bom humor. O interesse no
assunto surgiu há vinte anos, quando o editor norte-americano Norman Cousins
publicou o livro Anatomia de uma Doença, contando um impressionante caso de cura
pelo riso. Nos anos 60, ele contraiu uma doença degenerativa que ataca a coluna
vertebral, chamada espondilite ancilosa, e sua chance de sobreviver era de
apenas uma em quinhentas.
Em vez de ficar no hospital esperando
para 70 virar estatística, ele resolveu sair e se hospedar num hotel das
redondezas, com autorização dos médicos. Sob os atentos olhos de uma
enfermeira, com quase todo o corpo paralisado, Cousins reunia os amigos para
assistir a programas de “pegadinhas” e seriados cômicos na TV. Gradualmente foi
se recuperando até poder voltar a viver e a trabalhar normalmente. Cousins
morreu em 1990, aos 75 anos. Se Cousins saiu do hospital em busca do humor,
hoje há muitos profissionais de saúde que defendem a entrada das risadas no dia
a dia dos pacientes internados.
Uma boa gargalhada é um método ótimo de
relaxamento muscular. Isso ocorre porque os músculos não envolvidos no riso
tendem a se soltar – está aí a explicação para quando as pernas ficam bambas de
tanto rir ou para quando a bexiga se esvazia inadvertidamente depois daquela
piada genial. Quando a risada acaba, o que surge é uma calmaria geral. Além
disso, se é certo que a tristeza abala o sistema imunológico, sabe-se também
que a endorfina, liberada durante o riso, melhora a circulação e a eficácia das
defesas do organismo. A alegria também aumenta a capacidade de resistir à dor,
graças também à endorfina.
Evidências como essa fundamentam o
trabalho dos Doutores da Alegria, que já visitaram 170.000 crianças em
hospitais. As invasões de quartos e UTIs feitas por 25 atores vestidos de
“palhaços-médicos” não apenas aceleram a recuperação das crianças, mas motivam
os médicos e os pais. A psicóloga Morgana Masetti acompanha os Doutores há sete
anos. “É evidente que o trabalho diminui a medicação para os pacientes”, diz
ela.
O princípio que torna os Doutores da
Alegria engraçados tem a ver com a flexibilidade de pensamento defendida pelos
especialistas em humor – aquela ideia de ver as coisas pelo lado bom. “O clown
não segue a lógica à qual estamos acostumados”, diz Morgana. “Ele pode passar
por um balcão de enfermagem e pedir uma pizza ou multar as macas por excesso de
velocidade.” Para se tornar um membro dos Doutores da Alegria, o ator passa num
curioso teste de autoconhecimento: reconhece o que há de ridículo em si mesmo e
ri disso. “Um clown não tem medo de errar – pelo contrário, ele se diverte com
isso”, diz Morgana. Nem é preciso mencionar quanto mais de saúde haveria no
mundo se todos aprendêssemos a fazer o mesmo.
Super.abril.com.br/saúde/bom-humor-faz-bem-saude-441550.shtml
- acesso em 11 de abril de 2015, às 11h.
Entendendo o texto:
01 – A expressão “em
qualquer livro de autoajuda” e “saído de algum filme ruim”, revela, segundo o
autor, a concepção de que:
a) é possível receber
aconselhamentos sobre bom humor e saúde somente através de estudos feitos por
especialistas.
b) os livros de autoajuda e
os filmes, mesmo os considerados de má qualidade, utilizam-se, com seriedade,
do tema do ‘bom humor versus saúde’.
c) os gêneros de
qualidade duvidosa, também se apropriam de temas como “bom humor versus saúde.”
d) os livros e filmes ruins
se apropriam de temas sérios como “humor e saúde” para terem mais credibilidade
junto ao mercado consumidor.
02 – Segundo o texto, sobre
os efeitos do mau humor no corpo, é correto afirmar que:
a) justificam pequenas
tragédias do dia a dia, que poderiam ser evitadas.
b) impossibilitam o
relacionamento entre as pessoas e o mal-humorado se isola cada vez mais.
c) favorecem um convívio
social saudável, uma vez que equilibram as relações entre pessoas.
d) desencadeiam um
círculo vicioso em que o mal humorado passa a ficar cada vez mais mal-humorado.
03 – A ideia principal do
texto pode ser sintetizada na seguinte frase:
a) “Rindo, corrigem-se os
erros.”
b) “Rir é o melhor
remédio.”
c) “Quem ri por último, ri
melhor.”
d) “Rir de tudo é
desespero.”
04) Assinale a opção cuja
expressão em destaque introduz um juízo de valor (julgamento) do locutor do
texto.
a) “Mas, mesmo que não
houvesse tantos benefícios no bom humor, os efeitos do mau humor sobre o
corpo já seriam suficientes...”
b) “Há situações
em que a tristeza é inevitável – e é bom que seja assim.”
c) “A alegria também aumenta
a capacidade de resistir à dor, graças também à endorfina.”
d) “Ou seja, quanto
mais bem-humorado você está, maior o seu bem-estar e, consequentemente, mais
bem humorado você fica.”
05 – Sobre o texto, pode-se
afirmar que:
a) bom humor é
indício de saúde física e psicológica.
b) o otimismo é causado pelo
bom humor e o pessimismo é resultado do mau humor.
c) bom humor e mau humor são
variações de caráter que tendem a se manter em equilíbrio.
d) a cultura é fator crucial
na manifestação dos humores.
06 – Leia o enunciado
abaixo: “O bom humor é, antes de tudo, a expressão de que o corpo está bem.”
Sobre ele é correto afirmar que:
a) a expressão “antes de tudo” enfatiza um
aspecto temporal.
b) o vocábulo “bem” exerce a função sintática
de predicativo do sujeito.
c) a segunda
oração do período complementa o sentido da palavra “expressão”.
d) o verbo “ser e estar” são verbos de
ligação.
07 – Assinale a alternativa
que associa corretamente o trecho do texto à função da linguagem em
predominância.
a) “Procure ver o lado bom
das coisas ruins.” – (Função Emotiva)
b) “Um indivíduo
bem-humorado sofre menos porque produz mais endorfina...” – (Função Conativa)
c) “Agora você se
interessou, né?” – (Função Fática)
d) “Nos anos 60, ele
contraiu uma doença degenerativa que ataca a coluna vertebral ...” – (Função Expressiva)
08 – Assinale a alternativa
em que a preposição de
estabelece a mesma relação semântica presente na frase abaixo. “...num curioso
teste de autoconhecimento:
...”
a) “...as pernas bambas de tanto rir.”
b) “Você precisa de tristeza e de alegria...”
c) “Sob os olhos atentos de uma enfermeira.”
d) “...há muitos
profissionais de saúde...”
09 – Assinale a opção cuja
palavra entre parênteses NÃO substitui corretamente a destacada nas
alternativas.
a) “Enquanto as
consequências deletérias do
mau humor são estudadas há décadas...” - (NOCIVAS)
b) “Eis aqui um círculo virtuoso, que Lopes prefere chamar
de “feedback positivo” (EFICAZ)
c) “Nos anos 60,
ele contraiu uma doença degenerativa
que ataca a coluna vertebral, (...)” (FATAL)
d) “A alegria favorece a
integração e a tristeza propicia a introspecção
e o amadurecimento.” – (INTERIORIZAÇÃO)
10 – Assinale a alternativa
que NÃO apresenta infrações no que
diz respeito à regência e à concordância.
a) Grande parte das pessoas
prefere lamentar do que buscar soluções para complexos problema e situação.
b) Os doutores da alegria já
assistiram a 170.000 mil crianças nas UTIs, noventa por cento delas apresentou
melhoras.
c) Não agrada ninguém um
trabalho inacabado ou uma conta a pagar, mas encará-los como tragédia cotidiana
desencadeia o mau humor.
d) Aversões ao
erro e ao ridículo são fatores favoráveis para o surgimento do mau humor.
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