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sábado, 25 de agosto de 2018

ARTIGO DE OPINIÃO: CADA UM É CADA UM - JOSÉ ROBERTO TORERO - COM GABARITO


Artigo de Opinião: Cada um é cada um
                                                                JOSÉ ROBERTO TORERO
                                                                   COLUNISTA DA FOLHA 

   Cada um é cada um, diz a sabedoria popular. E, ouvindo diferentes pessoas contarem o mesmo gol, chega-se à conclusão de que esta é uma verdade inquestionável, uma lei irrefutável.
       Alguns falam rapidamente, outros são lentos, alguns têm um vocabulário rebuscado, outros inventam gírias, uns capricham nos erres, outros deslizam nos esses, uns são fanhos, outros são gagos etc. E cada um conta o gol que viu de um jeito particular, único.
        Quereis exemplos que comprovem tal tese, desconfiado leitor e descrente leitora? Pois dar-vos-ei. Tomemos então, para fins de comprovação, o segundo gol do Paysandu contra o Palmeiras:
        O narrador objetivo falaria: "Aos 23 min do segundo tempo, Luís Fernando cruzou para Trindade, que cabeceou a bola e fez 2 a 1".
        O econômico diria: "Luís. Cruzamento. Trindade. Cabeça.   Bola. Redes. Gol".
           O interrogativo: "E não é que o Paysandu ganhou, mesmo depois de estar perdendo? Quando aconteceu a virada? No meio do segundo tempo, você acredita? Quem fez o cruzamento? O Luís Fernando. Para quem? Para o Trindade, sabe aquele que entrou no fim do primeiro tempo? E o que o Trindade fez? Cabeceou para o gol. Assim o Paysandu está na final contra o Cruzeiro e a dois jogos de disputar a Libertadores da América, não é demais?".
          O antiquado: "Já nos estertores da árdua pugna, o hábil Luís Fernando cobrou uma penalidade na intermediária e alçou magistralmente a esfera prateada, pondo-a na calva cabeça do rompedor Trindade, que subiu mais alto que os desesperados contrários, tocando-a fulminante contra os macios cordéis da meta inimiga".
         O matemático: "Aos 23min e 12s do tempo segundo, o atleta de número 6 fez um cruzamento parabólico a cinco passos da linha lateral, pondo o círculo na cabeça do atleta de camisa 16, sendo que este solucionou o problema desviando a esfera a 45 de sua posição referencial, fazendo-a alojar-se no canto baixo do delta, a 12 centímetros da mão esquerda do palmeirense de camisa número 1.
        O rabugento: "Depois de várias tentativas fracassadas, o Luís Fernando finalmente acertou um cruzamento, fazendo a bola, sabe Deus como, chegar à cabeça do Trindade, que, enfim, estava onde devia estar. Contando com a ajuda zagueiros palmeirenses, uns cabeças-de-bagre, ele subiu e desviou a bola sem muita força, mas o goleiro, mal colocado, não conseguiu defender".
        O helênico: "Já no ômega da partida, com a esperteza e a malícia de um sátiro, Luís Fernando fez um cruzamento para o epicurista atacante Trindade, que cabeceou com a fúria de Hércules, vazando a meta defendida pelo goleiro, cujo esforço foi mais infrutífero que o de Sísifo e mais vão que o das danaides. Indiferente a tudo, o arconte validou o feito, correndo para o círculo central da ágora".
        O anglicista: "O Louis levantou a bola para o Threendade, que, com seu feeling, se antecipou aos backs e cabeceou no córner do goalkeeper. Crazy, baby!".
       O caipira: "Uê, gente, ses não viram, não? Foi assim, ó: O Luís Fernando deu uma bicanca, e a bola foi parar no meio do fuzuê, onde tava o Trindade. Aí o danado triscou de cabeça, assim meio de banda, e a bola foi parar lá dentro da rede. Nem que o goleiro fosse passarinho, ele pegava não".
        Ou seja, cada um é cada um, e cada gol é muitos.

                              Folha de São Paulo. “Esporte”, 30/07/2002. d. 3.

Entendendo o texto:
01 – O título “Cada um é cada um” faz parte, como diz Torero, da sabedoria popular. E é bem coloquial, não é mesmo? Você o considera adequado ao texto? Como defenderia sua opinião?
Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Mas a expectativa é de que a resposta seja sim, pois o título traduz um dito popular que combina com o texto de humor, cujo assunto está ligado a um espore também popular. Além disso, o texto tem como suporte o jornal e aparece em uma seção destinada a opinião do colunista.

02 – Crie um outro título para o mesmo texto, em que apareça a palavra estilo e que mantenha o sentido dado pelo colunista.
      Respostas possíveis: - Cada um tem seu estilo.
                                         - Cada gooool, um estilo.

03 – Na sua opinião, qual dos narradores envolve mais o ouvinte ao narrar o gol? Por quê?
      Resposta possível: O interrogativo, porque o narrador dá a impressão de conversar com o ouvinte ao emitir opinião ou perguntar e responder.

04 – No segundo parágrafo, Torero apresenta “estilos” de fala. E você, como classificaria seu “estilo” de fala? Você está satisfeito com ele ou gostaria que fosse diferente? Por quê?
      Resposta pessoal do aluno.


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