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quarta-feira, 2 de maio de 2018

TEXTO: O FECHO - LYGIA BOJUNGA - COM INTERPRETAÇÃO/GABARITO


Texto: O FECHO


          A bolsa amarela não tinha fecho. Já pensou? Resolvi que aquele dia mesmo eu ia arranjar um fecho pra ela.
          Peguei um dinheiro que eu vinha economizando e fui numa casa de conserto e reforma bolsas. Falei que queria um fecho e o vendedor me mostrou um, dizendo que era o melhor que ele tinha. Custava muito caro, meu dinheiro não dava.
          - E aquele? – apontei. Era um fecho meio pobre, mas brilhando que só vendo.
          O homem fez cara de pouco caso, disse que não era bom. Experimentei.
          - Mas ele abre e facha bem.
          O homem disse que o fecho era muito barato: ia enguiçar. Vibrei! Era isso mesmo que eu estava querendo: um fecho com vontade de enguiçar. Pedi pro vendedor atender outro freguês enquanto eu pensava um pouco. Virei pro fecho e passei uma cantada nele:
          - Escuta aqui, fecho, eu quero guardar umas coisas bem guardadas aqui dentro dessa bolsa.
          Mas você sabe como é, não é? Ás vezes vão abrindo a bolsa da gente assim sem mais nem menos; se isso acontecer, você precisa enguiçar, viu? Você enguiça quando eu pensar “enguiça!”, enguiça? – O fecho ficou olhando pra minha cara. Não disse que sim nem que não. Eu vi que ele estava querendo uma coisa em troca.
          - Olha, eu já vi que você tem mania de brilhar. Se você enguiçar na hora que precisa, eu prometo viver polindo você pra te deixar com essa pinta de espelho. Certo?
          O fecho falou um clique bem baixinho com todo o jeito de “certo”. Chamei o vendedor e pedi pra ele botar o fecho na bolsa. Cheguei em casa e arrumei tudo o que eu queria na bolsa amarela.
          Peguei os nomes que eu vinha juntando e botei no bolso sanfona. O bolso comprido eu deixei vazio, esperando uma coisa bem magra pra esconder lá dentro. No bolso bebê eu guardei um alfinete de fralda que eu tinha achado na rua, e no bolso de botão escondi os retratos do quintal da minha casa, uns desenhos que eu tinha feito, e umas coisas que eu andava pensando. Abri um zíper; escondi fundo minha vontade de escrever; fechei. No outro fundo de botão espremi a vontade de ter nascido garoto (ela andava muito grande, foi um custo pro botão fechar).
          Pronto! A arrumação tinha ficado legal. Minhas vontades estavam presas na bolsa amarela, ninguém mais ia ver a cara delas.

 BOJUNGA, Lygia. A bolsa amarela. Rio de Janeiro:
Casa Lygia Bojunga, 2003.

Entendendo o texto:
     a) Qual é o assunto sobre o qual a narradora fala na primeira parte do texto?
      A narradora fala sobre como era a bolsa amarela por fora.

     b) Quantos parágrafos existem nessa primeira parte?
      Quatro parágrafos.

     c) Como você justificaria a divisão dos parágrafos do texto?
      Os parágrafos estão divididos para organizar melhor as ideias do texto. Cada parágrafo corresponde a um assunto diferente. Professor, esse texto oferece a oportunidade de visualização dos tópicos de cada parágrafo. É interessante chamar a atenção do aluno para essa informação e retomar com eles o conceito de parágrafos.

     d) Identifique o assunto tratado em cada parágrafo dessa parte.
      1ª parte – A bolsa por fora. Parágrafo 1; a cor da bolsa.
      Parágrafo 2: o tamanho da bolsa amarela.
      Parágrafo 3; a alça da bolsa.
      Parágrafo 4; sobre o tecido (fazenda com que a bolsa é confeccionada).

      



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