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sexta-feira, 6 de abril de 2018

TEXTO: SEU PAULINO - MARQUES REBELO - COM GABARITO


Texto: SEU PAULINO


     Seu Paulino vivia de uma pequena loja de fazendas e miudezas, e era pastor protestante. Andava sempre de preto, colarinho alto, camisa de peito duro, punhos engomados adaptáveis.
   Casado, não tinha filhos. Às quintas e sábados funcionava na Casa de Deus. Aos domingos guardava o respeito. Às quatro e meia jantava e às seis já se preparava para o sono. Método e economia. Quando não havia luz elétrica era para não gastar querosene e pavio; depois da luz elétrica, para não gastar lâmpada, porque afinal, na bela cidade de Barbacena, luz elétrica era um fluido que se consumia em taxa fixa de cinco mil-réis mensais para cada casa.
        Havia na sua loja um divisa caprichosamente emoldurada, que só foi alterada uma vez: HOJE NÃO SE FIA. Dava-se que Pedrinho era um garoto de bom comportamento e que merecia frequentes afagos das mãos muito brancas e muito finas de seu Paulino, que gostava de crianças.
        Ora, os papagaios estavam empinados no céu, em plena Rua Quinze, e só Pedrinho não tinha papagaio e acompanhava de olho comprido as evoluções dos brinquedos dos amigos. Como a freguesia não era muita, seu Paulino estava na porta observando os olhos compridos de Pedrinho. Seu Paulino falava fino:
        --- Não tem papagaio, Pedrinho?
        Pedrinho falava mais grosso que seu Paulino:
        --- Não, seu Paulino, não tenho dinheiro para comprar papagaio.
        Naqueles tempos felizes, uma folha de papel de seda custava um vintém. Um carretel de linha “Três correntes” custava cento e vinte réis, taquara é coisa que toda horta tem, graças a Deus. Seu Paulino, depois de uma hora de lutas interiores, resolveu fiar o papel de seda e o carretel de linha. E Pedrinho teve o seu papagaio, não com caco de garrafa no rabo, como era costume entre os garotos malvados ou belicosos, mas um papagaio verde e macio, com papelotes no rabo.
        Os anos rodaram, Pedrinho estudou, saiu da cidade, voltou doutor formado. Houve festa para recebe-lo. Doze anos tinham se passado. Foi com emoção que seu Paulino o abraçou – estava contente com o seu amiguinho. Aí, porém, seu Paulino tremeu – Doutor Pedrinho tinha uma pequena dívida na cidade e era bom começar uma carreira sem dívidas. Doutor Pedrinho pagou duzentos e quarenta réis a seu Paulino, que, como se vê, não cobrou juros.
                        Marques Rebelo. Cenas da Vida Brasileira, in Seleta.
                               Págs. 149-150. Editora José Olympio, Rio, 1974.

Entendendo o texto:
01 – O caso narrado por Marques Rebelo se passou na cidade de Barbacena, que fica no Estado de Minas Gerais.

02 – Cite uma passagem do texto que nos dá uma ideia aproximada da época em que aconteceram os fatos narrados no texto:
      “Quando não havia luz elétrica era para não gastar querosene e pavio, depois da luz elétrica, para não gastar lâmpada.”

03 – Assinale as afirmações verdadeiras com relação ao senhor Paulino:
      (X) Era um homem metódico e econômico.
      (X) Era pastor protestante e vivia da renda de um pequeno armarinho.
      (   ) Vendia fiado para muitos fregueses.
      (X) Gostava de crianças.

04 – Como você entende a frase da linha 6: “Aos domingos guardava o respeito”?
      Não trabalhava.

05 – Em linguagem moderna, como você diria em vez de “HOJE NÃO SE FIA”? 
      Hoje não se vende fiado.

06 – Que sentimento traduz a expressão “de olho comprido”?
      Traduz desejo.

07 – Com a frase “depois de uma hora de lutas interiores”, o autor quis dizer que seu Paulino:
      (X) Ficou indeciso, hesitou muito se ia vender fiado ou não.
      (   ) Receou que o papagaio se tornasse motivo de brigas entre Pedrinho e seus colegas.

08 – Deduz-se do texto que Pedrinho era um menino:
      (   ) Invejoso, briguento e malvado.
      (X)  Estudioso e bem comportado.
      (   ) Rico e pretensioso.

09 – No final da história, o autor diz que seu Paulino tremeu, Por que tremeu?
      (   ) Porque estava muito emocionado.
      (X)  De constrangimento, por ter de lembrar ao Dr. Pedrinho a velha dívida.

10 – Na última frase do texto, o autor:
      (   ) Enganou-se, pois seu Paulino cobrou 100 réis de juros.
      (X) Ironizou seu Paulino, dando a entender o contrário o que afirmou.






  

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