TEXTO: O
Cemitério da Fortaleza de IF
Aprisionado injustamente por 15 anos na
fortaleza de If, uma prisão em alto-mar, Edmundo Dantes tenta uma fuga
desesperada na esperança de sobreviver para se vingar dos seus inimigos.
Só! Achava-se outra vez só!
Outra vez no meio do silêncio, em frente do nada! ... [...]
A ideia do suicídio, repelida pelo amigo,
afastada pela sua presença, veio então erguer-se outra vez como um fantasma ao
pé do cadáver de Faria. [...]
--- Morrer! ... Oh! não, não! –
exclamou; -- não valia a pena ter vivido tanto tempo, padecido tanto, para
morrer agora! Morrer era bom, quando o resolvi em outro tempo, há muitos anos;
mas hoje seria realmente auxiliar muito o meu miserável destino. Não, quero
viver; quero lutar até ao fim; quero reconquistar a ventura que me foi roubada.
Antes de morrer esquecia-me que tenho de vingar-me dos meus algozes, e talvez,
quem sabe? de recompensar alguns amigos. [...]
Puseram o suposto morto na padiola. Edmundo entesou-se para melhor figurar de
defunto. O cortejo, alumiado pelo homem da lanterna, que ia adiante, subiu a
escada.
De súbito, o ar frio e forte da noite banhou o prisioneiro, que logo
reconheceu o ventou do nordeste. Foi uma repentina sensação, repassada de
angústias e de delícias. [...]
E logo Dantes sentiu-se atirado para um enorme vácuo, atravessando os ares como
um pássaro ferido, caindo, sempre com um terror indescritível que lhe gelava o
coração. Embora puxado para baixo por algum objeto que lhe acelerava o rápido
voo, pareceu-lhe, contudo, que essa queda durava um século. Por fim, com
pavoroso ruído, entrou como uma seta na água gelada, que lhe fez dar um grito,
sufocado imediatamente pela imersão.
Dantes tinha caído ao mar, para o fundo do qual o puxava uma bala de 36 presa
aos pés.
O mar era o cemitério da fortaleza de If. [...]
Dantes atordoado, quase sufocado, teve, entretanto, a presença de espírito de
conter a respiração; e como na mão direita, preparado, como dissemos que
estava, para todas as eventualidades, levava a faca, rasgou rapidamente o saco,
tirou o braço e depois a cabeça; apesar, porém, dos seus movimentos para
levantar a bala, continuou a sentir-se puxado para baixo; então vergou o corpo,
procurando a corda que lhe amarrava as pernas, e com um esforço supremo
conseguiu cortá-la no momento que se sentia asfixiar. Depois, dando-lhe um
pontapé, subiu livre à tona da água, enquanto a bala levava para desconhecidos
abismos a serapilheira que ia sendo a sua mortalha.
Dumas, Alexandre. O conde de Monte Cristo. Porto:
Lello & Irmão, s/d, p. 178-182; p. 183. Fragmento.
Bala: bola de
ferro atada a um defunto, para fazer com que o corpo afunde no mar.
Serapilheira: manta.
Entendendo
o texto:
01 –
Explique que sentimentos dominam Edmundo Dantes no momento em que se encontra
diante do cadáver do amigo.
Dantes é tomado pela solidão e pelo desespero. Ao se ver só, considera a
possibilidade de suicidar-se, mas desiste da ideia quando se recorda da
vingança que ainda tem de praticar contra os responsáveis pela ruína de sua
vida.
02 –
Copie no caderno o trecho em que o herói explicita sua missão individual.
“...
Morrer! ... Oh! não, não! – exclamou: – não valia a pena ter vivido tanto
tempo, padecido tanto, para morrer agora! Morrer era bom, quando o resolvi em
outro tempo, há muitos anos; mas hoje seria realmente auxiliar muito o meu
miserável destino. Não, quero viver; quero lutar até ao fim; quero reconquistar
a ventura que me foi roubada. Antes de morrer esquecia-me de que tenho de
vingar-me dos meus algozes, e talvez, quem sabe, de recompensar alguns amigos”.
a) Qual é essa missão?
Dantes quer viver, “lutar até o fim” e
reconquistar aquilo que lhe foi roubado: sua “ventura”. Além disso, deseja
vingar-se daqueles que o traíram e também recompensar alguns amigos.
b) De que forma os anseios de Dantes
revelam que, diferentemente das epopeias, nessa narrativa o herói apresenta de
modo mais claro sua dimensão pessoal e humana?
Ao afirmar o que deseja viver para lutar,
mas também vingar-se de seus inimigos, o herói deixa clara a sua dimensão
pessoal: sua missão é recuperar o que lhe foi tirado, mas, principalmente,
vingar-se. O fato de mostrar sua franqueza deixando-se dominar por sentimentos
negativos (o desejo de vingança) garante a humanidade do herói.
c) Por que o fato de Dantes desistir
de cometer suicídio revela sua dimensão heroica?
O suicídio seria uma saída fácil demais e
jamais poderia ser aceita pelo herói. Como o próprio Dantes afirma, seria
ajudar o “destino miserável” que lhe foi reservado. Ao herói, só cabe uma
atitude: recusar tal saída e enfrentar as adversidades, superando todos os
obstáculos que se apresentarem no seu caminho. Ao fazê-lo, evidencia sua
dimensão heroica.
03 – O
que há de heroico na fuga de Dantes da fortaleza de If? Explique.
A fuga de Dantes é espetacular e praticamente milagrosa: depois de ser atirado
ao mar, com uma bola de ferro atada aos pés, ele se liberta e vence os perigos
do mar. Vemos o herói, aqui, superando a si mesmo e aos elementos da natureza.
Toda a cena é cheia de ação e suspense, com a vitória de Dantes sobre todas as
dificuldades de uma situação que o coloca próximo da morte.
Obrigada <3
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