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domingo, 1 de abril de 2018

CONTO: O DEFUNTO VIVO - ANTONIO HENRIQUE WEITZEL - COM INTERPRETAÇÃO/GABARITO


Conto: O defunto vivo   

     Em alguns arraiais do interior mineiro, quando morria alguém, costumavam buscar o caixão na cidade vizinha, de caminhão. Certa feita, vinha pela estrada um caminhão com sua lúgubre encomenda, quando alguém fez sinal, pedindo carona. O motorista parou.
        --- Se você não se incomodar de ir na carroceria, junto ao caixão, pode subir.
        O homem disse que não tinha importância, que estava com pressa. Agradeceu e subiu. E a viagem prosseguiu.
        Nisto começa a chover. O homem, não tendo onde se esconder da chuva, vendo o caixão vazio, achou melhor deitar-se dentro dele, fechando a tampa, para melhor abrigar-se. Com o balanço da viagem, logo pegou no sono.
        Mais na frente, outra pessoa pediu carona. O motorista falou:
        --- Se você não se importa de viajar com o outro que está lá em cima, pode subir.
        O segundo homem subiu no caminhão. Embora achasse desagradável viajar com um defunto num caixão, era melhor que ir a pé para o povoado.
        De tempos em tempos, novos caronas subiam na carroceria, sentavam-se respeitosos em silêncio, em volta do caixão, enquanto seguiam viagem.
        Avizinhando-se o arraial, ao passar num buraco da estrada, um tremendo solavanco sacode o caixão e desperta o dorminhoco que se escondera da chuva dentro dele.
        Levantando devagarinho a tampa do caixão e pondo a palma da mão para fora, fala em voz alta:
        --- Será que já passou a chuva?
        Foi um corre-corre dos diabos. Não ficou um em cima do caminhão. Dizem que tem gente correndo até hoje.

                                            Weitzel, Antônio Henrique. Folclore literário e linguístico. Juiz de Fora, MG. EDUFJF, 1995.

Entendendo o conto:

01 - No título da história contêm hipérbole? Explique os prováveis objetivos do uso dela no texto?
a) (X) Sim. O objetivo é informar o leitor, de modo ambíguo e provocante, sobre o conteúdo a ser desenvolvido na história e despertar a curiosidade e interesse pela leitura.
b) ( ) Não. O objetivo é não informar o leitor, sobre o conteúdo a ser desenvolvido na história e não despertar a curiosidade e interesse pela leitura.
02 – Há trechos na história que contêm hipérbole? Explique os prováveis objetivos do uso delas no decorrer do texto.
a) ( ) Não. Não há passagens que podem ser consideradas hipérboles, pois não narra atitudes anormais.
b) (X) Sim. Há passagens que podem ser consideradas hipérboles, pois narra atitudes anormais, quase impossíveis de acontecer na realidade.
03 – Qual o trecho onde há intenção é construir condição para a confusão que vai estabelecer na sequência da história?
a) ( ) “O homem,  tendo vários lugares para se esconder da chuva, escolhe o caixão vazio, achou melhor deitar-se debaixo dele, para melhor abrigar-se.  Com o balanço da viagem, logo pegou no sono”.
b) (X) “O homem, não tendo onde se esconder da chuva, vendo o caixão vazio, achou melhor deitar-se dentro dele, fechando a tampa, para melhor abrigar-se. Com o balanço da viagem, logo pegou no sono”.
04 – Há hipérbole no trecho final?
 “Foi um corre - corre dos diabos. Não ficou um em cima do caminhão. Dizem que tem gente correndo até hoje”. Explique.
a) ( ) Não. O objetivo é finalizar a história de maneira enfática, provocando tristeza no leitor.
b) (X) Sim. O objetivo é finalizar a história de maneira enfática, provocando riso no leitor.

05 – O enredo de “O defunto vivo” pode ser dividido em quatro momentos: situação inicial, início do conflito, auge do conflito e conclusão. Explique-os apontando passagens do texto onde começa e termina cada um desses momentos.
1) Situação inicial: O narrador contextualiza a história apresentando indicações de espaço e tempo, os personagens centrais e os acontecimentos que vão dar origem e suporte ao surgimento do conflito. Vai de “Em alguns arraiais...” até “E a viagem prosseguiu”.
2) Início do conflito: Cai uma chuva, o primeiro carona se esconde dentro do caixão, fecha-o e acaba dormindo. Outros caronas sobem na carroceria e supõem haver um morto no caixão. Vai de “Nisto começa a chover” até “...enquanto seguiam viagem”.
3) Auge do conflito: O primeiro carona acorda, abre o caixão e fala em voz alta. Vai de “Avizinhando-se o arraial...” até “- Será que já parou a chuva?”.
4) Conclusão: Os caronas se assustam com a atitude do suposto defunto e somem em disparada do caminhão. Vai de “Foi um corre – corre...” até “...correndo até hoje. Estas afirmações são:
a) (X) Todas são verdadeiras.
b) ( ) Apenas 1, 2 e 4 são verdadeiras.

06 – Na história há emprego de expressões que funcionam como marcas de espaço e tempo, por exemplo: “Em alguns arraiais do interior mineiro, quando morria alguém...”. Percebe-se que essas marcas são espaciais e temporais muito importante porque situam os fatos da narrativa, sinalizam, descrevem para o leitor os movimentos espaço-temporais na arquitetura de enredo. Quais são essas marcas?
a) ( ) Espaço: Na estrada, na carroceria, junto do caixão, Mais na frente, lá em cima, no avião, na carroceria, em volta do caixão, Avizinhando-se o arraial, ao passar num buraco da estrada, em cima do caminhão. Tempo: Certa feita, quando alguém fez sinal, Nisto começa a conversar, logo acordou do sono, De tempos em tempos, até dançava.
b) (X) Espaço: Na cidade vizinha, pela estrada, na carroceria, junto do caixão, Mais na frente, lá em cima, no caminhão, na carroceria, em volta do caixão, Avizinhando-se o arraial, ao passar num buraco da estrada, em cima do caminhão. Tempo: Certa feita, quando alguém fez sinal, Nisto começa a chover, logo pegou no sono, De tempos em tempos, enquanto seguiam viagem, até hoje.

07 - Na situação inicial, a fala do motorista sustenta o ponto de partida do enredo. No início do conflito, a expressão “com o outro” gera a situação ambígua, confusa, pois o carona infere que o “outro” era um:
a) (X) morto
b) ( ) vivo

08 – A expressão “alguém” aparece no primeiro e no segundo parágrafo. A quem elas se referem? Trata-se do mesmo referente?
a) (X) Não. Alguém no 1º parágrafo - se refere a qualquer carona; alguém - no 2º parágrafo – é um carona específico.   
b) ( ) Sim. Alguém no 1º parágrafo - se refere a qualquer carona; alguém - no 2º parágrafo também a qualquer carona.  

09 – “Alguém” no 2º parágrafo e “o homem” no 4º parágrafo são a mesma pessoa?
a) ( ) Não
b) (X) Sim  

10 – A ambiguidade da expressão "o outro" em “Se você não se importa de viajar com o outro que está lá em cima, pode subir”, considerando a referência atribuída pelo motorista e pelo segundo carona é:
a) ( ) A expressão não ficou ambígua, pois ‘o outro’ na fala do motorista do caminhão não tem um referente no texto: ‘o homem’.
b) (X) A expressão ficou ambígua, pois ‘o outro’ na fala do motorista do caminhão tem um referente no próprio texto: ‘o homem’ (que pediu carona anteriormente). Aqui há uma recuperação anafórica.  As demais pessoas que subiram no caminhão entenderam ‘o outro’ como sendo um ‘defunto’; uma expressão dêitica, cuja interpretação se deu de acordo com o contexto situacional.)

11 – Você teria coragem de ficar ou até dormir dentro de um caixão?
      Resposta pessoal do aluno.

12 – Se você estivesse também em cima do caminhão e de repente alguém falasse ou saísse de dentro de um caixão. O que você faria?
      Resposta pessoal do aluno.

13 – Você acredita que houve uma má interpretação no diálogo do motorista e das pessoas que pediram carona?
      Resposta pessoal do aluno.


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