Texto: Agá dois ó
A água é uma coisa líquida que vive de
passear. A gente pode às vezes até não perceber, mas ela está em todos os
lugares onde estamos. Às vezes é tão leve que se mistura com o ar e forma
nuvens de mar. Às vezes é pesada como uma montanha, mas ainda assim brinca de
flutuar sobre o oceano e fica lá, boiando, boiando, até se desmanchar.
A água, já descobriram alguns
cientistas, é o feminino de agá dois ó,
sendo que sua forma singular é conhecida como gota; no plural ela se pronuncia
como um monte de pingos que misturados podem formar um rio doce ou um mar
salgado; depende do gosto do freguês ou da onda da maré.
A água vive de mudar de estado: evapora
hoje. Chove amanhã, na semana que vem tá fria feito gelo, depois se derrete.
Adora ficar indo e voltando, fazendo estripulia de menina sapeca. Tem dias que
gosta de ser aquela nuvem que encobre o sol, em outros deseja descansar sobre a
copa das árvores para pegar um bronze legal.
A água tem momentos de grandes recolhimento,
quando penetrando a terra se esconde entre os espaços deixados pelos grãos de
areia e fica ali quieta, depois aflora em alguma fonte e aparece como um
riachinho tranquilo, ai vai crescendo de tamanho e só quando tem que se abraçar
com os braços do grande oceano.
A água não guarda nenhuma mágoa, não
tem certos preconceitos e cabe em qualquer lugar. Está no nosso corpo também
numa cor que é vermelha por fazer parte do sangue, mas prefere ser chamada de
inodora, insípida e incolor. Suas três propriedades mais propagadas e apagadas são fruto da sua timidez de aparecer como uma
das mais importantes substâncias da vida.
A água adora circular pela terra, sobe
de um jeito e já desce outra, e vive assim de mudar as cores de sua roupa. Seu
mais belo vestido é feito de sete matizes
de um mesmo colorido, uma grande lição de arco-íris para o mundo, onde o que
mais importa é poder propor aos homens uma aliança de amor em vez de potes de
ouro.
Enredada em seus segredos, a água é
mística, lava-nos de nossa tristeza quando por vezes choramos. Em lágrimas
vertidas a sua chama nos purifica, nos adormece o sofrimento nos ressuscita
para a maravilhosa aventura da vida.
A água está sempre por aí circulando o
planeta no seu louco automóvel – um tal de ciclo hidrológico – evaporando
gasosa, precipitando líquida ou sólida, parando no ar pela intercepção
infiltrando, ressurgindo, escoando às vezes um tanto superficialmente, e assim
vai se remexendo toda e construindo o seu show natural – ou você nunca ouviu o
rock do teto molhado, com trovão na bateria e a chuva sobre as teclas do
telhado?
A água está sofrendo de uma doença que
parece incurável e [...] uma epidemia. Suja e maltrapilha ela está a cada dia
menos límpida, menos potável, menos leve, menos sadia, menos corredia, menos
viva no seu jeitão descontraído. Em algumas poças ela estagnou como se houvesse
sofrido uma paralisia; em certos lagos se tornou escura; noutros ficou escassa
e, pior ainda, parece que o grande problema advém do fato de estar sendo
envenenada.
O planeta Terra, visto de cima, lá do
espaço, é uma enorme bola azul feita de água. Muitos dizem que viemos do pó e
ao pó voltaremos; na verdade a vida inteira de todos os seres veio da água,
nasceu as profundezas desse líquido maravilhoso. A nave azulada está à deriva,
entre as bordas de duas calotas sofre os efeitos da grande estufa, e ameaça
inundar o mundo. Apesar de tudo, parece que ainda nos salvaremos, e como fênix, em vez de renascer das cinzas,
haveremos de renascer... no berço das águas.
Manoel Fernandes de Souza Neto. Aula
de geografia e algumas crônicas.
Campina Grande: Bagagem, 2003
Interpretação do texto:
01 – A crônica que você leu
fala da água. Para representar os elementos naturais, como chumbo, água, ferro
e outros, são usados letras e números. A água é representada pela fórmula H2O. Observe o título e diga o que ele
tem a ver com a fórmula H2O.
Resposta pessoal. Sugestão: O título está
escrito como se fala.
02 – Que outro título você
daria para a crônica? Por quê?
Resposta pessoal
do aluno.
03 – A crônica “Agá dois ó”
expõe características da água em cada parágrafo. Conte quantos parágrafos tem a
crônica. Lembre-se de que o início de cada parágrafo é marcado pelo espaço
deixado à esquerda. Faça uma lista como essa em seu caderno e enumere-a de
acordo com o número do parágrafo correspondente do texto. Veja o exemplo a
seguir:
A crônica possui 10 parágrafos.
3° parágrafo -
Comenta sobre as mudanças de estado da água.
9° parágrafo -
Descreve o mau uso da água.
5° parágrafo -
Associa a água com o surgimento da vida.
7° parágrafo -
Descreve de forma poética o ciclo da vida.
04 – Que trechos da crônica
encontram-se relacionados ao esquema, visto anteriormente, sobre o caminho das
águas na natureza? Qual seria a ideia principal de cada um dos parágrafos a
seguir 1, 6 e 10?
O caminho das águas, está no 8°
parágrafo.
No 1° parágrafo: fala dos três estados em
que pode-se encontrar a água.
No 6° parágrafo: Nós podemos encontrar a
água em várias cores, deixando de ser inodora, insípida e incolor.
No 10° parágrafo: revela a importância da
água na vida dos seres, desde o nascimento até a morte.
05 – No texto, encontramos
algumas palavras, conforme abaixo, explique.
a)
Por que o autor falou em “potes de ouro” no 6° parágrafo, logo
depois de ter falado em “arco-íris”?
--- “Arco-íris”: representa as cores que encontramos as águas.
--- “Potes de ouro”: é a riqueza que a água proporciona em nossa
vida.
b)
“Muitos dizem que viemos do pó e ao pó
voltaremos”. Você já ouviu essa expressão? Em que local? Você sabe onde surgiu
a expressão?
Resposta pessoal do aluno.
Nenhum comentário:
Postar um comentário