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sábado, 18 de novembro de 2017

QUESTÕES DE TROVADORISMO-CLASSICISMO E OUTRAS - COM GABARITO

QUESTÕES  OBJETIVAS


1 – (PSS/UFPA-PA) Leia atentamente o texto seguinte:   

Se eu podess’ ora meu coraçom,
Senhor, forçar e poder-vos dizer
Quanta coita mi fazedes sofrer
Por vós, cuid’ eu, assi Deus mi perdom,
Que haveríades doo de mi.

Ca, senhor, pero me fazedes mal
E mi nunca quisestes fazer bem,
Se soubéssedes quanto mal mi vem
Por vós, cuid’ eu, par Deus que pod’ e val,
Que haveríades doo de mi.



E, pero mi havedes gram desamor,
Se soubéssedes quanto mal levei
E quanta coita, des que vos amei,
Por vós, cuid’ eu, per bõa fé, senhor
Que haveríades doo de mi.

E mal seria se nom foss’ assi.

           D. Dinis. Portal galego da língua: cantigas trovadorescas. Disponível em:

Senhor: senhora.
Coita: sofrimento de amor.
Doo: dó.
Ca: porque.

Considerando que o texto acima é uma cantiga de amor, é correto afirmar, sobre esse tipo de produção poética, que:
a)    O trovador, de acordo com as regras do amor cortês, ao cantar a alegria de amar na cantiga de amor, revela em seus poemas o nome da mulher amada.
b)    O homem, nesse tipo de composição poética, nutre esperanças de, um dia, conquistar a mulher amada, que, mesmo sendo imperfeita, é o objeto do seu desejo.
c)    A cantiga de amor, na lírica trovadoresca, caracteriza-se por conter a confissão amorosa da mulher, que lamenta a ausência do namorado que viajou e a abandonou.
d)    O trovador, na cantiga de amor, coloca-se no lugar da mulher que sofre com a partida do amado e confessa seus sentimentos a um confidente (mãe, amiga ou algum elemento da natureza).
e)    O homem apaixonado, na cantiga de amor, sofre e coloca-se em posição de servo do “senhor” (não existia a palavra “senhora”), divinizando a mulher amada, o que torna quase sempre a sua cantiga um lamento, expressão do sofrimento amoroso.

2 – (PROSEL/UEPA-PA) A submissão da mulher ao homem é um sintoma de violência cultural que tem sido combatido, mas ainda persiste em alguns lugares do mundo. As consequências disso são várias. Você lerá a seguir algumas frases relativas à situação da mulher no Trovadorismo. A alternativa em que há registro de uma dessas consequências é:
a)    A relação de vassalagem entre o servo e seu senhor é transferida para as Cantigas de Amor, uma vez que nelas a dama é apresentada como senhora absoluta do trovador.
b)    A mulher é inacessível ao trovador, entre outras coisas, ou por ser casada, ou por sua condição social de superioridade.
c)    Nas Cantigas de Amigo, há queixas constantes das mulheres pela ausência do amado, que o rei levou para à guerra.
d)    Nas Cantigas de Amigo, a expressão do desejo feminino de retorno do amado exprime uma noção diversa da inacessibilidade da senhora existente nas Cantigas de Amor.
e)    Não há notícias de que mulheres hajam escrito versos na época do Trovadorismo. O índice de analfabetismo entre elas era muito superior ao dos homens. São eles que expressam a voz delas nas Cantigas de Amigo.

(UNESP-SP) Instrução: As questões de números 3 a 5 tomam por base uma cantiga do trovador galego Airas Nunes, de Santiago (Século XIII), e o poema “Confessor Medieval”, de Cecília Meireles (1901 – 1964).


                  CANTIGA
Bailemos nós já todas três, ai amigas,
So aquestas avelaneiras frolidas,
E quem for velida, como nós, velidas,
Se amigo amar,
So aquestas avelaneiras frolidas
Verrá bailar.
Bailemos nós já todas três, ai irmanas,
So aqueste ramo destas avelanas,
E quem for louçana, como nós, louçanas,
Se amigo amar,
So aqueste ramo destas avelanas
Verrá bailar.
Por Deus, ai amigas, mentr’al non fazemos,
So aqueste ramo frolido bailemos,
E quem bem parecer, como nós parecemos
Se amigo amar,
So aqueste ramo so lo que bailemos
Verrá bailar.

           Nunes, Airas. In: Spina, Segismundo. Presença da literatura portuguesa:
       Era medieval. 2. ed. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1966.
Frolidas: floridas.
Velida: formosa.
Aquestas: estas.
Verrá: virá.
Irmanas: irmãs.
Aqueste: este.
Louçana: formosa.
Avelanas: avelaneiras.
Mentr’al: enquanto outras coisas.
Bem parecer: tiver belo aspecto.

Confessor Medieval
(1960)
Irias à bailia com teu amigo,
Se ele não te dera saia de sirgo?
Se te dera apenas um anel de vidro
Irias com ele por sombra e perigo?
Irias à bailia sem teu amigo,
Se ele não pudesse ir bailar contigo?
Irias com ele se te houvessem dito
Que o amigo que amavas é teu inimigo?
Sem a flor no peito, sem saia de sirgo,
Irias sem ele, e sem anel de vidro?
Irias à bailia, já sem teu amigo,
E sem nenhum suspiro?

                           Meireles, Cecília. Poesias completas de Cecília Meireles. v. 8.
                                                         Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1974.
Sirgo: seda.

3 – Tanto na cantiga como no poema de Cecília Meireles, verificam-se diferentes personagens: um eu-poemático, que assume a palavra, e um interlocutor ou interlocutores a quem se dirige. Com base nesta informação, releia os dois poemas e, a seguir:
a)    Indique o interlocutor ou interlocutores do eu-poemático em cada um dos textos.
Na cantiga, o eu lírico se dirige a duas outras moças, que são chamadas ora de amigas, ora de irmãs. No poema de Cecília Meireles, o eu lírico apresenta-se como um confessor ou confidente que se dirige a uma moça apaixonada.
b)    Identifique, em cada poema, com base na flexão dos verbos, a pessoa gramatical utilizada pelo eu-poemático para dirigir-se ao interlocutor ou interlocutores.
Na cantiga, o eu lírico, para se referir aos interlocutores, utiliza a 1ª pessoa do plural: “bailemos”, “nós”. No segundo texto, a pessoa gramatical utilizada para se referir ao interlocutor é a 2ª pessoa do singular: “irias”, “tu”, “teu”.

4 – A leitura da cantiga de Airas Nunes e do poema “Confessor Medieval”, de Cecília Meireles, revela que este poema, mesmo tendo sido escrito por uma poeta modernista, apresenta intencionalmente algumas características da poesia trovadoresca, como o tipo de verso e a construção baseada na repetição e no paralelismo.
Releia com atenção os dois textos e, em seguida, considerando que o efeito de paralelismo em cada poema se torna possível a partir da retomada, estrofe a estrofe, do mesmo tipo de frase adotada na estrofe inicial (no poema de Airas Nunes, por exemplo, a retomada da frase imperativa), aponte o tipo de frase que Cecília Meireles retomou de estrofe a estrofe para possibilitar tal efeito.
      No poema de Cecília Meireles, a oração subordinada adverbial condicional que aparece no 2° verbo da 1ª estrofe é retomada de estrofe a estrofe com alterações. Na 2ª e 3ª estrofes as orações são: “Se te dera apenas um anel de vidro” e “Se ele não pudesse ir bailar contigo”. Na penúltima estrofe, a oração aparece com estrutura mais simples, com a condição veiculada por meio da preposição sem: “Sem a flor no peito, sem saia de sirgo / Irias sem ele, e sem anel de vidro”. Assim, o paralelismo se constrói pela repetição de períodos interrogativos, dentro dos quais há sempre um elemento condicional.

5 – As cantigas que focalizam temas amorosos apresentam-se em dois gêneros na poesia trovadoresca: as “cantigas de amor”, em que o eu-poemático representa a figura do namorado (o “amigo”), e as “cantigas de amigos, em que o eu-poemático representa a figura da mulher amada (a “amiga”) falando de seu amor ao “amigo”, por vezes dirigindo-se a ele ou dialogando com ele, com outras “amigas” ou, mesmo, com um confidente (a mãe, a irmã, etc.). De posse desta informação:
a)    Classifique a cantiga de Airas Nunes em um dos dois gêneros, apresentando a justificativa dessa resposta.
A cantiga apresentada é uma das mais conhecidas do cancioneiro medieval, classificada como “cantiga de amigos”. Os elementos que justificam a resposta são: presença de eu lírico feminino, estrutura paralelística e refrão.
b)    Identifique, levando em consideração o próprio título, a figura que o eu-poemático do poema de Cecília Meireles representa.
A partir do título do poema (“Confessor medieval”), reconhece-se como eu lírico do texto a figura de um religioso ou confidente que aconselha a moça a ser cuidadosa no envolvimento amoroso e apontando as possíveis dificuldades do amor.

6 – (PROSEL/UEPA-PA) Em suas relações socioeconômicas, os homens têm se comportado desonestamente, o que impede a construção de uma sociedade racionalmente justa. O trecho de o Auto da Índia que registra essa prática é:
a)    Marido – Se não fora o capitão
Eu trouxera o meu quinhão
Um milhão vos certifico.
b)    Moça – Todas ficassem assi
Leixou-lhe pera três anos
Trigo, azeite, mel e panos.
c)    Castelhano – Quero destruir el mundo
Quemar la casa, es la verdade
Después quemar la ciudad.
d)    Ama – Mostra-m’essa roca cá:
Siquer fiarei um fio.
e)    Ama – Quebra-me aquelas tigelas
E três ou quatro panelas.

Leixou-lhe: deixou-lhe.

7 – (PSIU/UFPI-PI) Sobre Gil Vicente e sua obra Auto da barca do inferno, a alternativa correta é:
a)    Respeita apenas o poder da Igreja.
b)    Centra suas críticas nos membros das classes baixas.
c)    Conserva a lei das três unidades básicas do teatro clássico.
d)    Identifica suas personagens pela ocupação ou pelo tipo social de cada uma delas.
e)    Evita fazer um confronto entre a Idade Média e o renascimento Medievalista (Teocentrismo versus Antropocentrismo).

8 – (PSIU/UFPI-PI) Sobre a obra Auto da barca do inferno, de Gil Vicente, a alternativa correta é:
a)    A obra vicentina resume a tradição da cultura europeia, no seu aspecto popular, cortês, ou clerical.
b)    A segunda fase da obra vicentina destaca temas religiosos. Essa fase corresponde ao período de 1502 a 1508.
c)    A linguagem, em tom coloquial e redondilhas, é o veículo melhor explorado para conseguir efeitos cômicos ou poéticos.
d)    Na primeira fase, o autor escreve sobre a educação feminina. Não conseguindo se estabelecer, escreve a Trilogia das Barcas.
e)    O Auto da barca do inferno é diferente dos demais autos, porque tem o seguinte enredo: à beira de um rio, dois barcos transportarão as almas para o lugar que lhes foi destinado em julgamento.

9 – (PUC-SP) Considerando a peça Auto da barca do inferno como um todo, indique a alternativa que melhor se adapta à proposta do teatro vicentino.
a)    Preso aos valores cristãos, Gil Vicente tem como objetivo alcançar a consciência do homem, lembrando-lhe que tem uma alma para salvar.
b)    As figuras do Anjo e de Diabo, apesar de alegóricas, não estabelecem a divisão maniqueísta do mundo entre o Bem e o Mal.
c)    As personagens comparecem nesta peça de Gil Vicente com o perfil que apresentavam na terra, porém apenas o Onzeneiro e o Parvo portam os instrumentos de sua culpa.
d)    Gil Vicente traça um quadro crítico da sociedade portuguesa da época, porém poupa, por questões ideológicas e políticas, a Igreja e a Nobreza.
e)    Entre as características próprias da dramaturgia de Gil Vicente, destaca-se o fato de ele seguir rigorosamente as normas do teatro clássico.


10 – (UNICAMP-SP) Leia os diálogos abaixo da peça O velho da horta, de Gil Vicente:

(Mocinha) – Estás doente, ou que haveis?
(Velho) – Ai! não sei, desconsolado,
Que nasci desventurado.
(Mocinha) – Não choreis;
Mais mal fadada vai aquela.
(Velho) – Quem?
(Mocinha) – Branca Gil.
(Velho) – Como?
(Mocinha) – Com cent’açoutes no lombo,
E uma corocha por capela.
E ter mão;
Leva tão bom coração,
Como se fosse em folia.
Ó que grandes que lhos dão!
                                                        Vicente, Gil. IN: Berardinelli, Cleonice (Org.).
                                               Antologia do teatro de Gil Vicente. Rio de Janeiro:
                                                           Nova Fronteira/Brasília, INL, 1984. p. 274.

a)    A qual desventura refere-se o Velho neste diálogo com a Mocinha?
O velho se refere ao fato de ter sido malsucedido em sua tentativa de conquistar uma moça. Nessa tentativa, ele perdeu parte de seu dinheiro. Além disso, ele foi ridicularizado e desprezado pela moça que assediou, revelando, nesse trecho, o seu desconsolo amoroso.

b)    A que se deve o castigo imposto a Branca Gil?
Branca Gil é a alcoviteira que foi contratada pelo Velho para servir de intermediária na sua tentativa de sedução. Como ela guardava para si o dinheiro que ele lhe entregava para comprar presentes para a Moça, é punida pela prática de alcovitagem e também por ter roubado o dinheiro do sedutor.

c)    Diante do castigo, Branca Gil adota uma atitude paradoxal. Por quê?
A atitude da Alcoviteira é considerada paradoxal porque ela revela altivez e o destemor diante da prisão. Poderíamos afirmar que esse comportamento se deve à certeza de que, como de outras vezes, o seu castigo será limitado a açoites, e ela depois voltará a ser livre para continuar exercendo seu ofício. A cena sugere a corrupção moral que a peça pretende estender a toda a sociedade portuguesa.


(ENEM) Texto para as questões 11 e 12.
Amor é um fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

                                                           Luís de Camões.

11 – O poema tem, como característica, a figura de linguagem denominada antítese, relação de oposição de palavras ou ideias. A opção em que essa oposição se faz claramente presente é:

a)    “Amor é fogo que arde sem se vê”.
b)    “É um contentamento descontente”.
c)    “É servir a quem vence, o vencedor.”
d)    “Mas como causar pode seu favor.”
e)    “Se tão contrário a si é o mesmo Amor?”

12 – O poema pode ser considerado como um texto:
a)    Argumentativo.
b)    Narrativo.
c)    Épico.
d)    De propaganda.
e)    Teatral.


(SARESP-SP) Leia o poema a seguir e responda à questão abaixo:
Quem vê, Senhora, claro e manifesto
O lindo ser de vossos olhos belos,
Se não perder a vista só com vê-los,
Já não paga o que a vosso gesto.

Este me parecia preço honesto;
Mas eu, por de vantagem merecê-los,
Dei mais a vida e alma por querê-los,
Donde já me não fica mais de resto.

Assim que a vida e alma e esperança,
E tudo quanto tenho é vosso;
E o proveito disso eu só o levo.

Porque é tamanha bem-aventurança
O dar-vos quanto tenho e quanto posso,
Que quanto mais vos pago, mais vos devo.

                                Camões, Luís de. Lírica. 4. ed. São Paulo: Cultrix, 1972.

13 – Luís Vaz de Camões é considerado um dos maiores poetas da Língua Portuguesa. Sua lírica amorosa liga-se a uma concepção neoplatônica do amor, isto é, o amor é um ideal supremo, único e perfeito. A mulher, objeto do desejo, também é um ser imperfeito e é espiritualizada em suas poesias, tornando-se a mulher ideal. Para expressar esse ideal, Camões utiliza-se de uma forma poética, que é:
a)    O verso livre.
b)    O soneto.
c)    O verso alexandrino.
d)    A redondilha maior.

14 – (FUVEST-SP)
Tu, só tu, puro amor, com força crua,
Que os corações humanos tanto obriga,
Deste causa à molesta morte sua,
Como se fora pérfida inimiga.
Se dizem, fero Amor, que a sede tua
Nem com lágrimas tristes se mitiga,
É porque queres, áspero e tirano,
Tuas aras banhar em sangue humano.

                                     Camões. Os Lusíadas – episódio de Inês de Castro.

Molesta: lastimosa; funesta.
Pérfida: desleal; traidora.
Fero: feroz; sanguinário; cruel.
Mitiga: alivia; suaviza; aplaca.
Ara: altar; mesa para sacrifícios religiosos.

a)    Considerando-se a forte presença da cultura da Antiguidade Clássica em Os Lusíadas, a que se pode referir o vocábulo Amor, grafado com maiúscula, no 5° verso?
O vocábulo Amor, grafado em maiúscula, refere-se ao Deus Amor da mitologia clássica, denominado Eros pelos gregos antigos e Cupido pelos romanos da Antiguidade.

b)    Explique o verso “Tuas aras banhar em sangue humano”, relacionando-o à história de Inês de Castro.
No século XV, o príncipe de Portugal, que viria a ser o futuro rei D. Pedro I, tomou Inês de Castro como amante e teve filhos com ela. Para evitar que o filho se casasse com Dona Inês, o rei D. Afonso IV autorizou o assassinato dela por razões políticas. O verso “Tuas aras banhar em sangue humano”, na estrofe, significa que o Deus Amor exigiu o sacrifício da vida de Inês em seu altar (“ara”). Vasco da Gama, que narra o episódio de Inês de Castro em Os Lusíadas, atribui uma causa transcendental à morte da amante de D. Pedro: no poema épico, essa morte teria sido determinada pelo Deus Amor.

15 – (PROSEL/UEPA-PA) O desejo de criar no Novo Mundo um reino feliz não se concretizou. Em vez disso, os navegadores praticaram atos violentos no processo das conquistas. Em que versos o Gigante Adamastor, de Os Lusíadas, refere-se a essa violência?

a)    Sabes que quantas naus esta viagem
Que tu fazes, fizeram, de atrevidas,
Inimiga terão esta paragem.
b)    Chamei-me Adamastor, e fui na guerra
Contra o que vibra os raios de Vulcano.
c)    Mas, conquistando as ondas do oceano,
Fui capitão do mar por onde andava
A amada de Netuno, que eu buscava.
d)    Ouve os danos de mim que apercebidos
Estão a teu sobejo atrevimento
Por todo o largo mar e pela terra
Que inda hás de subjugar com dura guerra.
e)    Comecei a sentir do Fado inimigo
Por meus atrevimentos, o castigo.

16 – (PROSEL/UEPA-PA) Atingir os próprios objetivos amorosos pela força física é um tipo de ato de barbárie que Adamastor pretendeu cometer em Os Lusíadas. Os versos que registram esse momento são:
a)    Que ameaço divino ou que segredo
Este clima e este mar nos apresenta
Qui mor causa parece que tormenta?
b)    Tu, que por guerras cruas, tais e tantas,
E por trabalhos vãos nunca repousas.
c)    Aqui espero tomar, se não me engano,
De quem me descobriu suma vingança.
d)    Eu farei de improviso tal castigo
Que mor seja o dano que o perigo!
e)    Como fosse impossível alcança-la
Pela grandeza feia de meu gesto
Determinei por armas de toma-la
E a Dóris este caso manifesto.

17 – (UFSCAR-SP).
Partimo-nos assim do santo templo
Que nas praias do mar está assentado,
Que o nome tem da terra, para exemplo,
Donde Deus foi em carne ao mundo dado.
Certifico-te, ó Rei, que se contemplo
Como fui destas praias apartado,
Cheio dentro de dúvidas e receio,
Que a penas nos meus olhos ponho o freio.

                                                 Camões. Os Lusíadas. Canto 4°- 87.

O trecho faz parte do poema épico Os Lusíadas, escrito por Luís Vaz de Camões, e narra a partida de Vasco da Gama, para a viagem as Índias.
a)    Em que estilo de época ou época histórica se situa a obra de Camões?
A Obra Os Lusíadas foi escrita, aproximadamente, entre 1550 e 1570 e publicada em 1572, coincidindo, do ponto de vista da história da cultura, com o Renascimento. Entre outras coisas, esse período incorpora a consolidação da palavra impressa, as guerras religiosas provocadas pela reforma Protestante e o apogeu da expansão mercantilista, de que fala a estrofe de Camões. No que se refere aos movimentos estéticos, o estilo camoniano pertence ao Classicismo.

b)    Para dizer que o nome do templo é Belém, Camões faz uso de uma perífrase: “Que o nome tem da terra, para exemplo, / Donde Deus foi em carne ao mundo dado”. Em que outro trecho dessa estrofe Camões usa outra perífrase?
No último verso da estrofe, ocorre outra perífrase. Trata-se da expressão “pôr freio nos olhos”, que significa, no caso, evitar o choro, conter as emoções.


18 – (FUVEST-SP).
Quando da bela vista e doce riso,
Tomando então meus olhos mantimento,
Tão enlevado sinto o pensamento
Que me faz ver na terra o Paraíso.

Tanto do bem humano estou diviso,
Que qualquer outro bem julgo por vento;
Assi, que em caso tal, segundo sento
Assaz de pouco faz quem perde o siso.

Em vos louvar, Senhora, não me fundo,
Porque quem vossas claro sente,
Sentirá que não pode merece-las.

Que de tanta estranheza sois ao mundo,
Que não é d’estranhar, Dama excelente,
Que quem vos fez, fizesse Céu e estrelas.
                                                                          Camões.

Tomando [...] mantimento: tomando consciência.
Estou diviso: estou separado, apartado.
Sento: sinto.
Não me fundo: não me empenho.

a)    Caracterize brevemente a concepção de mulher que este soneto apresenta.
A mulher é apresentada como um exemplo perfeito da criação divina, que eleva o pensamento do eu lírico e está acima das coisas terrenas. Em resumo, é uma concepção platônica de mulher.

b)    Aponte duas características desse soneto que o filiam ao Classicismo, explicando-as sucintamente.
Podemos apontar como características do Classicismo a concepção platônica do amor e o rigor formal, presente no uso de versos decassílabos e na forma do soneto.

19 – (ENEM).
     

   Esta gramática, pois que gramática implica no seu conceito o conjunto de normas com que torna consciente a organização de uma ou mais falas, esta gramática parece estar em contradição com meu sentimento. É certo que não tive jamais pretensão de criar a Fala Brasileira. Não tem contradição. Só quis mostrar que o meu trabalho não foi leviano, foi sério. Se cada um fizer também das observações e usos pessoais a sua gramatiquinha muito que isso facilitará pra daqui a uns cinquenta anos se salientar as normas gerais, não só da fala oral transitória e vaga, porém da expressão literária impressa, isto é, da estilização erudita da linguagem oral. Essa estilização é que determina a cultura civilizada sob o ponto de vista expressivo. Linguístico.
                                                                     
                                                                         Andrade, Mário. Apud Pinto, E. P.
                  A gramatiquinha de Mário de Andrade: Texto e contexto: São Paulo:
                         Duas Cidades: Secretaria de Estado da Cultura, 1990. (Adapt.).

O fragmento é baseado nos originais de Mário de Andrade destinados à elaboração da sua gramatiquinha. Muitos rascunhos do autor foram compilados, com base nos quais depreende-se do pensamento de Mário de Andrade que ele:
a)    Demonstra estar de acordo com os ideais da gramática normativa.
b)    É destituída da pretensão de representar uma linguagem próxima do falar.
c)    Dá preferência à linguagem literária ao caracterizá-la como estilização erudita da linguagem oral.
d)    Reconhece a importância do registro do português do Brasil ao buscar sistematizar a língua na sua expressão oral e literária.
e)    Refere a respeito dos métodos de elaboração das gramáticas, para que ele torne mais sério, o que fica claro na sugestão de que cada um se dedique a estudos pessoais.

20 – (ENEM)
Chico Bento


           Sousa, Mauricio de. [Chico Bento]. O Globo. Rio de Janeiro, Segundo Caderno, 19 dez. 2008, p. 7.

O personagem Chico Bento pode ser considerado um típico habitante da zona rural, comumente chamado de “roceiro” ou “caipira”. Considerando a sua fala, essa tipicidade é confirmada primordialmente pela:

a)    Transcrição da fala característica de áreas rurais.
b)    Redução do nome “Jose” para “ZÉ”, comum nas comunidades rurais.
c)    Emprego de elementos que caracterizam sua linguagem como coloquial.
d)    Escolha de palavras ligadas ao meio rural, incomuns nos meios urbanos.
e)    Utilização da palavra “coisa”, pouco frequente nas zonas mais urbanizadas.

21 – (FUVEST-SP)
        O autoclismo da retrete


        Rio de Janeiro – Em 1973, fui trabalhar numa revista brasileira editada em Lisboa. Logo no primeiro dia, tive uma amostra das deliciosas diferenças que nos separavam, a nós e aos portugueses, em matéria de língua. Houve um problema no banheiro da redação e eu disse à secretária: “Isabel, por favor, chame o bombeiro para consertar a descarga da privada.” Isabel franziu a testa e só entendeu as quatro primeiras palavras. Pelo visto, eu estava lhe pedindo que chamasse a Banda do Corpo de Bombeiros para dar um concerto particular de marchas e dobrados na redação. Por sorte, um colega brasileiro, em Lisboa havia algum tampo e já escolado nos meandros da língua, traduziu o recado: “Isabel, chame o canalizador para reparar o autoclismo da retrete”. E só então o belo rosto de Isabel se iluminou.
                                                                            Ruy Castro, folha de São Paulo.

a)    Em São Paulo, entende-se por “encanador” o que no Rio de Janeiro se entende por “bombeiro” e, em Lisboa, por “canalizador”. Isto permitiria afirmar que, em algum desses lugares, ocorre um uso equivocado da língua portuguesa? Justifique sua resposta.
Não há qualquer equívoco. As diferenças lexicais observadas correspondem a variações regionais próprias de diferentes dialetos do português.

b)    Uma reforma que viesse a uniformizar a ortografia da língua portuguesa em todos os países que a utilizam evitaria o problema de comunicação ocorrido entre o jornalista e a secretária. Você concorda com essa afirmação? Justifique.
Não evitaria, porque reformas ortográficas não tem o poder de alterar diferentes lexicais, ou seja, não vão fazer com que os falantes passem a utilizar palavras diferentes daquelas características dos seus dialetos. Uma reforma ortográfica afeta somente a representação escrita das palavras, jamais o seu uso. Cariocas continuariam a chamar um “bombeiro” para resolver o mesmo problema que, em São Paulo, seria de competência de um “encanador” e, em Lisboa, do “canalizador”.

22 – (ENEM)
                     Sentimental

Ponho-me a escrever teu nome
Com letras de macarrão
No prato, a sopa esfria, cheia de escamas
E debruçados na mesa todos contemplam
Esse romântico trabalho.

Desgraçadamente falta uma letra
Uma letra somente
Para acabar teu nome!

--- Está sonhando? Olha que a sopa esfria!




Eu estava sonhando...
E há todas as consciências este cartaz amarelo:
“Neste país é proibido sonhar”.
            Andrade, C. D. Seleta em prosa e verso. Rio de Janeiro: Record, 1995.

Com base na leitura do poema, a respeito do usa e da predominância das funções da linguagem no texto de Drummond, pode-se afirmar que:

a)    Por meio dos versos “Ponho-me a escrever teu nome” e “esse romântico trabalho”, o poeta faz referências ao seu próprio ofício: o gesto de escrever poemas líricos.
b)    A linguagem essencialmente poética que constitui os versos “No prato a sopa esfria, cheia de escamas e debruçados na mesa todos contemplam “confere ao poema uma atmosfera irreal e impede o leitor de reconhecer no texto dados de uma cena realista.
c)    Na primeira estrofe, o poeta constrói uma linguagem centrada na amada, receptora da mensagem, mas, na segunda, ele deixa de se dirigir a ela e passa a exprimir o que sente.
d)    Em “Eu estava sonhando...”, o poeta demonstra que está mais preocupado em responder à pergunta feita anteriormente e, assim, dar continuidade ao diálogo com seus interlocutores do que em expressar algo sobre si mesmo.
e)    No verso “Neste país é proibido sonhar.”, o poeta abandona a linguagem poética para fazer uso da função referencial, informando sobre o conteúdo do “cartaz amarelo” presente no local.

23 – (ENEM)

Texto I
        Ser brotinho não é viver em um píncaro azulado; é muito mais! Ser brotinho é sorrir bastante dos homens e rir interminavelmente das mulheres, rir como se o ridículo, visível ou invisível, provocasse uma tosse de riso irresistível.

         Campos, Paulo Mendes. Ser brotinho. In: Santos, Joaquim Ferreira dos (ORG.). As cem melhores crônicas brasileiras. Rio de Janeiro: Objetiva, 2005. p. 91.

Texto II
    

    Ser gagá não é viver apenas nos idos do passado: é muito mais! É saber que todos os amigos já morreram e os que teimam em viver são entrevados. É sorrir, interminavelmente, não por necessidade interior, mas porque a boca não fecha ou a dentadura é maior que a arcada.
                 Fernandes, Millôr. Ser gagá. In: Santos, Joaquim Ferreira dos (Org.).
                  As cem melhores crônicas brasileiras. Rio de Janeiro: Objetiva, 2005. p. 225.

Os textos utilizam os mesmos recursos expressivos para definir as fases da vida, entre eles:
a)    Expressões coloquiais com significados semelhantes.
b)    Ênfase no aspecto contrário da vida dos seres humanos.
c)    Recursos específicos de textos escritos em linguagem formal.
d)    Termos denotativos que se realizam com sentido objetivo.
e)    Metalinguagem que explica com humor o sentido de palavras.

24 – (ENEM)

  

     Canção amiga

Eu preparo uma canção
Em que minha mãe se reconheça
Todas as mães se reconheçam
E que fale como dois olhos.
[...]
Aprendi novas palavras
E tomei outras mais belas.

Eu preparo uma canção
Que faça acordar os homens
E adormecer as crianças.
                                                                          Andrade, C. D. Novos poemas.
                                            Rio de Janeiro: José Olympio. 1948. (Fragmento).

A linguagem do fragmento acima foi empregada pelo autor com o objetivo principal de:
a)    Transmitir novas informações, fazer referência a acontecimentos observados no mundo exterior.
b)    Envolver, persuadir o interlocutor, nesse caso, o leitor, em um forte apelo à sua sensibilidade.
c)    Realçar os sentimentos do eu lírico, suas sensações, reflexões e opiniões frente ao mundo real.
d)    Destacar o processo de construção de seu poema, ao falar sobre o papel da própria linguagem e do poeta.
e)    Manter eficiente o contato comunicativo entre o emissor da mensagem, de um lado, e o receptor, de outro.




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