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segunda-feira, 23 de outubro de 2017

POEMA: O OVO DE GALINHA - JOÃO CABRAL DE MELO NETO - COM GABARITO

POEMA: O OVO DE GALINHA
                 João Cabral de Melo Neto
                    I
Ao olho mostra a integridade
De uma coisa num bloco, um ovo.
Numa sé matéria, unitária,
Maciçamente ovo, num todo.

Sem possuir um dentro e um fora,
Tal como as pedras, sem miolo:
E só miolo: o dentro e o fora
Integralmente no contorno.



No entanto, se ao olho se mostra
Unânime em si mesmo, um ovo,
A mão que o sopesa descobre
Que nele há algo suspeitoso:


Que seu peso não é o das pedras,
Inanimado, frio, goro;
Que o seu é um peso morno, túmido,
Um peso que é vivo e não morto.


                         II
O ovo revela o acabamento
A toda mão que o acaricia,
Daquelas coisas torneadas
Num trabalho de toda a vida.

E que se encontra também noutras
Que entretanto mão não fabrica:
Nos corais, nos seixos rolados
E em tantas coisas esculpidas.

Cujas formas simples são obra
De mil inacabáveis lixas
Usadas por mãos escultoras
Escondidas na água, na brisa.

No entretanto, o ovo, e apesar
Da pura forma concluída,
Não se situa no final:
Está no ponto de partida.
[...]
               João Cabral de Melo Neto. Obra completa. Rio de Janeiro.
            Aguilar, 1994. p. 302-3. By Herdeiros de João de Melo Neto.

Goro: choco, podre.
Seixo: cascalho.
Sopesar: calcular com a mão o peso de alguma coisa.
Túmido: dilatado, intumescido.

Interpretação do texto:

1 – O poeta escolheu como motivo de seu poema um elemento do mundo físico: o ovo de galinha. Que aspectos desse elemento mais impressionam o eu poético?
      O acabamento perfeito e o peso.

2 – Sopesar o ovo leva a sentir nele um “peso vivo”. Como você entendeu essa característica do objeto descrito?
      No poema, o peso é classificado como “morno”, “túmido”. Comente com os alunos que o eu poético exemplifica cada característica que percebe no objeto descrito.

3 – A palavra acabamento remete à ideia de objeto concluído. Que metáforas do poema designam:
a – O agente desse acabamento;
      “... mãos escultoras/escondidas na água, na brisa”.

b – A ferramenta utilizada por esse agente;
      “... mil inacabáveis lixas”.

c – A contradição que o eu poético identifica nesse acabamento.
      “No entretanto, o ovo, e apesar/da pura forma concluída,/não se situa no final:/está no ponto de partida”.
Professor(a): as ideias de partida e acabamento são antitéticas.

4 – Como você entendeu a contradição exposta pelo eu poético na estrutura do ovo?
      Ovos encerram matrizes de novas vidas; são, por isso, ponto de partida, não de chegada, embora sua forma pareça já concluída, esculpida.

5 – Pense nos cinco sentidos humanos. Na descrição do ovo, quais desses sentidos são privilegiados?
      O tato e a visão.

6 – Esse poema é constituído de cinco partes, das quais transcrevemos duas. A estrutura de cada uma delas é idêntica: São dezesseis versos distribuídos em quatro estrofes. Logo, cada estrofe tem quatro versos. Esse tipo de preocupação formal é bem diferente da que predominou entre os modernistas da primeira fase. Explique essa afirmativa em seu caderno.
      A liberdade formal foi a reivindicação fundamental dos modernistas da primeira fase.


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