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segunda-feira, 23 de outubro de 2017

POEMA ENJOADINHO - VINÍCIUS DE MORAES - COM GABARITO

POEMA ENJOADINHO
Vinícius de Moraes

Filhos... Filhos?
Melhor não tê-los!
Mas se não os temos
Como sabe-lo?
Se não os temos
Que de consulta
Quanto silêncio
Como o queremos!
Banho de mar
Diz que é um porrete...
Cônjuge voa
Transpõe o espaço
Engole água
Fica salgada
Se iodifica
Depois, que boa
Que morenaço
Que a esposa fica!
Resultado: filho,
E então começa
A aporrinhação:
Cocô está branco
Cocô está preto
Bebe amoníaco
Comeu botão.
Filhos? Filhos.
Melhor não tê-los
Noite de insônia
Cãs prematuros
Prantos convulsos
Meu Deus, salvai-o!
Filhos são o demo
Melhor não tê-los...
Mas se não os temos
Como sabe-los?
Como saber
Que macieza
Nos seus cabelos
Que cheiro morno
Na sua carne
Que gosto doce
Na sua boca!
Chupam gilete
Bebem xampu
Ateiam fogo
No quarteirão
Porém, que coisa
Que coisa louca
Que coisa linda
Que os filhos são!
                                   Vinícius de Moraes. Poesia completa & prosa.
                                              Rio de Janeiro: Aguilar, 1987. p. 261-2.
Que de consulta: quanta consulta.

1 – A reflexão do poeta é conduzida por um dilema. Qual? Explique-o.
      Ter ou não ter filhos. Não ter é não enfrentar aborrecimentos, mas também é renunciar a saber como é ser pai.

2 – O eu lírico alterna sua opinião entre as oposições que constituem o dilema. A que conclusão ele chega, finalmente? Como a Justifica?
      Que é melhor ter os filhos, porque não há como saber o que é não ser pai sem ser. Sem ter filhos, como conhece-los para saber que seria melhor não os ter tido?

3 – A conjunção porém no 47° verso introduz a conclusão do poeta. Essa conclusão é predominantemente lógica ou emocional? Justifique.
      A repetição da interjeição que expressa o tom subjetivo, emocional da conclusão.

4 – Interprete os efeitos de sentido que se obtêm pela pontuação, nestes versos:
      Filhos... Filhos? (Verso 1):
      Expressasse a dúvida, marcada pela hesitação (reticências e ponto de interrogação).

      Filhos? filhos. (Verso 26):
      Retoma-se a dúvida (ponto de interrogação) e imediatamente vem a resposta afirmativa. (Ponto final).

5 – Analise as duas grandes enumerações do poema: Uma expõe motivos para não ter filhos; a outra, motivos para os ter. A que universo de preocupações parecem pertencer esse motivos?
      Os motivos expostos referem-se ao dia-a-dia, aos problemas e às alegrias do quotidiano.

6 – Observe a métrica dos quatro primeiros versos do poema:
- Fi-lhos... Fi-lhos? (3 sílabas poéticas)
- Me-lhor-não-tê-los! (4 sílabas poéticas)
- Mas-se-não-os-te-mos (4 sílabas poéticas)
- Co-mo-sa-bê-lo? (4 sílabas poéticas)

Esses versos curtos, com alguma variação, repetem-se no poema todo. Que efeito sonoro resulta do fato de os versos serem curtos?
      Resposta pessoal do aluno. O ritmo do poema, graças aos versos curtos, reforça o caráter descontraído com que o tema é tratado. Essa estrutura reforça o significado do adjetivo do título (enjoadinho).

7 – Se você não for pai/mãe: o ponto de vista expresso no poema o impressionou? Se você tivesse que enfrentar o dilema de tornar-se ou não pai/mãe algum dia levaria em conta os argumentos expostos pelo eu lírico? Ou essa questão nunca foi um dilema e já está resolvida em sua cabeça?
      Resposta pessoal do aluno.



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