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sexta-feira, 4 de agosto de 2017

TEXTO: SERES ENCANTADOS QUE DESEMBARCARAM NO BRASIL - QUESTÕES OBJETIVAS - COM GABARITO

TEXTO
    Você sabe dizer de que maneira os seres fantásticos, como o lobisomem e a mula sem cabeça, "chegaram" ao Brasil? Após pensar sobre isso, leia o texto a seguir e confirme (ou não) sua hipótese.

 SERES ENCANTADOS QUE DESEMBARCARAM NO BRASIL

        Quando eu era criança, alguém sempre contava histórias de lobisomem e mula sem cabeça. Hoje, quase não se fala mais nesses seres que habitam o reino da fantasia. Mas eu ainda conheço um bocado de gente que acredita neles e jura de pés juntos que já os viram. 
       Depois que eu deixei de ser criança – e isso já faz muito tempo –, resolvi pesquisar sobre essas histórias para saber como foi que elas surgiram aqui no Brasil. Vocês podem não acreditar, mas tanto o lobisomem quanto a mula sem cabeça vieram para este país nas caravelas portuguesas. Verdade! Só não se sabe ao certo se elas vieram em 1500, com Pedro Álvares Cabral, ou se foram chegando depois, em outras caravelas enviadas pelo rei de Portugal.
        Não pensem que enlouqueci imaginando um lobisomem e uma mula sem cabeça de malas prontas, acenando no cais com um lencinho. Esses seres vieram em uma bagagem que a gente chama de cultural. Vejam só: por volta do século 15, quando os portugueses começaram suas viagens em busca de novas terras para explorar riquezas, eles levavam um bocado de coisas em suas embarcações. Afinal, as viagens eram longas e eles precisavam estar preparados para passar muito tempo no mar. 
      Claro que nenhum lobisomem ou mula sem cabeça foi visto circulando entre os tripulantes das caravelas, mas, com toda certeza, eles estavam lá. Calma, não se trata de uma história de terror. Quero dizer que toda vez que vamos a algum lugar e encontramos pessoas diferentes, a gente conversa, troca informações, ensina e aprende coisas. Quando fazemos isso, acabamos adquirindo hábitos e costumes de outras pessoas. Logo, isso aconteceu com os portugueses, quando eles resolveram viajar. Além de objetos pessoais, ferramentas, instrumentos de navegação e  alimentos, eles levavam na bagagem tudo o que conheciam e acreditavam. E foi assim que a mula sem cabeça e o lobisomem chegaram ao Brasil – na bagagem cultural, que é formada, como já vimos, pelo conjunto de coisas que a gente sabe, que a gente ensina e que aprende.

 ABRINDO A BAGAGEM 

         Em Portugal, há 500 anos, um monte de gente acreditava em lobisomem e em mula sem cabeça e parte dessa gente veio para o Brasil. Aqui, os portugueses começaram a contar histórias de sua terra e, de sua bagagem cultural, tiraram também outros seres fantásticos, como sereias, sacis, velhos do saco, bruxas, fadas, bicho- -papão, papa-figos e muitos mais, que, aqui, assustaram e, ao mesmo tempo, embalaram o sono de muitas crianças. 
      Os negros, trazidos da África pelos portugueses, para serem escravos, além de muita tristeza e saudades de sua terra natal, trouxeram, também, inúmeras histórias. Aliás, como eles foram capturados e obrigados a deixarem sua terra, não tiveram condições de arrumar seus pertences para a viagem. Mas ninguém pôde proibi-los de trazer suas crenças, suas histórias, seus hábitos e seus costumes, ou seja, a tal bagagem cultural. 
      Na imaginação dos viajantes, livres e escravizados, veio toda sorte de crenças, mitos e lendas que aqui, em solo fértil, brotou e proliferou por todo o território. Com os portugueses, vieram lobisomens, mulas sem cabeça e outros. Com os africanos vieram quibungo, chibamba e as histórias de animais. 
        Aí, você pode perguntar: e as histórias dos índios que já estavam aqui? Eu diria que os lobisomens e os quibungos encontraram-se com mapinguaris, caiporas, curupiras e passaram a conviver em harmonia nas florestas e na imaginação dos brasileiros que iam nascendo, neste novo território, da mistura de europeus, africanos e índios. (...)

 JURANDO DE PÉS JUNTOS

       Como eu disse no início dessa conversa, tem muita gente que acreditava nesses seres encantados. Nas grandes cidades, nem tanto, mas, no interior do Brasil, ainda se contam muitas histórias de lobisomem. 
    Dizem que numa família de sete filhos homens, o caçula pode virar lobisomem, se não for batizado pelo irmão mais velho. E tem mais: na hora em que vira lobisomem, tem que correr sete fontes, sete cemitérios e sete igrejas. Só depois dessa maratona é que ele volta à forma humana. Dizem, ainda, que os lobisomens atacam o gado, as galinhas e as pessoas, tudo em busca de sangue. Para matá-lo é preciso atirar com uma bala de prata.
       Quanto à mula sem cabeça, a história da transformação é bem diferente. 
Reza a lenda que qualquer mulher que namorar um padre pode virar mula sem cabeça, porque namorar padre é pecado. Agora, veja como essa história é injusta: o padre não pode ter namorada, mas, se tiver, só a mulher é castigada. A pobre coitada vira uma mula que solta fogo pelas ventas e nunca mais desvira. Com o padre, não acontece nada. 
     Essa história de mula sem cabeça veio da Península Ibérica, parte da Europa que hoje está dividida entre Portugal e Espanha. Provavelmente, surgiu porque, no século 12, as mulas eram os animais mais próximos dos padres, que se locomoviam de um lugar para outro montados nesses animais, considerados seguros e resistentes. 
       Além dessa história de ser namorada do padre, já ouvi dizer, também, que se uma mãe tem sete filhas mulheres e não der a mais nova para a mais velha batizar, a caçula vira mula sem cabeça, igualzinho ao caso do lobisomem.

 PONTO FINAL

      Acho que é mais ou menos isso que eu queria contar pra vocês. É claro que tem muito mais coisas para descobrirmos sobre a cultura brasileira. Caso vocês se interessem pelo assunto, vou dar uma dica: comecem lendo os livros de Luís Câmara Cascudo, que foi um grande estudioso de nossa cultura. (...)

              Georgina da Costa Martins. In.: Ciência Hoje das Crianças,
                      ano 13, n. 106. Rio de Janeiro: SBPC, setembro/2000.

A partir da leitura atenta do Texto I, realize as questões propostas.

1ª QUESTÃO: Assinale a opção que está em desacordo com as informações do Texto :
       A – ( ) Atualmente, ainda existem pessoas que declaram acreditar em mula sem cabeça e lobisomem.
       B – ( ) Alguns mitos folclóricos brasileiros fazem parte da bagagem cultural portuguesa.
       C – ( ) A cultura brasileira também possui influência e contribuição africana.
       D – ( ) O povo indígena criou personagens tais como caiporas e curupiras.
       E – (X) As histórias indígenas, africanas e portuguesas nunca se fundiram nem conviveram pacificamente no imaginário popular e no território brasileiro.

2ª QUESTÃO: "... veio toda sorte de crenças, mitos e lendas que aqui, em solo fértil, brotou e proliferou por todo o território." O vocábulo proliferou, neste contexto, só não significa:
       A – ( ) reproduziu.
       B – ( ) multiplicou.
       C – ( ) expandiu.
       D – (X) reduziu.
       E – ( ) aumentou.

3ª QUESTÃO: "... qualquer mulher que namorar um padre / pode virar mula sem cabeça..."  As orações acima estabelecem entre si uma, respectivamente, relação de:
       A – ( ) fato/causa.
       B – (X) fato/consequência.
       C – ( ) fato/finalidade.
       D – ( ) problema/solução.
       E – ( ) fato/condição.

4ª QUESTÃO: No ponto de vista da pessoa que narra o Texto I, a história da mula sem cabeça, na versão de uma mulher que namora um padre, tem um desfecho:
       A – ( ) coerente.
       B – ( ) satisfatório.
       C – (X) injusto.
       D – ( ) aceitável.
       E – ( ) perfeito.

5ª QUESTÃO: Os trechos abaixo deixam explícito o contato do narrador com o leitor, exceto:
       A – ( ) "Vocês podem não acreditar, mas..." 
       B – ( ) "Não pensem que enlouqueci..." 
       C – ( ) "Vejam só: por volta do século 15..." 
       D – ( ) "Aí, você pode perguntar..." 
       E – (X) "Essa história de mula sem cabeça veio da Península Ibérica..." 

6ª QUESTÃO: Marque a análise equivocada sobre o Texto :
         A – ( ) Possui narrador-personagem, isto é, tem foco narrativo interno.
       B – ( ) Em "...eles levavam um bocado de coisas..." , há o emprego de linguagem informal, coloquial.
     C – (X) "Provavelmente, surgiu porque, no século 12..." . O vocábulo grifado registra certeza no narrador.
       D – ( ) "Reza a lenda que qualquer mulher..." . É adequada a substituição da palavra grifada por diz, relata, conta.
       E – ( ) "Afinal, as viagens eram longas..."  Neste trecho, vê-se o emprego de uma palavra denotativa de situação.


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