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quinta-feira, 2 de outubro de 2025

CONTO: AS FIGURAS DE SINTAXE - EMÍLIA NO PAÍS DA GRAMÁTICA - MONTEIRO LOBATO - COM GABARITO

 Conto: As Figuras de Sintaxe – Emília no país da gramática

           Monteiro Lobato

        Durante todo o tempo da conversa sintática, Pedrinho e Narizinho estiveram a observar, disfarçadamente, várias personagens da comitiva da grande dama. Ela, afinal, percebeu o joguinho e contou serem as tais FIGURAS DE SINTAXE.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgjUs3skVoCbkQ8KLI4L2PWb44kZaZy4GRNMVG4p7LIB8fX0bfgxkMoYBJ0K8kO_pgfv7fLMHjNjvZz_cGk2jv8uKvCXvg6pJlIDpUNsVRD7Hw4UIiFgI_VB2dAk2OqwEChadAgf0iQXWxIoHF8y6IrCKtvzGwmEsHr5_2a_L0pxLydLv1QqOAn105MGxQ/s320/noticiasconcursos.com.br-conheca-as-figuras-da-sintaxe-e-saiba-diferencia-las-figuras-de-sintaxe.png


        — Figuras de Sintaxe? — repetiu Narizinho sem compreender. — Que espécie de figuras são essas?

        A grande dama explicou:

        — Eu tenho sempre comigo umas tantas Figuras que me auxiliam no trabalho de trazer bem arrumadinhas as Orações. Vou apresentá-las a vocês.

        E dirigindo-se às Figuras:

        — Senhoras Figuras de Sintaxe, permiti-me que vos apresente à grande Emília, Marquesa de Rabicó, à menina do Narizinho Arrebitado e ao Senhor Pedrinho. E ali — continuou, apontando para o rinoceronte —, um grande filólogo da Uganda, que se acha de passeio pelas terras da Gramática.

        As Figuras fizeram uma graciosa reverência. Em seguida a grande dama passou a explicar as funções de cada uma.

        — Este aqui — disse, indicando um jeitoso figurão, é o Senhor PLEONASMO, cujo serviço consiste em reforçar o que a gente diz. Quando uma pessoa declara que viu com os seus próprios olhos, está usando um Pleonasmo, porque se dissesse apenas que viu já a ideia estaria completa. Está claro que ninguém pode ver senão com os seus próprios olhos; mas falando dessa maneira pleonástica fica mais forte a expressão. O Pleonasmo tem de ser discreto e exato; se repete, ou comete uma redundância sem que a força da expressão aumente, torna-se defeito. Tudo quanto é inútil constitui defeito.

        Pleonasmo ofereceu os seus préstimos aos meninos e retirou-se, depois duma elegante curvatura.

        — Esta aqui — continuou Dona Sintaxe indicando outra. Figura — é a minha amiga ELIPSE, que suprime da frase tudo quanto pode ser facilmente subentendido. Nesta Oração: Gosto de uvas e você, de laranjas, a Senhora Elipse cortou duas palavras sem que o sentido perdesse alguma coisa. Sem esse corte a frase ficaria assim: (Eu) gosto de uvas e você (gosta) de laranjas, mais comprida e menos elegante.

        A Senhora Elipse deu um beijinho na boneca e retirou-se.

        — E esta aqui — prosseguiu Dona Sintaxe — é a Senhora ANÁSTROFE, que inverte os termos da frase. Quando uma pessoa diz: Acabou-se a festa, em vez de dizer: A festa acabou-se, está se servindo do bom gosto da minha amiga Anástrofe.

        A gentil Anástrofe quis também dar um beijo na boneca; mas Emília fugiu com o rosto, pensando lá na sua cabecinha: "Um beijo desta diaba é capaz de inverter os 'termos da minha cara', pondo a boca em cima do nariz, ou coisa parecida".

        — Pois é assim, meus meninos — concluiu Dona Sintaxe depois que a última Figura se retirou. — Estas amigas valem por ajudantes preciosos. Graças ao seu concurso consigo dar muita graça e elegância às frases.

        — A tal Senhora Anástrofe não será por acaso irmã duma tal Catástrofe? — perguntou Emília, de ruguinha na testa.

        Dona Sintaxe riu-se da lembrança e não achou fora de propósito a pergunta.

        — Perfeitamente — respondeu. — São duas palavras de formação grega bastante aparentadas. Anástrofe é formada de Ana (entre) e Strepho (eu viro). E Catástrofe é formada de Kata (debaixo) e o mesmo Strepho (eu viro)... São, pois, irmãs por parte do pai, que é o Verbo Strepho. Uma vira entre. Outra vira de pernas para o ar. Mas ambas viram...

        A boa dama ainda conversou com os meninos por longo tempo, explicando os muitos trabalhos que tinha na língua para que as frases andassem corretamente vestidas.

        — Quer dizer que a senhora é uma espécie de costureira — lembrou Narizinho.

        Dona Sintaxe achou que não.

        — Costureira propriamente não. Meu papel na língua é de arrumadeira.

        — E quanto ganha por mês? — indagou Emília.

        — Nada, bonequinha. Trabalho de graça — trabalho por amor à limpeza e ao bom arranjo deste meu povinho, que são as frases. Mas vamos agora ver outra coisa.

        Quero que vocês conheçam os Vícios de Linguagem, que eu conservo aqui por perto, presos em gaiolas.

OBRA INFANTO-JUVENIL DE MONTEIRO LOBATO. Edição do Círculo do Livro. Emília no País da Gramática. As figuras de sintaxe. https://www.fortaleza.ce.gov.br.

Entendendo o conto:

01 – Quem são as "Figuras de Sintaxe", qual é a função delas na Oração, e por que Dona Sintaxe as utiliza?

      As Figuras de Sintaxe são personagens que auxiliam Dona Sintaxe no trabalho de trazer as Orações bem arrumadinhas. Elas são utilizadas para conferir graça e elegância às frases. Sua função principal é permitir desvios sutis ou reforços na estrutura gramatical padrão, sem prejudicar a clareza da mensagem.

02 – Defina Pleonasmo e explique quando essa Figura de Sintaxe é considerada um auxílio para a expressão e quando se torna um defeito. Cite o exemplo dado no texto.

      O Pleonasmo é a Figura de Sintaxe cujo serviço consiste em reforçar o que se diz por meio da repetição de uma ideia já expressa ou implícita.

      É um auxílio quando a redundância aumenta a força da expressão e torna a comunicação mais enfática (exemplo: viu com os seus próprios olhos).

      É um defeito quando a repetição é inútil ou constitui uma redundância que não acrescenta força à expressão, tornando-se apenas um "vício".

03 – Qual é o papel da Elipse? Exemplifique como essa figura atua para tornar a frase "mais curta e menos elegante" sem perder o sentido.

      A Elipse é a Figura de Sintaxe que suprime (corta) palavras da frase que podem ser facilmente subentendidas (deduzidas) pelo contexto. O exemplo dado é: "Gosto de uvas e você, de laranjas". Nessa oração, a Elipse cortou as palavras "Eu" e "gosta" que seriam necessárias para a estrutura completa: "(Eu) gosto de uvas e você (gosta) de laranjas".

04 – O que faz a Anástrofe e como Emília reage à sua presença? Qual é a relação etimológica que o conto estabelece entre Anástrofe e Catástrofe?

      A Anástrofe é a Figura de Sintaxe que inverte os termos da frase, alterando a ordem direta, como em "Acabou-se a festa" em vez de "A festa acabou-se". Emília reage à Anástrofe com desconfiança e medo, fugindo do beijo da Figura por achar que um beijo dessa "diaba" seria capaz de "inverter os termos da minha cara". O conto explica que Anástrofe (Ana, que significa 'entre', + Strepho, que significa 'eu viro') e Catástrofe (Kata, que significa 'debaixo', + Strepho) são irmãs por parte do pai, o Verbo Strepho, pois ambas se referem a algum tipo de inversão ou virada.

05 – De que forma Dona Sintaxe define seu papel no domínio da língua e como ela se difere da função de uma "costureira", conforme sugerido por Narizinho?

      Dona Sintaxe define seu papel na língua como de uma arrumadeira. Embora Narizinho a compare a uma costureira (alguém que veste as frases), Dona Sintaxe discorda sutilmente. Sua função não é apenas vestir, mas sim arrumar, fiscalizar e dar ordem às palavras e frases. Ela trabalha "por amor à limpeza e ao bom arranjo" da sua população (as frases), garantindo que a clareza seja mantida, através do controle da concordância e da colocação.

 

 

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