Texto: Teatro de mamulengos
O teatro de manipulação é um tipo de
teatro em que bonecos, fantoches ou marionetes são animados. Na Região
Nordeste, é chamado teatro de “mamulengos”. É uma manifestação artística da
cultura popular, que trata de temas da região em que é encenado: costumes,
tradições, lendas, crenças populares e meio ambiente. Como a literatura de
cordel, as histórias do teatro de mamulengos são inspiradas no cotidiano, e
possuem caráter cômico e satírico.

Acredita-se que a palavra “mamulengo”
tenha origem na expressão “mão molenga” ou “brincadeira do molenga”, que se
refere à forma como são manipulados os bonecos: o corpo dos personagens é
vestido na mão de quem vai movimentar os bonecos. Os mamulengos costumam ser
feitos de madeira, pintados à mão e revestidos com roupas de tecido. O artista
que faz e manipula os bonecos é popularmente chamado “bonequeiro”,
“mamulengueiro” ou “mestre”. Ele, geralmente, é o dono dos bonecos e
idealizador de quase tudo o que envolve a apresentação. O mestre mamulengueiro
é poeta, ator, cantor e artesão. Os bonecos nordestinos são entalhados em um
tipo de madeira muito leve chamada mulungu, encontrada na região.
O teatro de mamulengos nordestino tem
muitas semelhanças com a commedia dell’arte, gênero teatral. Por esse motivo,
acredita-se que tenha se originado dela. O teatro de mamulengos tem
praticamente a mesma estrutura da commedia dell’arte: é totalmente improvisado;
tem personagens fixos, que perpassam as histórias; baseia-se em roteiros não
escritos; estabelece uma estreita relação com o público; e é sempre acompanhado
por música ao vivo. As representações, também chamadas “brincadeiras”, são
itinerantes, ou seja, perambulam de cidade em cidade, onde são montadas as
barracas, também chamadas “toldas”, “empanadas” ou “tendas”. O mestre, o
contramestre e os ajudantes manipulam os bonecos e fazem as vozes de dentro
dessa barraca, deixando aparecer somente o fantoche. Do lado de fora da
barraca, ficam os instrumentos, também chamados popularmente de
“instrumenteiros”, “batuqueiros” ou “tocadores”, que tocam principalmente
sanfona, triângulo, ganzá e zabumba; o Mateus, personagem que foi apropriado do
Bumba meu boi, representa um interlocutor entre os bonecos e o público, que tem
participação ativa durante todo o espetáculo.
No teatro de mamulengos tradicional,
existem passagens recorrentes, que são marcantes desse tipo de manifestação. O
pernambucano Valdeck de Garanhuns (1952), mamulengueiro, poeta, compositor,
ator e xilogravurista, explica algumas delas:
Passagens-pretexto – onde aparece um
boneco, cumprimenta o público, diz uns gracejos, canta alguma coisa e sai. Sua
aparição é independente de qualquer explicação.
Passagens-narrativas – feitas
com versos, como os dos poetas repentistas. Um ou dois bonecos narram fatos,
acontecimentos ou estórias imaginárias.
Passagens
de briga – geralmente são arbitrárias, onde os bonecos dão prova de
verdadeira resistência artesanal, devido ao grande número das pancadarias e
violentas contorções que são típicas dessas passagens. As brigas e a violência
dessas passagens não chegam, porém, a chocar ou agredir o público, por se
valerem do humor, do ridículo e do caricatural nas representações.
Passagens
de dança – servem como recurso para fazer ligação entre as outras passagens
que compõem o brinquedo. São também totalmente arbitrárias e delas participam
ativamente os tocadores e os bonecos dançarinos.
Passagens
de peças ou tramas – são comédias, dramas, farsas, autos religiosos,
sátiras sociais etc., que seguindo a estrutura formal do espetáculo de teatro,
podemos considera-las pequenas peças. Essas pequenas passagens, embora não
sejam escritas, acontecem dentro do mamulengo, igualmente ao teatro de revista,
onde se sucedem como esquetes com assuntos cômicos, sociais, morais, religiosos
etc., incorporando elementos que pertencem ao gênero dos musicais e ao gênero
do Circo.
Disponível em: http://www.valdeckdegaranhuns.art.br/mamulengos.html.
Acesso em: fev. de 2013.
Fonte: Arte em
Interação – Hugo B. Bozzano; Perla Frenda; Tatiane Cristina Gusmão – volume
único – Ensino médio – IBEP – 1ª edição – São Paulo, 2013. p. 348-349.
Entendendo o texto:
01 – Como é chamado o teatro
de manipulação de bonecos na Região Nordeste do Brasil, de acordo com o texto?
A – Teatro de Fantoches
B – Teatro de Marionetes
C – Teatro de
Mamulengos
D – Teatro de Sombras
02 – Qual é a possível origem
da palavra 'mamulengo', de acordo com o texto?
A – Devido à flexibilidade das
roupas de tecido dos personagens.
B – Da expressão
'mão molenga' ou 'brincadeira do molenga', referindo-se à manipulação dos
bonecos.
C – É uma palavra de origem
indígena relacionada à madeira mulungu.
D – Porque os bonecos são
feitos de massa 'molenga'.
03 – De acordo com o texto,
quem é o 'mestre' no contexto do teatro de mamulengos?
A – O músico que acompanha as
apresentações com sanfona e triângulo.
B – O artista que
faz e manipula os bonecos, sendo poeta, ator, cantor e artesão.
C – Um escritor de cordel,
responsável pelas lendas locais.
D – O personagem Mateus, que
interage com o público.
04 – Quais são as semelhanças
entre o teatro de mamulengos e a commedia dell’arte, segundo o texto?
A – É totalmente
improvisado, tem personagens fixos, roteiros não escritos e é acompanhado por
música ao vivo.
B – Apresenta roteiros
escritos detalhados para cada 'brincadeira'.
C – Não estabelece relação com
o público, mantendo a performance distante.
D – É uma adaptação de peças
teatrais clássicas europeias.
05 – Quais são os cinco tipos
de 'passagens recorrentes' no teatro de mamulengos tradicional, conforme
explicado por Valdeck de Garanhuns no texto?
A – Passagens de cenários,
onde o palco é transformado para cada cena.
B – Passagens de improviso,
passagens de canto e passagens de encerramento.
C –
Passagens-pretexto, passagens-narrativas, passagens de briga, passagens de
dança e passagens de peças ou tramas.
D – Passagens de transição,
passagens de interação e passagens cômicas.
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