Texto: A história da escrita – Fragmento
Luiz Carlos Cagliari
[...]
A história da escrita vista no seu
conjunto, sem seguir uma linha de evolução cronológica de nenhum sistema
especificamente, pode ser caracterizada como tendo três fases distintas: a
pictórica, a ideográfica e a alfabética.
A fase pictórica se distingue pela
escrita através de desenhos ou pictogramas. Estes aparecem em inscrições
antigas, mas podem ser vistos de maneira mais elaborada nos cantos Ojibwa da
América do Norte, na escrita asteca [...] e mais recentemente nas histórias em
quadrinhos.
Os pictogramas não estão associados a
um som, mas à imagem do que se quer representar. Consistem em representações
bem simplificadas dos objetivos da realidade.
A fase ideográfica se caracteriza pela
escrita através de desenhos especiais chamados ideogramas. Esses desenhos foram
ao longo de sua evolução perdendo alguns dos traços mais representativos das
figuras retratadas e tornaram-se uma simples convenção de escrita. As letras do
nosso alfabeto vieram desse tipo de evolução. Por exemplo, o a era a representação da cabeça
de um boi na escrita egípcia [...]. O m
era o desenho das ondas da água [...] O o
era a figura de um olho [...], e assim por diante.
As escritas ideográficas mais
importantes são a egípcia (também chamada de hieroglífica), a mesopotâmica (suméria),
as escritas da região do mar Egeu (por exemplo, a cretense) e a chinesa (de
onde provém a escrita japonesa).
A fase alfabética se caracteriza pelo
uso de letras. Estas tiveram sua origem nos ideogramas, mas perderam o valor
ideológico, assumindo uma nova função de escrita: a representação puramente
fonográfica. O ideograma perdeu seu valor pictórico e passou a ser simplesmente
uma representação fonética.
Os sistemas mais importantes são o
semítico, o indiano e o greco-latino. Deste último provém o nosso alfabeto
(latino) e o cirílico (grego), que originou o atual alfabeto russo.
Antes que o alfabeto tomasse a forma
que conhecemos atualmente, passou por inúmeras transformações. Primeiro
surgiram os silabários, que consistiam num conjunto de sinais específicos para
representar cada sílaba. Os desenhos usados referiam-se às características
fonéticas da palavra.
Os fenícios utilizaram vários sinais da
escrita egípcia formando um inventário muito reduzido de caracteres, cada qual
escrevendo um som consonantal. Dadas as características das línguas semíticas,
não era muito importante escrever as vogais, sendo as palavras facilmente
reconhecidas apenas pelas consoantes, como encontramos até hoje num dos modos
como se podem escrever o árabe e o hebraico.
Os gregos adaptaram o sistema de
escrita fenícia, ao qual juntaram as vogais, uma vez que, em grego, as vogais
têm uma função linguística muito importante na formação e no reconhecimento de
palavras. Assim, os gregos, escrevendo consoantes e vogais, criaram o sistema
de escrita alfabética. A escrita alfabética é a que apresenta um inventário
menor de símbolos e permite a maior possibilidade combinatória de caracteres na
escrita. Posteriormente, a escrita grega foi adaptada pelos romanos, e esta
forma modificada constitui o sistema alfabético greco-latino, de onde provém o
nosso alfabeto.
[...]
Nem todos escrevem da esquerda para a
direita e de cima para baixo, como nós, embora esse seja um modo muito comum
entre os sistemas de escrita. Os chineses e japoneses escrevem da direita para
a esquerda e em colunas verticais. Os árabes escrevem da direita para a
esquerda, mas não em colunas, e sim em linhas de cima para baixo. O grego
antigo era escrito de um modo chamado bustrofédon, isto é, começava-se a
escrever numa linha em cima, à direita, e ia-se até o fim; a linha seguinte ia
da esquerda para a direita, invertendo a direção das letras. A terceira linha
era igual à primeira, e a quarta igual a segunda, e assim por diante, com
relação à direção da escrita.
A escrita, seja ela qual for, sempre
foi uma maneira de representar a memória coletiva religiosa, mágica,
científica, politica, artística e cultural. A invenção do livro e sobretudo da
imprensa são grandes marcos da História da humanidade, depois, é claro, da
própria invenção da escrita. Esta foi passando do domínio de poucas pessoas
para o do público em geral e seu consumo é mais significativo na forma de
leitura do que na produção de textos.
[...]
Mais recentemente apareceram o rádio, o
cinema e a televisão. A memória coletiva dos povos passou a ter outros meios de
materialização. [...]
Luiz Carlos Cagliari.
Alfabetização e linguística. 8. ed. São Paulo: Scipione, 2001. p. 106-112.
Fonte: Universos –
Língua Portuguesa – Ensino fundamental – Anos finais – 7º ano – Camila Sequetto
Pereira; Fernanda Pinheiro Barros; Luciana Mariz. Edições SM. São Paulo. 3ª
edição, 2015. p.102-103.
Entendendo o texto:
01 – De acordo com o texto,
quais são as três fases distintas que caracterizam a história da escrita em seu
conjunto, e qual a principal característica de cada uma delas?
A – As fases são:
hieroglífica, cuneiforme e latina. A hieroglífica usa símbolos complexos, a
cuneiforme utiliza marcas em argila e a latina se baseia no alfabeto romano.
B – As fases são: Sonora,
Visual e Tátil. A sonora é baseada na oralidade, a visual em imagens e a tátil
em sistemas como o Braille.
C – As fases são:
Pré-histórica, Antiga e Moderna. A pré-histórica envolve desenhos em cavernas,
a antiga se refere aos hieróglifos e a moderna ao uso de computadores.
D – As três fases
são: Pictórica, Ideográfica e Alfabética. A pictórica utiliza desenhos que
representam imagens, a ideográfica usa desenhos que se tornaram convenções e a
alfabética emprega letras que representam sons.
02 – O texto menciona que as
letras do nosso alfabeto vieram de um tipo de evolução dos ideogramas. Forneça
um exemplo de como um ideograma se transformou em uma letra do alfabeto latino,
de acordo com o que é descrito.
A – O 'a' era a
representação da cabeça de um boi na escrita egípcia, o 'm' era o desenho das
ondas da água e o 'o' era a figura de um olho. Todos perderam o valor pictórico
para se tornarem fonográficos.
B – O 'g' era a imagem de um
gafanhoto e o 'h' era o símbolo de uma mão, originados no alfabeto semítico.
C – O 'e' era a representação
de uma espiral, e o 's' era a figura de uma cobra na escrita egípcia, evoluindo
para as letras atuais.
D – O 'c' era o desenho de um
camelo e o 'd' era a imagem de uma porta, ambos da escrita mesopotâmica.
03 – Qual a principal
diferença funcional entre os pictogramas e os ideogramas no contexto da
escrita, de acordo com o texto?
A – Os pictogramas
não estão associados a um som e representam a imagem do que se quer, enquanto
os ideogramas, ao longo de sua evolução, perderam traços representativos e
tornaram-se uma convenção de escrita, base para as letras alfabéticas.
B – Os pictogramas são
associados a um som específico, enquanto os ideogramas representam objetos da
realidade de forma simplificada.
C – Os pictogramas são
exclusivos de inscrições antigas, e os ideogramas são encontrados apenas em
sistemas de escrita orientais.
D – Os pictogramas representam
ideias abstratas, enquanto os ideogramas são usados para registrar sons da
fala.
04 – O texto destaca a
contribuição dos gregos para o desenvolvimento do sistema de escrita alfabética.
Qual foi o papel crucial dos gregos nessa evolução, ao adaptarem o sistema
fenício?
A – Os gregos inventaram novos
caracteres para representar sílabas complexas, criando o primeiro silabário
completo.
B – Os gregos simplificaram os
desenhos fenícios, tornando-os mais pictóricos e fáceis de reconhecer em
diferentes contextos.
C – Os gregos
adicionaram as vogais ao sistema fenício, que era majoritariamente consonantal,
criando um sistema alfabético completo onde vogais e consoantes eram
representadas.
D – Os gregos mudaram a
direção da escrita, estabelecendo o padrão da direita para a esquerda, o que
facilitou a leitura rápida.
05 – O texto descreve um modo
de escrita antigo chamado 'bustrofédon'. Explique como funcionava esse método
de escrita e cite qual cultura o utilizava.
A – Era um método onde se
escrevia em círculos concêntricos, do centro para fora, usado pelos romanos
antigos.
B – Funcionava com a
escrita alternando a direção a cada linha: uma linha da direita para a esquerda
e a próxima da esquerda para a direita, invertendo a direção das letras. Era
utilizado pelo grego antigo.
C – Era um sistema de escrita
em que as palavras eram representadas por símbolos fonéticos isolados, usado
pelos chineses em seus primórdios.
D – Consistia em escrever apenas
em colunas verticais, de cima para baixo, como era feito pelos egípcios
hieroglíficos.
06 – Além de ser um meio de
comunicação, qual a função fundamental da escrita, seja ela qual for mencionada
no texto?
A – Sua função fundamental era
apenas facilitar o comércio e a contabilidade em sociedades antigas.
B – A função primordial da
escrita era puramente estética, para a criação de obras de arte visuais.
C – A escrita sempre
foi uma maneira de representar a memória coletiva (religiosa, mágica,
científica, política, artística e cultural) dos povos.
D – Sua principal função era
servir como ferramenta de controle social e hierarquia, dominada por poucos.
07 – O texto cita a invenção
do livro e da imprensa como grandes marcos da História da humanidade, logo após
a própria invenção da escrita. Como esses marcos impactaram o 'domínio' da
escrita?
A – A invenção do
livro e, sobretudo, da imprensa, fez com que a escrita passasse do domínio de
poucas pessoas para o do público em geral, com seu consumo mais significativo
na forma de leitura.
B – Esses marcos fizeram com
que a escrita se tornasse obsoleta, sendo substituída por formas de comunicação
oral mais eficazes.
C – Eles limitaram o acesso à
escrita a uma elite ainda menor, tornando-a mais exclusiva e difícil de ser
dominada.
D – Eles causaram o declínio
da leitura, pois as pessoas preferiam a comunicação falada à escrita impressa.
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