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domingo, 27 de julho de 2025

LENDA: BAHIRA, O PAJÉ QUE ROUBOU O FOGO - FLÁVIA SAVARY - COM GABARITO

 Lenda: Bahira, o pajé que roubou o fogo

           Flávia Savary

        No passado, não havia fogo na tribo Kawahiwas. No dia a dia era uma luta: as mulheres faziam das tripas coração pra que não se estragasse a caça trazida pelos maridos. Comida quentinha? Só se o sol ajudasse. No inverno, tiritavam de frio. E, à noite, se o medo do escuro pesasse, que o aguentassem até a aurora.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhZVx9Y0P3KSoz-vDX2YxIPFG1U6Lz6xyBKwKrU0cvfCE_B9O69NjnhPoFuJwXi3Gb4t6ZxtLyzSPjGnLb-upaWolgESHkEdUGX23ydOI7s08JXa1JOD8Ztl6vAA-Mftua3ba9lGBHBojvzsrNW_mQH-V5nb2dm_iZbEjjjLTv7ehk7BQp7tCHwwMWyi7M/s1600/images.jpg


        As índias, ouvindo histórias sobre cunhãs de tribos vizinhas que preparavam de um tudo sobre moquéns, choravam suas mazelas junto a Bahira, o grande pajé. Este, de tanto aturar reclamação, se encheu e resolveu dar um jeito. Os homens se alegraram, ao verem Bahira partir tão determinado. Apesar de darem uma de durões, parecendo conformados com a falta do fogo, cobriram as mulheres de beijos. Sonhavam, antecipadamente, com os assados que, enfim, provariam.

        Bahira, enquanto caminhava, ia matutando. Ele sabia muito bem a quem pertencia o fogo. E que o dono do fogo não o daria assim, de mão beijada, a qualquer folgado que chegasse pedindo-o! Bahira precisaria bolar um plano bem esperto. E foi o que ele fez.

        Tendo avistado um ninho de Itapicuins, dirigiu-se até lá e cumprimentou seus parentes (sim, porque, nessa época, bicho era gente):

        -- Meus irmãos cupins, subam em mim, pois preciso parecer morto.

        Os Itapicuins não eram de fazer muita questão do porque das coisas. Daí que, saindo do ninho, cobriram o corpo de Bahira.

        O pajé estirou-se no chão, um morto perfeito. Urubu, o tal que era dono do fogo, lá do alto viu aquela carniça maravilhosa. Maravilhosa pra bico de Urubu, bem entendido! E a tomou por ótima opção de almoço. Chamou a mulher, chamou os filhos e convidou-os pra comer fora.

        Naquele planar lento e desconfiado do Urubu, a família veio descendo do céu em volteios de parafuso. Dizem que o Urubu não sai de casa sem carregar o fogo debaixo da asa. A fim de checar se o boato procedia, Bahira abriu meio olho e viu o brilho do Tatá-miri no sovaco do bichão. Sossegado, voltou a fingir-se de morto.

        Na descida, juntou a parentada toda. Ao baixarem à terra, formou-se aquela mancha negra de urubus num assanhamento só, diante da perspectiva do churrasco. Já sabemos que, nessa época, Urubu era gente e, portanto, tinha mãos. Enquanto a mulher preparava o moquém, aos filhos coube a guarda do defunto.

        Os filhos, porém, viram que o morto estava bulindo e foram comunicar o fato ao pai, que não lhes deu crédito.

        -- E morto mexe desde quando? Larguem de preguiça e tomem conta direito! Usem suas flechinhas pra matar as varejeiras: não quero comida minha com bicho!

        Bahira aproveitou-se da discussão e, vendo que o fogo embaixo dele estava bem aceso, roubou-o e fugiu. Quando o Urubu se deu conta do ocorrido, saiu em perseguição do almoço, ele e sua gente.

        Entrou Bahira num oco de pau, o Urubu entrou atrás. Saiu Bahira do outro lado, saiu o Urubu atrás. Na saída, um tabocal cerrado cruzava o caminho. Bahira venceu-o, mas o Urubu não conseguiu atravessar e ficou pra trás, praguejando.

        O pajé correu, correu até chegar às margens do braço de um rio, largo feito o mar. Espiou na outra margem e viu sua tribo, que esperava a chegada do fogo novo. E agora? Que fazer pra atravessar, pela água, com coisa que se apaga nela?

        Chamou a Cobra-surradeira e pediu:

        -- Comadre, faça-me a gentileza de cruzar o rio com esse fogo em seu quengo, sim?

        -- Pois não, compadre. Ajeite ele no meu lombo.

        A cobra, apesar da fama de andar rapidinho, só alcançou até a metade do rio. Ali mesmo morreu queimada. Bahira arranjou uma vara comprida no mato e puxou o fogo de volta. Tentou a travessia com parentes da surradeira, mas todas tiveram destino igual: viraram torresmo!

        Nisso, veio passando um Pitu. O pajé pensou:

        -- Esse há de atravessar o fogo.

        Repetiu-se o pedido e o pronto aceite. O Pitu, porém, findou-se igual às cobras: morreu queimado, todo vermelho. E é assim até hoje: quando o fogo queima a casca do camarão, ela fica vermelhinha igual pimenta!

        O pajé recuperou o fogo, de novo, com a vara. Os Kawahiwas, na margem oposta, já estavam nervosos, achando que a travessia ia gorar. Passou um Guaiá, andando de lado, e Bahira repetiu o pedido. Impressionante a boa vontade dos bichos – todos diziam sim ao pedido do pajé! Lamentavelmente, com o compadre caranguejo não foi diferente: no meio do rio, morreu tostado.

        Então foi a vez da Saracura, da Uratinga, da Garça, da Upeca, da Piaçoca, da Ariramba, do Jacuaçu e outras tantas aves de água doce. E todas, apesar da cortesia, se acabaram chamuscadas, antes de completarem o percurso.

        Estava Bahira em ponto de desistir, quando apareceu o Sapo Cururu. Os pulos do Cururu quase completaram a missão. Perto de atingir a outra margem, o pobre acabou desmaiando com aquele fogaréu no costado. Os Kawahiwas, repetindo o uso da vara aprendido de seu pajé, salvaram o fogo e o sapo, levando os dois pra aldeia.

        Bahira, vendo que tudo acabara bem, pensou de que jeito ele próprio atravessaria o rio. Nem precisou esquentar muito a cabeça. Sendo um pajé poderoso, mandou o rio se estreitar e ele obedeceu. Bahira deu um pulo e, pronto! Logo achou-se do outro lado.

        Foi assim que os Kawahiwas arranjaram fogo e se fartaram de assados. E o valente Cururu virou um pajé respeitado.

Flávia Savary. Lendas da Amazônia... e é assim até hoje. São Paulo: Salesiana, 2006. p. 12-15.

Fonte: Universos – Língua Portuguesa – Ensino fundamental – Anos finais – 6º ano – Camila Sequetto Pereira; Fernanda Pinheiro Barros; Luciana Mariz. Edições SM. São Paulo. 3ª edição, 2015. p. 16-17.

Entendendo a lenda:

01 – No passado, a tribo Kawahiwas não tinha fogo. Quais eram as consequências dessa ausência para o dia a dia da tribo?

A – Eles usavam métodos alternativos para aquecer a comida e iluminar as noites, sem grandes problemas.

B – As mulheres não conseguiam preservar a caça, a comida só era quente com sol, e sofriam de frio no inverno e medo do escuro à noite.

C – A caça era abundante e não precisava ser preservada, e eles preferiam a escuridão e o frio.

D – A tribo não se importava com a falta de fogo, pois eram acostumados com a natureza.

02 – O que motivou Bahira, o grande pajé, a decidir conseguir o fogo para sua tribo?

A – Os homens da tribo o desafiaram a provar seu poder como pajé.

B – As mulheres da tribo reclamavam constantemente a ele sobre suas dificuldades devido à falta de fogo, especialmente após ouvirem sobre outras tribos que o possuíam.

C – Ele queria mostrar sua superioridade aos pajés de outras tribos vizinhas.

D – Ele teve um sonho que o mandou buscar o fogo para a prosperidade da tribo.

03 – Qual foi o plano esperto de Bahira para roubar o fogo de Urubu, o seu dono?

A – Ele pediu aos Itapicuins (cupins) que cobrissem seu corpo para fazê-lo parecer morto, assim, Urubu o confundiria com carniça e traria o fogo para perto.

B – Ele criou uma distração, prendendo a família de Urubu para roubar o fogo.

C – Ele seguiu Urubu secretamente e roubou o fogo quando ele estava distraído.

D – Ele desafiou Urubu para uma luta para ganhar o fogo de forma justa.

04 – Como Bahira confirmou que Urubu carregava o fogo, e onde ele estava localizado?

A – Ele ouviu Urubu conversando com sua família sobre onde guardava o fogo.

B – Ele viu fumaça saindo do ninho de Urubu, indicando a presença do fogo.

C – Ele abriu meio olho enquanto fingia de morto e viu o brilho do Tatá-miri (fogo) no sovaco do bichão (Urubu).

D – Ele perguntou diretamente a Urubu sobre a localização do fogo.

05 – O que aconteceu quando os filhos de Urubu tentaram avisá-lo sobre os movimentos de Bahira?

A – Os filhos ajudaram Bahira a escapar sem que seu pai soubesse.

B – Urubu puniu seus filhos por fazerem falsas alegações.

C – Urubu ignorou os avisos deles, acreditando que um corpo morto não se mexia, e mandou-os se concentrarem em guardar o 'defunto'.

D – Urubu imediatamente desconfiou e investigou Bahira, descobrindo a farsa.

06 – Qual animal, finalmente, conseguiu ajudar Bahira a transportar o fogo através do rio largo até a tribo Kawahiwas?

A – O Sapo Cururu, que, embora desmaiando perto da outra margem, permitiu que os Kawahiwas salvassem tanto ele quanto o fogo.

B – O Pitu, que também morreu queimado na metade do rio, ficando vermelho.

C – O Guaiá (caranguejo), que morreu tostado no meio do rio.

D – A Cobra-surradeira, que morreu na metade do rio.

07 – Como o próprio Bahira atravessou o rio largo depois que o fogo foi entregue em segurança à sua tribo?

A – Ele construiu uma jangada para atravessar o rio largo.

B – Outro animal o carregou através do rio.

C – Sendo um pajé poderoso, ele mandou o rio se estreitar, e este obedeceu, permitindo que ele pulasse para o outro lado.

D – Ele nadou pelo rio, já que o fogo não estava mais com ele.

 

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