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domingo, 27 de julho de 2025

CRÔNICA: GRINGO VENDO FUTEBOL - FRAGMENTO - MARIO PRATA - COM GABARITO

 Crônica: GRINGO VENDO FUTEBOL – Fragmento

              Mario Prata

        Um americano [...], na semana passada estava assistindo a um jogo de futebol comigo, pela televisão. Entendia a língua portuguesa, não entendia muito de futebol. E me fazia perguntas que me faziam pensar. A mais intrigante, foi esta:

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhizR_CiZXB9ek-NZfRYGQlN4zpQmSz7BQlfQwiga079IMD9crwUzFVAor-bZXesiZ8ADgzPy5MFdvoX-Fsl3FPw5nrKVZ7kDFPwG4auG52pFWQM0GooJ_5MChlkKERQJ7jEG-21mCZ8Qxb7bsN323enwgM1ZvK3Y9HNrN9J6zSXi3pj2KGBJ1-xCX2p6I/s1600/images.jpg


        -- Por que aquele homem olha na chuteira do reserva, quando ele vai substituir o outro?

        [...]. Expliquei para ele que há muitos e muitos anos atrás que nos sapatos e nas chuteiras usavam-se pregos para grudar a sola. Isto há mais de quarenta anos. Portanto, um jogador (por maldade ou descuido) poderia entrar em campo com um prego meio solto e machucar o adversário.

        -- Mas, se há tanto tempo não tem mais prego, por que olham?

        Eu estava entretido com o meu time disse não sei. Mas percebi que ele estava intrigado com o negócio. E insistiu:

        -- Os outros onze, quando entram, no começo do jogo, eles também olham a chuteira para ver se têm pregos?

        -- Não.

        -- Então por que esta implicância com os reservas? Olha lá, outro reserva entrando e mostrando a sola da chuteira. Por quê? [...]

        [...] E mais: se não tem mais prego, por que mostrar? Será que ninguém ligado ao futebol ainda não pensou nisto? O americano estava certo.

        Mais um pouco e ele continuou com suas observações:

        -- Por que o locutor diz que o jogador caiu?

        -- Porque caiu, uai.

        -- Sim, eu vi que ele caiu. É televisão. Ele não precisa me dizer. Olha lá, dizendo que o goleiro pegou a bola. Eu vi! Será que ele não pode me deixar assistir em paz? É televisão ou rádio?

        Penso:

        -- É que antes era rádio e eles acostumaram a narrar tudo.

        -- Mas então alguém precisa dizer para eles que a gente não é cego. Olha lá: dizendo que foi falta. Eu vi!!!

        O americano estava certo, os nossos locutores de televisão acham que estão transmitindo pelo rádio.

        -- Se o juiz já disse que vai ter mais três minutos de jogo, se o sujeito já levantou a placa mostrando, se lá em cima da televisão está dizendo que vamos ter três minutos de acréscimo, porque o locutor tem que avisar a gente que vamos ter mais três minutos de jogo? E precisa dizer que o jogo vai até os 48? Não é meio óbvio?

        O americano estava certo.

        -- Outra coisa – insistiu ele – você já notou que aquele jatinho de tinta branca que ele marca o campo na hora das falas, no final do jogo não sai mais quase nada lá de dentro? É porque foram muitas faltas, ou é o tubinho dele que não cabe mais spray? Olha lá, nem dá mais para ver a marquinha. Assim a barreira vai avançar.

        O americano, mais uma vez, estava certo.

        Quando acabou o jogo, ele que já havia assistido a outros jogos comigo, disse:

        -- Quer apostar como o repórter de campo vai perguntar o que foi que faltou ao time?

        O repórter perguntou.

        Mais tarde, no boteco, ele me perguntou:

        -- E por que todos os jogadores negros raspam a cabeça? É da regra?

Mário Prata. O Estado de São Paulo, p. D10, 2 jun. 2004.

Fonte: Universos – Língua Portuguesa – Ensino fundamental – Anos finais – 6º ano – Camila Sequetto Pereira; Fernanda Pinheiro Barros; Luciana Mariz. Edições SM. São Paulo. 3ª edição, 2015. p. 165.

Entendendo a crônica:

01 – Qual foi a pergunta mais intrigante feita pelo americano ao narrador da crônica?

      A pergunta mais intrigante feita pelo americano foi: "Por que aquele homem olha na chuteira do reserva, quando ele vai substituir o outro?"

02 – Qual é a explicação histórica para o hábito de olhar a chuteira dos jogadores, segundo o narrador?

      O narrador explica que, há muitos anos, usavam-se pregos nos sapatos e chuteiras para fixar as solas. Assim, um jogador poderia, por descuido ou maldade, entrar em campo com um prego solto e machucar o adversário.

03 – Quais são as críticas do americano em relação à narração dos jogos de futebol na televisão?

      O americano critica o fato de os locutores narrarem ações óbvias que podem ser vistas na televisão (como um jogador cair, o goleiro pegar a bola ou uma falta ser marcada). Ele sente que os locutores agem como se estivessem transmitindo pelo rádio e não permitindo que o espectador assista em paz.

04 – Que observações o americano faz sobre o spray de marcação de campo usado pelos juízes?

      O americano observa que o jatinho de tinta branca usado para marcar o campo nas faltas parece esvaziar ao longo do jogo, questionando se isso acontece por causa do grande número de faltas ou se o tubo não comporta mais spray. Ele nota que as marcações mal ficam visíveis, permitindo que a barreira avance.

05 – Além das questões sobre as chuteiras, a narração e o spray, qual outra observação final o americano faz sobre o futebol e os jogadores?

      Ao final, o americano faz duas observações: ele prevê, acertadamente, que o repórter de campo perguntaria o que "faltou ao time", e depois pergunta por que "todos os jogadores negros raspam a cabeça", questionando se é "da regra".

 

 

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