Crônica: GRINGO VENDO FUTEBOL – Fragmento
              Mario Prata
        Um americano [...], na semana passada
estava assistindo a um jogo de futebol comigo, pela televisão. Entendia a
língua portuguesa, não entendia muito de futebol. E me fazia perguntas que me
faziam pensar. A mais intrigante, foi esta:
 Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhizR_CiZXB9ek-NZfRYGQlN4zpQmSz7BQlfQwiga079IMD9crwUzFVAor-bZXesiZ8ADgzPy5MFdvoX-Fsl3FPw5nrKVZ7kDFPwG4auG52pFWQM0GooJ_5MChlkKERQJ7jEG-21mCZ8Qxb7bsN323enwgM1ZvK3Y9HNrN9J6zSXi3pj2KGBJ1-xCX2p6I/s1600/images.jpg
Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhizR_CiZXB9ek-NZfRYGQlN4zpQmSz7BQlfQwiga079IMD9crwUzFVAor-bZXesiZ8ADgzPy5MFdvoX-Fsl3FPw5nrKVZ7kDFPwG4auG52pFWQM0GooJ_5MChlkKERQJ7jEG-21mCZ8Qxb7bsN323enwgM1ZvK3Y9HNrN9J6zSXi3pj2KGBJ1-xCX2p6I/s1600/images.jpg        -- Por que aquele homem olha na
chuteira do reserva, quando ele vai substituir o outro?
        [...]. Expliquei para ele que há muitos
e muitos anos atrás que nos sapatos e nas chuteiras usavam-se pregos para
grudar a sola. Isto há mais de quarenta anos. Portanto, um jogador (por maldade
ou descuido) poderia entrar em campo com um prego meio solto e machucar o
adversário.
        -- Mas, se há tanto tempo não tem mais
prego, por que olham?
        Eu estava entretido com o meu time
disse não sei. Mas percebi que ele estava intrigado com o negócio. E insistiu:
        -- Os outros onze, quando entram, no
começo do jogo, eles também olham a chuteira para ver se têm pregos?
        -- Não.
        --
Então por que esta implicância com os reservas? Olha lá, outro reserva entrando
e mostrando a sola da chuteira. Por quê? [...]
        [...] E mais: se não tem mais prego,
por que mostrar? Será que ninguém ligado ao futebol ainda não pensou nisto? O
americano estava certo.
        Mais um pouco e ele continuou com suas
observações:
        -- Por que o locutor diz que o jogador
caiu?
        -- Porque caiu, uai.
        -- Sim, eu vi que ele caiu. É
televisão. Ele não precisa me dizer. Olha lá, dizendo que o goleiro pegou a
bola. Eu vi! Será que ele não pode me deixar assistir em paz? É televisão ou
rádio?
        Penso:
        -- É que antes era rádio e eles
acostumaram a narrar tudo.
        -- Mas então alguém precisa dizer para
eles que a gente não é cego. Olha lá: dizendo que foi falta. Eu vi!!!
        O americano estava certo, os nossos
locutores de televisão acham que estão transmitindo pelo rádio.
        -- Se o juiz já disse que vai ter mais
três minutos de jogo, se o sujeito já levantou a placa mostrando, se lá em cima
da televisão está dizendo que vamos ter três minutos de acréscimo, porque o
locutor tem que avisar a gente que vamos ter mais três minutos de jogo? E
precisa dizer que o jogo vai até os 48? Não é meio óbvio?
        O americano estava certo.
        -- Outra coisa – insistiu ele – você já
notou que aquele jatinho de tinta branca que ele marca o campo na hora das
falas, no final do jogo não sai mais quase nada lá de dentro? É porque foram
muitas faltas, ou é o tubinho dele que não cabe mais spray? Olha lá, nem dá
mais para ver a marquinha. Assim a barreira vai avançar.
        O americano, mais uma vez, estava
certo.
        Quando acabou o jogo, ele que já havia
assistido a outros jogos comigo, disse:
        -- Quer apostar como o repórter de
campo vai perguntar o que foi que faltou ao time?
        O repórter perguntou.
        Mais tarde, no boteco, ele me
perguntou:
        -- E por que todos os jogadores negros
raspam a cabeça? É da regra?
Mário Prata. O Estado
de São Paulo, p. D10, 2 jun. 2004.
Fonte: Universos –
Língua Portuguesa – Ensino fundamental – Anos finais – 6º ano – Camila Sequetto
Pereira; Fernanda Pinheiro Barros; Luciana Mariz. Edições SM. São Paulo. 3ª
edição, 2015. p. 165.
Entendendo a crônica:
01 – Qual foi a pergunta mais
intrigante feita pelo americano ao narrador da crônica?
      A pergunta mais
intrigante feita pelo americano foi: "Por que aquele homem olha na
chuteira do reserva, quando ele vai substituir o outro?"
02 – Qual é a explicação
histórica para o hábito de olhar a chuteira dos jogadores, segundo o narrador?
      O narrador
explica que, há muitos anos, usavam-se pregos nos sapatos e chuteiras para
fixar as solas. Assim, um jogador poderia, por descuido ou maldade, entrar em
campo com um prego solto e machucar o adversário.
03 – Quais são as críticas do
americano em relação à narração dos jogos de futebol na televisão?
      O americano
critica o fato de os locutores narrarem ações óbvias que podem ser vistas na
televisão (como um jogador cair, o goleiro pegar a bola ou uma falta ser
marcada). Ele sente que os locutores agem como se estivessem transmitindo pelo
rádio e não permitindo que o espectador assista em paz.
04 – Que observações o
americano faz sobre o spray de marcação de campo usado pelos juízes?
      O americano
observa que o jatinho de tinta branca usado para marcar o campo nas faltas
parece esvaziar ao longo do jogo, questionando se isso acontece por causa do
grande número de faltas ou se o tubo não comporta mais spray. Ele nota que as
marcações mal ficam visíveis, permitindo que a barreira avance.
05 – Além das questões sobre
as chuteiras, a narração e o spray, qual outra observação final o americano faz
sobre o futebol e os jogadores?
      Ao final, o
americano faz duas observações: ele prevê, acertadamente, que o repórter de
campo perguntaria o que "faltou ao time", e depois pergunta por que
"todos os jogadores negros raspam a cabeça", questionando se é
"da regra".
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