Poema: CRISTO
José
Régio
Quando eu nasci, Senhor, já tu lá estavas,
Crucificado, lívido, esquecido.
Não respondeste, pois, ao meu gemido,
Que há muito tempo já que não falavas...
Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiWG6vl1XSyX4Q8hPNlTZVkSl_9ojQTVpZw2kFyw-kbQ3OHYXZugDLFajBVtBh6Ueu_HwIJZaGvc6jRqwQ6TuhfEsaRkU6JQlJvKf8HZr1cIQcjTL3g0stZ7WJUX3IrnHR_j0JCzpaY6IhG1zJk_Zb_Jxy3t_jYVwfUbUTG1yEBHLGWX1dNOL-zcZXNhvI/s1600/download.png
Redemoinhavam, longe, as turbas bravas,
Alevantando ao ar fumo e alarido.
E a tua benta Cruz de Deus vencido,
Quis eu erguê-la em minhas mãos escravas!
A turba veio então, seguiu-me os rastros;
E riu-se, e eu nem sequer fui açoitado,
E dos braços da Cruz fizeram mastros...
Senhor! eis-me vencido e tolerado:
Resta-me abrir os braços a teu lado,
E apodrecer contigo à luz dos astros!
Poemas de Deus e do
diabo. 8. ed. Porto: Brasília Ed. 1972. p. 31.
Fonte: Livro –
Português: Linguagens, 3ª Série – Ensino Médio – William Roberto Cereja,
Thereza Cochar Magalhães, 9ª ed. – São Paulo: Saraiva Editora, 2013. p. 211.
Entendendo o poema:
01 – Qual a primeira
constatação do eu lírico ao se referir a Cristo no início do poema, e que tom
essa constatação estabelece para o restante dos versos?
A primeira
constatação do eu lírico é que, no momento de seu nascimento, Cristo já estava
crucificado, "lívido, esquecido". Esse tom estabelece uma atmosfera
de sofrimento preexistente, de abandono e de um silêncio divino que precede a
própria existência do eu lírico, permeando todo o poema com uma sensação de
ausência de resposta e de um fardo já imposto.
02 – Como o eu lírico descreve
a reação das "turbas bravas" e qual o contraste que ele estabelece
com a imagem de Cristo na cruz?
O eu lírico
descreve as "turbas bravas" como algo distante, em movimento caótico
("Redemoinhavam, longe"), produzindo "fumo e alarido". Esse
barulho e agitação contrastam fortemente com a imagem de Cristo
"crucificado, lívido, esquecido" e com o seu silêncio, evidenciando a
indiferença ou hostilidade do mundo em relação ao sofrimento de Cristo.
03 – Qual a ação que o eu
lírico deseja realizar em relação à cruz de Cristo e o que essa ação simboliza?
O eu lírico
deseja erguer a "benta Cruz de Deus vencido" em suas "mãos
escravas". Essa ação simboliza uma tentativa de resgate, de identificação
com o sofrimento de Cristo e talvez um desejo de dar um novo significado ou de
assumir o peso dessa cruz em um mundo que parece tê-la abandonado.
04 – Descreva a reação da
turba diante da tentativa do eu lírico de erguer a cruz. Qual a ironia presente
nessa reação?
A turba seguiu os
rastros do eu lírico e riu-se dele, e ele sequer foi açoitado. A ironia reside
no fato de que Cristo, ao carregar a cruz, sofreu açoitamento e a crucificação,
enquanto o eu lírico, em sua tentativa de reerguer o símbolo desse sofrimento,
é apenas ridicularizado e ignorado pela mesma turba. Isso sugere uma
banalização do sacrifício e uma perda da sua significância para o mundo.
05 – Qual a resolução final do
eu lírico diante de sua própria derrota e da aparente indiferença do mundo? Que
imagem final encerra o poema?
A resolução final
do eu lírico é aceitar sua derrota ("eis-me vencido e tolerado") e se
unir ao sofrimento de Cristo: "Resta-me abrir os braços a teu lado, / E apodrecer
contigo à luz dos astros!". A imagem final é a de ambos, o eu lírico e
Cristo, em um estado de decadência lado a lado, sob a fria e distante luz dos
astros, enfatizando um sentimento de desolação e de um destino compartilhado de
sofrimento e esquecimento.
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