Poema: Cruz na porta da tabacaria!
Álvaro
de Campos
Cruz na porta da tabacaria!
Quem morreu? O próprio Alves? Dou
Ao diabo o bem-estar que trazia.
Desde ontem a cidade mudou.

Quem era? Ora, era quem eu via.
Todos os dias o via. Estou
Agora sem essa monotonia.
Desde ontem a cidade mudou.
Ele era o dono da tabacaria.
Um ponto de referência de quem sou
Eu passava ali de noite e de dia.
Desde ontem a cidade mudou.
Meu coração tem pouca alegria,
E isto diz que é morte aquilo onde estou.
Horror fechado da tabacaria!
Desde ontem a cidade mudou.
Mas ao menos a ele alguém o via,
Ele era fixo, eu, o que vou,
Se morrer, não falto, e ninguém diria.
Desde ontem a cidade mudou.
Poesias de Álvaro de
Campos. Fernando Pessoa. Lisboa: Ática, 1944 (imp. 1993) - 46.
Fonte: Português. Série
novo ensino médio. Volume único. Faraco & Moura – 1ª edição – 4ª impressão.
Editora Ática – 2000. São Paulo. p. 460.
Entendendo o poema:
01 – Qual é a reação do eu
lírico à morte do dono da tabacaria?
O eu lírico expressa
uma mistura de indiferença e estranhamento. Ele questiona quem morreu e
menciona que a cidade mudou desde a morte, indicando uma perturbação na sua
rotina e percepção do mundo.
02 – Como o eu lírico descreve
a sua relação com o dono da tabacaria?
A relação é de
pura rotina e observação. O dono da tabacaria era uma figura constante no
cotidiano do eu lírico, um "ponto de referência". A morte do homem
quebra essa rotina, causando um sentimento de desorientação.
03 – Qual a reflexão do eu
lírico sobre a própria existência em contraste com a do dono da tabacaria?
O eu lírico contrasta a fixidez do dono
da tabacaria, que era "fixo" e visto por todos, com a sua própria
natureza errante. Ele reconhece que, se morresse, sua ausência seria menos notada,
evidenciando um sentimento de insignificância.
04 – Qual o significado da
repetição do verso "Desde ontem a cidade mudou"?
A repetição do
verso enfatiza o impacto da morte na percepção do eu lírico. A mudança na
cidade simboliza a alteração na sua própria realidade, quebra da sua rotina e a
sensação de que o mundo não é mais o mesmo.
05 – Como o poema reflete a
angústia existencial característica de Álvaro de Campos?
O poema reflete a
angústia existencial de Campos ao explorar temas como a solidão, a
insignificância da vida e a falta de sentido. A morte do dono da tabacaria
serve como um gatilho para reflexões sobre a própria mortalidade e a natureza
transitória da existência.
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