Texto: COMO AMAR UMA CRIANÇA
Janusz Korczak
A criança que você pôs no mundo pesa 10
libras. É feita com oito libras de água e um punhado de carbono, cálcio, azoto,
sulfato, fósforo, potássio e ferro. Você deu à luz a oito libras de água e a
duas libras de cinzas. Assim cada gota de seu filho era o vapor da nuvem, o
cristal da neve, da bruma, do orvalho, da água da nascente e da lama de um
esgoto. Milhões de combinações possíveis de cada átomo de carbono ou de azoto.

Você apenas reuniu o que já existia.
Olhe a Terra suspensa no infinito.
O Sol, seu próximo companheiro, está a
50 milhões de milhas.
Nosso pequeno planeta não é mais que
3.000 milhas de fogo recoberto por uma película que tem apenas dez milhas.
Sobre essa fina película, um punhado de
continentes jogados entre os oceanos.
Sobre esses continentes, no meio das
árvores, arbustos, pássaros e animais – o ruído dos homens.
Entre estes milhões de homens, está
você, que deu à luz a um homem a mais. O que é ele? Um galinho, uma poeira – um
nada.
É tão frágil que uma bactéria pode
matá-lo; uma bactéria que aumentada mil vezes é apenas um ponto no campo
visual.
Mas este nada é irmão das vagas do mar,
do vento, do relâmpago, do Sol, da Via Láctea. Este grão de poeira é irmão da
espiga do milho, da relva, do carvalho, da palmeira, irmão de um passarinho, do
filhote de leão, de um potrinho, de um cãozinho.
Neste nada há qualquer coisa que sente,
deseja, observa; que sofre e que odeia; que é feliz e que ama; que tem
confiança e que duvida; que acolhe e que rejeita.
Este grão de poeira encerra o seu
pensamento as estrelas e os oceanos, as montanhas e os precipícios. E o
que é a essência da alma senão todo o Universo, faltando apenas as suas
dimensões.
É esta a contradição inerente ao ser
humano: nascido de um quase nada, Deus está nele.
Janusz Korczak. Como amar uma criança. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1984.
Fonte: Português –
Novas Palavras – Ensino Médio – Emília Amaral; Mauro Ferreira; Ricardo Leite;
Severino Antônio – Vol. Único – FTD – São Paulo – 2ª edição. 2003. p. 564-565.
Entendendo o texto:
01
– Qual a composição básica de um bebê recém-nascido, segundo o autor?
O bebê é composto
principalmente de água (oito libras) e uma mistura de elementos como carbono,
cálcio, azoto, sulfato, fósforo, potássio e ferro (duas libras de cinzas).
02
– Como o autor descreve a vastidão do universo em relação à Terra e aos seres
humanos?
O autor destaca a
pequenez da Terra e dos seres humanos em comparação com a imensidão do
universo, enfatizando a fragilidade da vida humana.
03
– Qual a aparente contradição que o autor destaca na natureza humana?
A contradição
está em como um ser humano, que nasce de "um quase nada" e é
extremamente frágil, carrega dentro de si a essência do universo e até mesmo de
Deus.
04
– O que o autor quer dizer ao afirmar que "a essência da alma (humana)
senão todo o universo, faltando apenas as suas dimensões"?
Ele quer dizer
que, apesar de sermos pequenos e frágeis, carregamos em nós a capacidade de
sentir, pensar e experienciar o mundo de forma profunda e complexa, tal como o
universo em sua totalidade.
05
– Qual a analogia utilizada pelo autor para ilustrar a relação do ser humano
com os elementos da natureza?
O autor utiliza a
analogia de que o ser humano é "irmão das vagas do mar, do vento, do
relâmpago, do Sol, da Via Láctea", destacando a conexão intrínseca entre
os seres humanos e o mundo natural.
06
– Como o autor descreve a fragilidade da vida humana?
O autor descreve
a fragilidade da vida humana ao mencionar que "uma bactéria pode matá-lo;
uma bactéria que aumentada mil vezes é apenas um ponto no campo visual".
07
– O que o autor enfatiza sobre a capacidade de sentir e experienciar do ser
humano?
O autor enfatiza
que, apesar de sua pequenez, o ser humano é capaz de sentir, desejar, observar,
sofrer, odiar, ser feliz, amar, ter confiança e duvidar, acolher e rejeitar.
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